A DECADÊNCIA DO KONGO



                              S. Salvador,  a primeira cidade  construída por portugueses no ano 1492, em Angola.
                                                                 

Em 1509 após a morte do "Manikongo" Nzinga a Nkuwu ou Nkuwu Nzinga (o soba  que se encontrou com o Navegador Diogo Cam, em 1486).   Sucede-lhe o filho Nzinga Mbemba, baptizado com nome "Afonso", na luta pelo poder desencadeou uma batalha contra o seu irmão Mpanzu a Kitima,  que foi morto na batalha. Após ter matado o irmão, Afonso Nzinga Mbemba é eleito soba do Kongo governou de 1509 a 1542. O seu longo governo e poder assentou no tráfico de escravos. Afonso Nzinga Mbemba morre em 1542.
 Sucede-lhe Pedro Nkanga a Mvemba que, em 1545 foi derrubado pelo seu sobrinho Diogo Nkumbi a Mpudi. Pedro Mvemba foi forçado a refugiar-se em uma igreja em São Salvador, onde lhe foi dada protecção até ele pedir asilo aos portugueses. Diogo Nkumbi a Mpudi apodera-se do poder e inicia as primeiras guerras civis entre tribos, estão documentadas em um inquérito legal que ele conduziu em 1550, por uma conspiração do ex-soba Pedro Nkanga a Mvemba para recuperar o poder. A suposta conspiração foi orquestrada na igreja em que Pedro Nkanga Mvemba se refugiou.  Os  kongoleses que permaneceram leais a Pedro Nkanga Mvemba e se opunham a Diogo Nkumbi Mpudi, desencadearam vários confrontos de guerras. Diogo Nkumbi a Mpudi morre em 1561. 
Sucede-lhe Afonso Mpemba a Nzinga, pouco se sabe sobre este soba, teria sido um filho ilegítimo de Diogo Nkumbi a Mpudi.  Afonso Mpemba a Nzinga logo após assumir o poder em 1561 foi assassinado pelo seu meio irmão Bernardo, que governou de 1561 a 1567. 
 Em 1567, Bernardo viria a ser morto  numa luta contra os Jagas (Anzikus ou Yakas) travada na fronteira oriental de Kongo. Sucede-lhe Henrique Nerika Mpudi que governou, um ano. Em 1568 Henrique Nerika Mpudi foi morto numa luta contra o BaTeke da tribo Anziku,  nas fronteiras do Kongo.  Álvaro Nimi Lukeni lua Mvemba é  eleito soba Manikongo, as guerras dos Jagas criaram um grande problema para Álvaro Nimi a Lukeni lua Mbemba, foi obrigado a abandonar a capital São Salvador e fugir para uma ilha no rio Zaire. A partir dessa ilha ele procurou a ajuda de Portugal para  recuperar o poder e expulsar os Jagas,  Álvaro Nimi  a Lukeni  Mvemba  recuperou o poder e governou até 1587, ano da sua morte. 

 É sucedido por Álvaro II Nimi-a-Nkanga, mas não assumiu o poder sem antes combater contra o irmão, que foi derrotado. Durante o seu governo, além dos problemas com o irmão, Álvaro Nimi Nkanga enfrentou sérios problemas com outros membros das tribos no Kongo e com os Jagas, e tem início uma guerra civil. 
 Por sua  intenção de criar um clero Congolês e um bispado em São Salvador, e reconhecer o Kongo como parte da comunidade cristã. Em 20 de Maio de 1596, Frei Miguel Rangel, é nomeado Bispo do Kongo e de Angola, foi o primeiro Bispo  do Kongo e de Angola, a Igreja de Santa Maria é elevada a Catedral.  São Salvador é reconhecida como a capital da Diocese do Kongo e de Angola. Os portugueses oferecem uma bacia em prata para Pia Baptismal da Catedral de Santa Santa Maria.

         bacia em prata, c.1580,  tem cerca de 53 cm de diâmetro por 12,3 cm de fundo, em sua borda de 6,5 cm foram gravadas em relevo diversas figuraspessoas, animais e plantas. Fonte: kunstmuseum-siegen.


 O Manikongo Álvaro Nimi-a-NKanga com os portugueses cogitam o envio de uma embaixada a Roma. Mas a decisão está sujeita a atrasos devidos a lutas e rivalidades entre tribos que não queria um reino Cristão.  
Após a morte de Frei Miguel Rangel, primeiro bispo do Kongo e de Angola, em 10 de Maio de 1602, é tomada a decisão de enviar uma embaixada a Roma. Álvaro Nimi-a-NKanga escolhe para embaixador António Manuel Nsaku Ne Vunda, de um clã de Mbata, que parte para Roma para uma audiência com o Papa Paulo V. Esta foi a primeira visita de um africano à Santa Sé.  António Manuel Nsaku Ne Vunda chegado a Roma a 3 de Janeiro de 1608, adoece gravemente, impossibilitado de se encontrar com o Papa Paulo V este visita-o no seu leito de morte. António Manuel Nsaku Ne Vunda faleceu a  6 de Janeiro de 1608.  Segundo a história, "o Papa Paulo V desenvolveu tal afeição pelo embaixador, que conhecia há apenas dois dias, que ele insistiu em que fosse sepultado na Basílica de Santa Maria Maior. Roma, Estados Papais. Onde se encontra o seu busto esculpido em mármore.

Papa Paulo V visita António Manuel Nsaku Ne Vunda,  no seu leito de morte.





Em 10 de Março de 1609, o soba Manikongo Álvaro Nimi-a-Nkanga,  foi agraciado com o título de "Cavaleiro da Ordem de Cristo" a cerimónia de consagração foi realizada  na Catedral de Santa Maria, em S. Salvador do Kongo, por Frei Manuel Batista Soares, primeiro Bispo do Kongo e de Angola, a benção foi feita com a água benta da bacia de prata (datada por volta de 1580), Pia Baptismal da Catedral de Santa Maria. 
Álvaro Nimi-a-Nkanga morre em 1614. Sucede-lhe o seu filho Bernardo Nimi a Nkanga que governou apenas, um ano, de 12 de Agosto de 1614 a Agosto de 1615. Seguem-se uma série de rivalidades e lutas entre tribos,  alguns  sobas duram pouco menos de um ano na chefia do Kongo. 
Como os dois últimos sobas de Kongo, Bernardo Nimi a Nkanga pertencia à tribo Kwilu kanda. Bernardo Nimi a Nkanga morre em Agosto de 1615. Sucede-lhe Álvaro Nimi a Mpanzu, da tribo Kwilu, governou o Kongo de Agosto de 1615 a 4 de Maio de 1622.  Álvaro Nimi a Mpanzu, morre em 1622, o seu filho Ambrósio era muito jovem para ser soba Manikongo. 
Em 1622, os membros do sobado elegeram Nkanga a Mvika, um kinkanga, fundador da tribo Nsundi, em Mbamba, governou dois anos sob nome de Pedro Nkanga a Mvika, morre em 1624.  A 27 de Abril de 1624, sucede-lhe o filho Garcia Mvemba a Nkanga, da tribo Nsundi, governou dois anos. Em S. Salvador, os membros do sobado não estavam dispostos a permitir a continuação no governo membros da tribo Nsundi. O chefe da tribo kwilu, Manuel Jordão, parte com um exército e avança sobre São Salvador, onde a 7 de Março de 1626 trava uma batalha contra o soba Garcia a Nkanga que foi derrubado e fugiu para Soyo. A tribo Kwilu kanda recupera o poder e Manuel Jordão ajuda Ambrósio Nimi a Nkanga a ser eleito soba do Kongo, governou de 1626 de Março a 7 de Março de 1631. Ambrósio Nimi a Nkanga lutou contra o seu benfeitor Manuel Jordão e conseguiu removê-lo do seu posto de Nsundi, exilando-o em uma ilha no rio Kongo.
Este não seria o fim dos problemas do soba Ambrósio Nkanga, durante o seu governo foi assolado por constantes rumores de conspiração e mobilizações de guerra, que culminaram em uma revolta massiva a 7 de Março de 1631, onde Ambrósio foi assassinado. Sucede-lhe Álvaro IV Nzinga a Nkuwu,  de  1631 a 1636. Ele chegou ao poder durante um período de grandes conflitos e motins no Kongo.
O chefe de Mbamba, Mwene Daniel Silva, marchou com a tribo sobre São Salvador onde se desenrolou uma batalha em 1631,  Álvaro IV Nzinga a Nkuwu ganhou a batalha, morre envenenado em 1636, sucede-lhe Mpanzu a Nimi,  sob nome de Álvaro V, da tribo Kimpanzu Kanda,  por um curto período, cujos opositores lhe dificultavam o poder por inveja, travou uma batalha contra o irmão, foi derrotado.
Seis meses depois, fez uma segunda tentativa, na qual viria a ser assassinado pelo seu primo Nimi a Lukeni a Nzenze a Ntumba, que assumiu o poder em 27 de Agosto de 1636, sob nome de Álvaro VI Nzenze a Ntumba, antes já tinha tentado matar o seu primo Álvaro V Mpanzu a Nimi e o seu irmão Garcia que viria a ser o seu sucessor.
Álvaro VI Nzenze a Ntumba  durante o seu governo de cinco anos, abandonou a região de Makuta e cedeu-a ao Mani Soyo, Daniel Silva, em 1637. Álvaro VI Nzenze a Ntumba, morre a 22 de Fevereiro de 1641. Sucede-lhe o seu irmão Nkanga a Lukeni a Nzenze a Ntumba, de 23 de Janeiro de 1641 a 1661, sob nome de Garcia ll Lukeni a Nzenze a Ntumba, o célebre "Kipaku" (que significa incerto), tanto se mostrava amigo dos portugueses como inimigo.
Garcia Lukeni a Ntumba, dando continuidade às guerras tribais, em Soyo trava uma guerra contra o Mani Soyo, Daniel Silva, onde foi derrotado ao tentar apodera-se da área fortificada do Soyo, em Mfinda Ngula.
Garcia Nkanga a Ntumba "Kipaku", baseou o seu governo e riqueza no tráfico de escravos. Mal os holandeses põem os pés em Angola, tratou de fazer alianças com a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Em agradecimento pelo acordo no comércio de escravos, realizado com os holandeses, e ajuda destes nas suas lutas contra o Mani Soyo Daniel da Silva, e contra os sobas amigos e fieis aos portugueses, onde devastava os seus sobados na captura de escravos, presentou várias vezes Johan Maurits van Nassau-Siegen, então, governador, pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, para o Brasil.  Entre outras coisas: escravos, peles de tigres, marfim (dentes de elefantes), chapéus de pele de castor.
A Sul dos Dembos a devastação aos sobados e os massacres na captura de escravos, leva as gentes da região de Nsala a uma revolta contra Garcia Nkanga Lukeni a Ntumba este pede ajuda aos holandeses que lhe mandam 50 soldados, abrem fogo sobre os rebeldes, matando centenas de rebeldes e outros em fuga desordenada são capturados centenas de rebeldes. A rebelião foi sufocada, 'Rebelião Nsala' ano 1642 a sul dos Dembos. 

