A BATALHA DO AMBUÍLA (1665)

Os indígenas utilizavam vários tipos de produtos como moeda de troca. Os sobas do Kongo usavam o libongo, uma espécie de pano feito de fibras extraídas do bordão das palmeiras,  o marfim, e o zimbo, como moeda de troca. O zimbo ou nzimbu em dialecto ki-mbundu ou ambundu, era uma pequena concha extraído das praias da Ilha de Loanda, e Benguela, a que os indígenas atribuíam  valor  contributivo, os de cor cinzenta eram considerados de maior valor. Ferdinand van Cappelle da W.I.C., Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, assistente de Pieter Segers oficial da W.I.C., que negociava os escravos com a Jinga (Njinga em dialecto ki-mbundo) no início da década de 1642, calculou o valor do zimbo: duas unidades de zimbos valiam 1.000 réis, no Kongo.
  outros como Jan Vansina afirmou um valor diferente: o valor do Zimbo desceu de 2.000 para 1.600 réis a cofo (unidade), cada escravo valia duas unidades de Zimbo, no Kongo". Jan Vansina refere-se ao Congo Belga onde ele viveu.  Por isso acreditamos nos valores descritos por Ferdinand van  Cappelle uma vez que ele esteve em Angola e negociava escravos com a Jinga e utilizava o zimbo para pagamento.
 A ilha de Luanda "produtora" do zimbo foi sempre objecto de conflitos entre o soba do Kongo e os chefes tribais do Dongo. O soba do Dongo,  ngola Mbandi, durante as suas guerras tribais para se apropriar das conchas, apoderou-se da Ilha e expulsou os portugueses aí já residentes antes da primeira chegada de Paulo Dias de Novaes, em 1560, 1.º Governador e Capitão-General de Angola.
                                                                                          Zimbo. 

No fim do século XVI e início do século XVII passaram ao marfim e ao sal das salinas de Benguela, principal fonte de receita do comércio com o exterior, ao qual se juntava o pano libongo como moeda, mas  não tendo qualquer valor monetário para os portugueses o pano foi muito desvalorizado, era necessário a moeda mercantil, que seria imprimida em cobre. 

O soba do Kongo, Álvaro Mvemba-a-Nkanga Ntinu, durante o seu governo (1638-1641), promete à Coroa de Portugal a cedência das minas de ouro e de cobre existentes, e devolver aos portugueses a Ilha de Luanda, expropriada  pelo soba do Ndongo, Ngola Mbandi (1617-1624).
Em 22 de Janeiro de 1641, o soba  Álvaro Mvemba-a-Nkanga Ntinu morreu em circunstâncias misteriosas, e sucede-lhe o irmão Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba, com o apelido Kipaku, que significava incerto ou não confiável que, assim que assume o poder do sobado do Kongo expulsa os portugueses e luso-angolanos do Kongo, e mal os holandeses põem os pés em Angola faz com eles uma aliança contra os portugueses.
As primeiras exigências de mudar o pano libongo como moeda de troca, por  uma moeda mercantil fez-se sentir em 1645, quando Francisco de Soutto Maiyor que exercia o cargo de Capitão-General na Companhia-Geral de Angola (1645 a 1646) se estabeleceu em Quicombo (Cuanza sul) na enseada do rio Longa, arredores de Massangano, para reforçar a resistência portuguesa contra os invasores holandeses que ocupavam Loanda, Massangano e Benguela. Francisco de Soutto Mayor informou que a região tinha muitas minas de cobre, necessário para cunhar a moeda.
No início de  1649 no Governo de Salvador Correia de Sá, houve uma acção em conjunto para acabar com o pano libongo, propondo que se criasse uma moeda para o sustento da Infantaria. No mesmo ano a Câmara de Loanda apresentou um requerimento  propondo que a nova moeda devia ser de cobre, com o peso de duas oitavas e dois terços, e com o valor de 25 réis, outra moeda se chamaria “libongo”com o peso de uma oitava e um terço, valendo 12 réis e meio. 

O auto exprimia a opinião da Câmara: oficiais de justiça, clero, militares e principais do povo, muitos desses representantes assinaram o documento, inclusive o Governador. De entre as várias questões referidas no Tratado estavam as seguintes obrigações do soba do Kongo dito Manikongo: "liberdade de trânsito para os comerciantes portugueses; não permitir navios holandeses no porto de Pinda; ceder a posse portuguesa da ilha  de Luanda; favorecer a suserania dos Dembos à Coroa Portuguesa; e ceder as minas de ouro e cobre para Portugal". 
Em Março de 1649 o Tratado foi enviado para para Lisboa para a aprovação do Rei D. João IV. Em Agosto de 1649, o Conselho Ultramarino, criado em 1642, expôs que a extinção dos panos como moeda de troca naquele momento poderia dificultar a reconciliação com o Kongo, onde utilizavam os panos como moeda, e deu parecer desfavorável ao auto, por conta que poderia prejudicar o comércio na região do Libolo, onde tinha alguns agentes comerciais portugueses tentando resgatar a influência mercantil de Portugal, ameaçada por outros reinos europeus.
O Rei D. João IV aconselhado pelo Conselho Ultramarino, ainda em Agosto vetou o auto que tinha sido enviado por Salvador Correia de Sá, considerando que tinham muito mais a ganhar concedendo uma paz tranquila, e a criação das moedas de cobre nesse momento enfraqueceria as relações, sobretudo comerciais, e seria uma ofensa a Garcia Kipaku que usava o libongo como moeda de troca. E fez questão de rectificar que o soba não era seu vassalo, mas sim um irmão de armas. Afirmando ainda, que era um momento delicado para a Coroa de Portugal, pelas acções contra a ocupação holandesa em Loanda.
No início do Governo, Salvador de Sá atacou alguns sobas aliados do Kongo na região do Dande, e ainda estava a organizar uma coluna punitiva ao Kongo.
(Seria no reinado de D. Manuel I (1828-1834), que em 1831 era introduzida em Angola uma unidade monetária cunhada em prata e cobre designada "Macuta" que circulou até 1928).




