NJINGA MBANDI (1620-1663)

   
O pequeno forte construído em taipa no ano 1581, na margem esquerda do rio Cuanza, em Muxima, Quissama, pelo Governador de Angola Paulo Dias de Novais, foi praticamente abandonado após a construção da Fortaleza em Massangano. 
Face aos contínuos ataques Jagas de Quissama, durante o Governo de João Furtado de Mendonça Capitão-General de Angola (1595 - 1602), viria a ser reconstruído em 1599, dando lugar a uma Fortaleza, também foi construída uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, um presídio e uma pequena vila.
 "Os grupos Jagas eram compostos por negros de diferentes etnias e diversos países, eram negros cruéis que, fugindo da pátria e dos seus senhores naturais, se davam a fazer uma vida bárbara e desumana. Eram cruéis, bárbaros, desumanos e ferozes a combater; na guerra, só usavam o arco, as flechas e um pequeno machado com que esquartejavam suas vítimas. Andavam nus e alimentavam-se de carne humana. Matavam os filhos naturais que tinham, já que eram um estorvo para a guerra. Criavam os prisioneiros novos que faziam nas guerras. Para meter medo, arrancavam os dois dentes de cima à frente e às vezes também dois de baixo. Os Jagas vagueavam pelo mundo e não tinham casa própria". (Frei António de Gaeta). 
O soba do Kongo, Nzinga a Nkuwu; 1440 - 1506, de origem Jaga que, em princípio ano 1482/85 aceitou o cristianismo levado pelo Navegador Diogo Cam, e quis receber o baptismo em 1492, vendo que o cristianismo não se adequava aos seus rituais de feitiçaria, adoração aos seus "deuses" leia-se demónios, e selvajaria,  rejeita o cristianismo, que veio a ser instaurado por seu filho Afonso Mvemba a Nzinga (1456-1543),que após ter consolidado o seu governo em  1506, introduz o Cristianismo no Kongo  e proíbe as praticas de feitiçaria e idolatração aos Nkisi. Em 1509 e constituída uma escola eclesiástica no Kongo. O bakongo, Kiluanji kia Samba, Inene, abandona o Kongo, desconhece-se a data, alguns missionários no Kongo, há época, apontam para o ano 1538/9, temos em conta que os negros nao tinham registos, desconheciam idade, data do nascimento, e sobre a localidade de nascimento faziam referencia ao local onde se encontravam, mesmo que tenham nascido noutros locais.
O missionário jesuíta Baltazar Barreira, conhecedor do dialecto kikongo, a respeito do Kiluanji Kia Samba (Quiassamba), descreveu  Kiluanji como Ngola a Kiluanji, e Ngola Inene, migrante do Kongo. E diz, "o nome Kiluanji diz tudo, significa peixe-gato em kikongo, mas o nome Ngola Inene, em kikongo também significa muitas coisas, Ngola Inene significa que o peixe é muito grande.
 Kiluanji kia Samba, ao abandonar o Kongo,  desce para Matamba (Malange), onde criou o seu Kilombo Jaga, a ele se agregam outros Jagas que se instalam ao norte e sul do Cuanza: em Ilamba,  Lumbo, Hacu,  Musseque, Quissama. 



A partir do seu kilombo em Matamba, Kiluanji kia Samba, Inene, mantêm-se em constante conflito e rivalidade com o Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga. Pretendendo competir com o Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga que vivia uma época de desenvolvimento e prosperidade, faz vários pedidos ao Rei de Portugal para envio de missionários. O Rei D. D. Manuel I  de Portugal querendo satisfazer as súplicas do chefe tribal Kiluanji, e na esperança que os gentios do Dongo se convertessem ao Cristianismo, envia a primeira expedição ao Dongo, em 1520, nomeando Manuel Pacheco Capitão do navio, com missionários e escrivão Balthasar de Castro. Tinham como missão a possibilidade de actuação missionária, a evangelização e baptismo do Kiluanji kia Samba, como ele havia pedido. Chegada a expedição ao Dongo, Kiluanji kia Samba não só rejeitou ser baptizado como aprisionou o Capitão Manuel Pacheco, que ao recusar-se ser preso foi assassinado por ordem do Kiluanji. 
O escrivão Balthasar de Castro foi aprisionado, despojado das suas roupas, ficando completamente nu e descalço, foi  escravizado durante seis anos. Sendo libertado por intervenção do Manikongo Afonso Mvemba a Nzinga. Em 1526, após seis anos de cativeiro, o escrivão Balthasar de Castro chegou a S. Salvador do Kongo: doente, descalço e com apenas uma tanga de palha. Em S. Salvador, Balthasar de Castro escreveu  ao Rei D. João lll, informando o Rei  dos acontecimentos, o assassinato do Capitão Manuel Pacheco por ordem do Kiluanji, e como ele havia sido solto pela intervenção do Manikongo Afonso Mvemba Nzinga. 
Kiluanji kia Samba, pai de Jinga ou Njinga Mbandi, Kambu,  Kifunji, e de Ngola Mbandi, filhas e filho ilegítimos de diferentes escravas Jagas.
Kiluanji kia Samba morre em 1556, é sucedido por seu filho Ngola Mbandi, um Jaga de carácter bárbaro e cruel, que assumiu de imediato o poder de forma tirânico e absoluto, afastando pela violência todos os que se lhe opunham, inícia uma guerra contra o Kongo conhecida como "batalha do Dambi". E cria conflitos com os portugueses, a quem falsamente prometia relacionamento harmónico e pacífico.
O Rei de Portugal desconhecendo os acontecimentos envia uma expedição em 1560, para contactar  Kiluanji kia Samba, com missionários Jesuítas sob comando do Capitão Paulo Dias de Novaes, fidalgo da Casa Real, e neto do Navegador Bartolomeu Dias, chegada a expedição a Kabasa são recebidos pelo Jaga Ngola Mbandi que, aprisiona Paulo Dias de Novaes e a sua tripulação. 

 «É um povo traiçoeiro de cuja boca sai continuamente a mentira e a falsidade,  pois mentir entre eles é considerado grandeza. Um povo dado ao roubo e a qualquer crime, sempre sedento de sangue e de carnificina,  entre aqueles, um, que não rouba nem mata, não é homenageado. Mais cruéis que os animais selvagens da floresta e cobras venenosas.  Numa palavra: parece animado por sentimentos tão maus que o inferno nunca vomitou fúrias e tiranos que possam servir de comparação» (Cavazzi de Montecuccolo - I, p. 175). 

Ngola Mbandi e sua meia-irmã Njinga Mbandi, seriam protagonistas sucessivos do período de ódio mais violento e sangrento vivido em Matamba, Dongo e nos Dembos e até cerca de 1656. 
Missionários, governadores, soldados, comerciantes, exploradores e viajantes estrangeiros, népoca, testemunharam e descreveram os actos de canibalismo, tribalismo e infanticídio, foram tema de vários livros editados na Europa nos séculos XVII, XVIII, e XIX. Em 1687 em Bolonha, Itália, e em Leipzig, na Saxónia, Alemanha Central; no ano seguinte a "Biblioteca Universal de História" uma publicação protestante holandesa dedica-lhe 38 páginas; em 1680 houve uma publicação francesa; em 1694 outra publicação alemã em Munique; em 1732 foi editada em Paris a "Relação Histórica da Etiópia Ocidental"  com várias páginas dando-lhe destaque. 
Em 1792 o poeta Manuel Maria de Barbosa du Bocage qualificou o bando de assassinos e canibais da Njinga como "Os filhos da Ginga, A nojenta prol, Preside o neto da rainha Ginga, A corja vil, Aduladora, Insana".  Cadornega chama a Njinga «Bicha Peçonhenta».
Em 1822-1830 foi publicada na Alemanha a obra "Filosofia da História" baseada em aulas ministradas por Hegel, baseado no exemplo da Ginga, onde o alemão cita exemplos de costumes e leis africanas que propagam o terror no território.