                                  Holandeses no combate aos povos no sul dos Dembos  "Rebelião do Nsala".
  
Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba em agradecimento pela ajuda, e reafirmando a aliança com os holandeses,  presenteou Johan Maurits com 200 escravos capturados das fileiras dos rebeldes de Nsala, peles de tigres, marfim, e chapéus de pele de castor. E, ainda presentes famosos, como uma antiga bacia de prata (datada de 1580) oferecida pelos portugueses em 1609, para Pia Baptismal da Igreja de Santa Maria já denominada "Catedral de Santa Maria". 
Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba manda uma embaixada de bakongos portadores dos presentes e de uma carta: "com pedido de  desculpa por os escravos serem tão poucos", e se mostra satisfeito com a aliança Kongo-Holanda, e informa que disponibilizava fortalezas e outras facilidades comerciais para o tráfico de escravos. A embaixada bakongo chega ao Recife em principio de 1643.  Os escravos não passaram para a propriedade da WIC, mas sim como propriedade de Johan Maurits que viria a vende-los à Companhia das Índias Ocidentais no Brasil ".
Os presentes trocados consta em cópia de uma carta mandada ao soba Garcia Nkanga Ntumba: dizendo "...E duzentos escravos recebidos, foram vendidos à Companhia das Índias Ocidentais no Brasil ".
Duzentos escravos podiam render facilmente setenta mil florins no Recife, ou mais de três anos de salário de Johan Maurits, ilustrando os lucros potenciais a serem obtidos com o comércio de escravos.
Em 1642 Johan Maurits implorou à Companhia Holandesa das Índias Ocidentais para colocar Loanda sob sua administração.
 No comércio de escravos Johan Maurits não estava apenas envolvido pessoalmente com Garcia ll Nkanga Lukeni a Ntumba. Ele lucrava pessoalmente com o comércio e tráfico de escravos da África para o Brasil. Muitos dos escravos exportados para o Brasil, ele os negociava para ganho pessoal, com outros fazendeiros holandeses e inclusive com os seus patrões da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Esse fluxo de receita se relacionava com sua renda 'oficial' de salário e espólios.
Com a colaboração Garcia ll Nkanga Lukeni a Ntumba, Johan Maurits se tornou conhecido por grande comerciante de escravos, possuía dezenas de escravos, no seu próprio engenho (fazenda), que ele marcava com seu monograma. 
Durante seu governo de sete anos, pelo menos 24.000 homens, mulheres e crianças foram transportados para o Brasil holandês. Muitos não sobreviveram à viagem.
Johan Maurits de regresso à Europa em 1644, levando entre seus tesouros a bacia baptismal, de prata, da Catedral de Santa Maria de S. Salvador do Kongo.  Em 1658 viajou para Frankfurt, lá encaminhou a bacia de prata ao ourives Hans Georg Bauch, encomendando-lhe que dentro a revestisse de ouro e que adaptasse um pedestal, e mandou inserir  o brasão de armas de Nassau. Depois de pronta, ele doou a bacia para a Igreja Evangélica de Siegen, para Pia Baptismal, tornando-se um tesouro da  Igreja Evangélica de Siegen, Alemanha, onde permanece até hoje.
 
Pia baptismal de prata, c.1580, revestida em ouro, tem 53 cm de diâmetro, 12,3 cm de altura. Fonte: Igreja Evangélica de Siegen, Alemanha. 
Oferecida por portugueses para a Catedral de Santa Maria. Em 1642 foi  presenteada  por Garcia ll Nkanga Lukeni a Ntumba a Johan Maurits, então, governador do Recife-Brasil, em agradecimento ao acordo sobre o comércio de escravos.


