ESCRAVATURA E COMÉRCIO DE ESCRAVOS:

Nos tempos actuais temos assistido a uma história mal contada sobre a escravatura e comércio de escravos. Para se falar de escravatura a história deve de ser contada com a verdade dos acontecimentos. Desde os primórdios dos tempos a escravatura e a venda de escravos fazia parte activa da vida dos negros, para quem o valor da vida humana não tinha qualquer significado. 
No que refere Angola não havia chefe tribal grande ou pequeno (vulgo, Soba ou Soba Manikongo) que não comercializa-se escravos. Os Imbangalas ou Mbangalas e os Mdundus eram e foram activos comerciantes de escravos durante séculos.  Ocultar ou deturpar esta realidade é pura hipocrisia ou mera instrumentalização política.

A partir de meados do século XX, os “historiadores” vêm ignorado, convenientemente, que a escravatura em África é ancestral e desde o início praticada por árabes e por negros. A escravatura fazia parte da vida das tribos, e era considerada pelos chefes tribais como algo normal. Escravizaram aqueles que não eram vistos como semelhantes, mas sim como inimigos ou por questões de identidade; tribo, etnia, língua, por transgressão, crimes cometidos, por impossibilidade de pagar dívidas ou de não  poderem sobreviver independente por falta de recursos. A maior fonte de escravos eram as guerras tribais, em que os vencedores vendiam os prisioneiros como escravos para outras tribos de sua simpatia. A escravatura sob o controlo dos chefes tribais negros, na sua forma mais antiga, fez do escravo um ser privado de direitos, que poderia ser torturado, massacrado para rituais de oferenda aos seus deuses (leia-se demónios), negociado e transferido de acordo a vontade dos seus senhores.

A maior parte das pesquisas feitas nesta área, são pautadas pelos paradigmas e dogmas ideológicos que tomaram conta dos ambientes universitários do mundo, impondo o estereótipo do opressor branco e do negro oprimido. E têm imposto o Racismo Ambiental. Qualquer um que diga hoje que a escravatura foi praticada, indistintamente, sobre muitas raças, e que o comércio de escravos era uma prática ancestral entre os próprios negros, que baseavam o seu poder no tráfico e venda dos seus escravos, será invariavelmente tachado de supremacista branco, racista e revisionista histórico. No entanto, é um facto histórico amplamente documentado.

Através de documentos da História verificamos que a escravatura e comércio de escravos era   uma prática ancestral dos chefes tribaisA escravatura fazia parte da "cultura" e da vida das tribos africanas, e era considerada pelos chefes tribais como algo normal. Escravizaram aqueles que não eram vistos como semelhantes, mas sim como inimigos, ou por questões de identidade; tribo, etnia, língua, por transgressão, crimes cometidos, por impossibilidade de pagar dívidas ou de não  poderem sobreviver independente por falta de recursos. A maior fonte de escravos eram as guerras tribais, em que os vencedores vendiam os prisioneiros como escravos para outras tribos de sua simpatia. 

Os árabes arrasaram a África Subsariana durante treze séculos ininterruptos, a maioria dos milhões de africanos que eles deportaram desapareceu devido ao tratamento desumano e à castração generalizada. 
Mas eles não estiveram sós neste comércio,  os seus parceiros eram negros que vendiam negros, e eram negros quem davam a ordem para capturar escravos,  para  amarrar os escravos com correntes para que não fugissem e, para os torturarem caso se rebelassem e, em muitos casos eram decapitados seus captores diante dos chefes tribais.



