PAULO DIAS DE NOVAIS-FUNDAÇÃO DA CIDADE DE S. PAULO DE LOANDA (1576).


Paulo Dias de Novais 
 Fidalgo da Casa Real, Escrivão da Fazenda Real, Capitão, Embaixador e Explorador  "Governador e Capitão-Mor Donatário, Conquistador e Povoador do Reino de Sebaste na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior"- Nasceu em 1510, no Reino de Portugal, filho de pais nobres D. António Dias de Novais Cavaleiro da Ordem de Cristo,  e sua esposa Dona Joana Fernandes. E neto paterno do Navegador Bartolomeu Dias.


 Em meados do século XVI, o nome Angola aparece pelos primeiros portugueses da expedição de Paulo Dias de Novais. Não é conhecido se  foi erro de interpretação de gola (n'gola no dialecto mbundu ou ambundu) nome que era, então, adoptado pelos chefes tribais (sobas) do Dongo, ou se os portugueses ajuntaram A inicial à qualificação n'gola para fazerem distinção entre os  chefes tribais e o território.
"a denominação n'gola muito utilizada pelos chefes tribais, significava também muitas coisas: um sino, lâmina de uma faca, uma enxada, peixe, uma ponta de lança, um martelo, etc.,".  Dongo (Ndongo no dialecto mbundu), também significa muitas coisas: canoa, tronco de árvore, pedra, peixe grande, terra, etc.

Certo é, foram os portugueses quem deram o nome Angola. Paulo Dias de Novaes após a Conquista das regiões situadas entre o Bengo a 64 km a norte de Luanda e Quissama a 80 km ao sul do Cuanza; o Dongo a leste de Luanda, Ilamba entre Luanda e Massangano, e Quissama ao sul do Kwanza (Cuanza): unificou as regiões que passa a fazer parte integrante da Coroa de Portugal,  e denomina o território "Reino de Angola" que persistirá nos séculos seguintes.




Angola era a parte ocidental, onde as montanhas a leste de Luanda constituíam um limite natural que separava as terras altas do Kongo, das terras baixas. 
A norte nas terras limítrofes do sul do Kongo, situava-se o Dongo Oriental (Matamba) a cerca de 170 milhas para o interior, até atingir uma série de grandes formações rochosas Pungo-Andongo, Maupungu ou Mapungu (M’pungu N’dongo, no dialecto kikongo e mbundu), localizado a algumas milhas a norte do rio Cuanza. Ao longo do Cuanza situava-se Muxima, Massangano e Cambambe  a norte,  e  Quissama a sul do rio. Matamba confinada entre o Kongo ao norte, o rio Zenza a leste que demarcava a fronteira com o Congo, o Cuanza norte, o Dongo a leste do rio Cuango, e a sul o rio Lucala incluindo terra em ambos os lados do rio dos Jagas-Imbangalas de Cassange. 
A leste de Angola, situava-se o Dongo entre Matamba e Pungo-Andongo. O centro do Dongo era em Kabasa (Cabassa/Calulo). 
"O nome Cabassa é «corruptela da palavra Cabanza»". Padre António Brásio, História e Missiologia. 

No século XVI, por volta de 1503 ou 1504, os primeiros mercadores portugueses tiveram conhecimento de um lugar rudimentar abaixo do Kongo,  onde os habitantes locais trocavam diversos artigos: pele de animais, anilhas em cobre, dentes de elefante, madeira, resina, etc., por artigos europeus”;  para chegarem ao lugar tinham de passar por cima das pedras que despontavam das águas de um rio, avistando alguns indígenas locais perguntaram o nome do rio, a que os mesmos responderam "Ma-lanji Ngana" (são pedras, Senhor),"ma-lanji" significava "pedras" no dialecto kikongo. Foram os primeiros portugueses que encontraram o rio Ma-lanji e  passaram a chamar Ma-lanji ao local". Foi nesta região que os portugueses construíram uma pequena Igreja.

 À época a região era conhecida como N’dongo ya Kongo" (Dongo do Kongo), também conhecida como Dongo Oriental, depois Matamba (Malange). 

A partir de 1492 o  soba Manikongo, Nzinga a Nkuwu (João), expandiu o seu domínio ao ocidente, oeste centro e leste sul do território, e denominou uma região rochosa "N’dongo ya Kongo" (Dongo do Kongo), também chamada Maupungu, Mapungu, e M'pungu N'dongu (significado de pedras altas, em kikongo). À época os gentios chamavam Dongo à terra, pedras, canoas, objetos, e pessoas.  
Os Bakongos, os Mbundus e Imbangalas ou mbangalas, consideravam as pedras negras  "Nkisis" objectos ou esculturas de culto, dedicadas aos rituais Jagas. 
Os Mbundus são um subgrupo Bâ-ntu (Bantu), que ocupava uma larga faixa na selva da África Central e Ocidental,  invadem o território e instalam-se no ocidente e centro  leste do território.

                                                                As Pedras de Pungo Andongo.



As tribos Jagas migrados do centro de África ou dos grandes Lagos africanos, invadem as terras e instalam seus Kilombos nas selvas, onde se escondem. Entre eles os Jagas-imbangalas originários de um lugar chamado Elembê ou Elébé no Gabão,  após invadirem o Kongo  descem a centro leste e sul do território e instalaram-se entre os rios Cuango e Kwanza (Cuanza); Matamba, Dongo, ao longo do rio Kwanza e ao sul em  Cassange sob a chefia do Jaga Kasanji (Cassangi). Os Imbangalas caracterizaram-se pela sua extrema crueldade, sugerindo um culto dedicado às guerras tribais, à rapina, ao culto dos Nkisis (esculturas dedicadas aos rituais Jagas), e ao canibalismo; actuavam como saqueadores, pilhando o território em busca de vinho de palma (Marufo), bebida com alto teor alcoólico, extraído da seiva das palmeiras. Após os ataques às tribos onde faziam razias, capturavam os sobreviventes, os mais jovens eram integrados ao grupo, outros para serem vendidos como escravos ou destinados aos rituais Jagas: sacrifícios humanos, feitiçarias e antropofagia/canibalismo, "matam as crianças após o nascimento nas suas tribos e as mães, as mulheres que engravidavam para não serem condenadas à morte viviam escondidas na selva onde  tinham os filhos, que logo eram devorados pelos cães  (hienas)".
Veremos esta descrição ao longo das décadas praticada pela líder dos Jagas, Jinga Mbandi (Njinga Mbandi) que "engordava seus parentes para lhe serem servidos como alimento", em "Istorica descrizione de' tre' regni Congo, Matamba, et Angola" do missionário capuchinho Giovanni Antonio Cavazzi (1621-1678).

    
O Contexto no Território:  
Antes, Durante e Depois da Primeira e da Segunda Expedição de Paulo Dias de Novais em 1575:

Kia-Nguri faz parte das tribos Jagas que invadiram as terras do Kongo, que então se estendiam do Kongo ao N’dongo ya Kongo (Dongo do Kongo).
Em 1505, Kia Nguri com sua tribo invade o norte do Dongo Oriental (Lunda) pelo terror submete as tribos ao seu poder: "homem que foi digno do seu nome, não pela magnanimidade, mas pela ferocidade: Nguri, de facto, quer dizer “leão”. Realmente, foi um salteador desapiedado, feroz em toda a parte onde podia chegar, ávido de massacre, de vítimas e sangue". Kia Nguri com sua tribo continua a descida ao centro-sul e invade o Dongo (Ndongo) onde morreu numa luta com outras tribos Jagas”.   
O soba Manikongo Nzinga a Nkuwu (João) do Kongo, morre em 1509, sucede-lhe o filho Mvemba a Nzinga mais conhecido pelo nome cristão Afonso, na luta pelo poder do sobado do Kongo, trava uma batalha contra o seu meio-irmão Mpanzu Kitima, após matar o irmão torna-se soba Manikongo e introduz o Cristianismo no Kongo  e proíbe as práticas de feitiçaria. 

Jaga-bakongo, Kiluanji kia Samba abandona o Kongo, desconhece-se o ano, com sua tribo desce para o centro leste, instala-se em N’dongo ya Kongo (Dongo do Kongo) na região instala um Kilombo Jaga, e passa a dominar o Dongo formado por vários agrupamentos de tribos de etnias diferentes sob influência do Kongo.
Kiluanji kia Samba rivalizando com o Manikongo Afonso Mvemba Nzinga, com ajuda dos seus Jagas trava uma série de guerras contra as tribos vassalas tributárias do Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga, e submete ao seu domínio as tribos mbundu em Matamba e no Dongo, e as tribos das regiões de N’ambua N'gongo (Nambuangongo), M’baka (Ambaca) Ambulaka, Ambuila; Gango, Cavanga, Ilamba, Lumbo, Musseque, Cambambe, Massangano, Umba (Quituxila), Kisama, Libolo, Sumbi, e Kasanji (Cassange). Kiluangi kia Samba   forma uma rede de alianças entre estas várias regiões, e denomina-se Ngola Kiluanji, Kiluanji Ngola e ainda Kiluanji Inene.  Os sobas ligados ao ManiKongo Afonso Mvemba Nzinga, entraram em continuas guerras contra Kiluanji kia Samba.  




Piratas franceses e holandeses com a colaboração dos chefes das tribos e do soba Manikongo iniciam o comércio de escravos em Loango, Soyo e Pinda no Zaire. O ManiKongo Afonso Mvemba a Nzinga se enriquece e aumenta seu poder com este comércio. Facto que desagradava à Coroa de Portugal.
Kiluanji kia Samba, tomando conhecimento das vantagens do lucro comercial proveniente do comércio de escravos. Bem como o cristianismo - com base na  experiência no Kongo - que poderia reforçar seu poder, quer pela permanente ameaça de hegemonia do Kongo, quer face aos sobados submissos, tributários e aliados do Manikongo. Em 1514 usando as boas relações entre o Manikongo Afonso Mvemba Nzinga e os portugueses, envia um emissário mbundu a S. Salvador no Kongo, que entregou ao Manikongo Afonso  Mvemba a Nzinga “alguns braceletes de prata” com o pedido de que fossem entregues ao Rei de Portugal, solicitando-lhe da parte do Kiluanji kia Samba o envio de missionários a fim de se converter ao cristianismo. Pedido não satisfeito pelo Manikongo, Afonso Mvemba a Nzinga que não consentiu o embarque. Tempo depois o soba Kiluanji kia Samba envia outro grupo mbundu, a embarcar no Zaire, como embaixadores a Lisboa, para solicitar ao Rei D. Manuel I o envio de sacerdotes. Esse grupo não chegaria a Lisboa, o  Manikongo Afonso Mvemba Nzinga vendeu-os como escravos para São Tomé.
A 31 de Maio de 1515,  Kiluanji kia Samba envia outro grupo mbundu ao Kongo pedindo ao Manikongo para enviar uma mensagem ao Rei D. Manuel I para enviar missionários ao Dongo, dizendo que queria ser baptizado, pedido novamente rejeitado pelo Manikongo. Seguiram-se outras tentativas do soba Kiluanji kia Samba de enviar embaixadas mbundu a Portugal, a embarcar no Zaire, embarques recusados pelo Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga. Documentos contemporâneos apontam para as muitas vezes em que Kiluanji kia Samba mandou seus embaixadores ao ManiKongo, pedindo ao Rei de Portugal envio de sacerdotes, pois queria se tornar cristão. 
Em 1548, depois de anos de sucessivos e infrutíferos pedidos ao Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga, Kiluanji kia Samba envia directamente uma embaixada mbundu a Portugal, sem o intermédio do Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga, pedindo ao Rei D. Manuel I missionários dizendo que queria ser baptizado, e ajuda militar para tornar o Dongo independente do Kongo, em troca oferecia ao Rei as minas de prata de Cambambe. 

"Os portugueses descobridores do Congo e que nele introduziram a Religião Católica a partir do ano de 1491 em diante, na esperança que os gentios do Dongo se convertessem ao Cristianismo, o Rei  D. Manuel I querendo satisfazer as súplicas do chefe tribal (soba) Kiluanji kia Samba, em 1520 envia a primeira Expedição ao Dongo, nomeando Manuel Pacheco Capitão do navio, com missionários e o escrivão Balthasar de Castro.
Tinham como missão a possibilidade de actuação missionária, evangelização e baptismo do Soba Kiluanji kia Samba, como ele havia pedido, o estabelecimento de entrepostos de comércio, explorar o território e fazer um relatório sobre os recursos minerais, uma vez que o Soba nos seus pedidos ao Rei dizia que em troca do envio de missionários e a ajuda de Portugal para tornar o Dongo independente do Kongo, oferecia as minas de prata de Cambambe".
 "Nesse sentido, o Rei  D. Manuel I instruiu seus embaixadores para que, uma vez estando na presença do Soba, lhe diga que dará a ele as mercês que Portugal sempre dá ao Manicongo, soba do Congo, por este ser bom cristão, o que tem feito com que o Congo seja grande entre os outros". (BRÁSIO, v. I, doc. 128, 1952: p. 435)11.
A Expedição portuguesa chegou ao Dongo no mesmo ano de 1520, mas as disputas locais, as guerras tribais e a pressão de Kongo criaram dificuldades à embaixada. O Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga levou os missionários para o Kongo, e deixou o seu próprio padre preto no Dongo. 
Kiluanji kia Samba se recusou receber o baptismo do padre preto deixado pelo ManiKongo Afonso Mvemba a Nzinga, e aprisionou o Capitão Manuel Pacheco que ao recusar-se ser preso foi assassinado por ordem do chefe tribal Kiluanji kia Samba. O escrivão Balthasar de Castro foi aprisionado, despojado das suas roupas, ficando completamente nu e descalço, foi  escravizado durante seis anos. Sendo libertado por intervenção do ManiKongo Afonso Mvemba a Nzinga. Em 1526, após seis anos de cativeiro, o escrivão Balthasar de Castro chegou a S. Salvador do Kongo; doente, descalço e com apenas uma tanga de palha. Em S. Salvador, Balthasar de Castro escreveu  ao Rei D. João III, informando o Rei  dos acontecimentos, o assassinato do Capitão Manuel Pacheco por ordem do Kiluanji kia Samba, e como ele havia sido solto pela intervenção do ManiKongo Afonso Mvemba Nzinga. 
Balthasar de Castro retorna ao Reino de Portugal e informa o Rei D. João III que as minas de prata de Cambambe não existiam, por informação recolhida junto aos indígenas da região, quando ia a caminho de S. Salvador no Kongo. 

"Um povo de pessoas horríveis, monstruosas e desumanas, devoradores de carne humana e adeptos de práticas de idolatria, mais cruéis do que os animais selvagens da floresta e cobras venenosas. Que está sempre pronto para trair e contar mentiras, pois mentir entre eles é considerado grandeza. E entre aqueles, um, que não rouba nem mata, não é homenageado. "Giovanni Cavazzi da Montecuccolo, missionário capuchinho, 1654- 1672.

Em 1530 o chefe tribal Jaga Kabulu Matamaba ou Kambulu Matamaba, com sua tribo  invade "N’dongo ya Kongo" (Dongo do Kongo), região de Ma-lanji também conhecida como Dongo Oriental, onde cria um Kilombo Jaga, e denomina a região Matamaba (abreviado Matamba). 
Matamba, Dongo e ilha frente a Loanda, a que Diogo Cam (Diogo Cão) em 1486 denominou ilha das cabras (ilha de Luanda) são do domínio do Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga, e seus contributários:  o contributo era  correspondente a produtos da terra, e especialmente o Zimbo nome dado aos búzios (conchas) colhidos na ilha de Luanda, que eram usados pelos sobas do Kongo como moeda de troca.

Em 1535, face aos outros grupos e chefes tribais, o Manikongo Afonso Mvemba Nzinga reclama direitos das regiões Matamba e Dongo que passam a contar nos seus títulos, e inicia uma guerra contra Kiluanji kia Samba.
Após a morte do Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga, em 1543, o Kongo entra em convulsão pelas sucessivas guerras tribais às quais se juntam os Jagas, contratados pelos pretendentes ao poder do Kongo,  as guerras tribais abrangem Matamba e o Dongo.  
Em 1556, o chefe tribal, soba, Kiluanji kia Samba morre durante as guerras tribais, sucede-lhe Ndambi Ngola (simplesmente ngola, para os portugueses e missionários) logo após se tornar soba do Dongo, inicia uma guerra contra o Kongo conhecida como "batalha do Dambi ou Ndambi"
"a denominação ngola muito utilizada pelos chefes tribais, significava também diversos objectos como: sino, faca, a lâmina de enxada, uma ponta de lança ou um martelo". Os chefes tribais do Dongo denominavam-se gola, n'gola, jinga, n'jinza, a maioria deles eram Jinga. 
O missionário jesuíta Baltazar Barreira, conhecedor do dialecto kikongo, a respeito do Kiluanji Kia Samba (Quiassamba), descreveu  Kiluanji como Ngola a Kiluanji, e Ngola Inene, migrante do Kongo. E que Kiluanji kia Samba (Inene) fundou o sobado do Dongo (N'dongo) após a morte do Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga, em 1543".  
E diz, "o nome Kiluanji diz tudo, significa peixe-gato em kikongo, mas o nome Ngola Inene em kikongo também significa muitas coisas, Ngola Inene significa que o peixe é muito grande. 
"O numero dos Sobas que se sabe alem de muitos outros de que não ha noticia, he de sete centos e trinta e seis. Tinhão repartido o sobado, e andavão continuamente em guerra entre si. Até que avera entre elles hum, o qual começou de sogeitar alguns vezinhos e pouco a pouco se apoderou das províncias principaes, e tomou nome  Ngola Inene".  Jesuíta Baltazar Barreira. 