Garcia a Ntumba Nkanga "Kipaku", morre em 1661. Sucede-lhe o filho Nvita a Nkanga, sob nome de António Nvita a Nkanga, dando continuidade às guerras tribais. Os vários conflitos tribais as sucessivas disputas na sucessão ao poder no Kongo, invasões estrangeiras: holandeses, ingleses, americanos, franceses, alemães e alguns resquícios espanhóis da chamada "União Ibérica", as guerras dos Jagas, a seca e a fome levaram a guerras civis intermitentes durante cerca de 55 anos. 
29 de Outubro 1665 António Nvita Nkanga com apoio dos holandeses e alguns resquícios espanhóis da chamada "União Ibérica", e com um exército de bakongos trava uma batalha em Ambuíla, onde é derrotado e decapitado por um quilamba da "guerra preta".
Em Novembro 1665, sucede-lhe Afonso II de Kongo e Nkongo, eleito pela tribo Kimpanzu e apoiado pelos seus partidários no Soyo. Quando a morte do soba Manikongo António Nvita a Nkanga, morto na batalha em Ambuíla, foi divulgada aparece um parente seu de nome Mpanzu-a-Mabondo (um kimpanzu) sob nome de Álvaro VII, depõe Afonso II de Kongo e Nkongo, e em Dezembro de 1665 Álvaro VII Mpanzu-a-Mabondo fez-se  eleger soba Manikongo, após um mês de assumir o poder, o novo chefe no Soyo, Paulo Silva, marchou sobre São Salvador e assassinou Álvaro VII Mpanzu-a-Mabondo, e colocou como Manikongo, Mvemba a Mpanzu (um kilanza), sob nome de Álvaro VIII Mvemba a Mpanzu,  governou de 1666 a 1669. 
E surgem uma série de conflitos e guerras tribais. A guerra civil estava em curso, o chefe de Mbemba, Nsimba Ntamba,  liderando um pequeno exército, atacou Mbamba e matou o chefe Teodósio,  de seguida invadiu a capital São Salvador assassinou Álvaro VIII Mvemba a Mpanzu, e proclamou-se soba do Kongo sob o nome de Pedro III Nsimba Ntamba, por um período curto, até Junho de  1669. Os Kilanza e os Kimpanzu lutavam fortemente  pelo poder.
Em Junho de 1669, o kilanza Pedro Nsimba Ntamba  foi derrubado por Álvaro IX Mpanzu a Ntivila (um kimpanzu), e forçou Pedro Nsimba Ntamba a sair do Kongo, este fugiu para  Lemba de onde continuava a lutar contra os Kimpanzu, a tribo Kimpanzu era simpática a Soyo e recebia ajuda dos holandeses que se tinham instalado no Zaire, dando continuidade ao tráfico de escravos.
O soba Pedro Nsimba Ntamba refugiado na fortaleza de Lemba, nas montanhas Kinlaza,  marchou sobre São Salvador com mercenários Jagas, resultando em uma batalha que queimou a maior parte da cidade. A destruição da capital São Salvador fez com que o Kongo deixasse de existir.
Álvaro IX Mpanzu a Ntivila, governou apenas, um ano. Em 1670 foi derrubado pela tribo Kilanza que colocou no poder Rafael I Nzinga a Nkanga, um anti-Soyo, que acabou com a intervenção do Soyo em S. Salvador. Durante o período da guerra civil o Soyo tornou-se independente do Kongo.
Em meados de 1673, Mvemba a Nimi, sob nome de Afonso III Mvemba a Nimi  reivindicou o poder e derruba Rafael I Nzinga a Nkanga que foi expulso de São Salvador. 
Afonso III Mvemba a Nimi torna-se soba por um curto período até meados de 1674, foi derrubado por Miala mia Nzimbwila (Daniel I), que governou por quatro anos. Em 1678 Daniel I Miala mia Nzimbwila foi morto durante uma batalha. Sucede-lhe o seu irmão Mpanzu a Nimi (Manuel II) governou de 1678 a 1715. Ao qual lhe sucede Nkanga a Mvemba (Garcia IV)  governou de 1743 a 1752. A Garcia IV Nkanga, sucede Misaki mia Nimi (Nicolau I) governou de 1752 a 1758. Pouco ou nada se sabe sobre estes sobas.

A capital do Kongo, São Salvador, foi destruída, os campos de agricultura incendiados. Os missionários seculares no Kongo foram expulsos, outros foram assassinados. Estes acontecimentos levaram a Coroa de Portugal pura e simplesmente a desinteressar-se e a ignorar o Kongo por mais de 170 anos 
                                
 S. Salvador- Kongo, 
gravura de "Uncivilized Races" (Raças Não Civilizadas),
de  John George Wood (1827-1889). 

Sem o apoio e intervenção Portuguesa, o famigerado Kongo entrou em caótica decadência, destruído e incendiado por contínuas lutas fratricidas de pretendentes ao poder no Kongo, numa geral e imparável desorganização. Mercê desta incontrolável situação, a famosa capital do Congo, “A dourada S. Salvador”, também designada por “Cidade dos Sinos”, a primeira urbe do hemisfério sul, desagregou-se e desapareceu para sempre, sacrificada pelas ambições de seus pretensos e auto proclamados “reis” do Kongo.
Das antigas residências dos portugueses, o palácio do soba, a Catedral de Santa Maria, e as Igrejas de S. Miguel, de N.ª Sra. da Conceição, de S. Tiago, de N.ª Sra. do Rosário, de S. João Baptista, de S. José, do Espírito Santo, dos Jesuítas, dos Capuchinhos, só restavam ruínas, amontoados de blocos e muito capim a cobri-los. E eram raros os vestígios da acção dessa Igreja que em tempos parecera florescente. 
 A partir do ano 1718, os relatórios de missionários são escassos, porque estes foram cada vez mais escassos no Kongo. A falta de missionários e padres portugueses, deve-se à natural relutância dos capuchinhos em enviar mais gente para o “Matadouro” do Kongo. Por isso, é possível que entre 1718 e 1763 não se conheça bem a exacta sucessão dos sobas no Kongo, nem as circunstâncias de como eram elegidos. 
No entanto, pode inferir-se o facto de nesse período de 1718 e 1763, ter havido apenas três sobas Manikongoso soba Manuel Mpanzu Nimi (1718 – 1730); o soba  Sebastião (1730 – 1743), e o soba Garcia Nkanga a Nvandu (1743 – 1752). 
Em 1764 Pedro V Ntivila a Nkanga cujo governo durou 12 meses, foi derrotado pelo kilanza, Nkanga a Nkanga (Álvaro XI). A soba Violante, de Wandu região dos Dembos, foi em ajuda de Pedro V Ntivila a Nkanga e atacou São Salvador. Apesar desta ajuda, em 1764 Pedro Ntivila a Nkanga abandonou a cidade arruinada, fugiu para Inzundo e refugiou-se na Fortaleza de Lovata  na área de Mbamba, onde permaneceu até à sua morte.Nkanga a Nkanga (Álvaro XI) da tribo Kinlanza, após ter derrubado Pedro Ntivila a  Nkanga apoderou-se do poder, de 1764 a 1778, criando inimigos nos seus muitos opositores de várias tribos no Kongo, com fundamento em que deveria ser um Kimpanzu e não um Kinlaza a estar no poder.  

Em 1766, o soba Álvaro XI Nkanga a Nkanga reconstruiu "em parte" a  cidade destruída, São Salvador, e o sobado viveu "alguma" estabilidade até 1778.   Álvaro Nkanga a Nkanga  morre em 1778. Em 1779 foi eleito Mpasi a Nkanga (José I) da tribo Kinlaza. Este não pôde tomar posse do governo até 1781 quando dispôs de um "exército" suficientemente forte. José I Mpasi a Nkanga solicita ajuda aos portugueses. A Coroa de Portugal, mais uma vez, vai em ajuda do Kongo e envia uma missão de quatro missionários portugueses que partiram de Loanda em 2 de Agosto de 1780: O Padre Mestre Fr. Libório da Graça religioso de S. Bento; O Padre Mestre Rafael Castello de Vide religioso reformado do Nosso Padre S. Francisco da Província da Piedade; O Padre Dr. André do Couto Godinho presbítero do hábito de S. Pedro e o Padre João Gualberto de Miranda religioso da Terceira Ordem da Penitência do Nosso Padre S. Francisco. 
Os últimos três subscrevem um relato da viagem publicado nos “Anais do Conselho Ultramarino”, certamente redigido pelo missionário Rafael Castello de Vide, uma vez que o missionário Libório da Graça faleceu durante a viagem. Este grupo de missionários chegaram à presença do soba José I Mpasi a Nkanga a 30 de Junho de 1781. Há mais de 50 anos que não havia padres em São Salvador.  Durante os oito anos que estes missionários estiveram ali, ministraram 380 000 Baptismos.

                                                                         Baptismos em São Salvador.


Também o Padre Dr. André do Couto Godinho acabou por falecer no Kongo.  O   missionário Rafael Castello de Vide escreveu mais tarde um livro com a descrição de toda a missão que durou oito anos (1780-1788), manuscrito com o título Viagem do Congo do Missionário Fr. Rafael de Castello de Vide, Bispo de S. Tomé em 1788” que se encontrava inédito em português na Biblioteca da Academia das Ciências; e traduzido para italiano e publicado por Marcellino da Civezza com o título “O Congo” na Storia Universale delle Missioni Francescane, 7, 4 (1894).  Na época também foram publicadas algumas cartas por Luis Silveira missionário português no Kongo,  e  algumas cartas do missionário João Gualberto de Miranda.

Em Mbamba Lovata a tribo Kimpanzu voltou a contestar e a reclamar o poder do sobado do Kongo, o que levou novamente a um conflito entre as duas tribos, os Kimpanzu contra os Kinlaza, culminando em uma batalha decisiva fora da capital São Salvador, que foi uma vitória para o Kilanza, José I Mpasi a Nkanga, e confirmou o seu governo. José Mpasi a Nkanga, morre em 1785. Foi sucedido por seu irmão Ndo Mfunsu (Afonso V) de 1785 a 1787, da tribo Kinlaza em Nkondo. Afonso V Ndo Mfunsu,  governou  apenas dois anos, a sua morte repentina, possível envenenado por seu sucessor que pretendia o poder, causou um período de turbulência dentro do Kongo que não terminaria, os confrontos tribais de 1678 a 1803, levaram a guerras civis contínuas por mais de meio século, levando a Coroa de Portugal a desinteressar simplesmente do Kongo por mais de 160 anos.