 No início do século Xll, os Anziku, originários da Abyssinia (actual Ethiopia), desceram para África Central e Ocidental, (actual República do Congo, Gabão e R.D.C.). Durante o percurso atacavam os aldeamentos, saqueavam e  faziam razias nas populações que encontravam, os sobreviventes eram capturados e levados como escravos, criando grupos dentro da tribo Anzicana, como os Bampunu, os Banzabi e os Bantus, outros eram mortos em rituais de canibalismo. Fixaram-se nos cursos das águas do rio Congo/Zaire ao redor do Lago Nkunda ou Lago Nkuna (Stanley Pool), ocupando a região do planalto ao norte de Stanley Pool em ambos os lados do rio Congo, onde fundaram o sobado  com o nome variado de Anzicana, Macoco, Tyo, Tege ou Teke. O termo "Teke" veio a ser conhecido como uma categoria de escravo. A origem ou ano da fundação do sobado Teke é incerta. O território cobria extensas rotas de comércio fluvial ao norte do Congo/Zaire e ao longo dos seus afluentes do norte, onde controlavam as  terras directamente ao norte daquela que ficava mais perto do interior como o Kongo e Loango, e  controlavam o baixo rio Congo/Zaire que estendia-se para noroeste até à bacia superior de Kouilou-Niari, onde criaram outros sobados Anziku, como o sobado BaTeka, conhecidos por Yaka, BaTeka, Bayéké, Bayaka, Jaca, Jaga, Mayaka, Aka, Akka, Baka, Luba; oriundos das terras BaTeka (actual Mayaka em Kinshasa). Próximo à costa criaram sobados em Loango, Kakongo, e Ngoyo (Cabinda), e o sobado Vungu no Maiombe. 
Os Anziku controlavam as  terras directamente ao norte daquela que ficava mais perto do interior como o Kongo e Loango, e  controlavam o baixo rio Congo. Controlavam o marfim, a ráfia (fibra extraída das folhas das palmeiras, com que faziam a vestimenta), as minas de cobre no nordeste do Kongo com o qual faziam o artesanato tradicional que viria gradualmente abandonado em favor de escravos. Dominavam o comércio interno, especialmente o comércio de escravos. De particular importância é o controle do comércio da Teke no mercado gigante de Mpumbu no Lago Nkunda (Stanley Pool). Negros de bárbaros costumes, de rituais sangrentos de extrema crueldade, praticavam canibalismo, dedicavam-se às práticas da feitiçaria, odiavam trabalhar os produtos eram obtidos através dos ataques às tribos onde faziam saques, e razias na captura de escravos que traziam para a costa, e eram vendidos em troca de búzios que eram usados ​​como moeda em toda a região.
 Ntinu Wene, cujo nome pessoal pode ser reconstruído como Lukeni lua Nimi, chefe de uma tribo Anziku se estabelece no Maiombe, a norte do rio Congo/Zaire, onde criou o sobado Vungu, lido como Bungu, antes de atravessar o rio para invadir o Kongo. Ntinu Wene com a sua tribo deixou para trás Vungu, durante o percurso a tribo dividiu-se em grupos, fixando-se em Mbata ao norte; na montanha do Kongo que viria a ter nome Mbanza Kongo; em Mpemba Kasi ao sul, e ao longo do rio Kwilu (rio Cuílo) entre o Kongo/Angola e a actual República Democrata do Congo. Ntinu Wene ou Lukeni lua Nimi, capturava escravos, vendia e possuía escravos. Foi a primeira tribo Anziku a invadir o Congo que, teria ocorrido entre 1300 e 1390, segundo cálculos observados pelos portugueses pelas alusões do Anziku, Nzinga-a-Nkuwu, soba de Mbanza Kongo que, em 1486 se encontrou com o Navegador e Capitão Diogo Cam. 
Outras informações sobre a tribo Anziku do chefe tribal Ntinu Wene ou Lukeni lua Nimi, a invadir o Kongo apontam para 1390 ou 1400.




 

A escravatura sob o controlo dos chefes tribais, na sua forma mais antiga, fez do escravo um ser privado de direitos, que poderia ser torturado, massacrado para rituais de oferenda aos seus deuses (leia-se demónios), negociado e transferido de acordo a vontade dos seus senhores. 

                 Kongo, cativos levados para um barraco para de seguida serem vendidos ou trocados entre  tribos.

                        Loango, barraco de escravos e tortura aos escravos que se rebelavam ou tentaram fugir.



Kongo, massacre de escravos que se rebelavam ou no chamado sacrifício de escravos.



Os Vili, (Bavili), também conhecidos por bantus, originários do Gabão, (conhecidos também por Bakongos) instalam-se em Loango por volta de 1485, e iniciam o comércio de escravos  com o mercado Mpumbu no Lago Nkunda (Stanley Pool).


                Escravos capturados na floresta do Maiombe. 



A ÁFRICA AUSTRAL ERA, ATÉ 1482, DESCONHECIDA AOS EUROPEUS.