Em Setembro de 1651, Salvador Correia de Sá consegue um novo Tratado com o soba Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba, Kipaku, em que ele teria de se retirar de alguns territórios, que eram dos portugueses, antes da invasão e ocupação dos holandeses. A principal capitulação que foi eliminada pela Coroa de Portugal no novo tratado, foi a exigência de Salvador Correia de Sá estipular que toda mina de ouro, prata ou cobre potencialmente existentes deveriam pertencer à Coroa de Portugal. De entre os artigos retirados em 1651, o que mais foi reivindicado pelos angolanos foi a questão das minas. Apesar da guerra contra o Kongo ter tido um conjunto de factores, foi na questão das minas a maior motivação para o conflito.
Na prática tanto o Tratado de Paz de 1649, quanto o de 1651, não foram respeitados pelo soba Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba, o que trouxe vários problemas aos governadores que sucederam a Salvador Correia de Sá.

No início de 1661 o soba Garcia Nkanga a Lukeni (Kipaku), morre, sucedeu-lhe o filho António Nvita-a-Nkanga de carácter violento que, assim que assumiu o poder mandou matar o seu irmão Afonso que era o preferido pelos capuchinhos, e toma uma postura rígida e agressiva em relação a Portugal, e reforça a aliança com os holandeses, e acusa os capuchinhos de estarem a serviço de Castela, sendo ele que estava ao serviço de Castela fazendo uma aliança com os espanhóis, e solicitando ajuda espanhola contra os portugueses.
No mesmo ano 1661,  chega a Loanda o novo Governador de Angola, André Vidal de  Negreiros, militar e Governador de Pernambuco (Brasil), o heróico líder da Insurreição ocorrida em Pernambuco, da Guerra Luso-Holandesa, resultando na expulsão dos holandeses de Pernambuco, em 1654. 

 Para os Governadores e a Câmara de Loanda, o tratado que estava em vigor era o de 1649. Em Fevereiro de 1662, o Governador André Vidal de Negreiros, em carta enviada ao novo Rei de Portugal, D. Afonso VI (1656 -1683), expôs novamente os problemas relacionados aos panos libongos como moeda de troca na praça de Loanda, comprometendo não só o pagamento dos soldados, mas também as várias actividades económicas em Angola. O cobre, segundo André de Negreiros, havia muito desse minério na região, e era necessário para cunhagem de moedas, o que facilitaria o pagamento dos soldados (a estrutura militar portuguesa que se transferiu para grande parte dos territórios Ultramarinos, Brasil e Angola, dividia-se em três tipos específicos de força:  Os Corpos Regulares, as Milícias ou Corpo de Auxiliares e as Ordenanças ou Corpos Regulares, criados em 1640). 
 O Governador ainda relatou o interesse da Câmara e do povo de Loanda sobre esse assunto, e que os contratadores do pano libongo poderiam se adaptar ao novo valor da moeda. Desejando que o metal se tornasse uma referência nas transacções comerciais e pagamentos dos soldados, sem ocorrer desvalorização, uma vez que era corrente o seu uso para fabricação de utensílios de uso diário como manilhas, colares, copos, facas, enxadas, flechas e punhais.
A 22 de Dezembro de 1663, o Rei D. Afonso VI já tinha enviado uma carta ao Governador  André Vidal de Negreiros para que averiguasse a existência de minas de cobre, ordenando-lhe que tomasse posse das minas de ouro e de cobre que, pelo tratado de paz de 1649, o soba  do Kongo era obrigado a ceder a Portugal. À carta do Rei de Portugal, o soba António Nvita Nkanga  respondeu negando a existência das minas dizendo: “posto que as houvera, não as devo a nenhum” Desrespeitando o Tratado assinado em 1649 por Garcia Nkanga Lukeni "Kipaku" com o Governador Salvador Correia de Sá (mandato 1648-1652). Seguiram-se diligências de parte a parte com intervenção dos representantes do Cabido do Clero do Kongo. 
O soba António Nvita Nkanga influenciado pelos holandeses e espanhóis negociou com a Espanha para renovar uma aliança anti-portuguesa, e envia um grupo dos seus vassalos aos Dembos para persuadir os chefes tribais a aderirem ao Kongo contra os portugueses, prometendo-lhes auxílio espanholOs holandeses expulsos de Loanda, Massangano, e de Benguela, permaneceram no Kongo e Loango que passam a compartilhar com  ingleses, franceses e espanhóis, o  comércio dos escravos, do marfim, e do cobre -ainda que de má qualidade- e, principalmente o comércio e tráfico de escravos embarcados nos navios holandeses que continuavam aportar ao porto de Pinda, sob protecção do soba Garcia Nkanga Lukeni (Kipaku) e da jaga Nzinga Mbandi que, passaram a estar na mira de Salvador Correia de Sá após a retomada de Loanda. Com a pacificação temporária de Matamba (1657), o Kongo passa a ser o alvo principal. Contudo, mesmo depois do desmantelamento da coligação da Matamba que açulava os sobas das tribos vizinhas, particularmente no Libolo, região do antigo sobado do Ndongo situado a sul do Cuanza e vizinha das savanas da Quissama. 