Gravura de "Uncivilized Races" (Raças Não Civilizadas),  J. G. Wood.


Em 1792Npanzu-a-Mabandu apresentava-se como soba regedor do Kongo. A 17 de Março de 1792, o Governador de Angola, Manuel de Almeida e Vasconcelos de Soveral, recebeu uma embaixada enviada por Npanzu-a-Mabandu que pedia um missionário capuchinho para o nomear soba do Kongo. Em Agosto do mesmo ano, 1792, partiram de Loanda os capuchinhos italianos Giuseppe Maria da Firenze e Raimondo da Dicomano. O frade capuchinho Raimondo estava incubido de nomear Nepanzu-a-Mabandu (Aleixo I) soba do Kongo, acabando por ficar como refém do soba que morreu pouco depois. Aleixo Mabandu falhando na sua autoridade sobre as tribos, quase não tinha para comer, governou apenas um ano de 1792 a 1793, após a sua morte, sucedeu-lhe Joaquim I, que governou o Kongo igualmente um ano, de 1793 a 1794, pouco ou nada se sabe deste soba, nem como ocorreu a sua eleição. Continuava a guerra civil causada pelas rivalidades tribais.
Ao soba Joaquim I, sucede Henrique II Masaqui ma Ampanzu, de 1794 a 1803, também, pouco ou nada se sabe deste soba, nem como ocorreu a sua eleiçãoHenrique Masaqui ma Ampanzu morre em 1803, aparecem dois pretendentes a soba do Kongo, os chefes tribais Garcia e Rafael.

(O Frade capuchinho Raimondo escreveu um relato da sua missão, que foi publicado em português, pelo Padre António Brásio. O original está em italiano, encontrando-se no "Arquivo Histórico Ultramarino", onde foi descoberto apenas em 1977. É um relato muito pessimista, mas que retrata a realidade, quer sob o ponto de vista material, quer sob o ponto de vista humano, quer sob o ponto de vista religioso.)                                    
Na falta de Missionários no Kongo, Garcia Nkanga a Mvemba insistia para Loanda para que o Governador lhe enviasse um missionário para o nomear soba. 
A 20 de Novembro de 1804 partiu de Loanda um missionário, mas foi assaltado no caminho e assassinado e as suas bagagens roubadas. Após este crime, só em 1814 é que o Governador conseguiu convencer o Superior dos capuchinhos Don Luigi-Maria d’Assisi a ir a São Salvador. 
A 17 de Março de 1814, Don Luigi-Maria d’Assisi chega a São Salvador e presidiu ao casamento religioso do soba Nkanga a Mvemba (Garcia V) e à sua eleição. Em Novembro de 1814, Don Luigi-Maria d’Assisi regressa a Loanda. Durante a sua estadia em São Salvador, ministrara 25000 baptismos e, com intérprete, ouvira 6000 confissões. Don Luigi-Maria d’Assisi não sobreviveu muito depois da sua viagem, morreu em Loanda em Julho de 1815. 


                                                     O soba Garcia Nkanga  a Mvemba, sentado, com seus vassalos e guardas.   
                                                                                                              
 
O soba Garcia Nkanga a Mvemba, morre em 1830, sucede-lhe Mvizi a Mkanga Lukeni (André II) de 1830-1842. Em São Salvador não havia nenhum missionário e por isso, André Mvizi a Lukeni não chegou a ser nomeado soba. Havia um padre kongolês, que foi rejeitado, aparentemente não servia para o efeito, desconhece-se a causa.
(Em 1835, havia ainda dois missionários em Loanda, o Frade Pietro Paolo da Bene e Frade Bernardo da Burgio, foram expulsos em 1835, pelo decreto de 28 de Maio de 1834 do maçon Joaquim António de Aguiar o "mata-frades" que suprimiu todas as ordens religiosas).  
Em 1842, André Mvizi a Lukeni é derrubado por Mpanzu a Nsindi a Nimi a Lukeni (Henrique III) e  torna-se soba regente do Kongo até 1857. Henrique III conseguiu assumir o poder com um compromisso de paz entre as várias tribos que haviam sido intermediadas da tribo d'Água Rosada, e que tinham laços familiares com os Kinlaza e os Kimpazu.  Henrique III Mpanzu enviou a Loanda o seu filho Álvaro, pedindo que um padre o fosse nomear soba do Kongo.
O Capítulo dos Cónegos do Kongo, há dois séculos em Loanda, encarregou o padre africano, António Francisco das Necessidades, do caso e este chegou a São Salvador em Novembro de 1843. Ao assumir o poder, Mpanzu a Nsindi a Nimi a Lukeni (Henrique III) entregou ao padre um manuscrito datado de 1 de Janeiro de 1782, contando a história do Kongo Cristão, para que ele o copiasse; este texto foi publicado no Boletim Oficial de Angola. Mais tarde, o mesmo padre fez diversas viagens ao interior do Kongo; em 25 de Março de 1845, redigiu um relatório sobre as suas actividades durante 15 meses: ministrara 106 064 baptismos, ouvira 455 confissões e dera o hábito de Cristo a 70 kongoleses.
Em Junho de 1845, o Governador de Angola, Pedro Alexandrino da Cunha (1845-1848), enviou como seu embaixador a São Salvador, o capitão António Joaquim de Castro, que era portador de uma carta do Governador, datada de 31 de Maio, em que o soba regedor era convidado a enviar o seu filho Álvaro para estudar em Lisboa.  O Capitão António Joaquim de Castro assinou com o soba Henrique III Mpanzu a Nsindi a Nimi a Lukeni, um acordo com cinco artigos. Em virtude do tratado, o soba  do Kongo permitia aos portugueses fixarem-se nas terras do Ambriz e aí construir uma Fortaleza.
 Os portugueses, por sua parte, comprometiam-se a reconstruir uma das igrejas da capital, São Salvador do Kongo; a manter aí um missionário e um professor; e viriam em ajuda do soba se ele fosse atacado na sua capital. 
Nesse mesmo ano, 1845, Henrique III Mpanzu enviou um dos seus filhos para estudar em Lisboa, mas não foi Álvaro, mas o irmão mais novo, Nicolau d'Água Rosada. Nicolau estudou em Coimbra durante um ano, em 1847 regressou a Loanda para aí prosseguir os seus estudos. Concluídos os estudos, Nicolau não regressou ao Kongo. Em 1850, foi-lhe dado um lugar escrivão da Fazenda em Loanda, tendo sido  transferido para o Ambriz em 1857. 

Lisboa, Novembro 1845, Nicolau d'Água Rosada com
    traje por ocasião da sua visita à Rainha D. Maria II.



O soba Manikongo, Henrique III Mpanzu Nsindi Nimi a Lukeni,  ficou satisfeito por os portugueses irem ocupar Ambriz, facto que ocorreu em 1855.  O chefe tribal de Ambriz era um rebelde e havia muitos anos que não pagava o tributo devido. O tributo, ainda que nominal, era importante.  Em 1856, os portugueses  iniciam a exploração do cobre nas minas do Bembe (Uíge). Henrique III Mpanzu Lukeni conseguiu reconstruir em parte a cidade destruída, S. Salvador, e o seu governo sobreviveu durante muito tempo graças ao tráfico de escravos. Henrique Mpanzu morre a 23 de Janeiro de 1857. A sua morte marcou um ponto de viragem na vida política e económica do Kongo que regressava às guerras tribais. 
Desde os primeiros dias após a morte do Henrique III Mpanzu Lukeni, o povo elegeu como sucessor o chefe tribal Álvaro Makadolo, filho de uma irmã falecida de Henrique III Mpanzu. Segundo os costumes, o soba regedor eleito só poderia  assumir o poder após a morte do seu predecessor, cujo cadáver, embrulhado em muitos panos e “fumado”, era mantido durante muito tempo, um ano ou mais. O governo foi confiado a Isabel, outra irmã do soba defunto, Henrique III Mpanzumãe de três filhos; Afonso, Pedro Ntotela, e Henrique Nuzanga, e de duas filhas.  Pedro Ntotela da tribo d'Água Rosada, entre os seus era conhecido por Elello (o rei dos Panos) e ainda conhecido por Ntinu a Kongo e Weni W’ezulu, era chefe de uma tribo de Katende, região de Pango AluquémPedro Ntotela e seu irmão Henrique Nuzanga, em Junho de 1857 assinaram um acto de fidelidade à Coroa Portuguesa, pelo que agradaria ao Governador a eleição de Pedro NtotelaSurgiu um terceiro pretendente: um certo Kiambu, chefe de uma tribo em Nkunga, localidade a uma hora de caminho, a sudoeste de São Salvador. Em Junho de 1857, o chefe tribal Kiambu atacou a capital, São Salvador, que incendiou, mas foi derrotado pelos filhos da soba Isabel.
O Rei de Portugal, D. Pedro V, deu ordem ao Governador de Angola para que um ou mais padres se dirigissem a São Salvador para fazerem o funeral do soba falecido e nomeassem o seu sucessor. Excluindo Álvaro Makadolo (Dongo). E esperava-se que uma nova eleição desse preferência a Pedro Ellelo. Mas na altura não havia padres disponíveis. Ainda antes da eleição, houve duas tentativas falhadas.
 