Mas a história desta Jaga antropófaga, movida por extremo racismo, cujo nome variava de acordo as suas práticas, e que os negros transformaram em símbolo da resistência ou libertária do povo, não é completa se não se abordar a sua relevante participação no comércio de escravos. 
Ao longo da sua vida sempre demonstrou com palavras e actos o seu interesse pelo Comércio Negreiro no qual participava activamente nas suas sanguinárias guerras tribais onde despojava tribos inteiras, fazendo razias e trucidando homens, mulheres e crianças, e capturava os sobreviventes para serem vendidos como escravos para tribos diferentes, os mais jovens eram inseridos à sua prol de escravos, uns eram inseridos à sua prol de concubinos que ela trajava de mulheres, outros eram adestrados nos rituais Jagas e eram inseridos aos da sua guerrilha.
A Njinga chegou a presentear o Governador João Correia de Souza com escravos, a primeira vez com 400 cativos e 150 vacas; Na segunda vez com mais 12 escravos, ofertas que foram recusadas quer pelos crimes por ela praticados contra os portugueses, quer pela idade avançada dos cativos quer pela  debilidade física que apresentavam, a maioria deles doentes. 
Em 1637, aNjinga contactou os missionários Jesuítas em Luanda, enviando-lhes marfim e de escravos, os presentes foram rejeitados pelos padres que consideraram que «ela tinha uma moral muito corrompida»Estas recusas desencadearam o ódio exacerbado desta escravista, contra os portugueses. 
Os seus actos de selvajaria: tanto contra os portugueses como na captura de escravos, atingiram o auge com os acordos com os corsários (Piratas) da West-Indische Compagnie (WIC), Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, de 1641 a 1648, acordos  onde ela exigiu que lhe reconhecessem o monopólio sobre o tráfico negreiro e lhe pagassem os preços mais altos pelos escravos fornecidos por ela.



Jinga Mbandi ou Njinga Mbandi.
        Líder dos Jagas (1620 a 1656).  Actividade: Guerras tribais, Canibalismo, Comerciante de Escravos. Nascimento: Kabasa, Matamba - c.1582. Morte: 17 de Dezembro de 1663 (81 anos).   
                                 
A Jaga-Imbangala Jinga, Njinga Mbandi, no dialecto mbundu ou ambundu (vulgo ki-mbundu). Filha do chefe tribal Jaga Kiluanji Kia Samba (1515/56), e de uma escrava Jaga, após ter assassinado o meio irmão Ngola Mbandi tornou-se líder da tribo Jaga no Dongo. Analfabeta e sem nome definido, de acordo os acontecimentos fazia-se chamar: Jinga, Njinga Mbandi; Jinga Ambandi, Njinga Mbandi Cakombi; Ngola Njinga Mbandi; Nzinga;  Njinga Ndongo;  Singa; Zhinga; Ngola Njinga; Njinga de Matamba; Njingha de Ndongo; Nxingha a Mbandi. Após a sua conversão ao Cristianismo já no fim de vida,  fazia-se chamar como Ana de Sousa,  Ana Njinga, e ainda  Njinga Ana de Sousa Mbandi. "Simplesmente Jinga líder dos canibais". 

                                              
                                     FACTOS SOBRE A JAGA, NJINGA MBANDI, LÍDER DE UMA SEITA CANIBAL:

Segundo relatos da época escritos por missionários, governadores, comerciantes, e viajantes europeus, Njinga Mbandi antes de se tornar líder de uma horda de assassinos e canibais, instalou na Matamba (Malange, região da Baixa de Cassange) um reino de luxúria e perversidades [...]  e cria um harém de rapazes que ela transformou  em mulheres até no vestir. Veste-se como homem e exige ser tratada por rainha.
Os Kilombos ou kimbos eram compostos por cubatas, muitas delas oferecidas pelos governadores portugueses de Loanda (Luanda) uma das cubatas servia de harém, no qual viviam sessenta robustos jovens seus concubinos, que ela mandava vestirem-se com trajes femininos para aparentarem serem mulheres. 
Cada concubino no Kilombo podia fazer-se acompanhar de quatro ou cinco mulheres para o seu serviço, não podendo estas aparecerem grávidas. Se isso sucedesse seriam imediatamente mortas ou expulsas do Kilombo, ficando neste caso sujeitas aos perigos da floresta. 
No Kilombo se alguma mulher chegasse a dar à luz, o seu castigo era a decapitação, ou seja, a morte, e o recém-nascido era, também, morto de imediato ou lançado às feras. No caso de morte, era muitas vezes o parceiro da vítima o encarregado de a executar, castigo que tinha lugar em público com a assistência obrigatória de toda a população do Kilombo. 
A perversidade da Njinga Mbandi chegava ao ponto de encerrar na mesma cubata rapazes e raparigas. E se estes jovens, todos juntos, não conseguissem ultrapassar tal situação de oferta e fácil intimidade e tivessem relações íntimas eram acusados de adultério e decapitados.  
Este harém de concubinos acompanhava a Jinga nas campanhas e noutras saídas importantes para satisfazer a sua enraivecida luxúria. Um desses concubinos, naturalmente, o que melhor satisfizesse as suas vontades, era nomeado "Segunda Mulher da Comunidade". Esta segunda mulher merecia da líder tribal Jinga, apreço e carinho muito especiais, não lhe admitindo que se relacionasse com alguém que não fosse ela própria, se isso acontecesse, não hesitava em ordenar a sua decapitação. 


                                           O Kimbo ou Kilombo da Njinga Mbandi e seus concubinos. 
A Rainha dos canibais, Ginga, Jinga ou Njinga Mbandi.

A Jinga Mbandi para dar livre curso aos seus instintos de selvajaria se auto-nomina chefe do Dongo, e comanda uma tribo Jaga com os quais forma uma aliança, sob os ritos e os costumes Jagas ou "lei Jaga" as Kijilas (normas) violentas, selvagens e sanguinárias, assente na mais extremada selvajaria, regulada por ancestrais normas estabelecidas também por outra Jaga "Temba-Ndumba". Os Jagas eram indígenas violentos, de costumes selvagens extremados e que praticavam largamente o canibalismo sobre o adversário, seus familiares, e sobre as suas próprias tribos. Constituíam-se em pequenos grupos nómadas que faziam razias por onde passavam, e constantemente se batiam em combate para capturar mancebos válidos para as suas hostes, cuja preparação decorria depois em “Kilombos” eram acampamentos com cerca, escondidos nas selvas, onde ninguém podia entrar ou sair sem a permissão dos guardas Jagas, e onde era feita a preparação para as guerras e nos quais eram incorporados todos os mancebos que se apresentassem e fossem aceites, e aqueles capturados  durante os ataques às tribos. 
 A aliança com os Jagas fortaleceu o seu ódio que sempre nutriu, não só contra o irmão, mas contra a generalidade dos súbditos masculinos e femininos. Só precisava ter poder para se manifestar, vitimando diversas tribos, e praticando Antropofagia (Canibalismo) e infanticídios". A Jinga assume a liderança dos Jagas, até então, comandada por homens, 
realçando seu exacerbado racismo e combatendo o cristianismo que a faria mais humana, começa a fazer guerra aos portugueses. 
  
Nos anos seguintes, sempre observando as selvagens normas Jagas, conjuntamente com algumas do mesmo tipo, já por ela criadas e estabelecidas, passa a liderar pessoalmente o bando de atacantes, entre 1620 e 1656, durante trinta e seis (36) anos, sendo seguida por um bando de 300 homens que se faziam passar por  mulheres, também, armados, untados e emplumados como ela. 
E inicia a guerra sob as normas dos princípios Jagas, incitando os atacantes a que usassem da maior crueldade para serem temidos. E que os primeiros adversários mortos fossem retalhados e os pedaços dos seus corpos agarrados entre os dentes para intimidar os que se lhe seguiam. Os prisioneiros capturados nas tribos atacadas eram levados para o Kilombo, onde  iniciavam os macabros rituais, que começavam ao toque de vários instrumentos onde predominavam as batucadas, os vencidos eram amarravam a estacas, decepando-lhes a cabeça para consumo imediato da tribal Nzinga, dos feiticeiros e de outros vassalos da tribo. 
Seguia-se a morte dos outros prisioneiros, sendo a sua carne cozida ou assada para repasto do grupo. A carne que sobrasse era depois distribuída pela população do Kilombo e das aldeias próximas, tendo sempre o cuidado de reservar para a chefe da seita, Njinga, e seus vassalos mais próximos  as partes que mais apreciassem.
A batalha encerrava-se, assim, com um grande, ruidoso e frequentado festim canibalesco em que as bebidas também não faltavam, em especial o Kimbombo, de fabricação caseira com elevado teor alcoólico. Por vezes, aqueles que a Nzinga considerava inimigos, eram amarrados a estacas, e entregues em vida à voracidade das formigas  “kissonde” (formigas carnívoras) que lançadas sobre eles aos milhares lhes devoravam a carne até aos ossos em poucos minutos.
No Kilombo havia ainda lugar para banquetes de canibalismo com a carne dos sacrificados e para a sua “trituração” em grandes almofarizes para a obtenção do designado óleo da veneração "Maji-a-Samba", (os canibais Mbangalas ou Bangalas na região do Cassange, saqueavam o país em busca da bebida de palma, Maji-a-Samba). A massa assim obtida, da carne dos sacrificados, por “trituração”era regada com óleo de ervas especiais e o unguento resultante era utilizado para untar o corpo dos guerrilheiros antes de iniciarem a luta, ficando com aspecto colorido e aterrador. Nzinga era a primeira a untar-se ou a ser untada, na crença que o óleo dava mais força e que os protegia dos golpes do inimigo.
Nestes grandes banquetes do Kilombo faziam uso de vestuário de bons tecidos europeus, e uma banda com vários tipos de instrumentos que se fazia ouvir durante as refeições e nas cerimónias que as precedessem ou a elas se seguissem, não faltando bebidas, além das gentílicas preparadas no Kilombo, com extracto de palmeira, servia-se vinho da Europa, este oferecido pelos governadores portugueses ou obtido por contrabando, através das tripulações dos navios.