Pela insistência dos portugueses na necessidade de uma moeda válida, quatorze anos depois do veto em cunhar moedas de cobre, o Conselho Ultramarino mudou a sua análise.  Em Setembro de 1663 o Conselho Ultramarino deu parecer positivo a André Vidal de Negreiros, e sugeriu ao Rei D. Afonso VI a aplicação da moeda de cobre, pois os panos libongos tinham caído muito de qualidade, perdendo cada vez mais o seu valor, e a Coroa perdia à volta de dez mil cruzados por ano com a desvalorização, portanto era de fundamental importância as moedas de cobre para a conservação da economia de Angola.  
Em Novembro de 1664, a Coroa Portuguesa pronunciou-se sobre o assunto, e concordou em substituir o libongo pelas moedas de cobre, e para tanto, exigiu informações mais detalhadas de como seria o processo, desde a sua fundição e os locais de extracção, e de como se faria tudo sem prejudicar a fazenda Real. O Rei mostrou preocupação também em como seria a composição dos contratadores, e sugeriu que a Câmara deveria ficar responsável por esse assunto. Houve realmente muito interesse por parte da Coroa Portuguesa em ampliar a extracção de cobre, principalmente, para organizar a questão monetária em Angola. O soba do Kongo, António Nvita Nkanga, informado da decisão do Rei D. Afonso VI e de André Vidal de Negreiros, sobre a prospecção das minas, a 13 de Julho de 1665 declara guerra contra Portugal.  Seis dias após da declaração do soba António Nvita Nkanga, o Cabido do Kongo (Clérigos do Kongo) escreve ao Governador André Vidal de Negreiros, onde ressaltaram que não existiam as minas de ouro, mas afirmaram que era verídico a existência das minas de cobre, mesmo que o soba Nvita Nkanga não admitiu que o tinha avisado a respeito. Os cónegos informaram também que na época do soba  Álvaro Mvemba-a-Nkanga Ntinu ele tinha transmitido essas minas para Portugal. A Coroa portuguesa enviou mineiros para averiguarem a existência de ouro, e que os mesmos não acharam nada que valesse a pena extrair, abandonando-as. Os cónegos também afirmaram que o soba do Kongo estava preparado para se defender de qualquer violência de André de Negreiros. 
A resposta de André Vidal de Negreiros foi rápida, 12 dias após a carta do Cabido do Congo, o Governador escreveu informando que estava surpreso das acusações e, que não pretendia fazer guerra ao soba  António Nvita Nkanga, informando conhecer a situação das minas no período filipino, e que foi o próprio Álvaro Mvemba-a-Nkanga Ntinu que expulsou os mineiros portugueses da região das minas no Embo.  
O Governador na carta, ainda informou que essa situação de conflito poderia ter sido evitada se António Nvita Nkanga tivesse permitido as prospecções nas minas, acrescentando que o próprio soba Nvita Nkanga o tinha informado que apesar de não ter minas de ouro em seu território, possuía algumas minas de cobre, sendo assim André Vidal expôs e insistiu que o tratado de 1649 foi amplo com relação às minas, que podiam ser de qualquer outro metal.
A falta de moeda levou a um défice comercial alto, empobrecendo os moradores de Loanda, deixando-os incapacitados de ajudar o Governador com a guerra do Kongo e o investimento nas minas. A pressão entre os moradores de Loanda aumentava com relação à cunhagem das moedas e a exploração das minas de cobre nas terras do Kongo. André Vidal percebeu que poderia começar a perder apoio na Câmara de Loanda e outros aliados que se estavam a sentir prejudicados financeiramente.  
Em carta da Câmara de Loanda ao Governador, os oficiais colocaram a responsabilidade da resolução do problema monetário para o Governador, exigiram que Vidal de Negreiros fizesse valer o tratado de 1649 com o Kongo. 
Nos primeiros meses de 1664, o soba do Oando, sobado situado a sul do rio Dande, e vassalo do soba do Kongo, António Nvita Nkanga, envia ao governador de Loanda um mensageiro dando notícias acerca de alegadas minas de ouro e de cobre localizadas no Outeiro do Embo, nos Dembos, que separava a Angola do Kongo. Entendendo que o soba do Kongo, ao ocultar a existência de tais jazidas, desrespeitava o tratado de paz assinado em 1649 pelo seu antecessor e pai do soba Garcia Nkanga Lukeni "Kipaku", com o então Governador Salvador Correia de Sá (mandato 1648-1652). Permanece misteriosa a razão pela qual o soba de Oando traiu o soba  António Nvita Nkanga, e se aliou com a sua tribo, aos portugueses. 