 Em 1550, o Rei D. João III de Portugal adoece gravemente, seu neto o Príncipe D. Sebastião herdeiro à Coroa de Portugal, ainda criança, é instaurada uma regência durante a sua menoridade, primeiro por sua avó a Rainha consorte Catarina da Áustria e depois por seu tio-avô o Cardeal Henrique de Portugal. 
Na Regência de Dona Catarina  da Áustria,  chega a Lisboa uma embaixada com dois mbundus enviada pelo soba Ngola Mbandi, pedindo estabelecimento de relações comerciais e envio missionários, dizendo que queria ser baptizado, mostrando-se disposto a abraçar a fé Cristã. Atitude que levou os oficiais portugueses da altura a duvidarem da sua sinceridade religiosa, não só por não ser credível nem de confiança, como pelos acontecimentos praticados pelo anterior soba Kiluanji kia Samba. Ainda assim a Coroa de Portugal acede ao pedido do chefe tribal (soba) Ngola Mbandi.

  1ª EXPEDIÇÃO  DE PAULO DIAS DE NOVAES:

A Rainha Dona Catarina querendo satisfazer as súplicas do soba Ngola Mbandi, envia uma Expedição ao Dongo, desta vez capitaneada por Paulo Dias de Novais, Fidalgo da Casa Real. Nos primeiros meses de 1559, Paulo Dias de Novais é nomeado Capitão da expedição, Embaixador e responsável por acompanhar os missionários jesuítas. 
No dia 22 de Dezembro de 1559, Paulo Dias de Novais partiu de Lisboa com três caravelas, acompanhado por missionários, soldados e alguns portugueses membros da tripulação: Luiz Dias como emissário do Rei; dois jesuítas e dois irmãos da Companhia de Jesus, Padre Francisco de Gouveia como superior desta missão, Padre Agostinho de Lacerda, Frei  António Mendes e Frei Manuel Pinto; e leva um presente do Rei D. Sebastião para o chefe tribal do Dongo.
Depois de ter enfrentado vários perigos e trabalhos, no dia 3 de Maio de 1560 a expedição chega à barra do Cuanza, Paulo Dias de Novais, no domingo seguinte à sua chegada envia um “batell” pelo rio acima, Cuanza, com dois mensageiros encarregados de negociar a sua entrada. Os mensageiros eram D. Luís Dias emissário do Rei, e um mbundu de nome Antonio que foi um dos dois enviados do soba a Portugal.
   Estiveram ali até 2 de Novembro, onde faleceu por doença o Padre Augustinho de Lacerda e alguns portugueses. Paulo Dias de Novais esperou na costa durante seis meses por recado do  soba Kiluanji, acerca do seu interesse em receber o cristianismo. 
Frei António Mendes afirma que "após os seis meses que estavam à espera na costa, o soba mandou recado que fossemos que queria ser cristão".
missão portuguesa prosseguiu viagem ao longo do rio Cuanza até à sua confluência com o rio Lukala (Lucala). Paulo Dias de Novais é informado por portugueses residentes ali, que o Kiluanji  kia Samba tinha morrido e foi substituído por um dos seus filhos de nome Ndambi Ngola, (conhecido pelos portugueses como ngola) os portugueses ali residentes, também, o alertaram e desaconselharam o encontro directo com o Ngola. Depois de muito hesitar, Paulo de Novais resolveu continuar o rio e conhecer pessoalmente o o chefe tribal NgolaChegando a Kabasa (Calulo) centro do Dongo, o soba enviou um dos seus vassalos mais próximos acompanhado por um grande grupo mbundu (Jagas) armados de arcos e flechas para os acompanharem".   



  


Traição do chefe tribal Ngola:


O Ndambi Ngola recebeu os embaixadores e os padres, recebeu muito melhor o presente do Rei. O Frei António Mendes relata que ao apresentar o baptismo como motivo da presença da embaixada portuguesa, o Ngola respondeu afirmativamente, oferecendo seus filhos e os de outros sobas das tribos do seu kilombo, para que pudessem ser educados na doutrina Cristã, o que despertou a esperança dos missionários.
Paulo Dias querendo depois retirar-se às suas embarcações foi impedido pelo chefe tribal, com o pretexto de que necessitava dele e dos seus para o ajudarem nas guerras que tinha com Kiluango-Kiakongo (Quiloango-Quiacongo), um seu vassalo rebelado, chefe tribal de uma povoação na margem do rio Sangueche em Banza Bata (M'banza Bata, em kikongo). 
Paulo Dias de Novais se recusa, dizendo que a missão para a qual foi incumbido pelo Rei era realizar o baptismo, como ele havia solicitado, e não era participar em guerras, nem tinha soldados para tal acontecimento. As expectativas se frustraram rapidamente: "o ngola afirmou que não aceitava um Deus que condenava a poligamia e as práticas de feitiçarias, e passou a chamar aos europeus feiticeiros, declarando “que lhe iam espiar a terra com mentiras e que os havia de degredar para outra terra”.  
E aprisiona o Capitão e Embaixador Paulo Dias de Novais, Fidalgo da Casa Real, juntamente com o Padre Francisco de Gouveia, Frei António Mendes, Frei Manuel Pinto,  Luiz Dias emissário do Rei, e a restante tripulação, e roubou-lhes tudo que levavam. 
Frei António Mendes conta que mais tarde o Ndambi Ngola deixara sair todos do Dongo, menos Paulo Dias de Novais, o Padre Gouveia e ele próprio António Mendes que ficaram cativos do soba. Pouco depois Frei António Mendes teve modo de se livrar do cativeiro, veio a falecer por doença na ilha de S. ToméDurante o cativeiro morreram dois padres no kilombo do Jaga Ndambi Ngola, após ter mantido prisioneiro Paulo Dias de Novais, por seis anos, no Kilombo na selva do Dongo, por sua conveniência liberta Paulo Dias de Novais, sob promessa de ir buscar socorro militar a Portugal. Seis anos depois Paulo Dias de Novais pode voltar a Portugal. Ficando refém deste  Ndambi Ngolao Padre Francisco de Gouveia.
O Ngola solicitava ao Rei Dom Sebastião o apresto de nova expedição ao Dongo, missionários para ser baptizado e baptizar todos os seus vassalos, o estabelecimento de relações comerciais, e ajuda militar para vencer uma guerra contra outro Jaga, seu rival e inimigo, Kiluangi-Kikuango (Quiloango-Quiacongo). Em troca oferecia ao Rei as minas de prata em Cambambe. 

Nesta primeira vinda Paulo Dias observou que os gentios tinham em seu poder missais, pedras d'ara (pedras Sagradas do centro do Altar) e alguns ornamentos de feitio antiquíssimo,  roubados no Kongo pelos Jagas durante as invasões e ataques em 1560. 
Em 1566, Paulo de Novais regressa ao Reino de Portugal acompanhado por um  preto e presentes do ngola para o Rei de Portugal. Era já Rei de Portugal, D. Sebastião, Paulo dias chegado a Lisboa  informa o Rei  e a Companhia de Jesus sobre os acontecimentos ocorridos com a Expedição: a morte por doença do padre Augustinho de Lacerda e de alguns portugueses da Expedição, a sua prisão e da restante tripulação, a morte de dois outros missionários durante o cativeiro, e o cativeiro do Padre Francisco de Gouveia, refém do Ngola.
Paulo Dias de Novais e os religiosos da Companhia de Jesus não cessavam de procurar maneira de libertar o padre Francisco de Gouveia. Por todo esse longo decurso de tempo, o padre Francisco de Gouveia era prisioneiro do Ndambi Ngola.
Uma carta do Padre Francisco de Gouveia, conta que "os cativos foram mal alimentados, espancados, abandonados. Foram classificados de escravos do ngola, cosiam-lhe as roupas e eram obrigados a fazer serviços degradantes. E relatou que o ngola se interessava mais pelas sedas e bebidas ofertadas do que pela palavra de Deus. Desviava-se quando a questão era sobre a conversão ao cristianismo e fingia não entender o que eles perguntavam, sempre zombava das coisas da religião, dando pouca atenção dava às coisas de Deus".
"Carta do Padre Francisco de Gouveia para o padre Diogo Mirão, de 1 de novembro de 1564". "História da residência dos padres da Companhia de Jesus em Angola". 1/5/1594. Em Brásio.Vol.VI.p.552.

"Este primeiro ngola teve noticia do poder del Rey de Portugal por alguns naturaes de Congo que ia então erão christãos. Quis ter comercio com elle, mandou seus embaixadores ao Reyno de Portugal, pedio Padres para o instruírem nas cousas de nossa sanefa fee. Chegarão ao Reyno em tempo que governavão a Rainha Dona Caterina, e o Cardeal Dom Anrique. Os quaes mandarão por embaixador a Paulo Dyas de Navaes ao soba de Angola. Partio de Lisboa a vinte dous de Setembro de 1559. Chegou a barra do rio Coanza aos três de Maio de 1560. E ali esteve até 2 de Novembro da mesma era. Aonde faleceu o padre Augustinho de Lacerda com alguns purtugueses.
Com o embaixador Paulo Dyas vierão quatro religiosos da Companhia de Jesu mandados pello Padre Provincial Miguel de Torres, e pedidos pela Raynha, e Cardeal, a saber o Padre Francisco de Gouvea por superior, o Padre Agostinho de Lacerda, e dous irmãos. Quando chegarão hera ia morto o Angola Inene e reinava seu filho por nome Dambe Angola. Feslhe a saber Paulo Dyas de sua vinda, e prezente que lhe trazia dei Rey de Portugal. 
O Angola mandouo ir a Cabaça. Aonde residem os sobas na província de Dongo, e depois de o ter la, e ao Padre e mais portugueses com o prezente e fazenda de todos, reteveos como cativos seis annos, principalmente ao embaixador, e ao Padre. Depois do qual tempo, vendose em necessidade de fato, deu licença que hum delles tornasse a Portugal a buscar mais fazenda. 
Veose o embaixador, e o Padre Francisco de Gouvea ficou em reféns. Sua ocupação hera dizer missa aos portugueses, confessalos, bautizar pessoas que estaváo em artigo de morte, defendelos de perigos, asi da vida como da fazenda, e ter mão no soba não fizesse algumas injustiças. Porque como o padre o criara tinhalhe o soba algum respeito. Nesta cidade achou o padre manifestos sinaes de terem vindo pessoas eclesiásticas, como forào míssaes, sinco pedras dará, e alguns ornamentos de feitio muito antigo. Dizem os omens velhos que ouve ia aqui frades de S. Bento ou de S. Bernardo".  Carta do Pe. Pero Rodrigues ao Padre Geral da Companhia de Jesus, Claúdio Aquaviva, em 1560. "Carta do padre Pero irmão Antonio Mendes para o padre Leão Henriques, de 29 de Outubro de 1562". Em Gastão Sousa Dias. Relações de Angola. p.33.
"Carta do irmão Antonio Mendes, de 9 de Maio de 1563". Brásio. Vol.II. p.495- 512.

Em Felner, Luiz. Angola no século XVI- documentos. p.36. Delgado, Ralph. "História de Angola". Vol.I. p. 227.


O Padre Pero Rodrigues em carta dirigida ao Padre Geral da Companhia de Jesus, Claúdio Aquaviva, detalha que em 1560: «o número de sobas conhecidos, além de muitos outros dos quais não há notícias, era de setecentos e trinta e seis».


"Em Angola gemia num doloroso e inútil cativeiro, havia catorze anos, o P. Francisco de Gouveia, que fora como superior da primeira missão, enviada de Portugal àquelas terras no ano de 1559. Por todo esse longo decurso de tempo não cessaram os religiosos da Companhia, compadecidos dos trabalhos do seu Irmão, prisioneiro do soba africano, de procurar maneira de o libertar. Mas Paulo Dias de Novais, que em 1565 o Dambe Angola o deixara, por seu interêsse, voltar à pátria acompanhado de um embaixador prêto e de presentes para o monarca português, era quem mais solicitava dos governantes de Portugal o apresto de nova expedição para Angola. Em 1568, escrevia o Padre Maurício Serpe ao santo Borja* o empenho, com que Paulo Dias cuidava daquela emprêsa e o sentimento que a todos animava de socorrer o Padre Gouveia. «Trata-se cá, explica Maurício, de fazer nova missão a Angola, onde está aquêle nosso Padre Francisco de Gouveia, retido há perto de nove anos com muitos trabalhos, sem se confessar e sem dizer missa, e com comer muito mal e vestir muito peor, sem fazer nenhum fruto e sem poder sair daquela terra; nos quais trabalhos atègora deu bom exemplo de si e muitas mostras de virtude. E porque se tem de cá mui bem entendido por esta e por outras muitas experiências, que a cristandade em gente bárbara não se pode bem fundar nem se pode conservar sem sujeição, o que não acontece em gente polida, como são os chinas e japões—, determinaram SS. AA. agora últimamente de mandar sujeitar esta terra e fundar nela nova cristandade, especialmente por informação do embaixador, preto que foi com os Padres: o qual pôde de lá sair o ano passado com muito trabalho, deixando lá alguns seus criados para fazerem companhia ao Padre. Este é o que cá negoceia e lembra a SS. AA. êste negócio. O Padre tem escrito por algumas vezes do estado e disposição daquela gente, e o principal é dizer que, se não for sujeita, que não tem remédio, mas se houvesse nela alguma sujeição, que todos se fariam cristãos e muito bons cristãos,...». (Carta do padre Maurício de Serpe, em 1568, “anunciava ao Superior da Companhia de Jesus).

 * Santo Geral (Francisco de Borja).

Entretanto, no Kongo nada era permanente. Do ponto de vista espiritual, os jesuítas consideravam o país inteiramente perdido e em ruínas, com o povo afundado em “numerosas guerras e estúpidos erros”. Queixavam-se da qualidade dos cristãos baptizados, cujo conhecimento dos sacramentos não ia além de uma descrição das festividades que acompanhavam a concessão desses sacramentos. Eles acharam deficiente a participação das mulheres na Igreja. E, como todos os missionários na África naquela época, os jesuítas consideravam a poligamia censuravelmente desenfreada no Kongo. Nesse contexto, o pequeno grupo de jesuítas via a sua tarefa como aquela que envolvia remediar a situação. Eles começaram a pregar e baptizar pessoas em grande número. Em algum momento de Agosto de 1548, eles teriam baptizado até 2.900 pessoas em um período de vinte e cinco dias. 

 Após a morte do soba, Manikongo Mvemba Nzinga (Afonso) o Kongo entra em decadência, os pretendentes sucediam-se uns atrás de outros dando origem a continuas guerras na luta pelo poder do sobado.  
Após a sua morte, sucedeu-lhe o filho Nkanga a Mvemba (por baptismo, Pedro) da tribo Kanda conhecido como Kibala (Quibala) foi derrubado  por seu sobrinho Nkumbi Npudi a Nzinga (Diogo). 
Nkumbi Npudi a Nzinga após derrubar seu tio Pedro Nkanga a Mvemba  apodera-se do poder, de 1545 a 1561. Pedro Nkanga a Mvemba fez varias tentativas fracassadas para recuperar o poder. 
A partir de 1549, Diogo Nkumbi Npudi a Nzinga voltado para o comércio de escravos com os franceses, holandeses, espanhóis e outros, tornou-se cada vez mais hostil aos portugueses, e os missionários sofreram as consequências do seu desfavor. Por causa de sua estreita fidelidade à Coroa de Portugal os jesuítas eram vistos com ainda mais desconfiança. Sua posição não foi ajudada por sua temeridade em questionar certas práticas que outros missionários haviam tolerado, incluindo a poligamia e a liberdade do soba de se casar com um parente próximo.

O ano de 1553 foi crítico para a missão jesuíta em dificuldades. Frei D. Diogo Gomes expressou seu descontentamento, dizendo que os jesuítas eram virtuosos, mas não lhe davam o respeito que merecia. Desesperado o Pe. Diogo Gomes acompanhado por Diogo Soveral, deslocou-se a Lisboa para informar os seus superiores sobre a deterioração da situação no Kongo. Enquanto eles estavam lá, o Padre Jorge Vaz superior dos missionários no Kongo, regressa a Lisboa desanimado e doente, veio a falecer. O Pe. Diogo Gomes com um plano para direccionar mais recursos para a escola que os jesuítas administravam, na esperança de transformá-la em uma escola técnica de ensino médio, voltou ao Kongo para assumir a missão, acompanhado por um embaixador do Rei D. João III e mais quatro missionários: um sacerdote, o Pe. Nogueira e três artesãos leigos. O Pe. Nogueira e um auxiliar morreram pouco depois da chegada. O Pe. Diogo Gomes reconhecendo a inutilidade da sua permanência retirou-se em 1554. 
O soba Manikongo Nkumbi Npudi a Nzinga demonstrava idêntica má vontade, com alguns sacerdotes seculares, os mais cumpridores dos seus deveres, sofrendo  até perseguições e vexames, ao ponto que o Bispo de S. Tomé, Frei Gaspar Cam tentou pôr têrmo, indo pessoalmente ao Kongo. 
Nkumbi Npudi a Nzinga decretou a expulsão de todos os 70 portugueses e missionários  do território, excepto os missionários que se acomodaram claramente ao contexto local. Os jesuítas não se qualificaram para a isenção, e assim o Pe. Diogo Gomes e seus dois companheiros restantes deixaram o Kongo no final de 1555, encerrando sua missão de oito anos no que era então o território  católico da África.
Nkumbi Npudi a Nzinga decretou a expulsão de todos os 70 portugueses e missionários  do território, excepto os missionários que se acomodaram claramente ao contexto local. Os jesuítas não se qualificaram para a isenção, e assim o Pe. Diogo Gomes e seus dois companheiros restantes deixaram o Kongo no final de 1555, encerrando sua missão de oito anos no que era então o território  católico da África.
No Kongo o ensino do catecismo também foi enfatizado. Muito provavelmente com uma contribuição significativa do missionário Frei D. Diogo Gomes, eles facilitaram a produção de um catecismo no dialecto kikongo, que foi publicado pela primeira vez em 1556, e continuou a tradição anterior de um catolicismo independente e inculturado no Kongo.  Como parte de uma estratégia de longo prazo para seu ministério, foi criada uma escola para as crianças. O missionário Jesuíta Jácome Dias, e o irmão auxiliar e mestre-escola Diogo Soveral estava totalmente ocupado nesta escola, às vezes ensinando catecismo a grupos de até seiscentas crianças, enquanto outros professores kongoleses sob sua supervisão davam aulas de leitura e escrita. “O fruto mais real que obtivemos do nosso trabalho veio da educação das crianças que encontramos”, relatou o superior da missão. 
O soba do Kongo Diogo Nkumbi Npudi a Nzinga que expulsou portugueses e missionários do Kongo, morre de forma violenta numa luta com tribos rivais, em 1561. 
Neste contexto o soba do Dongo, Ndambi Ngola, serve-se da situação e envia milhares de Jagas para atacarem o Kongo até na própria capital S. Salvador. 
Em 1560 os Jagas se dividiram em vários exércitos a cidade de São Salvador é saqueada e incendiada pelos invasores, e saquearam e escravizaram milhares de pessoas em todo o Kongo. E parte da população foi devorada. Gerando uma grande miséria e rastro de sangue. Os sobreviventes fogem para as montanhas. Alguns refugiados foram para terras portuguesas para não morrer de fome devido à destruição dos jagas.  
Nesse ano 40 portugueses e um missionário residentes no Kongo, fogem para sul e estabelecem-se na ilha das cabras (assim denominada pelo Navegador Diogo Cam, em 1486), onde edificaram um pequeno povoado e uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Concepção. Foi o primeiro núcleo de portugueses em Luanda.