"Jinga ao comer carne humana apreciava sobremaneira as partes dos seios femininos e o coração; que era servida pelos seus  trezentos concubinos, divididos em seis grupos, vestidos com trajes do sexo oposto" (BRÁSIO, v. 12, p. 469-472). 

Noutro relato, do belga Barthélemy d'Espinchal, redigido em 1667, a essas aberrações é acrescentada a informação de que "seus guerreiros" mais bravos combatiam com as tripas  secas de adversários anteriores, que já tinham sido devorados, amarradas ao pescoço, comendo-as antes do início da batalha para melhor incutir pavor entre os combatentes da outra parte" (BRÁSIO, v. 11, p. 254-255).
O missionário Serafino de Cardona que representou o Papa Alexandre III, em Matamba, atesta também estas práticas de selvajaria em “Relação” enviada, em Fevereiro de 1655 ao Concílio dos Cardeais em Roma, na qual afirma:
“Se bem que cristã, aquela a que chamam Dona Ana pratica com os seus soldados todos os ritos pagãos, oferecendo sacrifícios sangrentos com numerosas vítimas. Como os Jagas, manda matar à nascença, atirando-as aos cães ou enterrando-as vivas, todas as crianças de todos os soldados do seu exército, de modo que as mulheres têm de ir ter os partos a ou 6 milhas (do Kilombo)”.


O missionário capuchinho Cavazzi, também, afirma "algumas mulheres já baptizadas cristãmente lhe confessaram ter tido na floresta vários filhos que haviam lançado aos cães (hienas) e que estes animais estavam especialmente atentos à sua caça, conhecendo já os gritos que as mães parturientes e os recém-nascidos soltavam, e saltando de imediato em torno deles para terem a sua parte.  A  Njinga, por sua vez, não tinha descanso enquanto tais sacrifícios se não verificassem, ficando então particularmente satisfeita quando o pai da criança, para lhe agradar, fosse ou não depois também sacrificado, assassinava ele próprio a parturiente que engravidara. Era o reconhecimento da lei Njinga, da sua intervenção no acto como chefe.

Os feiticeiros eram então os orientadores interessados de tais práticas, colhendo dessas cerimónias prebendas e benefícios de que o soba governante, respeitando inteiramente a tradição, não fosse avaro."

Na sua “Relação”, Cavazzi refere, particularmente, o contexto e a aplicação de catorze leis do “Código Jaga”, a cada uma das quais dá nome, e que, pela devotada aceitação e prática nos reinos vizinhos de Ngola e Matamba nos tempos da Njinga podem ser consideradas  também um “Código Jinga”.

 "DESCRIÇÃO HISTÓRICA DO CONGO, MATAMBA, E ANGOLA"
Do missionário capuchinho Giovanni Antonio Cavazzi de Montecúccolo:





JINGA MBANDI E OS RITUAIS DO KILOMBO: 

O kilombo da Njinga e do Jaga Cabucu e o kilombo do Jaga Casanji:
"seus gritos, reduzindo a carne, o sangue e os miolos a uma massa informe, juntou mais um nas raízes, uns pós e umas ervas, e pôs aquela mistura sobre o lume, até ferver e se reduzir à consistência desejada. Depois untou com esta massa todo o corpo e pôs o resto nalguns recipientes. Por essa horrível cerimónia pretendeu que todos a julgassem imortal, invencível e invulnerável" (Cavazzi de Montecúccolo, 1965, I, p. 178).

"deixam que todo o sangue caia sobre a mesma. Por fim, cortam todos os outros membros para que qualquer resto de sangue seja também derramado. Durante esta supersticiosa cerimónia porém, não cuidam da sede do falecido, mas também na sua própria, pois enchem de sangue algumas taças e bebem-no avidamente (Cavazzi de Montecúccolo, 1965, I, p. 187).
O missionário capuchinho António Cavazzi cita no seu livro “Relação” as catorze “leis” (Kijilas) que englobam ou descrevem costumes nos quais estão, de modo geral, patentes a crueldade, a selvajaria, o canibalismo que o clima exacerbava, e nos quais a Nzinga se destaca:  outro costume ligado aos ataques era a utilização do sangue dos prisioneiros como bebida ou como líquido de lavagem e mascaramento do rosto, isto quando pudesse ser-lhes retirado em tempo. Da mesma forma que sucedia com a carne, o sangue humano que sobrasse era armazenado em depósitos da intendência para depois ser utilizado noutras campanhas ou, como sucedia com os chefes Jagas, nas cerimónias da assinatura de tratados ou alianças. Nestas cerimónias brindava-se, gritando o “À KlWIA”, isto é, "à fé e à fidelidade juradas de fazer qualquer coisa", brinde deste tipo feito entre a líder tribal  N'zinga  com o Jaga Kassange Kalunga quando se aliaram para atacar os portugueses, cerca de 1631.

 No sexto mês de vida, os recém-nascidos gémeos, coxos, cegos, surdos ou com qualquer outra deficiência eram obrigatoriamente levados ao feiticeiro que, depois de os lavar os apresentava  à líder tribal, juntamente  com as mães, e com uma galinha para serem purificados. Njinga levantava-se armada de arco e flechas e outros apetrechos de guerra,  e  o feiticeiro agarrando a galinha pelas patas mergulhava-a em óleo obtido de gordura humana, untando depois partes do corpo da Njinga e da mãe da criança com esse óleo. O filho seria depois morto ou “triturado” para obter “óleo da veneração”, enquanto a mãe se, sobrevivesse, poderia ser considerada reconciliada e perdoada pelos deuses (leia-se demónios).

 Outra selvagem e sanguinária cerimónia inventada pela Njinga era reunir as raparigas que tivessem dado à luz filhos antes das festas das primeiras regras, período a que correspondiam grandes festas conforme as possibilidades das famílias das jovens, eram escolhidas, admite-se que por simpatia ou empenho dos membros do kilombo, as que mereciam viver, e as que deviam ser mortas e os seus filhos assassinados, enterrados vivos, ou lançados às feras. A  Jinga entregava-se com grande entusiasmo a tais rituais e aos sacrifícios de vida e canibalismo que comportavam. Distribuía também, então, o “óleo da veneração”. 

Em 1641 após pela violência e fogo posto ter submetidos as tribos Dembus, ela comandava cerca de 4.000 Jagas.
Em 1642 o sacerdote português António Coelho,  a propósito do canibalismo,  deu notícia de que, na euforia duma cerimónia em que a carne humana estava a ser consumida, vira a Njinga e alguns 'vassalos ornamentarem a cabeça e os ombros com alguns pedaços e que, a que restara, fora a seguir dependurada a secar numa árvore frondosa. No enterro dos mortos eram seguidos rituais, copiados dos Jagas que impunham o sacrifício simultâneo do marido e da mulher, conforme o falecido e, conjuntamente, de outros homens e mulheres. De início, essa prática abrangia apenas os familiares ou servidores próximos do morto ou morta, mas, depois, reconhecendo-se que a prática deste ritual podia conduzir à extinção de famílias inteiras, os sacrificados passaram a ser prisioneiros, eunucos, escravos e até animais, como cabras e galinhas, naturalmente em número tanto mais elevado quanto mais alta fosse a categoria social do falecido. Como sucedia com outros rituais, nos funerais, eram usados trajes espaventosos e servidas refeições e bebidas, conjuntamente com toques, danças de excessos corporais que levavam à nudez completa dos dançarinos.