Em meados de 1858,  Pedro Ntotela foi visitar as minas de Bembe (região do Uíge) e pediu aos portugueses para enviarem padres a São Salvador para a sua eleição. Algum tempo depois da sua partida de Bembe, o pároco de Ambriz, José Agostinho Ferreira, juntou-se ao pároco de Bembe, José Maria de Morais Gavião e, a 7 de Outubro de 1858 dirigiram-se ambos a São Salvador para a eleição de soba. Prevendo a oposição por parte de  Álvaro Makadolo, os padres foram escoltados por trinta soldados sob as ordens do Capitão Zacarias da Silva Cruz, Administrador do Concelho. No caminho, pararam em Kinilasa, onde residia Pedro Ntotela, este, porém, não ousou acompanhá-los a São Salvador. Porém, chegaram mensageiros com uma carta escrita em nome de Ana a soba-viúva de Mbamba, e de  Álvaro Makadolo, pedindo que os padres se apressassem a ir para São Salvador para enterrar o soba defunto. Os padres partiram para São Salvador e aí permaneceram desde o dia 1 a 22 de Outubro, ministrando um grande número de baptismos. Fizeram o funeral do soba Henrique d'Água Rosada mas recusaram-se a eleger Álvaro Makadolo, que se tinha apoderado da cidade. Na recusa de eleger Makadolo, a população virou-se contra o Capitão Zacarias da Silva Cruz, considerado responsável por esta recusa. Com uma escolta, o Capitão Zacarias da Silva Cruz abandonou a cidade, acompanhado pelos padres.
O Capitão Zacarias da Silva Cruz escreveu uma viva descrição desta viagem que foi publicada no "Boletim Oficial do Governo Geral da Província de Angola". Em Bembe, o Capitão Zacarias da Silva Cruz preparou uma nova expedição, levando desta vez 100 soldados. Os padres foram bem acolhidos, mas a presença dos soldados não conseguiu intimidar a população e o Capitão Zacarias da Silva Cruz regressou a Bembe. A eleição de  Pedro Ntotela provocaria a resistência armada da população instigada por Álvaro Makadolo que agora, também,  pretendia as minas de Bembe, de onde eram extraídas anualmente 200 a 300 toneladas de malaquite com métodos rudimentares e vendidas pelo povo.  Anteriormente, a exploração das minas era feita por uma companhia inglesa, e tinha redundado em fracasso total: nove meses após a chegada dos mineiros ingleses, oito deles tinham sucumbido ao infecto e insalubre clima e os restantes foram repatriados. 
No Kongo reinava o caos, os confrontos e as guerras tribais. O Governo de Loanda decidiu então impor Pedro Ntotela pela força. Em meados de 1859, o Capitão de artilharia Joaquim Militão de Gusmão, foi destacado para o efeito para Bembe. Acompanhado pelo Capitão Zacarias da Silva Cruz e pelos párocos de Ambriz e de Bembe, dirigiu-se com Ntotela para São Salvador. 


Pedro Ntotela Ntinu a Kongo  W’ezulu, conhecido por Elello (rei dos panos).



Em Mbanza, a 7 de Agosto de 1859, Pedro Ntotela foi eleito soba Manikongo. Na ocasião, assinou um acto de homenagem e fidelidade à Coroa de Portugal, confirmado por juramento. Este acto foi redigido em quatro exemplares, dos quais um foi entregue ao novo soba e depois publicado no Boletim Oficial de Angola, de 17 de Setembro de 1859. O acto foi assinado por Ntotela, por dois Comandantes militares portugueses e por dois padres; e ainda assinaram  Álvaro de Mbamba e irmão de Ellelo o novo soba;  Álvaro d'Água Rosada, chefe tribal de Mbanza Puto; António irmão da soba-viúva e por três funcionários do novo soba do Kongo: o primeiro e o segundo secretários e o escrivão do Estado, José Pedro, originário de Massangano, e residente há nove anos no Kongo. Cinco sobas analfabetos (de Sekueda, de Kimpesi, de Kintunu e de Sambu) deram o seu acordo com uma cruz.
Não estiveram presentes no acto os que  antes apoiavam Makadolo; o chefe de Mbanza Putu, Álvaro d'Água Rosada, que era tio de Makadolo, mas também sobrinho de  Pedro Ntotela (a quem viria a suceder em 1891);  António, irmão da soba viúva. Os filhos do soba Henrique Mpanzu a Lukeni, Domingos e Álvaro Makadolo (Dongo). 
 Pedro Ntotela após ser eleito soba do Kongo, teria agora de ficar à espera que os militares portugueses lhe abrissem o caminho para São Salvador.  O Capitão Joaquim Militão de Gusmão, não se atrevia a atacar São Salvador, apesar das ordens emitidas do Governador-Geral de Angola, José Rodrigues Coelho do Amaral
Em Outubro de 1859 o Governador do Ambriz, Sousa Menezes, dirigiu-se pessoalmente a Mbanza e ordenou ao Capitão Joaquim Militão de Gusmão que atacasse. Este, obrigado a obedecer à ordem, a 12 de Novembro, à frente de 75 soldados, passou à acção. Mas, como ele mesmo havia previsto, as forças de Álvaro Makadolo, eram mais numerosas. 
Ao mesmo tempo que os soldados se retiravam em debandada, deixando no terreno uma peça de artilharia, o Capitão Joaquim Militão de Gusmão foi morto, e o governador do Ambriz, Sousa Menezes, foi ferido na cabeça. Os negros levaram o cadáver do Capitão Joaquim Militão de Gusmão. Diz-se que Makadolo lhe arrancou o coração e comeu um pedaço, enquanto utilizava o seu crânio como taça para beber o vinho de palma. 

  Os dois chefes tribais candidatos a Manikongo, soba regedor do Kongo, sentados:
 à esquerda  o chefe tribal Garcia Nkanga a Mvembaà direita o chefe tribal Rafael. 


A 13 de Fevereiro de 1860, Nicolau d'Água Rosada abandonou o Ambriz com a ajuda do cônsul brasileiro, Saturnino de Sousa e Oliveira. Este estava disposto a ajudá-lo a sair de Angola e foi ter com o cônsul inglês, Edmund Gabriel, para que este procura-se um navio inglês, que o pudesse levar até ao Brasil, partindo de um porto a norte do Ambriz.  Nicolau alegou que a sua ida para o Brasil era com a finalidade de completar a sua educação. Mais tarde, o cônsul brasileiro, Sousa e Oliveira, falou de um plano de Nicolau d'Água Rosada de embarcar 200 e dizia que ele podia arranja 400 escravos, fazendo-os passar como seus criados que, com o conhecimento do cônsul inglês, venderia a um agente francês na costa. A venda de escravos era já uma actividade exercida pelo pai, o soba Manikongo Henrique II Masaqui ma Ampanzu
Nicolau d'Água Rosada partiu do Ambriz para Kissembo, munido de uma carta de apresentação do cônsul inglês para qualquer navio da mesma nacionalidade. Quando chegou a Kissembo, entrou na casa do comerciante inglês Mr. Morgan. A casa foi logo cercada por um enorme grupo de negros hostis, que gritavam por Nicolau, ao mesmo tempo que forçavam a porta, o comerciante inglês Morgan entregou-lhes Nicolau, os negros arrastaram Nicolau para o exterior da casa e assassinaram-no com extrema brutalidade. 

Nicolau d'Água Rosada.