               "A Coroa de Portugal e Roma declaram o Kongo “o açougue de seus padres e irmãos”. 

O ngola (Ndambi Ngola) morre em 1566/1567, no interior de Matamba, durante uma guerra tribal com Kiloango-Kiakongo (Quiloango-Quiacongo) chefe tribal de uma povoação na margem do rio Sangueche em Banza Bata (M'banza Bata, em kikongo).
Este soba era conhecido como Dambi N'gola ou N'dambi Ngola, era ainda conhecido como N'gola Jinga, e Jinga.  
Albuquerque Felner, dá a este soba o nome Ngola Kiluanji, mas os antigos escritores chamam-lhe Dambi N'gola (N'dambi Ngola), os missionários chamam-lhe apenas Ngola.
É difícil de saber ao certo o nome destes sobas. Os documentos contemporâneos sobre o Dongo, na maioria das vezes fazem alusão a ngola, golas, jingas, nzingas, dambis, denominação que se atribuíam os chefes tribais do Dongo de acordo as tribos ou acontecimentos.   

Em 1567 Álvaro Nímia Luqueni Amvemba é empossado novo Manikongo, fora sempre muito amigo dos portugueses, após tomar o poder ele escreveu várias cartas ao Rei D. Sebastião de Portugal, a fim de renovar a antiga aliança política e religiosa. Em seguida promoveu a paz com o bispo de São Tomé, restaurando a ordem religiosa no país. Entretanto a legitimidade de Álvaro Luqueni Amvemba foi contestada por vários pretendentes que, com ajuda dos Jagas tentam matar o Manikongo Álvaro Nímia Luqueni Amvemba, este fugiu e procurou ajuda junto dos portugueses e missionários que ali residiam; que lhe deram protecção  e asilo numa Igreja, e  o ajudaram a fugir para a ilha do Cavalo no rio Zaire, e ali esperar os socorros que mandou pedir ao Rei de Portugal, visto que, além de aliado, se considerava daí em diante seu feudatário. 
A satisfação ao pedido de Álvaro Nímia Luqueni Amvemba ao Rei de Portugal, não teve grande demora. Em 1570 "4 anos antes da partida da nova expedição de Paulo Dias de Novaes", o Comandante Francisco de Gouvêa, da ilha de São Tomás (ilha do Corvo -Açores), parte de Lisboa com um exército de mais de 600 homens, em socorro de Álvaro Luqueni Amvemba, chegando ao Zaire no fim desse mesmo ano, segue com o Manikongo, e os portugueses que o acompanhavam e seus partidários, por terra adentro, e pouco a pouco foram levando por diante a derrota dos invasores.
O Comandante Francisco de Gouvêa com os seus homens, combatem os Jagas em todo Kongo e recuperam a capital destruída após um ano e meio de guerra contra os Jagas do soba Ndambi Ngola que, entretanto aproveitou-se da má situação em que se encontrava o Manikongo Álvaro do Kongo pela invasão dos Jagas, para se apoderar de novas terras no Kongo para o norte do rio Dande até ao rio dos Ambras (Ambriz.
Após o Comandante Francisco de Gouvêa com os seus homens terem vencido a guerra contra os Jagas. Conseguiram de novo colocar o Manikongo Álvaro Luqueni Amvemba na posse da cidade de S. Salvador do Kongo. Em 1572 Álvaro Luqueni Amvemba mandou um exército comandado pelo conde do Soyo combater os Jagas em Mossul a sul do Kongo, e Ambuíla. 
Vencidas as guerras contra os Jagas. Em 1575 Manikongo Álvaro Luqueni Amvemba estabelece Angola portuguesa como uma recompensa aos portugueses por ajudarem a derrotar os Jagas. Assegurando a ilha de Luanda, onde era feita a pesca do Zimbo (conchas) usadas como moeda de troca no Kongo.

O Padre Francisco de Gouveia continua cativo no Kimbo da selva do Dongo.

Com a morte do ngola (Ndambi Ngola) durante uma guerra tribal em 1567, seu filho Kiluanji kia Ndambi torna-se soba do Dongo. O padre Francisco de Gouveia, é agora refém do Kiluanje Kia Ndambi que, desde pequeno foi criado e doutrinado pelo padre que, durante a sua estadia forçada de cinco anos como cativo do Ngola, fez a sua acção evangelizadora junto dos indígenas. Kiluanji Kia Ndambi alegando afeição pelo padre não lhe concedeu liberdade, dizendo que não podia viver sem ele, e não permitia o padre  Francisco de Gouveia se aproximar do porto, temendo que pudesse embarcar.
Entretanto, pela libertação do Padre Francisco de Gouveia são feitos esforços por Paulo Dias de Novais, por padres,  pela Companhia de Jesus, de Roma, do Rei de Portugal e seus conselheiros, dos deputados da Mesa da Consciência, letrados, teólogos e canonistas.

"Todavia, de Roma estranhava Borja que se fizesse força com o rei para que enviasse armada a Angola; que isso era matéria do govêrno, que não tocava aos religiosos da Companhia; e encomendava apenas se impetrasse de D. Sebastião, que S. A. ajudasse o intento de se libertar o Padre Gouveia. Emfim moveu-se o rei a mandar a armada, e decidiu confiar o comando dela a Paulo Dias de Novais, encarregando--lhe com toda a eficácia a libertação do Padre prisioneiro. Com a armada para a conquista daquelas terras, queria também o rei que fôsse uma missão de Padres da Companhia para a cristandade. 
O capitão Paulo Dias por sua vez os pediu tão decididamente, que, se lhos não concedessem, dizia não partir para Angola. O Provincial porém Jorge Serrão tinha ordem do Geral que não mandasse por então missionários, por ser pouca a esperança de se poder colher algum fruto, mas esperasse que aquela região fôsse, em boa parte, conquistada pelas armas, por isso rogava instantemente ao Santo Geral* que de Roma a ajudassea se efeituar, com encomendá-la aos Padres Leão Henriques e Luis Gonçalves; que estes sem dúvida a promoveriam eficazmente, se a isso aplicassem suas forças, e para mais o mover, lhe suplicava «se compadecesse daquêle seu filho, que era tão filho da Companhia, que sacrificava, com prontíssima vontade, a sua vida a perpétuo destêrro e cativeiro pela obediência». 

No entanto os pedidos de missionários eram tão fortes e autorizados não só de D. Sebastião e Paulo Dias, mas também dos oficiais do rei, que o Provincial lhos não pôde negar. Êsse foi o parecer de seus principais conselheiros, que julgavam seria a recusa, naquelas circunstâncias, escandalosa. 
O fim da emprêsa e motivos de a realizar indicou-os D. Sebastião na carta de doação com que engrandeceu a Paulo Dias. Com parecer e deliberação dos do meu conselho e dos deputados da Mesa da Consciência e dois letrados teólogos e canonistas, para se levar porém mais felizmente a cabo a conquista e premiar os serviços feitos a Portugal por Paulo Dias, tendo também em consideração os que «Bartolomeu Dias de Novais, seu avô, fêz à coroa dêstes reinos no descobrimento da costa do Cabo-da-Boa-Esperança», o mesmo monarca D. Sebastião, pela carta de doação de 19 de Setembro de 1571, lhe fêz «mercê e irrevogável doação entre vivos valedoira», e a seus herdeiros «de trinta e cinco légoas de terra na costa do dito reino de Angola, que começará no, rio Cuanza e águas vertentes a êle para o sul, e entrará pela terra dentro tanto quanto puderem entrar e for de minha conquista»".
Passara um ano e quatro meses, e Leão Henriques declarava ao Geral Francisco de Borja, que se trabalhava, e não pouco, em levar adiante a emprêsa angolana, mas na côrte suscitavam-se contradições. Recordava ainda que outros meios se haviam tentado para livrar Gouveia do largo cativeiro, e todos foram em vão; com a armada esperava que se conseguiria quanto se desejava".            

Foi enviado a Roma o visitador Miguel de Torres levando uma carta do Padre Fernão Guerreiro, sacerdote jesuíta da Companhia de Jesus, onde informava o Papa Pio V dos acontecimentos com o chefe tribal (soba) ngola, ocorridos com a expedição de Paulo Dias de Novais, a prisão de Paulo Dias de Novais, da tripulação, a morte de portugueses, do Padre Augustinho de Lacerda, a morte de dois outros missionários durante o cativeiro, e a prisão do Padre Francisco de Gouveia ficando  cativo do soba. Estando o Papa Pio V  também informado dos acontecimentos anteriores ocorridos com a expedição enviada pelo Rei Dom Manuel I, em 1520, a prisão dos missionários, de Baltazar de Castro escrivão do Rei, e o assassinato do Capitão Manuel Pacheco.   
"Todavia, de Roma era exigido que se fizesse força com o Rei para que enviasse uma armada a Angola; e encomendava apenas se impetrasse D. Sebastião, que S. A. ajudasse o intento de se libertar o Padre Gouveia. Passara um ano e quatro meses, e o Padre Leão Henriques declarava ao Geral Francisco de Borja, general da Companhia de Jesus, conhecido como São Francisco de Borja, que se trabalhava, e não pouco, em levar adiante a emprêsa angolana, e se alcançara do Rei que mandasse armada para sujeitar aquela terra. Recordava ainda que outros meios se haviam tentado para livrar o padre Gouveia do largo cativeiro, e todos foram em vão; com a armada esperava que se conseguiria quanto se desejava. Mas na côrte suscitavam-se contradições, e a obra da conquista não começava".
Por fim decidiu-se o Rei a mandar a armada, e decidiu confiar o comando dela a Paulo Dias de Novais, encarregando-lhe com toda a eficácia a libertação do Padre prisioneiro. Com a armada para a conquista daquelas terras, queria também o Rei que fosse uma missão de Padres da Companhia para a Cristandade.
 Porém o Padre  Jorge Serrão, Provincial dos Jesuítas, tinha ordem do Geral que não mandasse por então missionários, por ser pouca a esperança de se poder colher algum fruto de tais gentios, mas esperasse que aquela região fôsse, em boa parte, conquistada pelas armas. O capitão Paulo Dias por sua vez os pediu tão decididamente, que, se não lhos concedessem, dizia não partir para Angola. 
No entanto os pedidos de missionários eram tão fortes e autorizados não só de D. Sebastião e Paulo Dias, mas também dos oficiais do Rei, que o Provincial Jorge Serrão lhos não pode negar. Esse foi o parecer dos seus principais conselheiros, que julgavam seria a recusa, naquelas circunstâncias. Os motivos de a realizar indicou-os o Rei D. Sebastião na Carta de Doação com que engrandeceu a Paulo Dias. «Considerando eu, explicava o Rei, o quanto convém a serviço de Nosso Senhor e também ao meu, mandar sujeitar e conquistar aquela terra, assim para se nêle haver de celebrar o culto e ofícios divinos e acrescentar a nossa Santa Fé católica e promulgar o santo evangelho, como pelo muito proveito que se seguirá a meus reinos e senhorios e aos naturais dêles, de se sujeitar e conquistar, houve ora por bem, com parecer e deliberação dos do meu conselho e dos deputados da Mesa da Consciência e dois letrados teólogos e canonistas, de mandar intender na conquista do dito reino».

«Reinando já o Rei Dom Sebastião manda o fidalgo Paulo Dias de Novaes nomeando-o povoador, conquistador, e governador, concedendo-lhe amplos poderes para o estabelecimento da nova conquista; e por uma provizáo de 12 de Abril de 1574 concedeu a todas as pessoas, que o governador repartisse terras conquistadas , e nelas levantasse um castelo de quinze braças em quadra, trinta palmos de alto, e cinco de grosso, e de os filiar por seus criados nos foros e moradias, que as qualidades de suas pessoas e serviço merecessem com tanto, não fossem de goração de christãos novos».

Kiluanji kia Ndambi, filho do ngola (Ndambi Ngola), morre durante uma guerra tribal, em 1575. Sucede-lhe como soba do Dongo, Kiluanji Kilombo kia Kasenda (Quiluanje Quilombo Quiacasenda). Os missionários dizem-no  Quiacasenda.

"O numero dos Sobas que se sabe alem de muitos outros de que não ha noticia, he de sete centos e trinta e seis, e andavão continuamente em guerra entre si". Jesuíta Baltazar Barreira. 


                                                          2ª EXPEDIÇÃO DE PAULO DIAS DE NOVAES:
                                          
                                                                          Luanda, Primeiros Trabalhos:
Fundação da Cidade; Doações de Paulo Dias de Novais; Dedicação e Patriotismo; Coragem e Valor; Honra e Mérito; Instruir para Civilizar; Estorvos à Evangelização; Sustentação dos Missionários;
 Hesitações e Perseverança.

Paulo Dias de Novais, Fundador da cidade de São Paulo de Loanda em 1576, futura Capital Portuguesa de Angola.


 Em 1568, Paulo Dias de Novais recebe instruções para integrar nova Embaixada ao Dongo.  Em 1571 o Rei D. Sebastião concedeu a Paulo Dias de Novais uma Carta de Doação, que lhe dava o título de "Governador e Capitão-Mor Donatário, Conquistador e Povoador do Reyno de Sebaste na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior" nome pelo qual o território abaixo do Kongo era, então, conhecido.

Pelos termos da Carta de Doação,  Documento da Coroa Portuguesa, complementado por Carta de Foral, onde era concedida a Donataria do território, como parte do Reino de Portugal.

Paulo Dias de Novais tinha a incumbência de construir igrejas, fortalezas e de doar sesmarias para assentamento dos portugueses. É encarregado de governar as terras do Dongo, estabelecendo a paz entre os indígenas, e deveria expandir o território para Norte até às margens do rio Dande, para o sul e para o interior ao longo do curso do rio  Cuanza.

"Honrado e engrandecido com esta capitania e governança, meteu Dias de Novais os ombros à dificultosa empresa. Durante três meses, aprestou uma frota de sete navios, «dois galeões, duas caravelas, dois patachos e uma galeota»; embarcou nela «setecentos homens de guerra, toda gente muito honrada e luzida»". (História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, Volume 02b).

No dia  23 de Setembro de 1574, Paulo Dias de Novaes - 1º Governador e Capitão-Mor de Angola (1575-1580), levantou âncoras do porto de Lisboa, com 7 navios: duas Caravelas, dois Galeões, dois Patachos e uma Galeota, acompanhado por mais quatro religiosos da Companhia de Jesus: dois Padres, Garcia Simões, superior, e Baltasar Afonso, e dois Irmãos auxiliares, Cosme Gomes e Constantino Rodrigues, religiosos de virtude exemplar, destinados a fundadores da missão de Angola; fidalgos importantes como principais cabos e capitães: Pedro da Fonseca-parente do governador Paulo Dias de Novais; Luiz Serrão, António Ferreira Pereira, André Ferreira Pereira, Garcia Mendes Castello Branco, Manoel João, António Lopes Peixoto sobrinho de Paulo Dias de Novais; João Castanho Velez, Diogo de Ferreira hispanizado como Diogo de Errera de origem judaica, e Jácome da Cunha, na Diáspora fugidos para Portugal e convertidos à religião cristã, conhecidos por Paulo Dias como cristãos-novos. A expedição para além dos fidalgos, alguns familiares próximos,  e missionários, era composta por casais um número muito limitado alguns criados, homens solteiros quase todos jovens (muitos viriam a morrer por doença ou nas guerras com os Jagas); sapateiros, alfaiates, pedreiros, carpinteiros, agricultores, cozinheiros, padeiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico, um barbeiro, e cerca de 700 homens de armas (soldados), cumprindo a sua palavra de ajuda ao soba ngola.