O Anziku, Nzinga-a-Nkuwu, era descendente do Ntinu Wene (Lukeni lua Nimi) chefe da tribo Anziku que se estabeleceu na montanha do Kongo em 1300/1390, outras informações apontam para 1390/1400.
Nzinga-a-Nkuwu Soba de Mbanza Kongo; vendia e trocava escravos por búzios usados como moeda da época, ou por outros produtos, e possuía escravos, que eram capturados pelos seus vassalosIdolatrava as figuras fetiches e praticava os rituais Jagas; Canibalismo, Idolatração aos seus deuses (leia-se demónios); Feitiçarias; e  Sambamento - ritual sanguinário que consistia na decapitação de escravos da sua tribo ou de outras tribos que atacava e onde fazia razias. O seu poder foi baseado na venda de escravos ou trocados com Zimbo (conchas).

Missionários portugueses baptizam o soba Nzinga a Nkuwu em 1491, sendo-lhe dado  nome João. Passou a ser referido como João Nzinga a  Nkuwu.




A partir do início do século XVI, os portugueses viajaram para a costa de Loango -Cabinda,  Sogno (Soyo) e Mpinda no rio Zaire (já conhecido dos portugueses em 1482), para obter panos de ráfia-fibras extraídas das palmeiras, artefactos de cobre e de latão, óleo de palma, amendoim, goma (borracha), resina, madeira rara (okoume, Padouk) peles e marfim. Trocados por produtos manufacturados europeus; vinhos portugueses, sal, mel, tecidos, louças, mantas do Alentejo, lãs e linhos de Flandres, contas de vidro de Veneza, algodão e musselina da Índia, espelhos, tapetes, mobiliário, velas, sementes para agricultura, farinha de mandioca do Brasil, e outros produtos. Os tecidos, em particular, desempenharam um papel essencial na vida quotidiana dos indígenas. Além dos móveis e roupas, os panos eram usados ​​nas cerimónias de indução, iniciação e sepultamento, também passaram a ser moeda de troca entre tribos. O marfim, era um produto de pouca relevância no consumo interno entre as populações do Kongo, Kakongo, Ngoyo e Loango. O eixo central das actividades económicas desenrola-se no rio Congo/Zaire. 
A partir de então, o comércio de longa distância se armou nos territórios da África Central em direcção à costa, ligando diversos grupos étnicos entre si e, de certa forma, sustentando suas identidades.  Inicialmente os produtos eram armazenados em São Salvador ex-Mbanza Kongo, sob o controle do soba do Kongo que distribuía, mediante venda, às tribos de sua simpatia. Passando depois a serem distribuídos às outras localidades; Loango, Ponta da Lenha, Banana, Ponta do Padrão (Soyo), Mpinda, etc. Iniciavam assim as relações entre o Reino de Portugal e o Kongo e a troca de produtos manufacturados europeus, portugueses, com produtos locais, que se tornaria o principal comércio entre  portugueses e indígenas do Kongo. Esta hegemonia manteve-se relativamente inalterada até meados do século XVI. O soba do Kongo, Nzinga a Nkuwu, que por baptismo teve nome João, morre em 1509, sucede-lhe o filho Mbemba a Nzinga, por baptismo Afonso, governou o Kongo de 1509 a 1542.  
(Mbanza Kongo: Banza significa kimbo (Mbanza, no dialecto Kikongo).

 A escravatura era uma instituição há muito tempo conhecida na África Central e  já fazia parte da formação social dos Mbundos (região Cuanza norte). Em 1514 Afonso Mbemba a Nzinga expande o tráfico de escravos. Afonso a Nzinga inicialmente tentou regular o tráfico de escravos como um monopólio pessoal e do seu sobado, que foi constantemente violado por outros sobas ligados ao tráfico de escravos. Em 1526 com a chegada dos franceses e holandeses ao porto de Pinda no rio Zaire, Afonso-a-Nzinga favorecendo-se com a ideia do tráfico de escravos em escala comercial-atlântica, baseia o seu poder e riqueza neste comércio que, envolveu os que dominavam as tribos e respectivos familiares no Kongo, em Loango e dos territórios circunvizinhos do Kongo. Com os franceses negocia escravos, marfim, manilhas (argolas de metal), tacula (madeira vermelha usada como tintura), juntamente com o Mani-Sonho (soba do Soyo), seu vizinho. A maioria dos artesãos deixaram de cumprir os seus deveres designados e tornaram-se traficantes de escravos.

Em 1535 os portugueses tomam conhecimento sobre os Anzikus, quando o nome Anziku” aparece nos títulos reivindicados por Afonso Mbemba-a-Nzinga, de origem Anziku, também exigia títulos sobre Sogno (Soyo)  Loango e outros territórios circunvizinhos. 