Em 1836 Portugal faz um Tratado com a Grã-Bretanha, onde os britânicos se comprometem "totalmente" com os portugueses em acabar com o comércio de escravos, e aboli-lo completamente, compromisso não respeitado.
Grã-Bretanha, América, França e outros estrangeiros, indiferentes ao abolicionismo da escravatura imposto por Portugal nos seus territórios ultramarinos davam continuidade ao comércio e tráfico de escravos. Em 1830 barcos ingleses e americanos aparecem na costa do Kongo junto ao rio Zaire, para embarcarem escravos. Em 1835 barcos com bandeira espanhola embarcam escravos na costa do Kongo.
O cônsul inglês servindo-se da colaboração do cônsul brasileiro, Saturnino de Sousa e Oliveira,  começou a planear uma aliança com o Brasil.
Em 1841 em Luanda, capital portuguesa de Angola, foi aplicada a lei do abolicionismo, os britânicos, americanos, franceses e outros estrangeiros rumam para o norte e começam a apoderarem-se da costa litoral desde o Ambriz ao Loango-Cabinda, onde os portos ainda não eram controlados. Os britânicos rapidamente passaram a dominar a zona do Ambriz. As autoridades portuguesas em Loanda, simplesmente, toleraram a presença britânica pelo Tratado de 1836.
Com o objectivo no comércio de escravos, em 1841 comerciantes americanos estabelecem-se no Ambriz, e em 1845 comerciantes franceses e britânicos estabelecem-se no AmbrizFacto que leva Portugal a proibir pela segunda vez a escravatura, por Decreto em 1854.
Para fazer frente à invasão britânica, e de acordo com os preceitos  Jurídicos que norteavam o pensamento de legitimidade do "Direito Histórico" de Portugal,  os portugueses consolidaram-se no Ambriz em 1855, em Bembe em 1856, e em S. Salvador em 1858.
Em Maio de 1855 o Tenente de marinha, Baptista de Andrade, é nomeado Governador do distrito de Ambriz. Parte da Metrópole com uma força expedicionária de 750 homens. Em 16 de Setembro de 1860, o Tenente Baptista de Andrade avançou para São Salvador e expulsou Álvaro Makadolo que fugiu para casa de seu irmão Rafael, chefe tribal de Nkunga, a duas horas de caminho de São Salvador. Três semanas mais tarde, a 9 de Outubro, Makadolo com mais de 2000 negros seus adeptos, avançam para São Salvador e lançaram-se em contra-ataque contra a residência de Pedro Ntotela. Foram derrotados pelos soldados portugueses que, em represália, queimaram treze tribos pondo em fuga os apoiantes de Makadolo.   Entretanto, o novo soba eleito, Pedro Ntotela, ainda não tinha entrado em São Salvador. Na sua entrada  é acompanhado pelas forças expedicionárias portuguesas.                               
                                                                                          
        Almirante José Baptista de Andrade.
                                                                    
Em Setembro de 1844, José Baptista de Andrade foi promovido a Segundo-Tenente, e a Primeiro-Tenente em Setembro de 1845.
Em Maio de 1855 foi nomeado Governador do distrito de Ambriz. Em Outubro de 1857 após o seu desempenho numa série de campanhas contra revoltas de vários povos indígenas, foi-lhe atribuída o grau de Oficial da Ordem da Torre e Espada e promovido por distinção no campo de batalha, ao posto de Capitão-Tenente em Abril de 1858.
Em 1859, foi renomeado Governo de Ambriz e nomeado superintendente das minas de Bembe. Em 21 de Setembro de 1860 foi promovido a Capitão-de-Fragata, no qual desempenhou a função de comandante da corveta "Estefânia" e em Agosto de 1862 foi nomeado Governador-Geral de Angola.
Já em 1889 foi promovido a Vice-Almirante; e em 1890 Comandante-Geral da Armada Portuguesa; tornando-se em 1892 Vice-Presidente do Conselho do Almirantado e em 1895 promovido ao posto de Almirante. 
Condecorações:  Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Ordem Militar de Avis.
Medalha da Expedição a Angola - 1860, grau ouro (em exposição no Museu da Marinha).
Desde o verão de 1860 até finais de 1861, as doenças em Angola causaram uma autêntica razia entre os militares enviados da Metrópole. As guarnições de Ambriz, Bembe e S. Salvador perderam 304 soldados e 16 oficiais, ceifados pela malária e outras doenças tropicais.
Em 1865, a tropa portuguesa desistiu da ocupação militar e abandonou S. Salvador. Não se concretizou, porém a previsão do Governador Francisco António  Gonçalves Cardoso, de que  Pedro Ntotela  Ntinu a Kongo  W’ezulu  seria morto após a retirada da tropa portuguesa, não se viria a concretizar, com o apoio dos portugueses, Pedro Ntotela governou de 1859 a 1891.

Seria a partir de 1881, ano em que o Padre António José de Sousa Barroso ali iniciou a sua actividade, que a Coroa de Portugal voltaria a ter interesse pelo Kongo. 

1881 - a 13 de Fevereiro de 1881 chegou a S. Salvador uma missão de três padres, António José de Sousa Barroso, Sebastião José Pereira e Joaquim Folga, com quem vinham quatro operários. O Padre D. António José de Sousa Barroso (1854-1918) tinha por missão fazer frente à Igreja Evangélica Baptista, vigiar Stanley (Henry Morton Stanley) e outros estrangeiros no Kongo e, de certo modo, reimplantar a presença portuguesa. Na falta de tropas, ele e os companheiros foram, de 1881 a 1888,  a sentinela de Portugal no Kongo.  A tarefa era difícil, pois os protestantes dispunham de muito mais fundos que a missão católica,  e  conquistavam a amizade dos sobas com presentes valiosos. 
O Manikongo Pedro Ntotela  Ntinu a Kongo  W’ezulu renovou sua aliança com Portugal em 1883 após anular o tratado com o Estado Livre do Congo, agora propriedade do rei Leopoldo II da Bélgica. 

Em Julho de 1888, voltou-se a ocupar São Salvador com uma pequena força militar, sendo nomeado Residente, o Capitão João Rogado de Oliveira Leitão. O soba Manikongo Pedro V Ntotela deixou de poder cobrar impostos e de condenar à morte, passando a receber do Governo 30$000 réis mensais. 
A 14 de Fevereiro de 1891 morre Pedro V Ntotela  Ntinu a Kongo  W’ezulu (d'Água Rosada). Devido à ajuda dos portugueses, Pedro Ntotela governou de 1859 a 1891. Após a morte de Pedro Ntotela sucede-lhe Álvaro Mwemba Mpanzu Mfutila, também da tribo d'Água Rosada, de 1891 a 1896. 
Muitos anos depois da morte (natural) de Álvaro Makadolo em 1875, em 1898 ainda não estava sepultado, por vontade dos seus parentes e partidários que diziam que havia de ser sepultado em São Salvador, sobre o cadáver do soba Pedro Ntotela Ntinu a Kongo W’ezulu (d'Água Rosada), que faleceu em 14 de Fevereiro de 1891. 

                                        Pedro Ntotela, Ntinu a Kongo W’ezulu (da tibo d'Água Rosada) 
                                                      conhecido por "Elello" (rei dos panos).                                                                                                                            

                                                                                          Casa da velha missão católica portuguesa do Congo.



                                                                       José Heliodoro de Corte Real Faria Leal,
                                               Capitão do Quadro Ocidental das Forças Ultramarinas.

                  Em Fevereiro de 1896, chega a São Salvador o novo Residente Titular, o Capitão José Heliodoro de Corte Real Faria Leal, encontrou um clima de relações pouco amistosas, entre a protestante inglesa BMS (Baptist Missionary Society) "Sociedade Missionária Baptista Protestante, e os representantes da Igreja Católica. Por exemplo, a missão de Pinda e Soyo (Santo António do Zaire), a cargo dos espiritanos teve que ser encerrada por serem acusados de vários casos, entre os quais, de não ajudarem a população que não tinham alimentos durante o tempo das chuvas e das secas.


                                                  
     S. Salvador, ano 1880, a BMS "Sociedade Missionária Baptista"Protestante.
                                                    

                                     Missão da "Sociedade Missionária Baptista" em Pinda - Zaire.                                                                                                                          
                                          1880, Missão da Sociedade Missionária (BMS) em Loango (Cabinda).     
                   

1896, Loango -Cabinda. Fecho da Missão e expulsão dos espiritanos da BMS.