Na viagem a Armada aportou à ilha da Madeira, nos dias que aí esteve, visitaram os quatro missionários do Colégio que a Companhia de Jesus tinha no Funchal, e consolaram fraternalmente os moradores dêle «com sua presença, exemplo e ânimo que mostravam levar para, com a ajuda do Senhor, escreveu o superior Manuel de Sequeira, porem a vida por seu amor e salvação daquela gentilidade».  Seguindo viagem aportaram em Cabo Verde, donde partiram a 17 de Dezembro; a 17 de Janeiro passaram à vista da ilha de Ano Bom; a 8 de Fevereiro de 1575 amanheceram junto à costa do Congo, e por três dias correram ao longo dela, «muito aprazível e cheia de arvoredo grande e alto», que se via «de dez léguas em terras e montes mui alegres».
« a 11 de Fevereiro 1575 chegou a armada a êste porto de Luanda, do qual dizem os mareantes ser um dos melhores que até agora se tem achado, porque está da ilha para dentro, não muito longe da terra, emparado de todos os ventos, limpo de pedras e de altura capaz de grandes galeões, e outros navios menores». A ilha de Luanda, que formava com a terra firme aquêle porto seguro e bem resguardado, media «cinco léguas de comprido, segundo o cálculo de Garcia Simões, e de largo um tiro de espingarda e a lugares mais estreita».
 A Armada põe âncoras no canal entre Luanda e a ilha das cabras (assim denominada por Diogo Cam, em 1486) onde já se encontravam 40 portugueses e um missionário fugidos aos Jagas, ferocíssimos bárbaros, no Congo que em 1560, que devastam S. Salvador e devoraram parte daquela população. E, que, evitando outros perigos da selva que era, então, a terra firme, se estabeleceram na ilha onde edificaram uma pequena povoação e uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Concepção, e rebaptizam a ilha "ilha do Cabo". Foi o primeiro núcleo de portugueses em Luanda. 
Na ilha constavam ainda algumas palhotas de indígenas que se dedicavam na apanha dos búzios usados como moeda entre os indígenas e muito requeridos pelos sobas, especialmente os sobas do Kongo.
Moravam nela, além dos indígenas, «quarenta homens portugueses muito ricos, que se tinham recolhido do Congo por causa dos jacas, ferocíssimos bárbaros». Sem demora, foram os principais da ilha, em suas embarcações, visitar às naus o governador, que logo desceu a terra. O primeiro desembarque foi uma comovente manifestação de cristandade. «Saiu o governador em terra com toda a gente das naus, muito luzida, com suas trombetas diante, e postos em procissão acompanharam com muita devoção umas relíquias das onze mil Virgens, que o Padre Garcia Simões levava debaixo de um pálio até à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Ao som das trombetas acudia muita gente preta que na ilha vive, e tém por fim tirar zimbo do mar que é o dinheiro na Etiópia mais estimado».

Sem demora, foram os principais da ilha, em suas embarcações, visitar às naus o governador, que logo desceu a terra, onde Paulo Dias de Novais teve conhecimento que o ngola (Ndambi Ngola) tinha morrido e foi sucedido por seu filho Kiluanji Kia Ndambi. "Uma Historia Inédita de Angola".

Paulo Dias de Novais incumbe Pedro da Silva um preto do Congo que esteve alguns anos em Portugal, embarcado na expedição, de informar o soba Kilombo kia Kasenda com quem tinha antiga amizade, da sua chegada e remeteu por ele o presente que o Rei D. Sebastião mandava ao soba, este informado da chegada de Paulo Dias, logo mandou um grupo mbundu como seus embaixadores para saudar Paulo Dias, como retribuição ofereceu vários escravos, gados, e mantimentos, e para o Rei D. Sebastião algumas manilhas de prata e cobre, e paus de Quicongo. Desta prata ordenou o Rei se fizesse um Cálice que deu à igreja de Belém.
«levantando-lhe dito soccorro se conseguiria seu intento do trato e commercio e o mais que pretendia». Quando Paulo Dias chegou pela segunda vez a Angola, soube que ngola (Ndambi Ngola) tinha morrido e que lhe tinha sucedido seu filho Kiluanji kia Ndambi que morre em 1575, e sucede-lhe Kiluanji Kilombo kia Kasenda (Quiluanje Quilombo Quiacasenda), conhecido pelos escritores portugueses mais antigos como Angola Quiloange ou Quiassamba (1575–1592). Os missionários dizem-no  Quiacasenda. De "Uma história inédita de Angola".
Junto do pequeno santuário de Nossa Senhora se acomodaram os missionários numa choupana, como própria habitação, para encetarem os seus labores de apostolado. No ano seguinte de 1576 passou-se o Governador à terra firme, por ver que a ilha, estreita língua de terra, não oferecia comodidades para habitação permanente e defesa militar.

40 portugueses e um missionário  fugidos dos Jagas no Kongo
 se estabeleceram na ilha em 1560. Foi o primeiro núcleo de portugueses em Loanda.   


"Veo a segunda vês Paulo Dyas de Navaes com o titulo de governador de Angola, com doações, e provisões mui importantes dei Rey Dom Sebas­tião que ia governava o seu Reyno de Portugal. Partio de Lisboa a 23 de oitubro de 1574. A frota hera de dous Galeões, duas caravelas, dous pataxos, e huma galeota. Troixe sete centos homens de guerra, toda gente muito honrrada, e luzida. Pôs na viagem três meses e meie, não ouve mor­tos nem doentes. Troixe mais 4 religiosos da Companhia mandados pello Padre Jorge Sarrão a petição dei Rey, a saber o Padre Garcia Simões por Superior, o Padre Baltesar Afonso, e dois  Irmãos auxiliares, Cosmo Gomez, e Constantino Rodrigues, religiosos de virtude exemplar, destinados a fundadores da missão de Angola. Com os ministérios da Companhia se fez nesta viagem muito serviço a Deus Nosso Senhor em as pregações. Missa (ainda que seca) todos os domingos, e santos, e cada dia a doutrina, faziãose amizades, atalhou-se a discórdias, e iuramentos, pêra o que por ordem do Governador erão penitenciados na regra os que erão nesta parte mais soberbos, muita gente se confessou por ocasião de huma tormenta que durou oito dias.  Na viagem foi a armada aportar à ilha da Madeira, e nos dias que aí esteve surta, visitaram os quatro missionários o colégio, que a Companhia tinha no Funchal, e consolaram fraternalmente os moradores dêle «com sua presença, exemplo e ânimo que mostravam levar para, com a ajuda do Senhor, escreveu o superior Manuel de Sequeira, porem a vida por seu amor e salvação daquela gentilidade». 
Tocaram em Cabo Verde, donde partiram a 17 de Dezembro; a 17 de Janeiro passaram à vista da ilha de Ano Bom; a 8 de Fevereiro de 1575 amanheceram junto à costa do Congo, e por três dias correram ao longo dela, «muito aprazível e cheia de arvoredo grande e alto», que se via «de dez léguas em terras e montes mui alegres». 

«Aos onze de Fevereiro de 75, chegou a armada a êste porto de Luanda, do qual dizem os mareantes ser um dos melhores que até agora se tem achado, porque está da ilha para dentro, não muito longe da terra, emparado de todos os ventos, limpo de pedras e de altura capaz de grandes galeões, e outros navios menores». Tem ágoa que se tira de poças que se fazem no areal a que chamão Quicimas*.
A ilha de Loanda, que formava com a terra firme aquêle porto seguro e bem resguardado, media «cinco léguas de comprido, segundo o cálculo de Garcia Simões, e de largo um tiro de espingarda e a lugares mais estreita». Moravam nela, além dos indígenas, «quarenta homens portugueses muito ricos, que se tinham recolhido do reyno do Congo por causa dos jacas, ferocíssimos bárbaros que se mantém de carne humana, e tinhão destruído, e comido todo aquele Reyno.
Aiuntarão se no porto 14 navios a saber: 7 darmada e 7 de S. Thomé que vinhão ao resgate. Sem demora, foram os principais da ilha, em suas embarcações, visitar às naus o governador, que logo desceu a terra. O primeiro desembarque foi uma comovente manifestação de cristandade. «Saiu o governador em terra com toda a gente das naus, muito luzida, com suas trombetas diante, e postos em procissão acompanharam com muita devoção umas relíquias das onze mil Virgens, que o Padre Garcia Simões levava debaixo de um pálio até à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Ao som das trombetas acudia muita gente preta que na ilha vive, e tém por fim tirar zimbo do mar que é o dinheiro na Etiópia mais estimado».  

Conta este facto Garcia Simões na carta de 20 de Outubro de 1575, assim como o que segue da morte do Padre Francisco de Gouveia e sentimento do Rei. Ob. cif..páginas 345-346.

O Reverendo Padre Ruela Pombo no opúsculo Paulo Dias de Novais e a Fun­dação de Luanda, Luanda' 1926, páginas 37-51.
Coronel Alfredo de Albuquerque Felner, no livro Angola, páginas 407-412, publicam integralmente a carta de 6 de Setembro de 1571, em que D. Sebastião faz «doação irrevogável» do reino de Angola a Paulo Dias e seus herdeiros. A carta encontra-se na Torre do Tombo, Chan­celaria de D. Sebastião (Doações), Livro 26, folhas 295 a 299. 
Baltazar Afonso, natural de Portei, do arcebispado de Évora, entrara na Compa­nhia de Jesus a 30 de Novembro de 1559. Depois de 28 anos de missão em Angola morreu na vila de Luanda a 29 de Março de 1603. Franco, Ano Santo, 167. 

Garcia Simões diz em carta de 20 de Outubro de 1575 que aos 20 de Fevereiro tiveram vista do porto de Luanda. Boletim e volume citado, página 340.

Sobre o zimbo, concha univalve, assim escreve o Padre Garcia Simões: «Esta Ilha [de Luanda] he mina do Congo, porque aqui se pesca o busio, que he dinheiro que corre em toda esta terra... O mais grosso e o mais miúdo vale pouco preço e assi o joeirão, os meãos é o que mais vale...». Boletim e volume citado, página 340. Carta citada de 20 de Outubro de 1575.
O Padre Garcia Si­mões apenas logrou trabalhar na missão durante pouco mais de três anos, por falecer em 12 de Maio de 1578. Alistara-se na Companhia em Coimbra a 5 de Março de 1556. Era natural de Alenquer. Franco, Ob. cif., página 254.
 * Quicimas (Cacimbas, poças da água das chuvas).

 Igreja  dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Concepção. 
Edificada pelos primeiros portugueses em 1560, estabelecidos na, então, chamada Ilha das Cabras (assim baptizada por Diogo Cam em 1486).
 
"A igreja construíu-lha português honrado. Era igualmente de taipa coberta de palha, «e para os tempos foi coisa que se teve por boa, capaz e airosa, com seu portal, feita com mui boa arte, com suas colunas de ladrilho». 
Junto do pequeno santuario de Nossa Senhora se acomodaram os missionários numa choupana, como em própria habitação, para encetarem os seus labores de apostolado. No ano seguinte de 1576 passou-se o Governador à terra firme, por ver que a ilha, estreita língua de terra, não oferecia comodidades para habitação permanente e defesa militar. Estabeleceu-se no alto dum morro, que em escarpa desce para o mar em frente da ilha; construiu nesse monte povoação e fortaleza de taipa com sua artilharia assestada; deu princípio a um hospital e casa da Misericórdia; ordenou govêrno com vereadores e oficiais de justiça e edificou a primeira igreja, que dedicou ao mártir S. Sebastião, como lho prescrevia a carta de suas doações. Assim se erguia a vila, futura cidade de S. Paulo, capital portuguesa daquelas possessões africanas. Nesse «bom sítio» se alojaram também os Padres em casas de taipa, cobertas de palha. Foi a segunda estância que tiveram em Angola. Logo nos princípios de sua chegada àquela costa tiveram do P. Francisco de Gouveia as boas novas que lhes deram os habitantes da ilha. Estava em Dongo, «como cativo do soba de Angola, por o não deixar chegar ao porto do mar, dizendo que não podia viver sem êle». Garcia Simões afirmava que o soba o guardava na sua corte, «como negaça de mercadorias e trato de portugueses, porque, não tendo o Padre na sua cidade, cuidava não ter depois trato com os  portugueses, e que êles iam lá por amor do Padre» .

Neste tempo avia ia 14 anos que o Padre Francisco de Gouvea estava como cativo do soba de Angola, por o não deixar chegar ao porto do mar dizendo que não podia viver sem eiïe. Escreverão o Governador e o Padre Garcia Simões ao dito Padre lhes mandasse dizer que modo averia pêra o livrarem daquele cativeiro, respondeo que se não falasse em fazer guerra porque corria risco a sua vida e a 'dos portugueses, e asi não se tratou por então de a fazer. Porem nem isto foy bastante para estarem muito tempo quietos, porque o demónio que nunca dorme uzando das armas de sua malícia pêra inquietar aos bons levantou a tempestade donde senão espe­rava".

Escreveram lhe o Governador e o Pe. Simões a pedir lhes quisesse indicar a maneira de o livrarem daquêle cativeiro. Gouveia lhes encareceu que não tratassem de fazer guerra, pelos riscos grandes, que certamente correria a sua vida e as dos demais portugueses. Mas os trabalhos e os desgostos acabaram de o esgotar. 
O Padre Francisco de Gouveia retido há perto de nove anos,  comia muito mal,  as suas vestes desgastadas, sem se confessar e sem dizer missa, naquela terra não produzia fruto da sua missão, nem podia sair daquela terra, adoeceu gravemente, e veio a falecer a 19 de Junho do mesmo ano de 1575. 
Primeiramente quando o Padre estava doente o Angola lhe mandou seus cantores e tangedores que de dia, e de noute lhe andavão ao redor da casa cantando e tangendo para espantarem a morte que não chegasse ao Padre. 
Deste grande aperto, e excesivo trabalho que o Padre tomou em paci­ficar o soba lhe sobrevoo huma grande doença da qual foi Deus servido levalo pêra si aos 29 dias do mês de julho de 1575, depois de viver 14 annos como cativo do Angola. 
Foy sua morte sentida asi dos nossos como do mesmo  Angola; O soba prêto sentiu profundamente a sua morte. Tinha-lhe cobrado muito «amor e respeito», «por o Padre o ter criado e doutrinado de pequeno», dos nossos porque tinhão nelle amparo em seus trabalhos, e perigos da vida.
Os portugueses o sepultaram na Igreja que êle tinha edificado naquela cidade do Dongo ou Cabaça. 
No dia do seu enterramento mandou dar muitos bois aos portugueses, para que o chorassem».  No dia do seu enterramento o Angola mandou dar muitos bois aos portuguezes para que o chorassem. E por entender que aquela embaixada fora ocasião da morte do Padre, mandou tomar os caminhos para que nenhum homem branco nem preto viesse mais daquelle Reyno a sua corte, pois lhe matarão seu pae que o criara. E deste sentimento deu o soba alguma mostra ao uso de Etiópia".
No entretanto enviou Paulo Dias ao soba angolano a embaixada e presentes que lhe mandava D. Sebastião, e o soba despediu logo, para o saudar, um Moçungo, «grande senhor», «muito reverendo e bem apessoado». Paulo Dias quis recebê-lo com todo o aparato e cerimonia que as circunstâncias lhe permitiam. 
Apresentou a embaixada, e Paulo Dias a acolheu com mostras de alegria e afabilidade. «A cada coisa que o Governador dizia a seu gosto, acudiam os chocalhos e sacarilha das palmas, que estrugiam toda a gente». Dentro de três dias despediu o Moçungo, «dando-lhe uma dádiva de peças ricas». 
O lugar do recebimento foi a choupana dos Padres da Companhia de Jesus, por mais acomodada para solenidade tão nova naquelas regiões. Entrou o embaixador prêto com grande acompanhamento e ruído estrondoso de música da terra. «Não havia, escreveu Garcia Simões, quem se entendesse com tanto chocalho e buzina». 
Era o dia 29 de Junho, festa dos apóstolos Pedro e Paulo. Por êste tempo já os missionários andavam entregues ao seu apostolado, a que desde os primeiros dias se dedicaram. Era esta a sua missão. «Começaram os Padres de fazer seu ofício, prègando aos domingos, confessando a gente do mar, da terra e de S. Tome, no que se fez muito serviço a Nosso Senhor». 
Imitando os costumes de Portugal no ensinamento do catecismo, juntavam aos domingos de tarde os pretos ao som de campainha, e ensinavam-lhes a doutrina cristã, «com que também se fêz muito fruto nas almas», e continuou sempre êste santo exercício na vila de S. Paulo e onde quer que moravam os religiosos da Companhia. 
 A evangelização dos gentios começaram-na pelos que tinham mais perto. O An-gola ficou espantado, e os nossos frios de tão cruel traição de hum soba a que não tínhamos agravado. Derão suas razões, respondeo o Angola ficase o negocio para se tratar outro dia. Porão se logo os portugueses com o Pa­dre a Igreia a rezar humas ladainhas, e pedir a Deus defendese sua ino­cência. Aíuntou se o Padre com alguns homens de autoridade e bem enten­didos na lingoa e derão taes razões em contrario, que o soba em mostra de estar satisfeito tomou aos embaixadores, e presos os entregou aos portu­gueses. Vierão a esta Loanda, e daqui forão a S. Thomé aonde o Governa­dor Diogo Salema que ali estava com alçada os mandou iustiçar". 
Paulo Dias de Novais vendo que a ilha, estreita língua de terra, não oferecia comodidades para habitação permanente e defesa militar, no início de Janeiro de 1576 com os seus soldados e toda a sua tripulação mudou-se para terra firme, estabeleceu-se no alto de um morro que em escarpa desce para o mar em frente da ilha, e baptiza-o "Monte de São  Paulo".
A 25 de Janeiro de 1576 construiu nesse monte povoação e fortaleza de taipa com sua artilharia assestada; e edificou a primeira igreja que dedicou ao mártir São Sebastião, seu Santo de devoção. A igreja era igualmente de taipa coberta de palha, «e para os tempos foi coisa que se teve por boa, capaz e airosa, com seu portal, feita com mui boa arte, com suas colunas de ladrilho». Nesse «bom sítio» se alojaram também os Padres em casas de taipa, cobertas de palha. «foi a segunda estância que tiveram em Angola» 


 O padre Garcia Simões que acompanhava Paulo Dias de Novais, escreveu: “Já estamos em hum sitio que no principio se offereceo a muytos ser mais cómodo para nossa povoação que outros. Tem nele o Governador feito hum forte de taipa e assentada sua artelharia e he hum monte que entra com huma grande (ponta) pelo mar, na qual ponta estamos situados por ser bom sitio”. (Alexandre Magno de Castilho, 1876).

 
    Em 1576, ao redor do monte  Paulo Dias de Novais funda a povoação que baptiza "Vila de São Paulo" teve  Brasão e passou a fazer parte integrante da Coroa de Portugal. 