Em Julho de 1665, o Conselho Ultramarino recebeu um dossier, denunciando o Cabido do Kongo de paganismo, e de crime de Lesa Majestade, Divina e humana.
O autor do dossier foi o Deão e pregador do Bispado de Angola, Manoel Fernandes Curado, acusou principalmente os cónegos mestiços, Simão de Medeiros e Miguel de Castro, de praticarem feitiçaria e demais práticas pagãs, além de informar que os ditos cónegos tinham incentivado e parabenizado os que lutaram contra os portugueses durante a ocupação holandesa em Luanda, indo de encontro ao juramento com relação ao Padroado Régio. 
As denúncias detalhadas foram enviadas pelo Conselho Ultramarino ao Rei, D. Afonso VI de Portugal, eles ainda reforçaram que o clero no Kongo não tinha credibilidade, por se tratar de mestiços kongoleses agarrados às suas crenças pagãs locais, e que o assunto deveria ser enviado directamente para a Mesa de Consciência e Ordem, como também ao Tribunal do Santo Ofício. Os cónegos negros Miguel de Castro  e Simão de Medeiros, aparentados com o soba Garcia Nkanga Lukeni (Kipaku) haviam sido ordenados em 1637. Em boa parte eles eram os responsáveis pela situação, pelos abusos e desmandos correntes. Eram  membros do Cabido de São Salvador, exerciam funções de conselheiros influentes e eram os mais destacados colaboradores do soba do Kongo, desempenhando importante papel nas resoluções tomadas por este,  umas vezes mais próximo dos holandeses, outras dos espanhóis e outras dos portugueses, conforme lhes parecesse mais conveniente, conseguindo equilibrar-se sempre neste exercício acrobático. 
Os cónegos Miguel de Castro e Simão de Medeiros actuavam como verdadeiros senhores da cidade São Salvador, cometiam toda a espécie de devassidão, tanto sob o aspecto religioso como político e social. Viviam rodeados de luxo, enriquecendo à custa dos rendimentos obtidos a partir da posição social que ocupavam, e não era raro exercerem repressão sobre aqueles que lhes negavam proventos, como existiam indícios de que eles também se dedicarem ao tráfico esclavagista. 
Eram acusados de idólatras, misturavam os ritos gentílicos com os cristãos; apontados como cismáticos, apresentando os Mistérios Cristãos em desacordo com o Magistério da  Igreja; tidos na conta de feiticistas, aceitando os conceitos míticos tradicionais; acusados de simoníacos por se aproveitarem da sua condição de dignitários diocesanos. Opunham-se às determinações das autoridades; contrariavam o prelado menos informado e que não residia no Kongo; conquistavam com dádivas os colegas do sacerdócio para estarem do seu lado, utilizando de várias formas a sua influência. Simão de Medeiros chegou a usar a sua condição de sacerdote para forçar o rei de Espanha e ex-rei de Portugal,  Filipe IV  a  fazê-lo bispo; este pedido ocorreu no ano de 1664,  no final do  domínio filipino sobre o Reino de Portugal.
Em Setembro de 1665, o Conselho Ultramarino escreveu ao Rei D. Afonso VI  os detalhes sobre as hostilidades do soba do Kongo António Nvita Nkanga. O Conselho começou enfatizando que o soba do Kongo era um inimigo que deveria ser combatido, o soba António Nvita Nkanga também foi acusado de tentar uma aliança com a Espanha, onde propôs uma invasão castelhana pelo litoral de Angola, enquanto ele comandaria uma campanha no interior, com outros sobas seus aliados, de facto essas denúncias estavam relacionadas com a armada espanhola que ameaçou invadir Angola em Setembro de 1663, e com a desistência dos castelhanos em 1664, o governador André Vidal de Negreiros aproveitou o reforço militar angolano para as acções de 1665 contra o Kongo.  
O Conselho Ultramarino chegou a criar um carácter de Cruzada Cristã para o conflito, colocou a situação como uma "Guerra Divina de Libertação" contra o paganismo kongolês e suas continuas guerras tribais. Nessa mesma carta ainda se informou que dois sobados fieis à Coroa portuguesa precisavam de apoio. O primeiro era o soba de Oando, região que tentava escapar da suserania kongolesa desde 1663, onde a mando de António Nvita Nkanga o soba de Matamba invadiu a região de Oando, derrotando o soba e levando como prisioneiros parte dos membros principais do Oando que foram vendidos como escravos. 
Em 1665, com um novo soba, Oando levantou-se contra Matamba e o soba foi derrotado mais uma vez, fugindo para as terras de Ambuíla. O Segundo era o senhorio de Ambuíla governado por uma mulher, Isabel Afonso, fiel aos portugueses, que ao começar a sofrer ameaças do Kongo solicitou socorro ao  Governador de Angola, André Vidal de Negreiros, que como motivação para a ajuda portuguesa, teve em consideração a promessa do soba de Oando, que podia revelar onde ficavam as minas de ouro ou de cobre, caso o Governador enviasse o auxílio. 
Ambuíla era um sobado situado a sul do rio Dande e, tal como o sobado do Oando, ambos eram aliados dos portugueses.
O Governador André Vidal de Negreiros encarrega o já então Capitão-Mor Luiz Lopes de Sequeira para que fosse proteger a soba regente de Ambuíla, Isabel Afonso, e o soba de Oando, e de se deslocar ao Embo a fim de recolher amostras das ditas minas. Que, veio a acontecer, mas viram-se impedidos pelo soba do Kongo de efectuarem as pretendidas prospecções nas "supostas" minas de ouro e cobre e, consequentemente, foram impelidos a declarar-lhe guerra. (António de Oliveira de Cadornega). 
André Vidal de Negreiros prepara o seu exército para o combate. As tropas portuguesas tinham ordem para ir ocupar as minas situadas no Outeiro do Embo. Essa força era comandada pelo Capitão-Mor e Cabo de Guerra, Luiz Lopes de Sequeira. Chegara ao rio Zenza (Bengo) no Cuanza Norte, com uma força de 200 homens armados de arcabuzes, levando consigo duas peças de artilharia, onde se juntou a chamada “guerra preta” de 6 a 7 mil negros constituída por quilambas, mbangalas, sobas e suas tribos fiéis aos portugueses.

                               Loanda, Rua de Salvador Correia, desfile da  tropa indígena chamada "Guerra Preta".


 O Capitão-Mor Luiz Lopes de Sequeira receoso que as suas forças fossem insuficientes pede reforços a Loanda recebendo mais 100 homens bem armados e municiados mas “os mais deles reformados e soldados velhos”(António de Oliveira de Cadornega).
As tropas portuguesas seriam assim de 360 mosqueteiros portugueses e de 6 a 7 mil negros. Estes últimos tinham sido escolhidos entre gente com prática de combate e especial aptidão para a guerra, como os mbangalas. 
A tropa de Luiz Lopes de Sequeira, seguiria por Cazuangongo, (Pango Aluquém, nos Dembos) em direcção às terras do  Dembo (soba) Francisco Sebastião, e daí, atravessando o rio Dande caminharia entre os Dembos do soba Mutemo-a-Quinguengo, e  Ambuíla (Dembos-Uíge), para depois prosseguir entre Coxi e Amboela, onde Luiz de Sequeira se informaria sobre a situação do Outeiro (monte) do Embo.