Um norma, também, inventada pela sanguinária Njinga regulava a sua visita a casa dos seus vassalos, seleccionados por ela ou pelo feiticeiro. Quando ela chegava, o visitado para demonstrar fidelidade, era obrigado a sacrificar pela morte a mulher, os filhos e outros parentes, e servia-lhe: os miolos, o coração e o fígado dos sacrificados, bem como aos concubinos e outros acompanhantes. O não cumprimento desta norma poderia acarretar a morte do vassalo visitado e levar igualmente à morte alguns dos que ele devia, então, voluntariamente, ter sacrificado.




Os Jagas predominavam no território. Os portugueses que trabalhavam na costa sul do rio Cuanza encontraram bandos de Jagas Imbangalas que assolavam a região de Benguela. Esses Jagas Mbangalas estavam preparados para vender como escravos prisioneiros que tinham capturado durante as suas guerras, em troca de mercadorias europeias.
Os Jagas dividiram-se em grupos distintos: Os Jagas-Imbangalas ou Mbangalas do Kasanji (Cassange) sob o comando do Jaga  Kaza Cangola; Os Jagas da Matamba da  Nzinga Mbandi;  Os Jagas  do Dongo (Ndongo);  Estes  três  grupos de Jagas começaram a odiarem-se entre si, o que constituiu um sucesso das tropas portuguesas sob Comando do Governador D. Luís Mendes de Vasconcelos para sufocar a revolta em Matamba em 1618. E para a conquista do Dongo no ano 1620, e o primeiro passo para a desagregação do estado Jaga e, décadas mais tarde, o seu fim.


  Frei D. Luís Mendes de Vasconcelos, 
                                                                          Governador de Angola de 1617 a 1621.


O soba Ngola Mbandi, para demonstrar espírito de cooperação, envia uma embaixada ao Governador, D. Luís Mendes de Vasconcelos, para negociar a paz, pedindo ajuda militar e mostra-se disposto abraçar a Fé Cristã e ser Baptizado, o que deixou os portugueses perplexos e desconfiados da sua vontade religiosa, pelo qual seu pedido não foi satisfeito.
Ngola Mbandi incitou o soba Kaita Cala Balanga, a combater contra os portugueses, prestando-lhe auxílio de homens. Em 1618 D. Luís Mendes de Vasconcelos aliou-se aos Jagas, João Kasa Cangola, Donga e João Cassanje, e encetou uma expedição militar que destruiu as tribos de Gunga e Kabaça no Ndongo. O soba  Ngola Mbandi fugiu para a fronteira leste do Ndongo. 
O Governador nomeou, Samba a Ntumba (baptizado com o nome António Correia, passando a ser António Correia Samba a Ntumba), para soba de Ndongo. A população recusava obedecer-lhe, em virtude do Ngola Mbandi estar vivo. Entretanto, devido à fome causada por uma seca de quatro anos, os Jagas Donga e Kasa Cangola revoltaram-se contra os portugueses, na refrega que se seguiu, o Jaga Donga foi morto e o Jaga Kasa Kangola (Casa Cangola) foi expulso do Ndongo. 
O Jaga João Kassanji (João Cassange) manteve-se fiel aos portugueses por algum tempo mais, e com o consentimento dos portugueses, instalou-se com os seus Jagas numa parte do Dongo. Ngola Mbandi desencadeia uma guerra, sem êxito, contra João Kassanji.

 Por volta de 1620, O Governador D. Luís Mendes de Vasconcelos  empreende nova expedição contra Ngola Mbandi, tendo sido presas a mãe e as mulheres do soba Ngola Mbandi, este fugiu para as ilhas de Quindonga, no rio Cuanza. A expedição prosseguiu para Matamba, onde a tropa de Luís Mendes de Vasconcelos, fizeram grande número de prisioneiros. O Governador Luís Mendes de Vasconcelos termina o seu mandato, e regressa a Lisboa. No final do seu mandato (Outubro de 1621) havia no Dongo 190 sobas (chefes tribais). 
 Em 14 de Outubro de 1621, encetou funções o novo Governador, João Correia de Souza Capitão-General de Angola, Congo e Benguela. Denominado o “Átila do Kongo” pelo espírito devastador com que, se empenhou na resolução dos problemas surgidos no Kongo e em Dongo.
No rescaldo da guerra de 1620, Ngola Mbandi enviou a irmã Jinga Mbandi a Luanda para negociar um tratado de paz com o novo Governador: 

                                                                



"numa visita a Luanda para tratar de um acordo de paz, a Njinga foi recebida no salão nobre do palácio, tendo­-lhe sido indicado para se sentar num tamborete (assento de braços sem espaldar) colocado à frente do cadeirão do Governador, D. 
João Correia de Souza. Ela fez sinal à comitiva de concubinos que a acompanhava e tinha ficado ao fundo do salão, destacando-se de imediato uma das suas damas (homens) que prontamente acorreu a dobrar-se à sua frente de mãos no chão e tronco levantado. Ela sentou-se nas costas da dama (homem vestido de mulher) arranjou o manto e aguardou o início da entrevista.
Quando o governador lhe fez sinal de que o diálogo havia terminado, ela levantou-se, fez uma vénia e encaminhou-se para a porta. Alguém, no entanto, lhe fez sinal de que tinha deixado a dama à frente do governador na mesma posição. Ela, então, voltou-se e, exclamou em voz alta:
“– Deixa ficar! É para o governador!... eu nunca me sento duas vezes na mesma cadeira!...”, E juntou-se indiferente à comitiva, a caminho da saída". (Do missionário capuchinho António Cavazzi). 

                                                              


Os bandos mbangalas não tinham sido tão obedientes como os portugueses esperavam e estavam a devastar as terras no Dongo e aquelas controladas por Portugal. Nos termos do acordo negociado por Jinga, o Governador João Correia de Souza, concordou em retirar a tropa portuguesa de um Forte em Ambaca que D. Luís Mendes de Vasconcelos havia fundado como base para as suas operações contra o Dongo, devolver os prisioneiros ele havia capturado "para restringir os ataques dos Mbangalas em Dongo", e permitir que o soba Ngola Mbandi retornasse à sua capital tradicional.  No entanto, nenhuma dessas condições foi satisfeita.
Em 1622, o Governador João Correia de Souza, iniciou negociações de paz com o soba Ngola Mbandi, enviando às ilhas do Cuanza o Padre africano Dionísio de Faria Barreto, que falava bem Kimbundo e o militar Manuel Dias. Solicitava-se que o soba se convertesse à religião católica e voltasse para terra firme. Ngola Mbandi queria que os portugueses lhe dessem de volta os quisicos (servos) e sobas que Luis Mendes de Vasconcelos lhe tinha aprisionado, a mudança para longe do presídio de Ambaca e a expulsão do Dongo do Jaga Cassanje. “Parece que o soba Ngola Mbandi não gostou que lhe mandassem um padre preto para o catequizar".
Regressou Manuel Dias a Luanda com reféns e com as três irmãs “Jinga  que era a mais velha, Kambu e Kifunji, e ficou em Dongo o Padre Dionísio de Faria. Em Luanda foram bem recebidas, ficando alojadas na casa do  Capitão-Mor Payo de Araújo de Azevedo (Cavaleiro da Ordem de Cristo) e D. Ana da Silva". (Fernão de Sousa, "Memórias" FHA, I, 195).