 
No mesmo ano 1576, Paulo Dias de Novais deu princípio à edificação de um hospital e Casa da Misericórdia; os missionários, soldados e operários que acompanharam Paulo Dias de Novais, edificaram várias Igrejas, casas residenciais, e outras edificações, nos montes fronteiriços que viram a ser conhecidos como parte alta da, então, Vila de São Paulo. 
O Governador e Capitão-Mor Paulo Dias de Novais, ordenou Governo com vereadores e oficiais de justiça; como lho prescrevia a carta de suas doações. Assim, se erguia uma vila, futura cidade de São Paulo, capital portuguesa de Angola.
A população constituída pela comitiva da expedição de Paulo Dias de Novais, teve dificuldades de adaptação à inclemência do clima e à carência de condições para sua fixação. A falta de água potável era outro dos problemas. Os portugueses que acompanharam Paulo Dias, captavam a água no rio Bengo em  barris levados do Reino (Metrópole), que eram transportados em  barcas ou patachos, e depois era armazenada numa cisterna construída na Fortaleza para consumo diário, também, utilizavam os barris para captação da água das chuvas, a iluminação doméstica era feita com velas e óleo de ginguba (amendoim) em lamparinas.  
Paulo Dias de Novais cedo desenvolveu a povoação de São Paulo. Para a qual se dirigiram vários comerciantes. 




Em 1576, Paulo de Novais deu início à construção da Santa Casa da Misericórdia e Hospital, que durante séculos prestou cuidados de saúde aos residentes de Loanda (especializado no tratamento do escorbuto e doenças do fígado). Em 1623 foi reconstruída por iniciativa do bispo D. Simão de Mascarenhas, foi sede da Escola Médica de Loanda, e a primeira instituição de ensino superior em Angola, que teve ao seu serviço brilhantes professores de Medicina, entre outros;  José Pinto de Azeredo, médico luso-brasileiro, nomeado por D. Maria I, a 24 de Abril de 1789, “físico-mor da cidade de Loanda e de Angola”. Depois de estudos na Faculdade de Medicina de Coimbra, fez especializações nas Universidades de Medicina de  Edinburgh e Leiden (Alemanha). Desde 1780 Angola primou por ter os melhores profissionais de medicina, portugueses, especializados em doenças tropicais. 

                                            Santa Casa da Misericórdia,  Igreja e Hospital, edificada em 1576.
                           

Em 1576, Paulo Dias de Novais numa carta dirigida ao seu pai, fazia  uma proposta relativa à criação dum vice-reinado de Angola. Nessa carta, evocava a pertinência da criação deste cargo para Angola. É quando Paulo Dias inicia a definir o território como reino de Angola, dado o número de portugueses e fidalgos residentes.

Em 1578 "vieram de Portugal 400 soldados, e o Capitão António Lopes Peixoto sobrinho do Governador, com as despesas feitas à custa do pai de Paulo Dias de Novais; e juntamente fazendas, e munições, para o que o Cardeal Rei lhe mandou emprestar vinte mil reais".   
A partir da Fortaleza no Morro de São Paulo sua base inicial de operações, Paulo Dias de Novais desempenhou uma política de pacificação e negociação com os sobas das tribos menores, por meio da actividade missionária jesuíta: franciscana, carmelita e capuchinha.

                                                                  Fortaleza no Monte de São Paulo.


Em meados de 1578 foram avistados navios de corsários holandeses e franceses próximo à foz do rio Quanza.

O soba Kiluanji Kilombo kia Kasenda envia um mensageiro a avisar o Governador Paulo Dias de Novais que, era ciente da actividade dos piratas na costa, e de posse de informação de um plano destes à época para a invasão e conquista de Loanda-um documento coevo refere “estragos e roubos no porto de Pinda” à época era mais importante que o porto de Loanda. 

Com efeito, em 1567 registara-se um ataque a São Tomé por piratas franceses e holandeses. A melhoria das condições de navegação tornava impossível ao Reino de Portugal deter o progressivo avanço dos piratas como novos senhores dos mares no Atlântico e, também, no Índico. Já antes de 1580 eram visíveis os sinais de invasão por estrangeiros para aquisição de escravos, sobretudo franceses, holandeses e espanhóis. Paulo de Novais com os seus soldados parte em direcção ao Cuanza e bombardeia os barcos piratas, causando-lhes danos e baixas estes abandonaram a costa e rumam para alto mar. Alguns dias depois os holandeses regressam e queimam os nossos navios ancorados na baía de Loanda. "Havia muito que, os piratas holandeses e franceses faziam seu comércio na nossa costa. 


Em 1579, "chega a Loanda novo reforço de 200 soldados, enviados pelo pai do Governador Paulo Dias de Novais, com o empréstimo de 22 mil reis do Rei Card. D. Henrique. (Cf. MMA, IV, supl., doe. 132, p. 564).

No mesmo ano 1579, Paulo Dias de Novais envia soldados em ajuda do soba Ngola Kasenda, numa guerra contra o soba Kiluango-Kiakongo (Quiloango-Quiacongo) que, derrotado se tornou vassalo do soba Ngola  Kasenda, pacificando assim a sanzala do Dongo. 
1580, o soba Ngola Kilombo Kasenda, em reconhecimento, dá a sua concordância a Paulo Dias de Novais para entrar com os seus soldados em território Ambundo (Mbundu) a norte do Cuanza, região dos Jagas.
Por ordens do Governador, o fidalgo Garcia Mendes Castelo Branco edifica uma fortificação de taipa em Anzele, a cerca de 10 a 12 léguas de Loanda para o interior, entre os rios Cuanza e Bengo.  Segundo o padre António Brásio, Garcia Mendes Castelo Branco foi "um dos oito fidalgos mais importantes que acompanharam Paulo Dias de Novais na conquista de Angola. Garcia Castelo Branco foi também acompanhado do pai e dos quatro irmãos, que morreram todos nos anos seguintes durante as guerras contra os Jagas-Ambundus, Castelo Branco sobreviveu. (Viveu em Angola durante quarenta e seis anos, sendo "cabo de companhias", "chefe de guerra" e juiz em Luanda na década de 1590).

Em 1580, chegaram a Loanda dois missionários jesuítas. Em 1579 o Pe. Baltazar Barreira quando já teria 41 anos, foi chamado pela Companhia de Jesus a substituir dois dos missionários que tinham ido em 1575, com Paulo Dias de Novais, o Pe. Simões  e o Ir. Cosme Gomes, falecidos por doença. 
Padre Baltasar Barreira nasceu na Vila de Sacavém, Lisboa, em 1538. Era filho de pais nobres, seus pais eram Dom Rodrigo de Carmona e Dona Margarida Fernandes. Estudou na Universidade de Coimbra (famosa e única em Portugal no período). Por influência de um fidalgo, amigo de seu pai, fez uma viagem a Sevilha em Espanha. Em Sevilha, resolveu mudar seu projecto de vida. Retornou a Coimbra e começou a procurar uma Ordem Religiosa para ingressar. Procurou primeiro os franciscanos, mas por fim ingressou na Companhia de Jesus, em 1556. Cursou seis anos de humanidades, com formação em Filosofia e Teologia. Durante a sua formação foi influenciado pelo ideal de conversão formulado pelos jesuítas.
Partir para as missões, naquele tempo, significava enfrentar a possibilidade de morte rápida, principalmente se já não se era muito jovem, como era o caso de Pe. Barreira. O Pe. Barreira partiu, junto com o Ir. Frutuoso, a 20 de Outubro de 1579 e chegou a Luanda a 23 de Fevereiro de 1580. Trazia o encargo de ser o novo superior dos jesuítas em Angola. 
Foi a época em que rebentou o confronto directo entre o Governador e  o soba do Dongo, Ngola Kilombo KasendaDurara a paz e a boa harmonia apenas cinco anos. Com efeito, durante 5 anos o Governador e o Ngola Kasenda tinham conseguido conviver num clima de paz. 
O Governador apoiava o soba Manikongo do Kongo e o soba Ngola Kasenda na luta contra os seus inimigos. A aliança entre o Ngola e os portugueses foi vista com desconfiança pelo soba Manikongo, que enviou uma embaixada ao Ngola alertando sobre possíveis riscos dessa aproximação. A advertência era um indicativo do receio do soba Manikongo em perder seus privilégios com o Reino de Portugal, em função do aumento das transacções comerciais entre portugueses e mbundus. 
Os portugueses alegaram que seriam intrigas do Manikongo que temia ser prejudicado em seus negócios. As intrigas do Manikongo não tiveram efeito imediato, mas contribuíram para o desgaste das relações entre portugueses e o soba do Dongo. Após seis anos de convivência, portugueses e mbundus quebraram o acordo até então vigente.

Cf. Auto do Capitão Pero da Fonseca (18/04/1579), in MMA, IV, supl., 88, pp. 308-309.  Este documento nos revela as relações comerciais eram tais, que havia um capitão residente em Kabasa (Cabaça-Calulo), capital do Dongo do Ngola Kasenda: Pero da Fonseca, parente de Paulo de Novais. E dá-nos um reflexo do ambiente que se vivia, já perto do rompimento das relações, entre o Ngola e os portugueses que longe do poder central aceitam com dificuldade a autoridade do capitão Pero da Fonseca; por outro lado, já sabendo a língua e conhecendo os costumes da terra, e por interesses comerciais sentem-se mais ligados ao Dongo.
«O capitão Pero da Fonseca com licença do soba Ngola Kasenda prendeu a um certo português comerciante no Kongo de nome Francisco Barbuda d'Aguiar, que havia mais de 25 anos andava pelo Dongo, a contrabandear no comércio de escravos com os sobas locais. O preso corrompendo o preto que o tinha a cargo, fez que o soltasse. Solto, ele determinou vingar-se do capitão e de todos os portugueses. Foi ter com o soba Kasenda e disse-lhe que era seu cativo, que o marcasse como seu escravo, porque queria descobrir-lhe um segredo importantíssimo. O soba confuso com as palavras deste infame português, e cristão, mandou chamar os seus principais macotas, em presença deles mandou que o infame homem delatasse o seu segredo; proferiu esse fanático, que Paulo Dias pretendia despojá-lo das suas terras e minas de prata, e que para isso tinha em Cabaça gente pronta, e muita pólvora, e bala, e que outra mais gente vinha marchar e incorporar-se com ele”.
No seguinte dia o soba  quis saber quantos portugueses havia no Dongo , e perante eles referiu o que lhe tinha sido dito. Os portugueses quiseram convencê-lo e desmenti-lo; porém o soba sem atender razão alguma ordenou que se retirassem da sua vista. E mandou dizer a Paulo Dias que não passasse adiante do lugar em que recebesse aquela ordem: o Governador desconfiando do aviso, manda o Capitão Pero da Fonseca para conhecer as causas, e contendas entre o soba e os portugueses quebrando a boa harmonia entre o soba e os portugueses que durou 6 anos. 
O Governador desconfiando do aviso aviso do soba: com fracas e reduzidas forças, abandonou as margens do Cuanza e refugiou-se em Anzele na fortificação de taipa, guarnecida com duas peças de artilharia, erguida na região de Ilamba, entre os rios Bengo e Cuanza, a cerca de 10 a 12 léguas de Luanda. 
O soba aconselhando-se depois com os seus macotas, estes o persuadiram a expulsar os portugueses do Dongo: agradado do parecer dos macotas, deu ordem para se executar, e fingiu uma guerra a que mandou em sua ajuda os inocentes portugueses que ignorando o maquiavelismo do soba, foram todos repentinamente sacrificados ao furor daqueles bárbaros selvagens; foram mortos também os escravos cristãos que passavam de mil; alguns outros brancos que andavam dispersos a negociar; e roubadas aos portugueses 16 fazendas que importavam uma grande soma.
"Foi a fagulha que levantou, durante longos anos, formidáveis incêndios na conquista de Angola, e ofereceu a Paulo Dias justo título de mover guerra àquêles bárbaros. Daí em diante foi Angola um vasto campo de batalha, em que se exercitaram duramente as armas portuguesas com suas alternativas de grandes vitórias e alguns desastres. Nas marchas que se faziam, nas batalhas e arraiais das continuadas campanhas, tiveram boa parte os missionários, que sempre acompanharam os exércitos, para auxiliar espiritualmente os soldados, para os animar nos combates, e para os servirem tanta vez nas doenças e epidemias, como médicos e enfermeiros. Era admirável, nessas jornadas militares, a dedicação e coragem daquêles apóstolos".
"Pe. Barreira logo começou a trabalhar com tanto afã que acabou pedindo ao Irmão Furtuoso para contar a viagem e descrever qual era situação do momento em Angola «Ao tempo que chegamos achamos a terra muito alvoraçada, e cõ muitas perdas nos Portugueses, por causa de huã destruição que o soba fez ao Governador, como sempre costumou, porque lhe matou 30 Portugueses». No mesmo ano chegaram outros dois missionários: "Havia porém outro obstáculo que mais retardava a conversão da gentilidade. Eram as revoltas e guerras que, sem quase interrupção se sucediam a perturbar toda aquela região".
«Queixando-se o Governador Paulo Dias de Novais ao soba Manikongo, do mal que ele tinha feito em mandar a sua embaixada maliciosa ao soba do Dongo. Informa que o soba Ngola Kasenda se levantou e matou a gente branca e alguns negros cristãos e tomou as fazendas, por lhe darem a entender que ele lhe ia tomar o sobado e as minas. O Manikongo ofereceu ao Governador ajuda que seria levada pelo Manibamba, soba de Mbamba e seu vassalo, levando consigo grande exercito para que fosse feita vingança ao soba do Dongo e destruir os ngolas...».
Em Anzele, o Governador Paulo Dias de Novais desconhecendo a feroz carnificina sucedida, esperou o motivo daquela ordem do soba. Passados muito poucos dias, o Governador soube que vinha sobre ele um grande número de negros  para extinguir o resto dos brancos. Esteve cercado durante cinco meses por 12 mil negros, e os Portugueses não serem mais de 60 e alguns 200 pretos cristãos. Paulo Dias animando os homens que tinha consigo, e com eles as duas peças de artilharia fez tão grande estrago no inimigo que ficou inteiramente destruído, depois de fugirem vieram pedir as pazes com o Governador, que recusou por lhe serem os negros falsos como o seu soba. E determina pôr todos à espada, indo sobre eles em  Maio do mesmo ano 1580.
O Pe. Barreira narra o facto como um acontecimento traiçoeiro, no qual o ngola mata: «Perto de trinta dos seus principaes companheiros». Não mais se manteve a amizade do Governador Paulo Dias com o soba ngola.
"O Governador, com fracas e reduzidas forças, sessenta soldados portugueses e duzentos “cristãos negros” abandonou as margens do Cuanza e refugiou-se em Anzele, na fortificação de taipa, recém-construída em Nzele (Anzele) entre os rios Bengo e Cuanza, a cerca de 10 a 12 léguas de Luanda. Aí foi cercado por  uma  força de doze mil mbundus do ngola. «...e os Portugueses não serem mais de 60 e alguns 200 pretos cristãos. O cerco durou cinco meses, antes de os reforços liderados por Diogo Rodrigues chegarem a Luanda e navegaram o Cuanza para levantar o cerco". 
Desbarataram a todos os gentios, os quais depois de fugidos vieram pedir as pazes ao Governador, o qual está já determinado, a não haver as minas pela paz,  porque os negros lhe eram falsos assim como o soba, e todos os mais, e determina de os pôr todos à espada, indo sobre eles este Maio que virá de 80, para o qual tem pedido ajuda ao soba do Congo, e que ele lha tem  prometida, e de ir em pessoa ajudar o Governador levando consigo grande exercito para destruir os ngolas...». 
Esta vitória e a nova atitude ofensiva do Governador significou uma mudança de táctica.  De certo o Pe. Barreira deve ter contribuído para convencer o Governador da necessidade de uma rápida ofensiva militar aproveitando as novas condições propícias: o facto de terem sido eles a atacar primeiro justificava a guerra justa e a chegada de reforços militares".

O chefe tribal (soba) Ngola Kasenda arrependido da sua barbárie; se virou contra os que o aconselharam, e mandou matar todos os principais macotas do Dongo, e o traidor denunciante. Dizendo o soba ao proferir esta sentença que "não era bem que vivesse quem fez morrer seus irmãos".  Não se sabe exactamente o que provocou esta ruptura pois os documentos falam apenas de traição, não dando explicações do facto, para esta súbita mudança de comportamento do soba. Uns colocam a culpa ao Manikongo Álvaro Nimi a Lukeni Mvemba; outros atribuem-na à traição de um pérfido português; outros  colocam a culpa ao Ngola Kasenda «cobiça e maldade» e inimigo do Manikongo. Mas a versão de Paulo de Novais e dos jesuítas na História da Residência..., parecem concordante com um documento anterior que revela o ambiente comercial em que viviam os portugueses em Kabasa (Cabaça) capital do Dongo (Ndongo) vítimas da cobiça e maldade do soba Ngola Kasenda.  