Entretanto, do outeiro do Kongo partira o soba Antonio Nvita Nkanga com o grosso das suas forças, que iam aumentando à partida que se deslocavam. Ao seu lado encontravam-se o seu sobrinho da tribo de Bamba (nomeado capitão das forças kongolesas), incluía cerca de 15 000  arqueiros camponeses que usavam arco e flechas envenenadas, armas brancas para combate corpo a corpo, e cerca de 5.000 negros equipados com escudos e espadas; Os quatro sobas regentes de Bata, Súndi, Bumbi, e Pemba, que lideravam cada um de 4.000 a 5.000 "combatentes escravos".  O soba do Kongo, Antonio Nvita-a-Nkanga, contava ainda com um grupo de 380 homens armados com mosquetes, dos quais 29 eram mercenários europeus (holandeses e espanhóis) liderados pelo mestiço Pedro Dias de Cabral, um mercenário ao serviço dos holandeses.  Ao todo uns cem mil negros, grande parte deles adolescentes, conforme o cálculo dos cronistas da época como "História General das Guerras Angolanas" (António de Oliveira de Cadornega).                        
         



As forças do soba Antonio Nvita Nkanga partiram ao encontro das tropas portuguesas, quando a cerca de 80 léguas do seu sobado, teve conhecimento da proximidade das tropas portuguesas comandadas por Luis Lopes de Sequeira. A vanguarda do Kongo, constituída por cerca de vinte mil homens, directamente comandadas pelo sobrinho de Nvita Nkanga, remete-se ao ataque. Eram nove horas da manhã do dia 29 de Outubro de 1665.
O quadrado português, posiciona-se em fileiras dobradas, apoiando uma das linhas num bosque no vale do rio Ulanga (rio Luege) Dembos, a sul de Quitexe e Nambuangongo, zona de Jagas.
A batalha travou-se no vale do rio Ulanga (rio Luege).
Ao centro, o quadrado das tropas portuguesas, (de António de Oliveira de Cadornega).


À aproximação das massas inimigas, que precedida de densa poeirada que escurecia o horizonte, começou a manifestar-se na “guerra preta” portuguesa que constituía as tropas avançadas, alguma inquietação. Aos primeiros contactos cerca de 4000 negros da chamada "guerra preta" puseram-se em fuga. 
Quando a onda inimiga chegou ao alcance do fogo do quadrado das tropas portuguesas, este rompeu. Em face da segurança do tiro, a onda inimiga que avançava hesita, detêm-se e recua em confusa gritaria. A frente do quadrado das tropas portuguesas estava juncada de centenas de mortos e feridos.
O soba Antonio Nvita Nkanga ao saber da derrota investe com o grosso dos seus homens. Os portugueses, na folga que se sucede à luta, restabelecem as suas fileiras e reabastecem-se de munições. Agora a nova onda inimiga que avançava envolta em nuvens de poeira, desenhava já de longe um movimento envolvente das tropas portuguesas, de larga envergadura. Guiando e impulsionando essa imensa massa de negros, vinha o próprio soba do Kongo, embraçando uma adraga e armado de espada cortadeira, que cercado de vassalos atira-se à luta. Os kongoleses  não conseguiram quebrar a formação portuguesa. O quadrado português consegue manter-se organizado e vai resistindo às sucessivas vagas “granizando balas e centilhando fogo”. (António Oliveira de Cadornega).

Na investida final, na confusão da refrega, desenha-se um agitado remoinho de corpos em luta, o soba do Kongo, António Nvita Nkanga, tombara por terra ferido por uma bala perdida e tentava erguer-se, os seus vassalos vão em sua ajuda. E de repente, um quilamba da "guerra preta" que conseguira aproximar-se do soba ensanguentado, vibra–lhe um golpe, degolando-o, e espeta a cabeça numa lança longa levantando-a ao alto para ser vista pelos vassalos do soba do Kongo. O desânimo e o pânico gerado arrasta na fuga os kongoleses.  Os negros fiéis aos portugueses e a "guerra preta" lançam-se em sua perseguição pela noite fora-a batalha durara 6 horas-. 
Tinham tombado no campo da batalha e depois na perseguição para cima de cinco mil negros kongoleses, dos quais 98 exerciam funções no sobado do Kongo e mais 400  que estavam ao serviço do soba Antonio Nvita Nkanga; tinham caído nas mãos dos portugueses, um filho bastardo do soba do Kongo e mais dois do seu irmão Afonso, o seu camareiro, o seu confessor Padre Manuel Rodrigues, e o seu capelão capuchinho Padre Manuel Reboredo que ficara morto no campo. 
Foi efectuada a apreensão do espólio do soba Antonio Nvita Nkanga, entre os despojos, a maioria ofertas dos Reis de Portugal, figurava uma grande carruagem com malas cheias de panos valiosos de Portugal e dois contadores com jóias e outras peças em ouro fabricados em Portugal. E a coroa em latão, oferecida ao soba Garcia Nkanga Ntumba, Kipaku) pelo Papa Inocêncio em 1648.  
Todos estes despojos foram levados para Luanda, onde chegaram a 5 de Dezembro, incluindo a cabeça do soba Antonio Nvita Nkanga, e a coroa

 No dia seguinte realizou-se um solene funeral com “um honrado e ostentoso acompanhamento, com a irmandade da Santa Misericórdia na cidade de São Salvador, da qual era "irmão" Antonio Nvita Nkanga, com a clerezia e religiões, indo no acompanhamento o Governador, o Senado da Câmara, cidadãos e moradores, com todos os capitães e militares, caminhavam por terra até à Ermida de Nossa Senhora da Nazareth. Dobravam funebremente os sinos da cidade.(António de Oliveira de Cadornega). 
André Vidal de Negreiros  colocou a coroa do soba aos pés de Nossa Senhora de Nazaré, para cumprir promessa pela vitória. Negreiros prometeu levá-la de presente para o Rei de Portugal, e para isso pediu ao seu sobrinho António Curado Vidal, que estava indo para o Recife, para cumprir a promessa. Chegando ao Recife, a coroa desapareceu, foi surripiada. Apesar de a coroa ter sido feita em latão, tinha um valor simbólico,  representava esse momento de vitória sobre o Gentio.
A cabeça do soba do Kongo, Antonio Nvita Nkanga, foi sepultada nermida de Nossa Senhora da Nazareth, que para o efeito foi mumificada e encerrada num cofre de veludo preto. 