No ano de 1622, na mesma altura em que a Congregação para a Evangelização dos Povos, tomava a seu cargo a nomeação e envio de missões de interesse para o padroado português, Jinga, então com quarenta anos, foi baptizada com o nome de Ana de Sousa. O Governador foi padrinho de Jinga; madrinha terá sido D. Ana da Silva, casada com o Capitão-Mor Payo de Araújo de AzevedoA Jinga passa a ter nome de "Ana de Sousa Njinga Mbandi", por este evento, em Luanda ocorriam eventos festivos, que durariam pouco, como pouco duraria a falsa fé da Jinga, em se converter ao Cristianismo.
Em Dezembro desse ano, o Governador João Correia de Souza, esperando repetir a guerra dos seus predecessores com a ajuda de Mbangalas, liderou uma invasão em larga escala em Mbamba, a sul do Kongo, após a morte do regulo Álvaro III, contra o soba Nambu a Ngongo, subordinado do Kongo e derrotou as forças locais na Batalha de Mbumbi . João Correia de Sousa afirmou que tinha o direito de escolher o régulo do Kongo.
 Com medo das consequências, o Padre Dionísio Faria fugiu das ilhas, com o pretexto de que se queria ir confessar a Ambaca. (Fernão de Sousa, "Memórias" FHA, I, 196).
O Governador João Correia de Souza também estava contrariado por os kongoleses escolheram  Pedro Nkanga, um Mvika de Mbamba, alegando que ele tinha o direito de escolher o soba ou mwenekongo. João Correia de Souza também argumentou que Pedro II tinha escravos fugidos que negociou com os holandeses durante o seu governo em  Mbamba. Os holandeses enviaram esses escravos para Pernambuco, Brasil, onde os holandeses haviam ocupado uma parte da área produtora de açúcar dos portugueses. 
18 de Dezembro de 1622, neste dia deu-se a batalha de Mbumbi entre as forças portuguesas e as forças do Kongo. 
O Governador ordenou aforças portuguesas, comandadas pelo Capitão-Major, Pedro de Sousa Coelho, obtiveram uma vitória contra as forças do Kongo comandadas pelo soba, Paulo Afonso, de Mbamba, e pelo soba, Cosme,  de Mpemba. 
O exército português tinha 20.000 arqueiros Mbundus e 10.000 soldados portugueses de infantaria e mercenários Mbangalas contra 2000-3000 arqueiros apoiados por 200 unidades de infantaria pesada.





De acordo com relatos dos jesuítas da batalha: o soba de Mbamba, Paulo Afonso, o soba Cosme, de Mpemba, 90 membros principais dos sobados e milhares de guerrilheiros comuns foram todos mortos.
No rescaldo desta guerra, muitos portugueses residentes em Luanda, que investiram dinheiro no Kongo, foram ameaçados de ruína e exigiram a saída do governador, desavindo com os Jesuítas e com boa parte da população, a Corte Portuguesa tendo um conjunto de actos do comportamento considerado prejudicial para a paz, obriga o Governador João Correia de Sousa a demitir-se do seu cargo, e mandado regressar a Lisboa.
As capitulações negociadas, porém, não tiveram efeito porque João Correia de Sousa tinha abandonado o governo. Durante um breve período (de 2 de Maio a 10 de Agosto de 1623), foi Governador interino o Capitão-Mor Pedro de Sousa Coelho. 
Foi então que o soba do Dongo enviou de novo Jinga a Luanda a pedir o cumprimento do negociado. Foi reunida uma Junta que confirmou os acordos e ordenou que partissem tropas para expulsar do Dongo o Jaga João Cassanje. Antes, porém, que as tropas partissem, chegou a Angola o Bispo Simão de Mascarenhas, que assumiu o Governo. O Capitão-Mor Pedro de Sousa Coelho não aceitou com agrado perder o cargo de Governador.
 Assim, quando o Bispo Simão de Mascarenhas,  confirmou o acordado com o soba do Ndongo e o nomeou Pedro de Sousa Coelho Capitão-mor do Ndongo, ordenando-lhe que fosse expulsar o Jaga, o Capitão Pedro de Sousa Coelho nada fez e deixou-se ficar com as tropas em Ambaca (veio a falecer logo a seguir em meados de Janeiro de 1624). 

No ano 1623, sendo Governador o Bispo D. Simão de Mascarenhas, o soba Ngola Mbandi envia a Luanda nova embaixada, agora com as irmãs Kambo e Kifunji para serem também baptizadas, retomando aparente "bom relacionamento" com os portugueses. Kambu e Kifunji receberam o nome Maria e Grácia. Mais tarde Maria Kambu, mudou o nome para Bárbara de Araújo da Silva, influenciada pelo nome da sogra de D. Ana da Silva, onde durante o tempo esteve alojada em sua casa.  O soba Ngola Mbandi, a dado momento, temendo ser eliminado do poder  pelo ambiente de ódio e tribalismo que criou e, que ele sabia existir. Em sequência, decidiu tomar duas medidas, qual das duas a mais cruel:
Por tradição, só os homens podiam aceder ao poder do sobado, assim, mandou matar o sobrinho, ainda criança, filho da meia-irmã a Jaga Imbangala, Jinga Mbandi, por ser o único elemento masculino que um dia poderia suceder-lhe. E, para que não houvessem mais filhos varões na família, mandou esterilizar as duas meias-irmãs, Kambo e Kifunji, pelo sistema de ferro em brasa.
A Jinga ao receber o corpo do seu filho jura morte-por-morte e inicia um processo de vingança, e passa a viver escondida num kilombo de onde  inicia uma luta sangrenta contra o meio- irmão Ngola Mbandi. Assalta a tribo de Ngola Mbandi, apoderando-se de gado, mulheres e homens, semeando terror e morte na região do Dongo.

Todavia, no último trimestre de 1623 ou no primeiro de 1624, Ngola Mbandi é destituído do poder do sobado por um movimento interno, como ele temia, e foi refugiar-se numa ilha do rio  Cuanza, e entrega o seu filho herdeiro, ainda  criança, ao Jaga João kasa Cangola, parecendo-lhe que com o Jaga Kasa estaria seguro, até que ele tivesse idade para assumir o sobado do Dongo.
Em 1624, a Coroa Portuguesa enviou como Governador de Angola, DFernão de Sousa, ele  tentou pôr alguma ordem ao sistema fiscal e aos conflitos criados pelo soba Ngola Mbandi e Jinga Mbandi. Mas insistiu em manter posições portuguesas em Ambaca e devolver o kijiko (servo) capturado no Dongo, e relutou em reconhecer Jinga como soba do Dongo. 
Como resultado das negociações do Governador João Correia de Souza,  Fernão de Sousa empreendeu uma série de guerras contra Jinga. Duas grandes guerras em 1626 e 1628 conduziram Jinga da Ilha Kindonga para Matamba, onde estabeleceu a sua base, junto ao rio Cuango. 
Na primavera de 1624 o soba Ngola Mbandi aparece morto (envenenado). A maioria dos relatos da época, inclusive, do missionário capuchinho Cavazzi, como de António de Oliveira Cadornega, dizem que foi a Jinga quem lhe ministrou o veneno, para se vingar da morte do filho.  
Com o assassinato do meio-irmão, Jinga proclama-se de imediato soba de Dongo, de forma totalitária e tirana. Em consequência o acordo de paz feito com o Ngola Mbandi firmado com os portugueses, foi rompido assim que Njinga tomou o lugar do irmão após o ter assassinado. 
Mas, como às mulheres era interdito ser soba, a sua auto-nominação em substituição do meio-irmão, foi prelúdio de uma sangrenta guerra civil, de 1624 a 1629, entre ela e um seu familiar, o soba Ari a Kiluanji da tribo de Mpungu, pequeno território junto do Rio Cuanza. A auto-proclamada chefe tribal, Jinga, é derrotada, mas consegue fugir com os Jagas, e estabelece um novo kilombo sob seu domínio numa das ilhas Kindonga (perto de Pungo-Andongo) e transformou o seu Kilombo em um Kilombo de guerra. Jinga e seus vassalos Jagas conheciam muito bem a geografia do local e usaram os braços do rio Cuanza para se protegerem, movimentando-se de uma ilha para outra. 

 Em 1625 o Governador D. Fernão de Sousa decidiu colocar Ari a Kiluanji como soba do Dongo para ilegitimar Jinga. O mesmo se seguiu em 1626 ao destinar Ngola Ari como soba de Pungo-a-Ndongo (Pungo-Andongo), região de Malange.
Jinga prosseguia a tentativa de diálogo (ou simulacro de diálogo) com os portugueses. Propondo a entrega dos seis portugueses prisioneiros em troca do soba Dungo a Moisa e o afastamento do soba Ari a Kiluanji. 
Jinga procurou ajuda e envia dois emissários ao Jaga, Caza Cangola, que se tinha instalado com o seu grupo Jaga na Baixa de Kasanji (Cassange), junto ao Cuango, Casa Cangola mata os dois emissários de Jinga, ela não desiste e  usa de persuasão para se aproximar do Casa Cangola, para ter acesso ao seu sobrinho herdeiro, ainda criança, do qual Casa Cangola era tutor, Jinga fingindo amor casou-se com o Jaga Casa Cangola segundo os ritos dos Jagas, ao ter acesso ao sobrinho herdeiro assassinou-o friamente, o Caza Cangola fugiu abandonando a Jinga no kilombo de Kasanji, e dirigiu-se com os seus Jagas para Ambolo Casaxe no outro lado do Cuanza, região de Tunda, próximo a Massangano.
‘‘a humilhante posição de mulher de Kasanji” e desta relação teria se tornado uma Mbangala engajada em seguir as leis deste bando" Heywood-Thorthon.
Em Junho de 1626 desencadeou-se um surto de varíola entre os portugueses e a "guerra preta" (nome dados aos indígenas integrados na tropa portuguesa) e seus aliados, ao mesmo tempo que faltavam os víveres. Houve cerca de 4000 mortos e algumas vítimas também entre os portugueses.