Em Maio de 1580 o Governador organizou a conquista ao longo do Kwanza (Cuanza) com 290 soldados, 2 galeotas, um caravelão, e algumas embarcações menores. A finalidade era conseguir uma conquista rápida que abrisse o caminho para as supostas minas de Cambambe. 
No mesmo ano 1580, parte para as minas de sal de Kisama (Quissama) e para as minas de cobre de Benguela a Velha no Kwanza sul, onde trava uma batalha contra os Jagas de Quissama. 
 Os sobas-imbangalas de Quissama colocaram Paulo Dias de Novais em dificuldades, quiseram impedir-lhe a passagem, fazendo sair a terra o sargento-mor Manoel João com cento e setenta homens, o que teve como consequência uma violenta batalha, as tropas portuguesas derrotaram o soba de Houga, queimaram mais de três léguas de povoações, mataram e capturaram um grande número de gentios. "alguns sobas vieram aliar-se aos portugueses, um deles era «Muchima Quitangombe» («Coração de Touro») e o soba Quizua". Paulo Dias conquista todo o território Quissama,  e o soba Honga foi avassalado.  E foram avançando tendo como meta as minas de Cambambe.
No dia 1 de Novembro 1580 acamparam durante dois anos em Mucumbe, em Quissama.  Muitos soldados viriam a morrer pelas febres e a agressividade do clima. «... lugar muy defensável, mas tam doentio, que lhe consumio em obra de hum ano quasi duas partes de 300 soldados que levava» Padre Barreira. A ajuda do soba Manikongo do Kongo tardou.
Em Loanda o Padre Barreira ao saber das dificuldades do Governador, colocou-se a caminho de S. Salvador capital do Kongo, a 24 de Setembro de 1580, de certo para relembrar ao Manikongo Nimi a Lukeni lua Mvemba (Álvaro) a sua promessa e de apressar a chegada da sua ajuda militar. 
 "É tal o empenho que o Pe. Barreira colocou no prosseguimento rápido desta conquista que viu mais urgência em pedir socorro militar ao Manikongo do que em socorrer seu confrade Pe. Baltasar Afonso, que ficou gravemente doente após uma campanha militar pelo interior, junto com o Governador".
O Manikongo Nimi a Lukeni lua Mvemba (Álvaro) soba do Kongo, mandou em ajuda aos portugueses um poderoso exército, ao qual se ia juntado gente da terra onde entravam; «perto de Cambambe se entendia que a conquista ficaria fácil, mas chegando à raia dos Ambundos, assim se chamam os ngolas, foram desbaratados e fugiram com perda de muitos milhares que ficaram no Campo, os Ambundos com esta vitória ficaram tão soberbos, que não tinham em conta os nossos e alguns deles que estavam já da parte do Governador, que entendendo que não tinha poder para os defender dos negros do soba do Dongo, o Governador teve que adiar a conquista das minas de Cambambe, que um colega do Pe. Barreira chama: «terra da promissão». 
O Padre Barreira conta-nos que o reforço militar do soba Manikongo do Kongo não deu o resultado que ele e todos esperavam. 

 "É tal o empenho que o Pe. Barreira colocou no prosseguimento rápido desta conquista que viu mais urgência em pedir socorro militar ao soba do Kongo do que em socorrer seu confrade Pe. Baltasar Afonso, que ficou gravemente doente após uma campanha militar pelo interior, junto com o Governador. Entretanto, começava aver falta de mantimentos, aos soldados.  
Alguns sobas vieram aliar-se aos portugueses, um deles era «Muchima Quitangombe» («Coração de Touro»). E foram avançando tendo como meta as minas de Cambambe.
A 1 de Novembro 1580 acamparam durante dois anos em Mocumbe em  Quissama: «...lugar muy defensável, mas tam doentio, que lhe consumio em obra de hum ano quasi duas partes de 300 soldados que levava». 
O Pe Barreira conta-nos que o reforço militar do soba do Kongo não deu o resultado que ele e todos esperavam, e entendeu-se que a conquista ficaria fácil, mas sucedeu que chegando à raia dos Ambundos, foram desbaratados e sofreram a perda de muitos milhares que ficaram no Campo». 
Com esta derrota militar, o Governador teve que adiar a conquista das minas de Cambambe, que um colega do Pe Barreira chama: «terra da promissão». 

Em Loanda o Padre Barreira assistia à chegada de militares desanimados. O Pe. Barreira, «principal interessado nos bons resultados da campanha que se encetara, homem activo e enérgico e de uma vontade forte, não podia assistir impassível à derrocada duma obra que tantas vidas já tinha custado, e insurgiu-se contra o derrotismo que a todos invadira». Resolve recrutar voluntários em Luanda e ir ao encontro do Governador: Na esperança certíssima da vitória veio, com pretos armados, unir-se a Paulo Dias para o combate. 
Avançara Paulo Dias, na sua conquista, até Cambambe, onde jaziam, como supunham os portugueses, «as minas e riqueza de Angola».
«Vi o negocio em taes termos, que foi necessário, depois de o encomendar muito a Deus, publicar que queria ir a onde estava o Governador, exortando a alguns que por cá andavaõ espalhados a que fizesse o mesmo.»

Em 1581,  Paulo Dias de Novais edifica um pequeno Forte  militar na margem norte do Kwanza, em Muxima, Quissama, com a função de defesa perante os Jagas-Imbangalas de Quissama. Foi no dia de São João e por isso denominaram esse lugar "Porto de S. João". 
Chegou o Pe. Barreira com este reforço, junto do Governador, no dia 24 de Junho de 1581. À sua chegada com os mantimentos, pólvora e reforços humanos, foi acolhido como um herói militar e enviado de Deus. Todos recobraram novo ânimo e nesse mesmo dia venceram uma investida do inimigo. 
O Pe Barreira assim descreve este facto «... foy Nosso Senhor seruido, que nunca mais os nossos foraõ cometidos, antes foraõ sempre cometedores.»
  "Foi Nosso Senhor seruido (que nada pode servir a dois senhores), que nunca mais os nossos foram cometidos, mas antes foram sempre cometedores".
Com este feito, a fama do Pe. Baltasar Barreira) tornou-se grande entre os portugueses e parece que deve ter passado também para as hostes inimigas, que o Songa «Songari a Kimona ou ainda Songarea Quemona» um dos sobas Jaga mais poderosos da margem do Cuanza, veio pedir o Baptismo para o seu irmão e seu filho morgado. 
O Pe. Barreira tomou consciência de que era difícil submeter e assegurar a submissão destes sobas apenas pela força das armas, por isso, viu nestes baptismos a possibilidade ímpar de criar uma cristandade nestas terras: apresentar-se como um «Nganga» de um  Deus mais forte (representante de Deus), e colaborar na sujeição político-militar e converter os chefes tribais a Deus. Por isso, aceitou estes baptismos.

"Em Dezembro do ano 1581, no dia de S. Tomé, o Pe. Baltasar Barreira baptizou o filho morgado e o irmão, do soba a quem chamavam Songa. Os baptismos fazia-os com aparato, para bem impressionar aquêles selvagens. Foram os dois neófitos conduzidos em procissão e acompanhados de todos os portugueses". O filho do Songa «levava uns imperiais vermelhos com suas botas laranjadas e uma roupeta e gorra de damasco branco, que se lhe fez de novo, e farregoulo lustroso». No baptismo deu Barreira o nome de Constantino ao filho do Songa, e o de Tomé ao irmão; «a um, por ser o primeiro fidalgo que se baptizou em Angola, e ao outro pelo Santo em cujo dia se baptizara» .
Pe. Barreira quis fazer do rito do baptismo o início de uma vida radicalmente nova: novo nome, novos costumes, nova religião, novos amigos, nova língua, novas roupas, novos cargos. Por isso, fez destes baptismos um momento litúrgico de grande pompa e significado simbólico.
O  soba Songa ou Songare a Quemona, a quem o Padre Barreira já tinha baptizado o filho e o irmão, pede para ser baptizado. 
A 6 de Janeiro de 1582, no dia dos Reis, o Padre Baltazar Barreira baptiza o Songa,  a este acto litúrgico convidou o Governador Paulo Dias de Novais a ser seu padrinho, foi um momento litúrgico de grande pompa e significado simbólico,  pôs-lhe o nome do governador: D. Paulo. Vestiu-o à portuguesa, numa cerimónia parecida a uma investidura de cavalaria medieval.  
Refere o P. Barreira «recebeu solenemente o baptismo o Songa. Trazia vestidos, uma roupeta e corpete de setim pardo picado, e uma capa de raxa, gorra de sêda e botas laranjadas, isto à portuguesa. Pus-lhe por nome Paulo por ser o Governador o seu padrinho».
O Songa era sogro do Ngola Kilombo kia Kasenda (Quiloange) e seu conselheiro. Possuía grande prestígio entre as populações indígenas. A conversão do soba Songa fez tanto abalo entre os seus «por ser homem de dias, poderoso e sogro do Ngola, e tido de todos por oráculo de seus conselhos», que incitou uma quantidade enorme de pessoas ao desejo de baptismo, "que pediam os fizesse cristãos". «Num dia, prossegue Barreira, baptizei perto de quatrocentos. Foram tantos os ídolos que queimei de uma parte e de outra do rio Cuanza, que se não pode crer».

Em reconhecimento e gratidão ao trabalho do Pe. Baltasar Barreira, Paulo Dias de Novais faz para a Companhia de Jesus a Doação de um terreno espaçoso em Luanda e 2.500 braças de terra ao longo do mar e duas léguas pelo sertão dentro; e no mesmo dia, 22 de Dezembro de 1581, Paulo de Novais fez outra Carta de Doação concedendo-lhes terras na banda sul do rio Kwanza (Cuanza).  
Assim declarava: «Paulo Dias de Novais, capitão e Governador dêstes novos reinos de Sebaste, Conquista da Etiópia, faço saber aos que esta carta de doação virem, que havendo respeito ao muito fruto espiritual que os Padres da Companhia de Jesus têem feito nestes reinos na conversão da gente dêles e portugueses que nêles residem, e ao diante, digo, e ao que se espera que façam; e assim a muita necessidade que há para ao diante, de muita cópia de Padres e Irmãos, hei por serviço de Deus e del-rei nosso Senhor e bem do aumento e conversão desta província, de dar de sesmaria ao P. Baltasar Barreira, superior dos Padres da Companhia de Jesus nestes reinos, e em seu nome à dita Companhia, que ora nestes reinos residem e ao diante residirem, as terras de Garta Calabalenga Calabalanga, que estão situadas desde o rio Lucala até ao rio Zenza». 
No mesmo dia do mesmo ano por outra carta de doação, concedia também ao P. Barreira, e, por êle, à Companhia, terras, que demarcou, situadas ao longo do rio Cuanza da banda do Sul, «assim para a sustentação dêles, como para administração das igrejas, colégios, ornamentos e quaisquer outras despesas da Companhia.
"nova concessão de terras fêz o generoso cristão e Governador, e o P. Barreira, em carta para Portugal, pedia que o Rei a confirmasse para lhe dar firmeza. O mesmo missionário informara que as terras doadas, com o mais que nas doações se continha, prometiam renda suficiente para se fundarem três colégios; bem que, antes de se submeter toda aquela região, e de se povoar de gente branca, não podia efectuar-se a fundação de colégio nenhum.
Mas todas estas doações de terras as renunciaram depois, por justas conveniências, o Padre Barreira e mais Padres da Companhia, e as cederam livremente à cidade para logradouros e para o mais que a Câmara quisesse, reservando somente para si o sítio do futuro colégio de Loanda e uma várzea de terra que se dizia Mobembém para pastios de gado". No mesmo ano faz doações aos sobas.

Em Massangano, em 1582, o chefe tribal ngola Kasenda, pelas perdas se via desesperado; na esperança de poder em alguma ocasião melhorar de fortuna, e sofrendo mal o avanço das armas do Governador, ajuntou um exército com cerca de mil e duzentos homens, onde vinham todos os chefes tribais e principais macotas de seu sobado, os quais antes de partir juraram em sua presença, que não tornariam a ver-lhe a cara, enquanto não vencessem aos brancos. Queria esmagar com tamanha multidão os poucos portugueses, que não passavam de 150 homens de peleja. 
A fama deste poder organizado pelo soba Kasenda é tão grande que meteu medo aos sobas que estavam da nossa parte, ninguém houve que quisesse ir onde estava o Governador, persuadidos que ele e os seus ficariam daquela vez de todo extinguidos.
Permitiu Deus que não cumprissem os gentios seu diabólico juramento, porque o dia encerrou-se com denso nevoeiro, aproveitando-se Paulo Dias da ocasião atiraram-se os portugueses com tal valor, tamanha confiança, vontade e esforço contra aquela mole imensa de gente preta que, «em obra de duas horas, desbarataram aquêle soberbo exército», e o lançaram em vergonhosa fugida que no correr desatinado por aqueles montes, os fugitivos foram dar a uma profundíssima barroca, caindo dentro uns sobre os outros que a enorme vala se encheu, e foram servindo  de estrada para os que vinham atrás. 
Na esperança certíssima da Vitória o Pe. Barreira veio, com pretos armados, unir-se a Paulo Dias para o combate. 
O Padre  Baltasar Barreira, que se pusera em oração no campo de batalha, cuidando em certa altura que seria a vitória já de todo alcançada, «saiu a dar os parabéns ao Governador», mas logo «viraram os inimigos sôbre os nossos e os fizeram retroceder» com perda de sete portugueses que lhes mataram. Com essa vista «se tornou a recolher, e não se levantou da oração até que os nossos de todo venceram». 
Para mostrar a grandeza da derrota, trinta carregadores pretos vieram no dia seguinte à presença do Governador, «carregados de narizes», que tinham cortado aos negros mortos. 
"A 2 de Fevereiro de  1583, milhares de Jagas do soba Ngola Kilombo  são derrotados por 150 portugueses, em Massangano. E porque esta felicidade Paulo Dias a atribuiu a prodígio da Mãe de Deus a tomou por sua protectora, festejando-a com toda a possível solenidade em Massangano, onde fundou o primeiro presídio com a invocação da Vitória.
Os portugueses atribuíram e agradeceram tamanho benefício à intercessão da  Virgem Senhora da Purificação, em cujo dia se alcançou tão assinalado triunfo. Em acção de graças, celebrou-se missa solene, fez-se uma procissão, em que levavam os que nela iam, coroas e grinaldas nas cabeças e palmas nas mãos, como símbolo da vitória, e houve sermão, em que um dos missionários exortou todo o exército a guardar memória das obrigações que tinham à Virgem Mãe de Deus. 
Instituíu-se logo uma Confraria, com a invocação de Nossa Senhora da Vitória, e para ela contribuíram todos com muitas esmolas ".  História inédita de Angola.

"Ficou particularmente célebre a memorável batalha e milagrosa vitória de 2 de Fevereiro de 1583, a qual o Governador e os soldados atribuíram às orações dêsse santo missionário" (referindo-se ao Pe. Baltasar Barreira).

Sobre o número dos Jagas, D. Luiz Serrão Capitão-General na Capitania de Angola entre 1588 e 1591, escreveu:  "com mais de um milhão e duzentos mil negros", são derrotados por  cento e cinquenta portugueses". Se todos quantos nelas lidaram, merecem justo louvor, sobrelevaram pela incansável intrepidez os Padres Baltasar Afonso, Jorge Pereira e, mais que nenhum outro, o grande e animoso missionário Baltasar Barreira. Ficou particularmente célebre a memorável batalha e milagrosa vitória de 2 de Fevereiro de 1583, a qual o Governador e os soldados atribuíram às orações dêsse santo missionário. 
Os portugueses atribuíram e agradeceram tamanho benefício à intercessão da Virgem Senhora da Purificação, em cujo dia se alcançou tão assinalado triunfo. Em acção de graças, celebrou-se missa solene, fêz-se uma procissão, em que levavam os que nela iam, coroas e grinaldas nas cabeças e palmas nas mãos, como símbolo da vitória, e houve sermão, em que um dos missionários exortou todo o exército a guardar memória das obrigações que tinham à Virgem Mãe de Deus".


Animados destes prósperos sucessos, seguindo a fortuna que os guiava, conquistaram mais de cinquenta sovados; penetrando as selvas até ao rio Lucala. Na volta do qual venceram outro exército do soba ngola Kasenda. Mortos os três principais chefes e macotas que vinham ao desempenho, alcançaram os portugueses igual Vitória à que tivera antecedente. 

"Com as vitórias que Paulo Dias ganhava as terras ao longo do rio Cuanza, muitos sobas se submetiam ao ceptro de Portugal, e a sujeição lhes abria o caminho para abraçarem a Fé. Com o zêlo que o encendia, os dispunha para a conversão". (OP. Baltasar Barreira). 
Muitos indígenas abandonam a submissão ao ngola Kilombo kia Kasenda, e aderem aos portugueses. Vários sobas mudaram sua aliança para Portugal e logo muitas tribos costeiras se uniram aos portugueses. Não faltou porém gentio ou soba que no ano anterior se convertera e baptizara com o nome de Paulo. 
Nas margens do rio Cuanza, a 2 de Fevereiro de 1583 o Governador Paulo Dias de Novais edifica uma Vila que baptiza com nome Vila da Vitória, com um Tribunal e um presído, uma  Igreja dedicada à Virgem Senhora da Purificação, que teve nome "Igreja da Nossa Senhora da Vitória" e uma Fortaleza com nome "Forte da Nossa Senhora da Vitória". «Havia ali tabelião do público e judicial que escrevia em todos os juizos. Tinha Juiz e vereadores e foi seu primeiro Juiz, Luis Mendes Raposo. O Capitão-mór governava a guerra e a paz e era Juiz ordinário em todos os Juizos sem mais provimento que o de capitão pelo costume em que estavam».

Fortaleza de Massangano, e a Igreja da Nossa Senhora da Vitória. 


Em 1583, na parte alta da cidade S. Paulo de Loanda, é edificada a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e a  Igreja de Santa Iphigenia (Santa Efigenia). E na parte baixa da cidade, foram edificadas a Capela do Espírito Santo e a Capela do Corpo Santo.   
Na parte alta da vila de São Paulo, em 1583  é edificada a Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, segundo fontes da época, foi levantada com barro e gesso sobre pilares de madeira e o tecto de colmo. Em 1653, a Igreja foi totalmente remodelada e converteu-se na primeira Sé Catedral de Loanda, durante 165 anos. Título que passou para a Igreja do Convento de São José construídos em 1604A Catedral de Nossa Senhora da Conceição não resistiu ao tempo e às constantes remodelações da cidade Alta. Em 1818 a Catedral limitava-se já a uma única torre. 

Ruínas da Catedral de Nossa Senhora da Conceição edificada em 1583. 
em 1881 restava apenas a torre, viria a ser reconstruída para o Observatório Meteorológico de João Capelo, era conhecido por edifício da Torre da Catedral de Nossa Senhora. 