O principal documento iconográfico da Batalha de Ambuíla consiste num  painel de azulejos existente na capela-mor da Ermida da Nossa Senhora da Nazareth em Loanda, mandada construir pelo Governador André Vidal de Negreiros em 1664, em cumprimento de um voto à Virgem, de quem era fervoroso devoto. André Vidal de Negreiros antes de mandar as tropas para a batalha em Ambuíla, pediu a Nossa Senhora da Nazareth a sua protecção Divina.  

André Vidal de Negreiros.


29 de Outubro de 1665,  André Vidal de Negreiros, militar, Capitão-General e Governador de Angola (1661-1666). 
Era filho de Francisco Vidal, natural de Lisboa, e de sua mulher Catarina Ferreira, nascida em Porto Santo, Madeira. André Vidal de Negreiros nasceu no Brasil Português, na Capitania da Paraíba, 1606 – Vidal de Negreiros faleceu aos 74 anos, a 3 de Fevereiro de 1680 em Goiana, Pernambuco.
Conhecido por ser um dos líderes da Insurreição Pernambucana, contra a invasão e colonização holandesa no Brasil (1624-1654), lutou contra os holandeses em Salvador da Bahia (1624). Após oito anos em Portugal e Espanha, voltou ao Brasil para lutar contra o governo do príncipe holandês Maurício de Nassau, instalado em Pernambuco e capitanias vizinhas. Vidal de Negreiros participou de todas as fases da Insurreição Pernambucana (1645-1654). Foi nomeado Mestre-de-Campo, notabilizando-se no comando de um dos Terços do Exército Patriota, nas duas batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649, juntamente com João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Filipe Camarão. Comandou o sítio do Recife que resultou na capitulação holandesa no ano de 1654. Pela graça do Rei, Vidal de Negreiros tornou-se nobre.

Durante a viagem para Angola, André Vidal de Negreiros foi apanhado no meio de uma grande tempestade no Atlântico, onde quase morreu afogado, implorou a Nossa Senhora prometendo que a primeira coisa que fazia era construir uma Igreja em seu louvor, ao desembarcar no porto de Loanda o novo Governador de Angola quis agradecer de forma especial o que considerou um verdadeiro milagre. A imagem escolhida para veneração com honras de Estado foi a Nossa Senhora da Nazaré.  A ordem imediata foi construir uma igreja em honra da Virgem. Os trabalhos na construção da Ermida terminaram em 1664, e constituíram (mais uma) verdadeira luta contra o mar, que na altura era uma baía livre, sem marginais ou barreiras a  impedir que o mar invadisse a terra, muitas vezes de forma violenta. A Ermida simples com linhas rectas, geométricas. Uma pequena torre sineira, com varandas e alpendres laterais a dar-lhe mais graça. Este Templo foi projectado para ser maior e com duas torres laterais, mas não chegaram a ser construídas e a arquitectura manteve assim, austera, robusta e simples. O seu interior é decorado com azulejos que contam feitos históricos e milagres.   
                                                                                            


                                                A Ermida da Nossa Senhora da Nazareth, ano 1882.
             O Brasão de Armas de André Vidal de Negreiro,
e  inscrição da Fundação da Ermida da Nossa Senhora da Nazareth:
"Sendo governador deste reino, André Vidal de Negreiro edificou esta igreja à Nossa Senhora de Nazareth
 e nela ficou V per juis perteto - anno 1664".  

    
A tempestade ocorrida durante a viagem de André Vidal de Negreiros,
    representada num painel de azulejos na Ermida da Nossa Senhora da Nazareth.    
            A Ermida da Nossa Senhora da Nazareth, 
                             foi o primeiro edifício a ser classificado como Monumento Nacional em 1923.                          

LUIZ LOPES DE SEQUEIRA, O HERÓI DA BATALHA DO AMBUÍLA, 
BRILHANTE VITÓRIA DAS ARMAS PORTUGUESAS  CONTRA O GENTIO DO KONGO.