                              
                                                           O soba Álvaro Mwemba Mpanzu Mfutila (d'Água Rosada), o Residente Faria Leal, sentado de fato claro, acompanhado por dom José Agostinho Ferreira pároco de Ambriz, dom José Maria de Morais Gavião pároco de Bembe, e outros portugueses da expedição. Álvaro Mwenba Mpanzu Mfutila, encontrava-se bastante doente, foi enviado para Lisboa para ser tratado. Acabou por falecer em 18 de Novembro de 1896. 


 Óbito e velada do soba Álvaro Mwemba Mfutila.

 Dança do óbito.
Funeral do soba Álvaro Mwemba Mfutila.


Por morte de Álvaro Mwemba Mpanzu Mfutila, não ficou herdeiro directo, apenas um sobrinho seu, Pedro Lelo d'Água Rosada, filho da sua meia- irmã. O poder no Kongo  pertencia assim a Pedro Lelo d'Água Rosada, menor de 7 anos, sobrinho do soba falecido Álvaro Mwemba Mpanzu Mfutila. Alguns dos conselheiros apresentaram Pedro Lelo d'Água Rosada ao Residente português José Heliodoro de Corte Real Faria Leal, pedindo que fosse mandado para Lisboa, a fim de ser educado para ocupar o poder no Kongo quando fosse de maior idade. Na falta de um herdeiro adulto para soba regedor do Kongo, uma parte do povo apresentou Henrique Teiéquengue, um parente próximo de Álvaro Mwemba Mpanzu Mfutila. 
 Capitão Faria Leal, autoridade administrativa, após a reocupação militar do Kongo, conseguiu reatar as relações entre os partidários de Dongo e as populações de São Salvador.  Assim, em Abril desse ano (1896) fazia-se o funeral definitivo do soba Álvaro Makadolo, cujos restos mortais jaziam num chimbeque (cubata) ao fumeiro, embrulhado num grande rolo de panos, desde a morte ocorrida em 1875.
José Heliodoro Corte Real de Faria Leal, conseguiu que o chefe tribal Rafael, irmão de Álvaro Makadolo, lhe entrega-se o crânio do Capitão Joaquim Militão de Gusmão, para lhe dar sepultura. O sinistro chefe tribal Rafael, como o seu irmão Makadolo, também, usava o crânio do Capitão Joaquim Militão de Gusmão para beber o vinho de palma.


                                             Lado direito, sentado, o sinistro chefe tribal Rafael, irmão do Makadolo. 
             

Em 1896, este foi o estado em que José de Corte Real Faria Leal, 
encontrou o chimbeque (cubata) que abrigava os restos mortais dos últimos sobas do Kongo. 

Os responsáveis pelo restauro do chimbeque (cubata):
José Heliodoro de Corte Real Faria Leal sentado à esquerda com fato escuro, ao seu lado  Paulo Midosi Moreira com o  chapéu branco sobre o joelho.



Depois da recuperação do chimbeque que abrigava os restos mortais dos últimos sobas do Kongo, os portugueses procedem o seu trabalho na recuperação da Catedral da Santa Maria, construída por portugueses em 1492. Das continuas guerras tribais que devastaram a cidade S.Salvador, ficaram apenas escombros.

 Escombros da primeira cidade construída por portugueses, S.Salvador, em 1492.

     
Este foi o estado em que os portugueses encontraram
 a "Igreja da Santa Cruz" construída por portugueses em 1492. Mais tarde denominada Catedral de Santa Maria.

                                                                      Degraus que dariam acesso à cidade S. Salvador.                                                                               


Sobre o muro lateral da Igreja, lado esq., a equipa que realizou 
a primeira recuperação da Catedral de S. Salvador "Santa Maria".

A Catedral da Santa Maria já visivelmente recuperada.





Em Novembro de 1896, o menor Pedro d'Água Rosada Lelo, segue para Loanda para ser educado, e Henrique Teiéquengue foi reconhecido como soba regedor. A 9 de Julho de 1897, o Governador Geral, Guilherme Augusto de Brito Capelo, decidiu mandar o menor Pedro de Água Rosada Lelo para a missão católica dos padres do Espírito Santo, na Huíla, a fim de ali fazer os seus estudos, e não para Lisboa, como tinha sido pedido, o que desagradou a vários elementos e ao Residente português José Heliodoro Faria Leal.

Na cubata do soba Henrique Teiéquengue, último à direita, sentado. 
 José Heliodoro de Corte Real Faria Leal, de fato escuro e gravata, a seu lado Luís Galhardo -Major de Infantaria, jornalista e etimólogo (1874-1929). Acompanhados por outro português


A 23 de Abril de 1901, o soba Henrique Teiéquengue morre de uma angina , sem sucessor, apareceram vários pretendentes ao poder do sobado, entre eles  Álvaro de Água Rosada (Tangue) e Garcia Quibilongo, soba de tribo Quimiala, na Madumba (Zaire), que acompanhara o regedor do Kongo a Lisboa. 
Por não haver qualquer possibilidade de entendimento entre os apoiantes de um e os apoiantes do outro, o Residente português, José Heliodoro de Corte Real Faria Leal, indicou um terceiro, de nome Pedro Bemba, soba de Tuco uma tribo em Mbanza, e parente do soba falecido, Henrique Teiéquengue. A 8 de Maio Faria Leal convence os sobas locais a aceitarem Pedro Bemba, como escolhido para suceder ao soba Henrique Teiéquengue. Pedro Bemba abraçou a fé católica em vez da protestante da missão inglesa que, com presentes valiosos conquistava os sobas. A população aceitou Pedro Bemba, mas continuando a contar com Pedro Lelo d'Água Rosada, o educando da missão na Huíla.
Em Agosto de 1899, o Residente José  Faria Leal avança de S. Salvador com 40 soldados e artilharia e instala um posto no Cuilo (Lunda Norte) no rio do mesmo nome, a 20 quilómetros da margem esquerda do rio Cuango.

                                                               São Salvador, 10 de Agosto de 1899,
             a tropa expedicionária na saída de S. Salvador para  o Cuilo (Lunda Norte).    
                                          

                                                              O soba de Maquela do Zombo (Uíge) em 1908,
           esperando a comitiva da expedição portuguesa.  
                     

                                             
                                                              


A 8 de Maio de 1903, o Governador-Geral de Angola, Francisco Xavier Cabral de Oliveira Moncada, ordenara a prisão dum traficante de escravos no Bembe, ordem executada por José Heliodoro Faria Leal que, saído de S. Salvador se dirigiu ao Bembe, região do Uíge.      

                                                               Francisco Xavier Cabral de Oliveira Moncada
      (1859-1908).

 Francisco Xavier Cabral de Oliveira Moncada, conhecido por Cabral Moncada, nasceu em Constância, a 2 de Setembro de 1859. Foi um administrador ultramarino, e Governador-Geral da Província de Angola entre 1900 e 1903. Durante o seu mandato como administrador, coordenou as operações no Planalto Central, no combate às guerras tribais dos ovimbundos, no Luso-Huambo, comandadas pelo chefe tribal Mutu-ya-Kevela. 
O Governador Francisco Xavier Cabral de Oliveira Moncada responsável pela expedição militar que levou à pacificação do Planalto Central. Em sua memória foi dado o seu nome ao Forte no Huambo “Forte Cabral Moncada, construído em 1902, na época, referido como “Forte de Huambo” e, pela Portaria n.º 431, de 20 de Setembro de 1903 denominado “Forte Cabral Moncada” em homenagem ao então Governador-Geral de Angola, Francisco Xavier Cabral de Oliveira Moncada (1900-1903). Em 1912, foi neste Forte que se organizaram os serviços administrativos e políticos que conduziram à fundação da cidade de Nova Lisboa, no mesmo ano, pelo então Governador-geral, José Mendes Norton de Matos (1912-1915).
E, em Luanda foi dado o seu nome a uma rua "Rua de Cabral Moncada"na zona da Maianga  e início no lado este do Liceu Salvador Correia de Sá.
Francisco Xavier Cabral de Oliveira Moncada, faleceu a 4 de Janeiro de 1908.


                                                                           Forte Cabral Moncada, no Huambo,
 localiza-se a oito quilómetros da cidade de Nova Lisboa, no Huambo.

                                                                                Luanda.


José Heliodoro de Corte Real Faria Leal (1862 -1945)
Capitão do Quadro Occidental das Forças Ultramarinas.
José Heliodoro de Corte Real Faria Leal permaneceu no cargo até 1910,
regressando depois em 1911 até Março ou Junho de 1912.
Entre os negros ficou conhecido por "O Homem que endireita a terra".