"Prosseguindo a obra da cristianização nos intervalos das guerras, outros dos principais fidalgos se converteram com bom crédito para a religião. «Fizeram-se... em diversos baptismos obra de mil cristãos. Nestes entrou um soba por nome Quicunguela, e agora com nome Dom Luís, em cujas terras estava alojado o Governador». Corria o ano de 1583. 
Não se faz por ora muito na conversão dos gentios, por andar tudo alvoroçado com as guerras em que andam de contínuo. Somente se ocupam em conservar os cristãos já feitos e baptizam de novo alguns meninos» . No ano seguinte exalta o fruto recolhido em Loanda e terras vizinhas. «Os Padres e Irmãos daquela Residência, escreve êle, estão bem, graças ao Senhor, ainda que alguns debilitados pela intempérie da terra, mas todos animados a trabalhar na vinha do Senhor, nem é sem fruto seu trabalho, prègando, confessando, ensinando a doutrina cristã e exercitando os mais ministérios da Companhia, assim com os portugueses, que ali residem e se ocupam com a gente da terra, pois toda a ilha de Luanda é já cristã, e o mesmo escrevem de Corimba, que é uma terra muito grande e de muitos lugares e muito povoada, na qual, poucos anos atrás, não havia um só cristão, e agora, pela bondade de Deus Nosso Senhor, não há ninguém que o não seja, tomando sua divina Majestade por instrumento de tudo isto aquêles Padres; e o mesmo que se disse de Loanda e Corimba, se pode dizer de outras terras sujeitas a senhores particulares, e sem dúvida muito mais fruto se fizera naquelas almas, se as coisas daquela conquista não estivessem tão inquietas, como estão, que parece que cada dia fazem mudança". 

 
Em 1584, chegam a Loanda mais quatro missionários jesuítas. Nesse mesmo ano Paulo Dias de Novais faz doação à Companhia de Jesus de várias terras e um terreno na parte alta da vila, para construírem um Colégio e uma Igreja.
"Achava-se Paulo Dias, no ano de 1584, em Massangano, cercado de inimigos, sem o necessário socorro de Lisboa, sem soldados, sem pólvora, e com êle o P. Baltasar Barreira".  No mesmo ano, 1584 chegam a Loanda 200 homens «de socorro» enviados de Portugal.
«Estão, escrevia Baltasar Afonso, entre dois rios muito fortes, que só por uma ponta lhe podem entrar por terra, que dois tiros defenderão a entrada, mas tomá-los-ão à fome é às mãos, acabando de se lhes gastar essa pouca pólvora que têem». Mas Barreira tratou de providenciar. Escreveu a Baltasar Afonso, que se fizesse prestes e fosse à Ilha de S. Tomé buscar algum remédio de pólvora, para lhe acudirem de Loanda uns trinta ou quarenta portugueses, que à mingua dela se não iam a Massangano. 
Foi Baltasar Afonso e encontrou a expedição que nesse ano largara de Lisboa, comandada por João Castanho Velês. Para socorrer o Governador com a urgência que pedia o apêrto, aprestaram um navio com oitenta soldados e pólvora, e, embarcando-se também o Pe. Afonso, partiram de Loanda a um de Outubro e em vinte dias chegaram, onde os aguardava Paulo Dias. «Fomos recebidos dêle, escreveu o missionário, e dos mais soldados com grande alvoroço e alegria, como quem havia três anos esperava esta hora». 
Em 12 de Novembro embarcaram-se para o mesmo sítio com o resto das tropas, a levar maior socorro aos cercados, os Padres Baltasar Barreira e Diogo da Costa, que fora de Lisboa na armada. Dêste modo salvaram o Governador e uns 150 portugueses das angústias que os apertavam. Mas ainda subiu mais a dedicação dos missionários. Era nesses meses muito doentia a terra, por ser o tempo das águas, e adoeceram todos os soldados, a ponto de morrer quase metade dos que tinham chegado nêsse ano. Os religiosos é que levaram o maior pêso do trabalho em acudir a tantos enfêrmos". 

"Estas jornadas pela terra adentro iniciou-as o P. Baltasar Afonso. Ia o zeloso sacerdote pelas margens do rio Cuanza, catequizando, queimando ídolos fetiches e baptizando. Num domingo prolongaram-se por seis horas as cerimónias religiosas, com administrar o baptismo a perto de quatrocentos indígenas. 
Continuando sua derrota pacifica, fêz noutra povoação um baptismo de crianças, que lhe levou três horas, e, depois da festa, puseram os pretos fogo a seus ídolos, gritando a grandes vozes ao diabo que saísse de suas terras. Concluída a jornada, voltava o apóstolo a sua casa de Loanda, onde contínuos ministérios o ocupavam a ele e a seus poucos companheiros. Depois tornava animoso a nova excursão com os mesmos trabalhos e idênticos resultados.
Também os Padres, que acompanhavam o exército pelo interior da região, como sempre costumavam, faziam de quando em quando boa colheita de almas para Cristo. Com as vitórias que Paulo Dias ganhava ao longo do rio Cuanza, muitos fidalgos ou sobas se submetiam ao scetro de Portugal, e a sujeição lhes abria o caminho para abraçarem a Fé. OP. Baltasar Barreira com o zêlo que o encendia, os dispunha para a conversão".

 "O Padre Baltasar Barreira chegou a tirar os coiros das cadeiras que havia em casa, para solas dos que andavam descalços. Nesta casa da Vila de S. Paulo, mandou dar mesa de farinha do Brasil e peixe aos soldados pobres muitos dias, os quais pouco a pouco iam recrescendo na portaria, e dia houve de cento e cincoenta.... (A). Temos de confessar, obrigados pela documentação, que os religiosos da Companhia foram beneméritos da Conquista e missão de Angola. Como justa recompensa de tôda esta dedicação, e como necessário subsídio para aumentar o número de missionários e alargar e intensar a obra da conversão e civilização daquela gente, deu Paulo Dias aos religiosos da Companhia alguns bens materiais, donde pudessem não somente sustentar-se, mas desenvolver sua acção apostólica. E como tinha desejo tamanho de que a Companhia crescesse em Angola, para prosperidade do território e dilatação da Fé nessa região, não foi escasso em suas doações. Deu-lhes primeiro em Loanda o sítio espaçoso, onde depois construíram o colégio e igreja, e formaram boa cêrca, e mais 2.500 braças de terra ao longo do mar e duas léguas pelo sertão dentro. O Governador fez outras doações. Os sobas havia os grandes e pequenos, também fizeram doações destinadas a Companhia de Jesus". 
 "Em Massangano, que foi o primeiro presidio que houve naquela região, tinham casas de taipa, cobertas de palha, em que moravam os Padres, quando faziam missão às conquistas, e um quintal com árvores de espinho. Estas eram as possessões dos Padres, e «não se espante V. R., concluiu o missionário, autor destas notícias, de tantas terras para pastos, porque nesta terra não chove mais que uma vez no ano, e assim é necessário mudar o gado muitas vezes no ano pela grande sêca».  Cartono dos Jesuítas, maço 57. 
Outro informa um pouco diversamente, e nota que assim ao longo do mar, como algumas léguas pela terra dentro, quando os anos vão bem ordenados, não chove mais que duas vezes, uma pelo Natal, outra pela Páscoa, e de cada vez pouca chuva; e, como a terra tôda é areia ou areenta e as calmas muito grandes, em poucos dias se seca tôda a erva; de modo que para sustentação do gado, por pouco que seja, são necessárias muitas léguas de terra, e em vários lugares, para o irem mudando (maço citado). Assim, pela medida, pareciam grandes as possessões; pelo rendimento eram muito pequenas.  Algumas das terras, que receberam os Padres, foram no decorrer dos anos valorizadas pela indústria deles, como a das margens do rio Bengo, que se transformou em fazenda bem cultivada com boas casas e capela, e muita frescura de pomares e hortaliças.  (Uma História Inédita de Angola , pág. 36, 11, 465).
Os sobas, quando mandavam aos Padres alguma parte do seu tributo,  recebiam sempre deles, como sinal de agradecimento, alguns presentes, como eram roupas de Portugal. Ibid., f. 50. (2) Eram os padres; Jorge Pereira, António Pais, João Lopes, Pedro Barreira, Diogo da Costa, Pedro Rodrigues. 
"os sobas, quando mandavam aos Padres alguma parte de seu tributo, recebiam sempre dêles, como sinal de agradecimento, alguns presentes, como eram roupas de Portugal para se vestirem.Arq. S. J., Lus. 79, f. 49v". Carta citada do Padre Barreira de 1590. 
No ano de 1585, chegaram de Portugal duzentos homens de armas, e por seu capitão João Castanho Vellez; veio também o Desembargador João Morgado de Rezende nomeado provedor da fazenda e das minas; para cuja fábrica trouxe vários instrumentos e ferramentas. 
Em 1587,  o Governador Paulo Dias de Novais delega ao seu sobrinho António Lopes Peixoto; a fundação da vila Benguela a Velha (Porto Amboim), antigo Quissonde.
"Durante o seu governo, Paulo Dias de Novaes foi confrontado com uma falta crónica de meios materiais. O governo de Paulo de Novaes, apesar de ter conquistado alguns territórios, não conseguiu satisfazer as obrigações estipuladas na sua Carta de Doação, nomeadamente no que dizia respeito à conquista territorial e à fixação de população europeia. 
O Governador Paulo Dias de Novais,  “continha o esboço do território do Novo Reino de Angola, que incluía a região entre a Barra do Dande (a norte de Loanda) e a Barra do Kwanza (Cuanza), na região da Quissama (a sul de Loanda)”, e a região costeira ao sul de Quissama e do Libolo, passando pela baía do Quicombo até à foz do Rio Caporolo em Benguela, assim denominado pelos portugueses a partir de 1578. Nos seus planos e projectos de governo era ampliar os investimentos em Angola, explorando outros sectores além do comércio, citando o cobre e a pecuária em Benguela; “e fornecer os dois mencionados gêneros”.
Após a vitória do Governador Paulo Dias de Novais sobre os Jagas em Massangano, em Quissama, o Governador conquista as regiões situadas entre Bengo a 64 km a norte de Luanda e Quissama a 80 km ao sul do Cuanza; o Dongo a leste de Luanda, Ilamba entre Luanda e Massangano, e  Quissama ao sul do Kwanza (Cuanza); Tal como previa a Carta de Doação. Unifica este território e denomina "Reino de Angola" que persistirá nos séculos seguintes.


O Governador Paulo Dias de Novais, queria ter às suas mãos o chefe tribal Jaga, Kilombo kia Kasenda.

No início de 1588 dirige-se para Massangano, com soldados, missionários e ajudantes, instala-se na Fortaleza de MassanganoNos primeiros meses de 1588 adoece gravemente. Em Outubro de 1588, o Capitão Luís Serrão assume o cargo de Capitão-General de Angola, delegado por Paulo Dias de Novais durante a sua enfermidade. 
Apesar da dedicação e cuidados dos missionários, Paulo Dias de Novais 1.° Governador e Capitão - General do Novo Reino de Angola, "Conquistador e Povoador do Reyno de Sebaste e da Conquista da Etiópia Inferior", e construtor do Reino de Angola, depois de ter vivido os últimos 14 anos da sua vida nas insalubres terras de Angola, veio a falecer a 9 de Maio de 1589, tinha 79 anos idade. Foi a sepultar em simples túmulo de pedra, frente à Igreja de Nossa Senhora da Vitória, em Massangano. 

Óbito de Paulo Dias de Novais

9/aio/1589 "Nona die Maji, Mazangani in Angolam, diem suum obiit Paulus Diasius Novasius rei Lusitanae apud eas gentes sumus Praefectus, de quo toties honorifica facta est mentio. Octavo ante obitum die, commendatis alteri negotiis publicis. seipsum ab omnium commercio secrevit, atque unice animae suae consuluit.Condito testamento, quod tradidit patri Baltasari Barrerae,sepulturam postulat in aede sacra Residentiae nostrae Mazanganensis. Denique, rebus omnibus prudentissime dispositis, ad meliora commigrat. Cadavere inter lamenta terrae mandato. pater Barreira e supremis ejusdem tabulis palam declarat Praefectum, dum Rex non providerel, Ludovicum Serranum velut dignissimum. Barreira  se nomine  cunctorum de Societate in Angola illum agnoscere legitimum Praefectum confitetur. Sequuntur duces et milites."(P. Franco-Synopsis, 1589, § § 14 e 15).


Túmulo de Paulo Dias de Novais frente à Igreja da Nossa Senhora da Vitória.


Interior da Igreja da Nossa Senhora da Vitória.
 Igreja da Nossa Senhora da Vitória, em Massangano.
                

Foi seu sucessor no governo D. Luiz Serrão, capitão-mór, o qual foi nomeado em testamento, por Novais, que durante o período da doença do Governador assumiu o governo em 1588. 
Num clima contrário à natureza dos europeus, onde predominavam epidemias mortais, o Capitão-General D. Luís Serrão, afectado por febres devastadoras faleceu em 1591, foi sepultado no cemitério na Igreja da Nossa Senhora da Vitória, em Massangano.
(") o Governador Paulo Dias de Novaes deixou testamento em que nomeava D. Luiz Serrão, capitão mor,  seu sucessor. 
Em Outubro de 1588, o Jesuíta P. Balthazar Barreira declara D. Luiz Serão Governador e Capitão Mor do Reino de Angola (1588-1591)". Sinopsis, citada aqui na nota pag. 45, pág. 151, n.° 14.

O Governador Bento Banha Cardoso no início do seu cargo em 1611, por sua ordem os restos mortais de Paulo Dias de Novais são transladados para a Igreja de Jesus, na cidade de São Paulo de Luanda, da qual foi seu fundador.
No arquivo central da Companhia de Jesus conservam-se cópias de mais de uma carta de doação feita por Paulo Dias de Novais
"Ainda se conservam no arquivo central da Companhia de Jesus cópias de mais de uma carta de doação feita por Paulo Dias". 


Brasão de Armas de Paulo Dias de Novaes.




o Governador Paulo Dias de Novais durante o seu governo e até ao ano de 1584, são avassalados cinquenta sobados “até aos confins do rio Lucala”. Após as batalhas bem-sucedidas contra os Jagas, para assegurar a ordem e a paz, é atribuído um  sobado a cada um dos capitães, ficando estes sobados sob seu controlo.

Paulo Dias de Novais nos seus planos e projectos de governo era ampliar os investimentos em Angola, explorando outros sectores além do comércio, citando o cobre e a pecuária em Benguela; “e fornecer os dois mencionados gêneros”. Intenções e projectos que, posteriormente, foram retomados no século XVIII pelo Governador Dom Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho. 



                    EVOLUÇÃO DA VILA DE SÃO PAULO DE 1576 A 1590 
                                                 EDIFICADA  POR PAULO DIAS DE NOVAIS:  
Paulo Dias de Novais cedo desenvolveu a povoação de São Paulo. Para a qual se dirigiram vários comerciantes. 

Para além da área circunscrita à Fortaleza e montes fronteiriços predominava a selva, animais selvagens, charcos criados pelas chuvas conhecidos por cacimbas, e algumas cubatas de negros.  
No entanto, a vila expandiu-se para a parte alta da cidade, na continuação do morro de São Paulo, onde se construíram as instalações para a administração civil e religiosa. Os soldados e os mercadores viviam na parte baixa da cidade. 

Cidade de  São Paulo, fundada por Paulo Dias de Novais, em 1576.  

Igreja de Jesus em Loanda.
Cidade alta, Igreja de Jesus e o Colégio do Santíssimo Nome de Jesus, início de construção em 1593.


                                                                                  DA COMPANHIA DE JESUS EM ANGOLA:

"Quanto as minas de prata, alem das de Cambambe na província de Mosseque que são as mais nomeadas em Purtugal tem este Reyno muitas outras em grande numero. No anno de 1590 foi Martin Rodrigues de Godoy, mineiro de sua Majestade ao longo do rio Lucala, aonde achou muitas minas de prata, de que trouxe mostras, fez emsayos, e tirou prata ficando muito contente de como respondia, como consta de papeis públicos em que assinou. Concordou Martim Rodrigues na informação com a que Diogo de Raquena mineiro espanhol tinha dada em tempo do Governador Paulos Dias. O qual Diogo de Raquena afora as minas de Cambambe descubrio outras quarenta minas também de prata, a que pôs nomes, e a informação de tudo enviou a El Rey Dom Sebastião. Porem como quer que o beneficio de minas requeira quietação, e até agora neste Reyno não na ouve por ser o gentio buliçoso e os Purtugueses poucos sem presídios nem povoações que possão conservar as províncias ja conquistadas, ficão sempre enterrados tão grandes tízouros com os quaes poderá emriquecer Portugal muito mais que com as drogas que lhe vem de outros Reynos (1). Na provincia do Ungo que está para o sul virão alguns Portugueses grandes esta­tuas de cobre que ahi se tira, e fundem os naturaes, donde trouxerão argo­las de notável grandeza. Nas províncias do Lumbo e Mosseque se tira esta­nho e ferro; do estanho não usão os pretos, do ferro fazem armas, e ferra­menta pera a lavoura.
A província de Quiçama he sequa, e de poucos palmares, mas de bons ares, e sadia. A gente mais belicosa, e feros que ha no Reyno, peleião em campo com muito esforço e as vezes chegão a pegar das espingardas sem temor da morte. Aqui estão as minas do sal tão rendosas como se fosse de algum metal presiozo, por serem as outras províncias faltas delle, e da qui correr para cilas. Este sal não he de terra mas de agoa do mar, a qual por veas secretas vem de muitas legoas a coalhar-se nesta serra. Serve de di­nheiro aos pretos com que comprão peças, e mantimentos. O sal não he miúdo, mas cortase nas minas em pedras, que tem de comprimento dous palmos e meio quadradas de largura, e grossura de huma mão travessa, algumas alvas como cristal, posto que não transparentes.
A sogeiçào de Angola depende em grande parte da conquista do Soba em que estão estas minas. Porque como não ha outra parte donde se tire sal senão esta, e elle he a todos tão necessário, feita aqui huma boa povoa­ção obrigava a muitos virem a obediência de Sua Magestade. O primeiro Rey que se levantou nesta terra, não pode por armas render aos Sobas da Quissama, mas empedindolhes o comercio do azeite com tomar os portos por onde lhes hia da província da liamba que está da outra banda do rio Coanza os fez vir a sua obediência. Asi agora avendo copia de gente e sogeitando este senhor do sal se podia conquistar grande parte do Reyno sem guerra somente com tolher a saca do sal que não corresse para outras partes.