Luiz Lopes de Sequeira, um Herói na história de Angola,  "Ilustre cabo de guerra", mestiço, natural de Luanda (c.1634 – 4 Setembro de 1681). Filho do Sargento-Mor Domingos Lopes de Sequeira. Conhecido como "Atlante das Conquistas" e “Mulato dos Prodígios" consegue concluir a obra iniciada por Paulo Dias de Novais que é, e será sempre a nossa primeira figura militar. E a afirmar a Restauração de Angola por Salvador Correia de Sá.
Luiz Lopes Sequeira depois de vencer o soba do Kongo e as suas forças na batalha do Ambuíla (29/10/1665); dominou o soba de Dongo, João Ngola Hari, nas Pedras de Pungo-Andongo (29/11/1671); e, ainda o soba Francisco Ngola Kannini na batalha de Katole-Matamba. Onde foi morto nesta última acção (4/09/1681).
Em 1641, aquando da ocupação da cidade de S. Paulo de Luanda pelos holandeses, Luís Lopes de Sequeira, ainda criança, estava internado no Colégio dos Jesuítas, seguiu para Massangano, para a Fortaleza da Vila da Vitória, da qual era guardião seu pai o Sargento-Mor Domingos Lopes de Sequeira, acompanhando o Governador e Capitão de Angola Pedro César de Meneses, os moradores, missionários, soldados, e sobas fieis aos portugueses e seus vassalos no êxodo da população de Luanda.
Apenas seis meses passados da expulsão dos holandeses por Salvador Correia de Sá e a “Restauração de Angola” Luiz Lopes de Sequeira teria 15 ou 16 anos, idade com que assentavam praça os mancebos, alistou como alferes no exército português.
"O jovem angolano alistou-se como alferes na companhia de Jorge da Silva a 12 de Fevereiro de 1649" (Arquivos de Angola, vol. IV, p.3, apud Carlos Dias, 1948, p. 149).
Em Novembro de 1643, durante uma trégua entre os holandeses de Loanda e os portugueses de Massangano, o Governador interino António Abreu de Miranda, envia a Lisboa o Sargento-Mor português de infantaria Domingos Lopes de Sequeira (pai de Luiz Lopes de Sequeira), a pedir reforços ao Rei de Portugal para os defensores de Massangano, contra os holandeses da W.I.C. Companhia Holandesa das Índias Orientais.
Domingos Lopes de Sequeira parte de Lisboa para o Brasil onde, em São Salvador da Bahia, consegue obter um exército de duas centenas de homens, e a 8 de Fevereiro de 1645 parte da costa brasileira rumo a Angola. Esta expedição teve um destino trágico.  
Domingos Lopes de Sequeira quando à frente da guarda avançada, quando se dirigia para Massangano para levar socorro, entre o rio Cuvo e o rio Longaa 19 de Junho de 1645 ao chegar ao sobado do Jaga Indecuta, a expedição  viria a ser totalmente massacrada e devorada pelos Jagas do soba Ngunza Kissama vassalos da Jaga-imbangala Jinga Mbandi ou Ginga Mbandi que, havia mais de dez anos que era confederada quer com os sobas da Matamba quer com os sobas do Kongo, como com os holandeses com quem comercializava escravos. 
Ao massacre sobreviveram apenas, para dar testemunho da tragédia, o soldado António de Benguela, o Capitão Paulo Pereira, os soldados  André Soares e Toar, este último um mercenário índio tupi-guarani, os três últimos do Terço de Henrique Dias, da Bahia. Conseguiram escapar da chacina por se terem escondido entre matas, vegetação selvagem. No local da chacina restou os ossos do Sargento-Mor Domingos Lopes de Sequeira, e a sua carteira.
Entre os haveres encontrados, foram encontrados dois documentos lavrados pelo Rei de Portugal, D. João IV, mencionando duas filhas do desventurado Capitão: “ […] e muitos que pereceram naquele desbarato, traziam outros despachos de sua Liberal e grandiosa mão […] Domingos Lopes de Sequeira com o posto de Sargento-Mor à Fortaleza de Massangano por seis anos para quem casasse com sua filha, e a Provedoria dos defuntos e ausentes para outra filha, que ambas gozarão estas mercês com os maridos com quem casarão” (Cadornega, Vol. I, p. 322-324). 

Luiz Lopes de Sequeira o “Mulato dos Prodígios” tinha, pelo menos, duas irmãs. Que, permanecem misteriosas, tal como no que diz respeito à identidade da sua mãe. Tratava-se de uma mulher negra,  uma parente de um chefe político com o qual seu pai Domingos Lopes de Sequeira, como aliás era frequente entre os oficiais portugueses, houvesse celebrado pela via matrimonial uma aliança, com vista à salvaguarda de interesses políticos, económicos e militares.  
Em Dezembro de 1671, os portugueses ao avançar para o interior do centro angolano, nas rotas comerciais que levavam ao rio Cuango viam-se enfrentados, mais uma vez, com o soba João Hari chefe dos Jagas (canibais) de Kasanje. O soba João Ngola Hari havia atacado algumas caravanas de portugueses e escondeu-se na região de Pungu-a-Dongo ( Pungo Andongo).
Luiz Lopes de Sequeira desempenhava, à época, as funções de Capitão-Mor no Forte de Ambaca o mais próximo de Mpungu-a-Andongo e o mais cobiçado pelos três sobados da região: Dongo, Matamba e Kongo. Foi, por isso, destacado para dirigir um cerco às Pedras de Pungu-a-Ndongo. 
Em Agosto sob o comando de Luiz Lopes de Sequeira, formou-se um grande exército, que incluía soldados brancos e negros de Muxima-Quissama, Massangano e Cambambe, da Ilamba e do Lumbo, e reforços enviados do Brasil. 
O cerco às Pedras de Pungu-a-Ndongo prolongou-se entre os meses de Agosto e Novembro do mesmo ano (1671). 
Durante este período o soba João Ngola Hari, não havendo manifestado o menor desejo de paz, a 29 de Novembro Luiz Lopes de Sequeira decidiu atacar a região onde se escondia Ngola Hari, durante a noite, escalando com os seus homens as estranhas formações rochosas. 
Tornando-se célebre a sua frase: "Entra lá o Sol? Pois eu também lá hei-de entrar...",  assim como os apodos: "terror gentio" , "Atlante das Conquistas" e "Mulato dos Prodígios".
29 de Novembro, pondo em fuga o inimigo em direcção ao Cuanza. Perseguiu o soba João Ngola Hari até às margens do Cuanza, houve muitos prisioneiros, entre eles o soba João Ngola Hari,  que mandou decapitar no próprio local" (Cadornega, II, p. 298-301).
Vitoriosos, estabeleceram um forte no local, ao mesmo tempo, marcava o fim do sobado do Dongo. 


 O quilamba com a cabeça do soba João Ngola Hari.


Na época, apesar de disporem de tropas cuja preparação era escassa ou nula, os portugueses realizaram feitos militares de grande envergadura. A lista seria interminável, entre tantos Valorosos Portugueses e Gloriosos feitos: Lembramos o Capitão General e Primeiro Governador de Angola, Paulo Dias de Novais (1575-1589); A Resistência Gloriosa de Massangano contra a invasão holandesa (1641-1648), a expulsão dos holandeses e "Restauração de Angola" por Salvador Correia de Sá (15-08-1648); A Derrota do soba do Kongo e seu grande exército em Ambuíla (1665) bem como a tomada das Pedras de Pungo Andongo, (1671), ambas estas últimas batalhas ganhas pelo valoroso militar Luso-angolano, Luiz Lopes de Sequeira.
"A par de outros comandantes militares que combatiam do lado dos portugueses, Luiz Lopes de Sequeira veio igualmente a distinguir-se na campanha do Libolo, a qual, por iniciativa do Governador Aires Saldanha de Menezes (mandato 1676-1680), prosseguiu ao longo de todo o ano de 1679 e submeteu ao domínio de Loanda a maioria dos sobas desta região" (Cadornega, Vol. II, p. 384-435). 