O Capitão-Mor António Brito e o Capitão-Mor Lopo Soares Laço tomaram a ilha Mapolo para construir um abrigo para os escravos fugidos. E alojam seu exército do outro lado do Cuanza, esperando invadir Kindonga, Jinga vendo que os portugueses que se aproximavam, ordenou aos seus vassalos que atravessassem os braços de rio em jangadas, e que entrassem de noite nos alojamentos portugueses, queimando tudo e desprendendo as jangadas que estavam armadas. Quando os portugueses finalmente entraram na ilha de Kindonga, aprisionaram muitos Jagas, a  Jinga tinha fugido pelas diversas ilhas do Cuanza. 
Em 12 de Julho, as tropas do Governador e Capitão-General de Angola, 
D. Fernão de Sousa, ocuparam a ilha de Kindonga onde estava a Jinga, sem encontrar resistência, ela fugiu, provavelmente para Tunda, na outra margem do Cuanza. E envia duas embaixadas a Luanda, perguntava quais as razões da guerra e reafirmava a sua lealdade. No entanto, não restituiu os seis portugueses prisioneiros no prazo de 24 horas que lhe foi dado. 
Em 23 de Julho de 1626, o prazo não é cumprido e Jinga foge. O Governador dá ordens para a perseguirem, prendê-la ou expulsá-la do Dongo. O Governador e Capitão-General D. Fernão de Sousa com 80 soldados persegue a líder dos Jagas. Tem informações sobre o caminho que ela seguiu na fuga: Ambolo Casaxe, Zungue a Moque, Lezungui ou Cambulo. A tropa sofre muitas mortes por varíola. Sabe-se então que Jinga se refugiou junto do Jaga Casa Cangola.
Em 12 de Outubro de 1626, o Governador D. Fernão de Sousa elege Ngola a Ari como soba do Dongo em substituição do seu meio irmão Ari a Kiluanji, que morrera de bexigas nas ilhas.  [Fernão de Sousa (MMA, VIII, 162)].  A escolha foi infeliz, Ngola a Ari era filho de uma escrava. Tal ascendência tirava-lhe  prestígio.  
Alguns meses depois, prossegue a campanha militar contra Njinga. Entretanto, o soba nomeado pelos portugueses estabeleceu o seu sobado em Pungo-Andongo, onde construiu uma igreja, conseguindo os Padres Francisco Pacónio e António Machado, e a 14 de Dezembro de 1626 foi celebrada a primeira Missa em Pungo-Andongo.
Em 21 de Março de 1627, Jinga envia embaixadores a Capacaça na Quissama, para fazerem passar para o seu lado os sobas da região. Por esta altura, o soba  do Kongo, Ambrósio (1616-1631), mandou a Jinga de presente uma cadeira e uma alcatifa (FHA, II,184).
Em 31 de Maio de 1627, um filho de Ngola a Ari é baptizado em Luanda, e por Baptismo passa a ter o nome de Francisco.
 Em 29 de Junho de 1627, Ngola a Ari é baptizado em Pungo Andongo, e por Baptismo passa a ter o nome de Filipe.
Em 13 de Novembro de 1627, Jinga envia o Jaga Mani-Lumbo, emissário do Kilombo, que se apresenta em Ambaca (Cuanza Norte), diz que Jinga quer ser vassala do Rei de Portugal.  
O Governador dá ordem para que o Mani-Lumbo seja preso por espião. E em Luanda convoca a Junta que decide uma nova expedição contra Jinga. O Jaga Mani-Lumbo é preso a 5 de Dezembro, junto com dois outros enviados Jagas por Jinga.

"O Governador, D. Fernão de Sousa, escreve: o Manilumbo trazia para ele 400 escravos e 150 vacas, que ele recusou e que aqueles que os traziam voltaram para trás quando souberam da prisão do Manilumbo.  Por usa vez, o Jaga Casa Cangola, abandonou então Jinga e foi para terra firme" (FHA, II, 198)
 "Em Luanda reúne-se uma Junta e decreta a execução pública do Jaga Mani-Lumbo. E, é oferecido um salvo conduto a Jinga, se ela quiser vir para Cambambe por Tunda para se entregar.
Em 15 de Dezembro, chegam a Ambaca mais dois enviados de Jinga que manifesta o desejo de se estabelecer nas ilhas do Cuanza, e vem para a ilha Cataxecacollo e depois para a ilha Zongo, com o Jaga Casa Cangola.
Em 24 de Dezembro de 1627, O Manilumbo é executado em Ambaca, na presença dos sobas.
Em 15 de Janeiro de 1628, o Governador D. Fernão de Sousa repete o pedido a Jinga para que se entregue dizendo que será bem tratada; se quiser, pode trazer o Jaga Casa Cangola consigo". (FHA, I, 301).

Nos primeiros meses de 1628, dominou as preocupações do Governador a ameaça de uma invasão dos holandeses. Porém, a 11 de Junho de 1628, o Capitão-Mor Bento Banha Cardoso deixa Luanda e avança de novo para Ambaca (Cuanza Norte).
Ngola a Ari queixou-se na altura ao Governador que não era respeitado pelos sobas, nem sequer pelos portugueses. O Governador deu então ordem para que todos os portugueses que ali se encontravam abandonarem o Dongo.
Em 3 de Agosto de 1628, o Governador D. Fernão de Sousa deixa Ambaca a caminho de Massangano, por se encontrar muito doente, veio a falecer em 8 de Agosto 1628, em Lembo, junto de Massangano.
Em 23 de Agosto, é nomeado Capitão-Mor, Payo de Araújo de Azevedo, parte de Luanda a 9 de Setembro, pelo Cuanza e Massangano, para Ango Amohongo, (Pungo Andongo) onde se encontram as tropas portuguesas. Com a finalidade de neutralizar a Jinga e o Jaga Casa Cangola e os (poucos) sobas que os apoiam. 
Em terras do soba Loache, oito sobas do Ndongo manifestaram a sua fidelidade a Portugal. 
A estação das chuvas dificultou a viagem, em Dongo o Capitão-Mor Payo de Araújo de Azevedo que levava 151 soldados regulares e a "guerra preta", antes de atacar Jinga, castigou os sobas inimigos dos portugueses do Dongo. Ele reconheceu que precisava colectar informações sobre o número de Jagas e os movimentos da Jinga. 
Os informadores do Governador Fernão de Sousa haviam sugerido que Jinga e o Jaga Casa Cangola estavam escondidos em Dongo, e que ela continuava atrair sobas que se recusavam a pagar tributo ao soba Ngola a Hari, e que devido às perdas anteriores, parte do povo da sua tribo fugiu. 
O Capitão-Mor Payo de Araújo de Azevedo partiu para a fronteira do território de Matamba (Malange), por fim com as suas tropas avançaram sobre as ilhas Kindonga, combateu o soba de Sonde e os seus aliados. Aprisionou os sobas de Sonde, Cassandre e Golagumba. Os Jagas dependentes de Kasanji, fugiram à frente dos portugueses para o Wandu (Uíge) voltando depois para trás, até à margem oriental do Cuango. Jinga tinha fugido. As tropas portuguesas recuaram para a região fronteiriça de Matamba para Quituchela. 