Quando Afonso Mbemba-a-Nzinga morre em 1542, houve um conflito entre o filho  seu sucessor Nkanga-a-Mvemba, por baptismo Pedro, e seu sobrinho Nkumbi Mpudi (Diogo). Em 1545 Pedro Nkanga-a-Mvemba foi derrubado pelo seu sobrinho Diogo Nkumbi Mpudi. Pedro Mvemba foi forçado a refugiar-se em uma igreja em São Salvador onde lhe foi dada  protecção até pedir asilo aos portugueses. Diogo Nkumbi Mpudi apodera-se do poder e inicia as primeiras guerras civis entre as tribos. Pedro Nkanga Mvemba faz várias tentativas para recuperar o poder, que foram sempre frustradas. Os  kongoleses que permaneceram leais a Pedro Nkanga-a-Mvemba e se opunham a Diogo Nkumbi Mpudi, desencadearam vários confrontos de guerras. Diogo Nkumbi Mpudi morre em 1561. 

Em 1589 os corsários franceses assediam o mar próximo à barra do rio Cuanza, para embarcarem escravos, o soba do Ndongo, Ngola Kilombo kia Kasenda envia um mensageiro à vila de S. Paulo de Loanda, pedindo ajuda a Paulo Dias de Novaes 1° Governador e Capitão-Mor de Angola, para proteger a barra do rio Cuanza assediada pelos franceses. Paulo Dias de Novaes com seus soldados parte em direcção à barra do Cuanza onde combate os corsários franceses, levando-os  a abandonarem a zona. Por volta de 1600, os franceses e holandeses chegam a Loango e a Soyo (Ponta do Padrão/Santo António do Zaire). Os franceses precisavam de mão-de-obra para as suas possessões e os holandeses para as Américas, aos quais os sobas Manikongos disponibilizavam e vendiam os escravos. 

A primeira referência a Loango em uma fonte documental é uma menção, por volta de 1561, de Sebastião de Souto um padre no Kongo para converter Loango ao Cristianismo.  
O português Duarte Lopes, embaixador do Kongo junto à Santa Sé em Roma em 1585, relatou que \ "Loango é amigo do chefe do Kongo e dizem que foi seu vassalo em tempos passados ​​\" o que é consistente com Loango. 
A cronologia documental sobre Loango torna muito provável que o bantu Njimbé foi possivelmente o fundador e primeiro chefe do sobado de Loango, por volta de 1565, também chamado sobado de Brama, na bacia dos rios Kouilou e Niari (agora em grande parte no sudoeste do Congo-Brazzaville). Loango viria a ser um dos maiores sobados da região, a sua expansão deve-se ao fluxo de escravos e marfim trazidos do interior ao longo de rotas comerciais bem estabelecidas que se estendiam para o interior até ao Lago Nkunda (Stanley Pool) actual Lago Malebo. Desde 1300 os chefes tribais vendiam escravos aos comerciantes arabes escravistas 
Olfert Dapper, médico, geógrafo e escritor holandês, relatou: "Njimbé  possuía várias armas de fogo, embora não soubesse como usá-las, oferecidas pelos árabes em troca de escravos". 

                                                                                         Loango.

                                                                            

A região onde Loango seria construída era povoada por uma série de pequenas tribos, incluindo Mayumba, Kilongo, Piri e Wansi, "cada uma tribo com seu próprio líder" que "guerreavam entre si". Olfert Dapper registou ainda que o fundador de Loango, se gabava de pertencer ao distrito de Nzari no pequeno sobado costeiro de Kakongo, ele próprio era um vassalo do soba do Kongo, triunfou sobre todos os seus rivais através do uso habilidoso de alianças para derrotar aqueles que se opunham a ele, especialmente Wansi, Kilongo e Piri, as duas últimas para serem subjugadas tiveram duas guerras.