"Em 4 de Setembro de 1681 Luiz Lopes de Sequeira derrota, também, o soba de Matamba, Ngola Ginga Kanini. O exército compreendia seiscentos portugueses e dez mil homens da guerra preta, o nosso Herói Sequeira foi atingido à traição pelas costas por uma seta que trespassou o coração. O dito soba Ngola Ginga Kanini ferido, foi degolado por um quilamba da guerra preta".



Com este feito, nas pedras de Pungu-a-Ndongo(Pungo Andongo)
Luiz Lopes de Sequeira inaugurava a oitava Fortaleza portuguesa, o Forte de Pungo Andongo.
Pedras de Pungo-Andongo.

Luanda, Largo Luiz Lopes de Sequeira, o Herói da Batalha do Ambuíla.

Anterior Largo da Igreja do Corpo Santo, com longa história, aberta ao público ainda em 1895 apesar do seu mau estado de conservação, desmoronou-se com o desaparecimento da irmandade; encontrava-se muito arruinada e profanada (durante a ocupação holandesa as Igrejas da cidade e arredores foram saqueadas e profanadas, servindo de latrinas aos negros) o que levou a Câmara, em 1906, a pedir autorização ao bispado para a sua demolição, concluída em 1908 e, no seu lugar, a Câmara construiu o Largo Luís Lopes de Sequeira.



"Largo Luiz Lopes de Sequeira" 
No Largo Luiz Lopes de Sequeira, em simbologia a dois Grandes Portugueses, foi colocado o Monumento dedicado a Paulo Dias de Novais. 
No topo do monumento figurava um dos canhões usados pelo Governador General de Angola, Paulo Dias de Novais.



A batalha do Ambuíla representada no painel de azulejos na capela-mor da Ermida da Nossa Senhora da Nazareth. Ao centro o quadrado das forças portuguesas resistindo ao envolvimento dos  kongoleses. Acima lado direito a Nossa Senhora da Nazareth. Entre o exército e os kongoloses um sacerdorte tentando amigar  ambas as partes.  Luiz Lopes de Sequeira, na diagonal  lado direito, acima do fogo do canhão.

Um sacerdote tentando amigar ambas as partes, ao mesmo tempo que as forças portuguesas dizimam os bakongos.  
 Disposição do exército comandado pelo Capitão-Mor Luiz Lopes de Sequeira indicado a vermelho ao cimo. Abaixo na frente dos bakongos o soba do Kongo, Antonio Nvita Nkanga.


A cabeça do soba Antonio Nvita Nkanga, decepada  por um quilamba da guerra preta,
         representada num painel de azulejos na capela-mor da Ermida da Nossa Senhora  da Nazareth.

                           
 "História General das Guerras Angolanas" de António de Oliveira de Cadornega 

António de Oliveira de Cadornega, militar e historiador português, radicado em Angola, era mais velho do que Luiz Lopes de Sequeira, apenas cerca de dez anos. Com apenas 16 anos, Cadornega ofereceu-se como voluntário para a vida militar, embarcando para Angola no mesmo navio que transportava o recém-nomeado Governador de Angola, Pedro César de Meneses, capitão-general, político e militar português, chegados a Loanda a 18 de Outubro de 1639.
Aquando da invasão dos holandeses em 1641 - António de Oliveira de Cadornega, refugia-se em Massangano.
Cadornega foi o único cronista de Angola contemporâneo de Luís Lopes de Sequeira, a conhecê-lo pessoalmente. Por este motivo, a obra de Cadornega é inegavelmente a principal fonte narrativa de três das quatro campanhas militares em que Luiz Lopes de Sequeira se distinguiu: A batalha de Ambuíla (1665); a batalha de Mpungu-a-Ndongo -Pungo-Andongo (1671), e a campanha do Libolo (1679). 
Contudo, Cadornega já não relata a campanha da Matamba, realizada ao longo de 1681, uma vez que foi nesse mesmo ano que deu por concluídos os três volumes da sua obra. Por essa época ainda reside em Massangano, onde exerce as funções de juiz ordinário, só se instalando definitivamente em Loanda cinco anos depois. 

Quanto às minas, depois de ocupadas, veio a confirmar-se que o minério era “verde, de cor do verdete e não mostrava em si coisa que luzisse”. Os antigos tinham razão quando negavam a existência de ouro no Kongo e afirmavam apenas existir cobre e má qualidade"(António de Oliveira de Cadornega).

As minas mais conhecidas eram as de Bembe. E só, em 1856, é que estas minas começaram a ser exploradas, mas sem grande êxito.
Depois da batalha de Ambuíla, em São Salvador do Kongo, instalou-se uma verdadeira anarquia. As rivalidades entre as tribos provocaram guerras sucessórias permanentes que levaram a uma  guerra civil por quase 55 anos, a cidade foi destruída e a destruição de plantações empobreceram a população, os sobas fugiram das guerras tribais para outras zonas, e os derrotados eram vendidos pelos chefes tribais como escravos para os comerciantes holandeses no Kongo e em Loango. 
Entre 1665 e 1694, houve nada menos do que 14 pretendentes a soba do Kongo, alguns com sucesso, outros nem tanto, e muitos deles duravam alguns meses como sobas Manikongos, foram assassinados pelas tribos rivais.


Ermida da Nossa Senhora da Nazareth, ano 1967.
Nesta Ermida comemorava-se a batalha de Ambuíla,
 brilhante Vitória das armas portuguesas contra o gentio do Congo.  


  O Brasão de Armas de André Vidal de Negreiro, e  inscrição da Fundação da Ermida da Nossa Senhora da Nazareth:
"Sendo governador deste reino, André Vidal de Negreiro edificou esta igreja à Nossa Senhora de Nazareth e nela ficou V per juis perteto - anno 1664".