Até 23 de Fevereiro de 1629, Jinga deixa as ilhas do Cuanza e dirige-se para a região do Mbondo situada também no Cuanza Norte.
Em 2 de Maio de 1629, o Capitão-mor Payo de Araújo de Azevedo, parte de Quituchela com a sua tropa à procura de Jinga nos domínios do soba Cangala Cacacombo. Tem a informação que Jinga não está em Andala Quisua (Cuanza norte) mas que se encontra escondida na zona, não longe dali.
Em 12 de Maio de 1629, o Capitão Payo de Araújo de Azevedo parte com 100 atiradores, a cavalaria e a "guerra preta" na perseguição da Jinga, através de Malemba e de Gangola (Lunda sul e Uíge).
Em 25 de Maio de 1629, os portugueses avistam Jinga e o seu bando de Jagas na região da Quina Grande, montanhosa e com desfiladeiros escarpados. É perseguida por Diogo de Carvalho e a "guerra preta" comandada por António Dias Mosungo,um preto ao serviço de Portugal. São aprisionadas as duas meias-irmãs da Jinga, Kambu e Kifunji, assim como vários sobas e macotas (homens dos séquitos dos sobas), Jinga consegue fugir.
Em 26 de Maio de 1629, 60 soldados portugueses e a guerra preta perseguem Jinga, que tem 500 Jagas consigo, até à região de Ganguela (Cuando-Cubango). Jinga foge com 200 dos seus Jagas pelos desfiladeiros de Tala Mugongo
Em 29 de Maio de 1629, continua a perseguição a Jinga e de 100 Jagas seus, através dos desfiladeiros de Tala Mugongo (Malange), até à fronteira da região do Songo (Uíge). O exército português volta para trás.
Em 20 de Junho de 1629, as meias-irmãs da Jinga chegam a Luanda, e ficaram alojadas em casa de D. Ana da Silva, esposa do Capitão-mor Payo de Araújo de Azevedo.
Em Junho/Julho de 1629, o Capitão-mor Payo de Araújo de Azevedo descansa na região do soba Cangala Cacacombo.
Em 24 de Agosto de 1629, o Governador dá ordens para desfazer o exército e montar um campo na região fronteiriça de Matamba (Malange).
Em  14 de Setembro de 1629, o Governador Fernão de Sousa manda desfazer o exército em Ambaca e ordena o regresso dos residentes em Loanda pelo Cuanza.
Em 8 de Novembro de 1629, o Capitão-mor Payo de Araújo de Azevedo chega a Luanda.
A fuga de Jinga é descrita pelo Governador Fernão de Sousa: “Foi fugindo da nossa guerra até os bambes dos Songos que é a arraia, e vendo que a não seguiam, tornou logo a voltar, e por detrás das terras de Andala Quisua foi demandar o rio Cuango, e sabendo que o Jaga Cassanji que estava da outra banda do rio, mandou-lhe dizer que ia fugindo dos portugueses, que lhe pedia a recolhesse. Respondeu-lhe o Jaga que se ela havia de ir para ele, havia de ser sem lunga, que é a insígnia de guerra, e é um gongue grande, e que ele havia de governar, e não havia de haver dois senhores no seu quilombo, nem cuidasse que se havia de haver com ele como o fizera com o Jaga Kasa, e que havia de ficar sua mulher. E que ela aceitara a condição, e com ela passara o rio, e deixara a lunga nos matos, e que a gente, e a quicumba levara consigo, e que uma negra sua de Dongo não quisera passar com ela, e ficara desta outra banda do rio, e que os Ganguelas a tomaram e a venderam a primeira vez a temoa, que são enxadas, e a segunda a capados, e que o dito Alexandre e seus companheiros falaram com a própria negra, e que dela soubera o que fica dito.” (FHA, I, 345).
 "Logo a seguir o Jaga desmontou o kilombo e partiu som os seus homens na direcção de Ocanga. Jinga se junta ao Jaga Kasanji, um dos rituais mais impressionantes era esfregar o corpo com o produto de um recém-nascido triturado, chamado maji ma samba. Com uma parte dos guerrilheiros de Kasanji, Jinga voltou então para as ilhas do Cuanza" (MMA,VIII, 163).


Em 4 de Setembro de 1630, o novo Governador, Manuel Pereira Coutinho, com 40 soldados chega ao porto de Loanda, e toma posse do Governo.
Em 1631, Jinga com ajuda de seus Jagas e de outros cedidos pelo Jaga, Cassanji, decide ir fazer guerra em Matamba, onde o chefe tribal (soba) era uma mulher, Muhondo a Cambolo, que por morte do pai Matamba Cambolo, ficara na chefia do sobado. A soba Muhondo a Cambolo foi derrotada pelos Jagas e ficou subordinada e escrava de Jinga. Ainda durante o Governo de Manuel Pereira Coutinho, em 1632 ou 1633, Jinga conseguiu a libertação da sua meia-irmã Kambu, a outra meia-irmã Kifungi ficou em poder dos portugueses. "Ela actuava como espia a favor dos holandeses que já se encontravam em Angola". (Cardonega,I, 415).
Em 1635, foi enviado um novo Governador para Luanda, Francisco de Vasconcelos da Cunha. Jinga havia acabado a conquista de Matamba, e retomou os ataques às terras de Ngola a Ari e dos sobas fieis a Portugal. O Governador enviou então seu sobrinho Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha como Capitão-mor numa expedição ao Dongo; este conseguiu conter os ímpetos de Jinga.
 Por esta altura dá-se a separação de Jinga e do Jaga Kasanji; ela não precisava dele, uma vez que tinha o domínio de Matamba, e  o Jaga  Kasanji reivindicava para si o sobado de Matamba.

Em 1637, Jinga contactou os Jesuítas em Luanda, enviando-lhes um presente de marfim e escravos. Os presentes foram rejeitados pelos padres, que consideraram que ela tinha uma moral muito corrompida. (Synopsis Annalium, 1637, n.º 19, pag. 273).
Em 18 de Outubro de 1639, tomou posse como Governador, Pedro César de Menezes, que haveria de ficar ligado à ocupação holandesa de Angola; trazia consigo uma companhia de infantaria de 300 homens, entre os quais António de Oliveira de Cadornega, então, com apenas 15 anos de idade.
Jinga envia embaixadores portadores de escravos como presente, para o novo Governador, e outro para o Bispo e outro para o Ouvidor Geral; os embaixadores de Jinga entregaram “alguns escravos, mas tão velhos que já se não sabia quem tinham sido os seus donos”. O Governador recebeu os embaixadores com todo o aparato bélico, e rejeitaram os presentes de Jinga, bem como o Bispo e o Ouvidor Geral, ela também,  pedia ao Governador lhe mandasse um morador dos mais antigos com poderes para negociar". (Cadornega, I, 209). 
(Ouvidor Geral, à época, representava a autoridade máxima da Justiça em Luanda).
 Os portugueses enviaram então uma embaixada ao Jaga Kasanji e a Jinga, constituída pelo Padre Dionísio Coelho e por Gaspar Borges Madureira. A embaixada foi primeiro ao Jaga Cassanje, o qual disse que queria viver em paz. Os enviados foram depois ter com Jinga, sendo bem recebidos. Não vendo resultados, Gaspar Borges Madureira decidiu partir. O Padre Dionísio Coelho ficou seis meses, porque Jinga estava doente. Depois voltou a Luanda (1641).
O Capitão-mor Gaspar Borges Madureira regressou doente da Matamba dizendo que Njinga o tinha envenenado. Haviam-lhe valido, segundo disse, os fortes antídotos que lhe havia dado o soba Ngola a Ari.
Em 1639, o Governador teve notícia de alguma agitação por parte da Jinga e enviou o Capitão-mor Ruy Pegado com tropas e concluiu uma paz com Portugal. Ao mesmo tempo, Portugal estabeleceu relações diplomáticas em Kasanje, com o bando Mbangalas que ocupou o vale do rio Cuango, ao sul dos domínios da Jinga em Matamba.  