                                                                      Chefe Tribal (soba) de Mbemba.                                                                                          

                                                                Um soba que guardava fidelidade à  Coroa de Portugal. 

Sentado, sob o guarda -sol, um soba e sua coorte.
                           
                                                                                        Dembos, um soba e sua coorte.
Dembos, o soba da foto acima. 

Quitexe, um soba e sua coorte.

Maquela do Zombo, um soba e sua coorte.





OS SOBAS DO KONGO:
Aqueles de que se tem conhecimento. Alguns não duravam mais que 1 ano, outros apenas alguns meses, e muitos outros eram assassinados pelas tribos rivais antes de serem eleitos.

 João  Nzinga-a-Nkuvu (1491 – 1506).
  Afonso  Mvemba-a-Nzinga – (1506 - 1542 ou 1543)-Após a morte do pai (João  Nzinga-a-Nkuvu) combateu contra o irmão Mpanza a Kitima, que morreu na refrega. 
Pedro Nkanga-a-Mvemba – 3 anos de governo (1542 – 1545). 
Francisco Mpudi-a-Nzinga –1 ano de governo (1545-1546).  
Diogo  Nkumbi-a-Mpudi (1546 – 1561). 
Afonso Mvemba-a-Nzinga  – foi assassinado (1561-1561) .
 Bernardo  Mvemba-a-Nzinga (1561-1567), morto em combate com os Jagas. 
Henrique Mvemba-a-Nzinga  1 ano de governo  (1567 a 1568) morto numa guerra na fronteira do Kongo contra  o soba Ba Teke da tribo bantu. 
Álvaro Mpangu Nimi-a-Lukeni lua Mvemba (1568 – 1587). 
Álvaro  Mpangu Nimi-a-Lukeni lua Mvemba  fez guerra pelo poder (1587-1614). 
 Bernardo Mpangu Nimi-a-Lukeni lua Mvemba – 1 ano de governo (1614 – 1615)  foi morto pelos  sobas de outro clã do Kongo.
 Álvaro Mvika-a-Mpangu Lukeni lua Mvemba (1615 – 1622).
 Pedro Afonso Nkanga-a-Mvika lua Ntumba-a- Mvemba (1622-1624).
 Garcia Afonso Mvemba-a-Nkanga Ntinu  (1624-1626.
 Ambrósio (1626-1631). Álvaro  (1631-1636)
 Álvaro Mvemba-a-Nkanga Ntinu, por doença governou só 6 meses ano 1636,   
faleceu em 22-2-1641.
 Garcia Afonso Nkanga-a-Lukeni, o Kipaku significado incerto, (1641-1661). 
António Nvita-a-Nkanga, morto durante a Batalha de Ambuila, 29 de Outubro de 1965, (1661-1665). O filho, Francisco Nkanka a Makaya, não foi assumiu chefia do sobado.

GUERRAS TRIBAIS PELO PODER NO KONGO:
 Lutas entre as tribos: Kimpanzu, Kinlaza, Água Rosada, Kanda, e Kimula Vita.
Tribos de São Salvador; Lobata; Lemba  Kibangu: 
Afonso  Nvita-a-Nkanga "Kimpanzu"  guerra de 1661 a 1665 
 Afonso Nkanga-a-Mvemba "Kinlaza"  guerra de 1665 a 1666 
Álvaro  Mpangu-a-Nsundi "Kinlaza"  – guerra de 1666 a 1667 .
Álvaro  Mwemba Mpanzu Mfutila "Kimpanzu"  guerra de 1667 a 1668 
              Pedro Nsuku-a-Ntamba  "Kinlaza"  guerra de 1668 a 1670 
Garcia Nkanga-a-Mvemba "Kinlaza"  – guerra de 1669 a 1685 .
                Álvaro Nimi-a-Mvemba "Kimpanzu"  guerra 1670 
Rafael "Kinlaza" guerra de 1670 a 1672   
Afonso "Kimpanzu"  guerra 1674
Daniel Mpangu Miyala "Kimpanzu" – guerra de 1674 a 1678 , abandonou a guerra de 1678 a 1680.         
João Nsuku-a-Ntamba "Kinlaza"  guerra de 1619 a 1716 .
André Mvizi Mkanga "Kibangu"guerra civil, durante o seu curto governo em 1685.
Manuel Nzinga "Kimpanzu" – guerra 1689 
Álvaro "Água Rosada"  guerra de 1690 a 1695 
Pedro Nsaku-a-Mvemba "Água Rosada"  guerra de 1695 a 1709 
Pedro Constantino Mpangu – guerra 1710
 Pedro "Água Rosada"  – guerra de 1709 a 1718 
Manuel  "Água Rosada"  – guerra de 1718 a 1730 
Luwano Nsanda Lussevikueno – guerra de 1710 a 1787.
Sebastião  guerra de 1730 a 1743 
Garcia  Nkanga – guerra de 1743 a 1752.
Pedro  Ellelo (1763) – praticamente não governou, em 1764 fugiu da cidade destruída para o Inzundo e permaneceu até à morte na fortaleza de Lovata perto da Costa, na área de Mbamba. 
Álvaro  Nimi-a-Mvemba  “ Kinlaza” o soba que destituiu e condenou à morte Pedro Ntivila a Nkanga “Kimpanzu” que fugiu para Lovata - Mbamba, (1764-1778). 
José Nlaza de Kibangu “Agua Rosada”  (1778-1785) foi eleito em 1778, mas só foi assumiu o poder do sobado em 15-12-1781. 
Afonso Ndo Mfunsu “Kinlaza” – guerra de 1785 a 1787
Antonio – guerra de  1786 a 1791.  
Aleixo  guerra de 1791 a 1793 .
 Joaquim   guerra de 1793 a 1794 

                  Henrique  Masaki ma Mpanzu "Água Rosada" (1794-1803).           
 Garcia de "Água Rosada" tornou-se soba regente do Kongo em 27 de Março de 1814. André não chegou a ser soba regente por falta de sacerdotes no Kongo (1830-1842).  Henrique Teiéquengue, (1842-1857).  
Álvaro Makadolo (Dongo), depois de ser derrotado por Baptista de Andrade, fugiu para o sobado de Cunga, a irmã de Henrique Teiéquengue foi soba regente por  3 anos (1857 - 1859).
Pedro Ellelo (1859-1891) ou Pedro d’Água Rosada – opositor –.
Álvaro Makadolo – guerra contra a tribo inimiga –.
Pedro d’Água Rosada na luta contra as tribos inimigas pediu ajuda aos portugueses.

Em 1910 Pedro Bemba é eleito soba do Kongo governou apenas um ano, morreu a 24 de Junho de 1911. Sucede-lhe Manuel Martins Kiditu de 1911 a 1914, foi o último soba do Kongo.  Entretanto, em 1910, em Portugal foi proclamada a República, mas era conveniente haver uma autoridade indígena, Manuel Martins Kidito é então  nomeado Juiz Popular, atribuindo-se-lhe uma pensão de 15$000 réis mensais.
 Pedro Lelo d'Água Rosada, o educando da missão católica na Huíla, foi nomeado funcionário dos Correios em Luanda.

Alguns autores voltam a falar de sobas regentes do Kongo no sec. XX, por exemplo:  o soba Manuel (1910 - 1914),  o soba Álvaro Nzinga (1914 - 1923), o soba Pedro  (1923 - 1953) e o soba António (1953 - 1957), mas ao nome não correspondia qualquer poder no Kongo. 


No Kongo/Angola, nunca existiram reis, nem reinos, existiram chefes tribais e tribos. As tribos são comunidades autónomas pequenas e isoladas ou perdidas numa selva, chefiadas por dois tipos de chefes tribais, conhecidos também por  sobas: o soba grande e o soba pequeno. O soba grande chefe de uma forma tribal de autogoverno sem regras, onde prevalecia o tribalismo e cujos julgamentos eram decididos de acordo a sua vontade ou simpatia. O soba pequeno era vassalo do soba grande.  A noção de um chefe tribal ou soba é um tanto vaga e arbitrária; tanto "chefe" quanto "tribo", são termos pouco definidos com clareza, e em muitos casos outras denominações eram utilizadas para o mesmo, o chefe tribal ou soba era ainda denominado como "chefe local" ou até mesmo denominações genéricas como "líder de um grupo".