(As minas de prata de Cambambe, nunca existiram, não passaram de uma grande ilusão).


 A EVOLUÇÃO DA VILA A CIDADE DE SÃO  PAULO: 
São Paulo de Loanda,  ao cento a Igreja da Nossa Senhora dos Remédios, a construção  com dois campanários,  e a ponta de Isabel onde viria a ser construído o porto de Luanda.   
                 
      A primeira ponte a ligar a ilha a terra firme, 
construída em madeira pelos portugueses que  desde o início a baptizaram
                 "Ponte Paulo Dias de Novais". Ano 1840.     
 Fortaleza de S. Miguel, 1870. 
Um dos símbolos da Portugalidade em Angola.        
Altar da Capela no interior da Fortaleza: 
Paulo Dias de Novais dedicou-a ao mártir São Sebastião. Após a reconquista de Angola aos corsários holandeses, Salvador Correia de  rebaptizou a Fortaleza com nome S.Miguel, nos nichos por detrás do altar as imagens de São Sebastião,  São Miguel ao centro, e  São Paulo. Encimados pelo escudo Real de Portugal.


.   
Brasão da Coroa de Portugal por cima da porta principal de entrada da Fortaleza.
 
                                        O Brasão de Armas de Angola na parede exterior da Fortaleza.



ANGOLA PROVÍNCIA ULTRAMARINA DE PORTUGAL!


Desde a fundação da povoação de "São Paulo" por Paulo Dias de Novais em 1576, Angola teve Brasão e foi denominada reino, passando a fazer parte da Coroa de Portugal. 
Em 1633, Angola é designada como Província Ultramarina de Portugal, e consta de um diploma de 12 de Março de 1633; e foi transladada para as constituições liberais, desde 1820, que consideravam as províncias ultramarinas como parte integrante da Coroa portuguesa. 
Em 1834, publicamente, é dado o nome de “Província” a Angola, no início de uma Junta Governativa (1834-1836) que exerceu autoridade em Angola, após o final de mandado do Governador e Capitão-General José Maria de Sousa Macedo Almeida e Vasconcelos, Barão de Santa Comba Dão (1829-1834). (...) Na tradição do direito público português e na terminologia corrente os territórios de além-mar haviam tido a designação de províncias.


Fortaleza no Monte de São Paulo, em Luanda.
Após a Reconquista de Angola por Salvador Correia de Sá, foi rebaptizada Fortaleza de São Miguel.
Fortaleza de S. Miguel, Luanda 1937.

 Nas muralhas da Fortaleza de S. Miguel,
   os canhões com Brasão do Reino de Portugal, e Brasão de Armas de Paulo Dias de Novais.


MASSANGANO:
Esq. Fortaleza da Nossa Senhora da Vitória,  rio Cuanza, a Igreja da Nossa Senhora da Vitória e o túmulo de Paulo Dias de Novais frente à Igreja, ano 1960. 
"Neste local, em 1580/81, travou-se a Batalha de Massangano, na qual os soldados sob comando do Governador Capitão-Mor, Paulo Dyas de Novaes, derrotaram os Jagas do chefe tribal do Dongo, Kilombo kia Kasenda, conhecido como Kiluanji (Quiloange). 


 Fortaleza da Nossa Senhora da Vitória, em Massangano. 

A Fortaleza de Massangano, fundada em 1583, por Paulo Dias de Novais. Foi reedificada em várias épocas. Desempenhou esta Fortaleza importante papel em todo o período das guerras no interior contra os Jagas, bem como no controlo aos piratas franceses e holandeses
E mais tarde, de 1641 a 1648, sete longos anos, abrigou os portugueses em resistência heróica,  enquanto Angola permanecia sob o domínio da ocupação holandesa. Senhores também da navegação do Cuanza por onde escoavam os escravos. 
Os corsários da W.I.C. "Companhia Holandesa das Índias Ocidentais" durante a ocupação tentaram atacar a Fortaleza da Nossa Senhora da Vitória não conseguindo, destruíram e saquearam a Igreja da Nossa Senhora da Vitória.
Após a Reconquista de Angola por Salvador Correia de Sá, a Fortaleza a Igreja da Nossa Senhora da Vitória e a Vila foram reconstruídas, situadas a 30 quilómetros da vila do Dondo, na margem direita do rio Cuanza, junto à confluência do rio Lucala. 

PLANTA DA FORTALEZA DE MASSANGANO:

Exterior: a Fortaleza apresenta planta quadrada, sem baluartes nos vértices. Em seus muros rasgam-se dez canhoneiras. É acedido por um túnel abobadado a partir do portão de armas, pelo lado voltado para terra. Em seu terrapleno erguem-se as edificações de serviço: Casa do Comando e Quartel de Tropa.
A face virada a terra é precedida por bateria baixa rectangular, a toda a largura do forte,  com beirada de telha, moldura dos vãos, muros aprumados, acedido por rampa com guarda plena, desenvolvida em frente do portal. A praça apresenta escarpa exterior em talude, rematada em cordão e parapeito com merlões e canhoneiras, em número de quatro na frente principal e de cinco nas laterais, e liso na frente posterior. 
Frente principal a N.E., virada a terra, rasgada ao centro por porta fortificada em arco, de moldura terminada em cornija, ladeado por lápides inscritas, e com o parapeito alteado, formando espaldar curvo, rematado em volutas e integrando brasão com as armas de Portugal; lateralmente é coroado por dois pináculos piramidais sobre plintos. 

Interior: a partir do portal desenvolve-se trânsito, flanqueado por duas alas que formavam as dependências do forte, de planta rectangular, correspondentes à casa do comando e quartel. Os edifícios são em alvenaria de pedra aparente, com vestígios de reboco e caiação, sendo acedidos a partir do trânsito, para onde também se abriam janelas, por vãos em arco abatido, com molduras terminadas em cornija contracurva. Junto à entrada do trânsito, abre-se, na ala esquerda, pequeno nicho em arco. Na fachada posterior do edifício, virada ao rio, o vão do trânsito, com rampa de acesso até à parada, é ladeado por janelas em arco abatido sem moldura, uma em cada ala. O edifício é contornado por caleira. Junto a algumas canhoneiras, conserva ainda peças de artilharia. Descrição, ano 1961.



"NO DIA 18 DE AGOSTO DO ANO 300 DA RESTAURAÇÃO DE ANGOLA, ESTIVERAM AQUI O GOVERNADOR GERAL JOSÉ AGAPITO DA SILVA CARVALHO, OS REPRESENTANTES DO EXÉRCITO DA MARINHA DE GUERRA, DOS DESCENDENTES DE SALVADOR CORREIA E DE TODAS AS CLASSES SOCIAIS DA POPULAÇÃO AFIRMANDO AS SUAS HOMENAGENS Á MEMÓRIA DOS QUE TÃO HEROICAMENTE RESISTIRAM NESTE BALUARTE Á INVASÃO HOLANDESA, O QUE PERMITIU A INTEGRAÇÃO DEFINITIVA DE ANGOLA NA SOBERANIA DE PORTUGAL".


Muralha da Fortaleza de Massangano, 1960. 
Massangano,  Igreja da Nossa Senhora da Vitoria e Fortaleza, 1960.   


Fortaleza de Massangano, quartel militar ano 1963.

A Igreja da Nossa Senhora da Vitória, saqueada e destruída pelos holandeses.

 Altar original da Igreja da Nossa Senhora da Vitória.
    São Sebastião à direita,  Nossa Senhora da Vitória ao centro,  São Paulo à esq.

Interior da Igreja da Nossa Senhora da Vitória. 


A Igreja matriz de Nossa Senhora da Vitória, de pedra e cal, coberta a telhas, a sua construção demorou cerca de 6 anos de 1583 a 1589. Era rica em ornamentos e possuía uma famosa custódia e boas imagens. No centro do Altar constava a imagem Nossa Senhora da Vitória ladeada por São Paulo à dir., e São Sebastião à esq.
De planta rectangular composta por nave e capela-mor contrafortadas, interiormente com iluminação axial e unilateral, tendo adossado torre sineira e, à fachada direita, corpo rectangular, suportado exteriormente por poderosos contrafortes e com uma imponente torre sineira.
Fachada principal harmónica, percorrida por cornija e rasgada por portal de arco abatido e aduelas de tijolo, tal como todos os outros vãos. A fachada lateral esquerda é rasgada por porta travessa e janelas e na direita o corpo adossado tem porta a N. e janelas laterais; na fachada posterior, com contrafortes de ângulo, abre-se janela. Exteriormente caracteriza-se pelas linhas sóbrias, com possantes contrafortes, sobretudo os posteriores dispostos de ângulo.
No interior a nave possui coro-alto, de que só subsistem os grossos pilares de sustentação, batistério no sub-coro, do lado do Evangelho, capelas laterais confrontantes e duas colaterais, ladeando o arco triunfal, de estrutura semelhante, sóbria e talvez do período da fundação da igreja, em alvenaria rebocada e pintada, com arcos de volta perfeita sobre pilastras, tendo no interior nicho à face de igual modinatura, excepto o colateral da Epístola, que tem perfil curvo. Na capela-mor a parede testeira tem retábulo-mor barroco, em alvenaria rebocada e pintada, de planta reta e três eixos, com tribuna entre dois nichos, sobre portas de acesso à zona posterior. Este destaca-se pela sua estrutura e elementos decorativos, mais eruditos, com os eixos definidos por colunas torsas e estípites assentes em plintos e consolas. A ausência de cantaria na região leva a que a estrutura das capelas, e retábulos sejam de alvenaria com reboco relevado e pintado, de que subsistem ainda vestígios significativos e relevadores da sua anterior riqueza decorativa.

Na parte de trás da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, foi ainda construído um cemitério onde foram sepultados 19 missionários Capuchinhos, falecidos por doença durante o Governo de  Paulo Dias de Novais.  Nele foi também sepultado o Capitão-Mor D. Luís Serrão, em 1591. E  outros portugueses que morreram em Massangano, durante a ocupação holandesa, 1641 - 1648.

Entre 1641 a 1648 a Igreja de Nossa Senhora da Vitória foi saqueada e destruída pelos corsários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, e seus aliados Jagas. E reconstruída no século XVII. Foi classificada como Monumento Nacional por Decreto Provincial Nº 81, Boletim Oficial Nº 20 de 28 de Abril de 1928.


A Igreja matriz de Nossa Senhora da Vitória, beneficiou de vários restauros, o último dos quais em 1938, mantendo-se  a sua manutenção até 1974. 


MUXIMA:
Muxima na margem sul do Cuanza confluência com o rio Lucala, constituía uma fronteira entre os territórios da "conquista" e a Kissama (Quissama). Em 1581 o Governador e Capitão -Mor de Angola, Paulo Dias de Novais, edifica um pequeno forte militar face aos Jagas de Kissama (Quissama). Em 1599 no Governo de João Furtado de Mendonça, o pequeno forte militar  viria a ser restaurado e melhorado  por Baltazar Rebelo de Aragão - Provedor da Fazenda Real de Angola-, e foi erguida uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição.  A vila como o Forte e a Igreja foram destruídos e incendiados pelos holandeses. Foi reconstruído na sua totalidade pelo Capitão Francisco de Novais, em 1655.

Muxima, a Igreja da Nossa Senhora da Conceição, e o Forte da Muxima sobre o monte.

Muxima era o centro de comércio dos produtos do interior destinados a Luanda: cera, marfim, resina/goma copal, géneros alimentícios, em particular fuba de mandioca, óleo de palma, e sal gema das minas de Demba (Ndemba) em Kissama.  A permuta de géneros com a margem norte foi uma constante, apenas interrompida durante as  guerras dos Jagas. A vila como o Forte e a Igreja foram destruídos e incendiados pelos holandeses. 
Em 1847 a vila era constituída por "250 a 300 casas de pau a pique, cobertas de palha das quais umas 25 formavam uma pequena rua cortada no seu comprimento pela corrente que no tempo das chuvas corria dos montes para o rio" (Fonseca, 1858). A vila foi sede de concelho a partir de 1868.



Muxima, pelo Quarto Centenário da Fundação de Luanda,
o Município de Luanda erige uma Cruz Monumento em Honra a Paulo Dias de Novais-.
Na base da Cruz uma lapide com a inscrição:
"DO MUNICÍPIO DE LUANDA A 
PAULO DIAS DE NOVAIS 
1560-1960".

1560 ano da primeira expedição de Paulo Dias de Novais a Angola, homenageado pelo Município de Luanda no Quarto Centenário da Fundação da cidade de S. Paulo de Luanda, em 1960.       



                                                                        Igreja dos Jesuítas e Colégio.





 Ponte  Paulo Dias de Novais, 1920. 

                            Monumento a Paulo Dias de Novais «Fundador da Cidade de São Paulo de Luanda,  
                             Conquistador, Povoador, Donatário, 1.º  Governador e Capitão-Mór de Angola».
                                   Inicialmente o Monumento foi colocado no sopé da Fortaleza de São Miguel, Luanda -1920.


No topo do Monumento dedicado a  Paulo Dias de Novais, o  canhão com que combateu negros e brancos: combateu piratas franceses e holandeses na foz do rio Cuanza, e no mar junto Corimba; combateu os Jagas do chefe tribal Kiloango-Kiacongo rival e inimigo do chefe tribal (soba) do Dongo, Ndambi Ngola; em Massangano derrotou milhares de Jagas do chefe tribal (soba) Kiluanji Kilombo Kia Kasenda( Quiloange Quiacasenda), combateu os Jagas-Imbangalas de Quissama, combateu ainda outros indígenas inimigos.
 Inicialmente o Monumento foi colocado no sopé da Fortaleza de São Miguel, em 1924  foi restaurado, e transferido para os jardins da Câmara Municipal de Luanda, e anos mais tarde transferido para o Largo Luís de Sequeira "Herói da Batalha em Ambuíla".

 COM O BRASÃO DE PAULO DIAS.
"HOMENAGEM À MEMÓRIA DE PAULO DIAS DE NOVAIS, 
FUNDADOR DA CIDADE DE S. PAULO DA ASSUNÇÃO DE LOANDA,
 CONQUISTADOR, POVOADOR, GOVERNADOR E CAPITÃO–MOR DE ANGOLA
  1575-1589".

Monumento a Paulo Dias de Novais, no Largo Luís de Sequeira. 
Em simbologia a dois Grandes Portugueses.
 


Exposição da Feira em Luanda ano 1938. A drt. a Estátua a Paulo Dyas de Novaes, 
no Pavilhão do Banco de Angola. Escultura de Manuel de Oliveira. 


Paulo Dias de Novais, na mão drt., a espada, na mão esq. a Carta de Doação do Rei D. Sebastião que, em 1571 lhe dava o título de "Governador e Capitão-Mor Donatário, conquistador e povoador do Reyno de Sebaste na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior". Estátua do escultor Manuel de Oliveira, para o pavilhão do Banco de Angola, na Exposição da Feira em 1938, e cedida pelo Banco de Angola à Câmara Municipal de Luanda. Encontrando-se nos Paços do Concelho, foi colocada no sopé da Fortaleza de S. Miguel. Na década 50 foi transferida para a Ilha de Luanda e colocada frente à Igreja da Nossa Senhora do Cabo.

 Estátua a Paulo Dias de Novais, inicialmente foi assentada no sopé da Fortaleza.
        Na década 50 foi transferida para a Ilha e colocada frente à Igreja da Nossa Senhora Cabo. 

                                                   Av. de Paulo Dias de Novais, 1958,Marginal de Luanda.

                                                     Igreja de Jesus e Colégio - Luanda 1955.

Interior da Igreja de Jesus. 
Onde foram colocados os restos mortais de Paulo Dias de Novais, transladados pelo Governador e Capitão-General de Angola, Bento Banha Cardoso, no início do seu cargo, em 1611.

Luanda, Av. Paulo Dias de Novais, 1963.

Estátua de Paulo Dias de Novaes e a Igreja de Nossa Senhora do Cabo,
na ilha de Luanda, 1963.

Estátua a Paulo Dias de Novais, na ilha de Luanda, 1968.      


Ó Nosso Capitão! Teu porto vê-se ao perto!
Olhos que à quilha firme tornam, dessa nau forte e audaz;
Ó sangue pátrio e brio —
A ti se desfraldam bandeiras — a ti se dirige este hino!
Entre rio navegado e  areal encontrado
foste âncora firme em terra pousada.
—  Nesse longe que nada tinha — edificaste fanal da nossa Grei; 
 e dela seu primeiro timoneiro —.
Ó nosso Capitão! levanta-te — Eis a mão de quem te ergue!
Aqui, nosso Capitão! Aqui, meu pai gentil!
Vê a multidão que na costa te aclama —
Nesse clamor das praias, nesse dobrar dos sinos;
de mares longínquos, que a cada instante, murmuram teu nome, 
que em pedra foi gravado. 
Não mais voltastes de onde aportaste — Quem foi Pátria nunca morre — 
Tens em ti o pendão do imp
ério de Portugal 

Nosso pulso — continua firme — segurando amarra da tua nau,
que encerra glória, honra e brio — e não conhece périplo findo!




Acesso para a Fortaleza de S.Miguel, no ângulo formado 
pela Avenida de Paulo Dias de Novais, a Ponte de Paulo Dias de Novais e a  marginal da Praia do Bispo, ano 1973.
 
                                                              A Restinga da Ilha, a ponte Paulo Dias de Novais, 
a Fortaleza,  e vista parcial da cidade de São Paulo da Assunção de Luanda, 1972.

     


                                                                  Fortaleza de S. Miguel ano 1967:

E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Imperio,
Foi-se a ultima nau,
Erma, e entre choros de ancia e de presago
Mysterio.
Não voltou mais.(...)
Deus guarda o corpo e a fórma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o,
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlantica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que ha a hora.
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mysterio.
Surges ao sol em mim, e a nevoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Imperio.


Mensagem-
Fernando pessoa.