Em 1641, os holandeses atacam e desembarcaram em Luanda para o tráfico de escravos, a Jinga Mbandi não hesitou em se aliar a eles.
"Tendo notícia da chegada dos holandeses, a Jinga enviou logo uma embaixada a Luanda, “fazendo com eles confederação” (Cadornega, I, 293). 
Os portugueses tinham bloqueado o tráfico de escravos, os holandeses se queriam ter escravos para “exportar” para o Brasil, era-lhes complicado sem terem autorização  dos portugueses.
Com a chegada dos holandeses Jinga mudou o seu acampamento para os Dembos, e fez o seu kilombo nas Sengas de Cavanga,  era para ela um lugar mais seguro para o tráfico de escravos, fora do alcance das armas dos portugueses no Dongo, Matamba e Cuanza. O soba Quitexi Candambi,  não a aceitava. A Jinga solicitou ajuda aos holandeses que lhe mandaram 100 homens e sujeitou o soba Quitexi Candambi pela força das armas. 
Os holandeses Cornelis Hendrikszoon Ouman, e Adriaen  Lens, da W.I.C., West-Indische Compagnie (Companhia Holandesa das Índias Ocidentais), enviados para Angola como directores para Loango e para Luanda, fizeram uma aliança com a Nzinga Mbandi, como garantia do compromisso no fornecimento de escravos, apresentaram-lhe um documento da West-Indische Compagnie, para ela assinar. Njinga Mbandi era analfabeta, no lugar da assinatura colocou um selo no documento da West-Indische Compagnie (Companhia Holandesa das Índias Ocidentais), estava, assim, garantido o fornecimento de escravos.  
O acordo entre os holandeses e a líder dos Jagas, Jinga Mbandi, no comércio de escravos teve, então, o seu ponto mais alto, e a “Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC) atingiu o seu auge de enriquecimento com os escravos enviados para o Brasil holandês e para as ilhas sobre o seu domínio.
  Em 1646, as forças portuguesas fazem retaliação no território da onde Jinga se escondia, nas margens do Rio Dande,  a Jinga é derrotada, e foi uma das suas últimas guerras.
Em Janeiro de 1647, O Capitão-Mor Gaspar Borges de Madureira derrotou os Jagas de Jinga, e aprisionou a sua meia-irmã, Kambu.
Em 1648, no cerco à praça de Massangano, os vassalos njingas, coligados com cerca de 500 efectivos holandeses e milhares de Jagas, são desbaratados e vencidos pelo Governador e Capitão-General, Salvador Correia de Sá e Benevides, vindo do Brasil que, tendo já conquistado Luanda, acorreu em socorro da praça de Massangano. Onde estava cativa, Kifunji, a meia-irmã da Jinga, acusada de conivência com as tropas holandesas durante o cerco, foi atirada ao rio Cuanza. 

O horror da selvajaria praticada pela líder dos Jagas, Jinga Mbandi, era tal que, em 1648, os portugueses tentaram pôr fim, receosos de que as suas práticas sanguinárias pudessem afectar a moral e o espírito combativo dos soldados portugueses, caso fossem capturados vivos, o Governador Salvador Correia de Sá enviou­-lhe uma carta acompanhada de valiosos presentes a pedir que abandonasse tais práticas. Ela respondeu-lhe de imediato, mas pela negativa, e apenas sete anos depois, em 1655, cederia ao seu pedido quando decidiu enveredar pela paz com os governadores. 
A líder dos Jagas, Jinga Mbandi, já com setenta anos, e as epidemias que assolavam as tribos, como a peste e a fome, decide renunciar definitivamente à guerra com os portugueses e envereda pelo relacionamento diplomático que conduziria ao tratado de paz com o  Governador D. Luís Martins de Sousa Chichorro. Por volta de 1656, tem início o período da sua reconversão ao Cristianismo, a Igreja Católica consegue estabelecer ligação directa com Jinga, através do padre italiano Francisco Serafano de Cortona, embaixador pessoal do Papa Alexandre III, desde então, junto dela sucessivamente, os dois frades capuchinhos, António Cavazzi e António Gaeta tornam-se seus confessores e conselheiros, e outros frades e missionários que iniciam de imediato o Apostolado Cristão em Matamba. 

Execução por decapitação das vítimas dos Jagas e da  Njinga.
  O Jaga Kasanji com penas de ave no toucado, Njinga Mbandi  levando o sangue das suas vítimas para os seus macabros rituais.
 Gravura , de Gottlieb Tobias Wilhelm foi um clérigo da Baviera-(1758-1811), Augsburg, 1804.


Njinga e seus concubinos forjando os machados com que  executavam as suas vítimas.


Njinga com o escudo nas costas, com o Jaga Kasanji e seus Jagas.
               Gravura, de Gottlieb Tobias Wilhelm (1758-1811), Augsburg, 1804.                   
                                                                                          Kilombo.
Os Jagas de Njinga Mbandi refugiando-se numa das ilhas do rio Cuanza.
                                                             
                                    Pungo-Andongo um dos esconderijos preferidos da Jaga Njinga Mbandi.                
                                                                       A Cubata ou Palhoça da Njinga, na Matamba.
                                                                                
Para conseguir a confiança dos portugueses, Jinga (Njinga) solicita ser Baptizada, facto que ocorreu duas vezes, caso inusitado, mas não estranho, "não pode ser civilizado o que é incivilizável". 
A primeira medida tomada pelos missionários Serafim de Cortona e António Romano os freis capuchinhos que rebaptizaram a Njinga, foi proibir o "rito dos Jagas"que consistia em:
 (1) não criar filhos, mas expor os recém-nascidos às feras ou enterrarem-nos vivos;
 (2) adoptar como filhos os jovens aprisionados em guerra, "tirando-lhes dois dentes dianteiros"; 
(3) comer carne humana;
 (4) render sacrifícios humanos aos antepassados; 
(5) adorar ídolos (leia-se demónios) e outras superstições. (ANGUIANO, 1957, v. 2, p. 14; BRÁSIO, v. 12, p. 199).

AS QUATRO FASES DA LÍDER DOS JAGAS:
1º em 1622 converte-se ao Cristianismo e é Baptizada, torna-se, então, cristã convicta e absoluta, renegando os rituais Jagas;
2º de 1623 até 1653, renega o Cristianismo que havia jurado no ano anterior e volta ao culto dos ritos e práticas selvagens dos Jagas, que continuavam a ser praticadas por todos os seus vassalos.
3º de 1653 a 1656, com mais de setenta anos, recorre novamente à “Reconversão ao Cristianismo e à paz com os portugueses”.
4º de 1656 até à morte, oito anos depois, em 1663, em que regressará completamente, bem como alguns dos seus vassalos, ao catolicismo.
No último período da sua vida, tendo-se voltado ao Cristianismo, pese o seu macabro comportamento e crimes foi, no entanto, rodeada dos maiores cuidados.
Assim, quanto às suas relações pacíficas com o governo de Luanda, vai inicialmente procurar obter o consenso dos seus súbditos, cujas normas de procedimento continuavam a ser decalcadas das selváticas e sanguinárias normas Jagas. Reúne para isso, por 1655, a aprovação da conduta por ela proposta foi geral, nomeadamente quanto ao abandono das normas de vida Jagas, apenas manifestando algumas reticências o Jaga Ginga Mona.
Em meados de 1655, assina, o tratado de paz com os portugueses, nos termos do qual sua irmã será libertada e ela se propõe, conjuntamente com o seu povo, converter-se definitivamente à Igreja Católica, e aceitar sem objecções a presença de todos os frades e missionários que se quisessem destinar ao seu território. Envia um carta conciliatória, de 13 de Dezembro desse mesmo ano de 1655, para o Governador Luís Martins de Sousa Chichorro. A sua meia-irmã Kambu reuniu-se-lhe, no sobado, em 1656, depois de retida ainda por algum tempo em Ambaca (Vila Salazar), em 1658 e 1659. Então, com o apoio dos capuchinhos António Gaeta e António Cavazzi e outros religiosos em Matamba é erigida a primeira Igreja, "Igreja de Santa Maria".
A 17 de Dezembro de 1663, com 81 anos a Jinga Mbandi morre por doença, assistida pelo frade capuchinho Cavazzi e outros missionários presentes, tendo sido amortalhada em capa dos capuchinhos e enterrada segundo a Igreja Católica, em túmulo próprio. A sua irmã Kambo foi então proclamada soba, casa pela Igreja Católica com o Jaga dembu de nome Ginga Mona. Kambu, morre três anos depois, em 1666  o marido o dembu Ginga Mona tomou abusivamente o poder, em substituição da sua mulher, e proclama-se soba absoluto, afasta todos os que se lhe manifestam contrários e retoma todas as práticas dos Jagas. 
A acção do Jaga Ginga a Mona, foi ao ponto de ordenar a exumação do corpo da Jinga Mbandi, enterrada segundo os ditames e as normas da Igreja Católica, como ela própria ordenara em vida, e voltar a ser enterrada de acordo com os rituais bárbaros Jagas, mandou degolar cinco raparigas e enterrá-las junto a Jinga Mbandi, um elevado número de sacrifícios humanos de familiares próximos, vassalos, prisioneiros e escravos. Entre estas vítimas conta-se um intérprete preto chamado Calisto Zelotes que assistira em Luanda, ao baptizado das três irmãs, Jinga, Kambu e Kifunji e era, então, confessor de Kambu, meia-
irmã da Jinga.
o Jaga dembu, Ginga a Mona, auto-nomeado soba, pouco tempo sobreviveria à mulher, morreu três anos depois, em 1669, em luta tribal com o soba Francisco António Ngola-Canini, também seu familiar. Perdida a batalha, foi decapitado e atirado ao Rio Cuanza.