      Ma'loango Mwe Pwati, conhecido como Kamangou wu Kama Mbou,
    soba de Loango e seus escravos, ano 1610. Gravura de Olfert Dapper.
                                         
                                         

 

A Mbangala Nzinga Mdambi (vulgo, Jinga ou Ginga), era traficante de escravos desde 1620, muitos dos elementos da sua tribo eram escravos capturados nas suas guerras tribais, uns para rituais de canibalismo, outros eram vendidos a outras tribos Jagas, outros para seus concubinos, e os mais jovens eram adestrados nos rituais Jagas para serem integrados ao seu bando que semeavam terror e morte em Matamba, Dongo e Massangano. 
Em 1622 Nzinga Mdambi para angariar a simpatia do Governador D. João Correia de Souza, em duas ocasiões presenteou o Governador com escravos. Na primeira vez, com 400 escravos e 150 vacas; na segunda com mais 12 escravos.


Ginga, Jinga ou  Nzinga Mbandi traficante de escravos, tribalista, líder de uma horda de selvagens e canibais, sempre demonstrou com palavras e actos o seu interesse pelo comércio de escravos, do qual participava activamente desde 1622. Foi uma dos piores traficantes de escravos. Na captura de escravos, fez razias nas tribos em Matamba, ao longo do rio Cuanza, Cambambe, Massangano, Dongo, Ambuíla, Pungo-Andongo e territórios circunvizinhos do Congo.

A  Imbangala Nzinga Mbandi (vulgo, Jinga ou Ginga) rainha dos Jagas.



Nkanga a Mvika, por baptismo Pedro, soba do Kongo de 1622 a 1624, Pedro Nkanga a Mvika com vista ao comércio de escravos propôs aos holandeses uma aliança congo-holandesa, que foi recusada. Os europeus tendo conhecimento que os chefes tribais vendiam escravos, em 1624 actuavam no Kongo pelo menos dez europeus no negócio de escravos, e ao porto de Pinda iam doze a quinze navios por ano da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, e franceses carregando cada um entre quatrocentos a setecentos escravos dos sobas de Loango, do Kongo, de Ndongo, e escravos da líder tribal Jinga Nzinga Mbandi, em Matamba, que inicia o comércio transatlântico de escravos capturados durante as razias que fazia nas aldeias durante as suas guerras tribais em Matamba, ao longo do rio Cuanza, Cambambe, Massangano, Ndongo, Ambuíla, Pungo-Andongo e territórios circunvizinhos do Kongo. 

Na segunda metade do século XVII, N'Gangue M'voumbe Niambi conhecido como Ma'loango,  soba de Loango, se enriqueceu  com o comércio transatlântico de escravos, que havia começado recentemente. Paralelamente, ao soba do Kongo Garcia Mvemba-a-Nkanga Ntinu, e à Nzinga Mbandi (Jinga),  as tribos de  Loango mantém o comércio com seus vizinhos do interior. Ma'loango soba dos Vili em Loango, mantém o comércio de escravos com seus vizinhos do interior, em especial com o Gabão de onde era originário e onde os comerciantes árabes de escravos actuavam. As vias de acesso que constituem esta rede são a norte; a estrada para Mayumba, o Lago do Malebo a este, e a sul passando pelos sobados de Ngoyo Matamba, Kakongo e Luanda. Estas eram as trilhas das caravanas de escravos. E, é o soba Ma'loango que dita as regras nas suas trocas com os mercadores franceses, holandeses, ingleses e espanhóis, fazendo a competição entre eles.


    
 Soba do Loango, Ma'loango N'Gangue M'voumbe Niambi, com os seus escravos.   
 

Quando os seus interesses são ameaçados, nomeadamente pelos portugueses, o soba  N'Gangue M'voumbe Niambi, não hesita em recordar que "ele é o senhor do seu território e que negocia o que quer e com quem lhe agrada".  Com os quais, entretanto, se estabeleceram os mecanismos deste milenário comércio. Os escravos integraram os fluxos comerciais triangulares, provenientes dos portos da costa de Loango (Baía do Loango, Malemba e Baía de Cabinda). Nestas zonas os holandeses instalaram fábricas, na época correspondiam a um armazém como uma sucursal da matriz, que o comerciante europeu utilizava como posto avançado para armazenar as mercadorias desembarcadas da embarcação, antes de as vender.  Estas fábricas eram, também, usadas pelos sobas para guardar os escravos à espera para serem embarcados para as Américas. Os cativos embarcavam a bordo de navios ingleses, franceses, holandeses, espanhóis e brasileiros. Isso torna a costa de Loango, uma das cinco zonas africanas de comércio triangular mais importantes. 

Facto que em 1624 levaria o Governador de Angola, D. Fernão de Sousa, a pedir ao Ma'loango que "fechasse as fábricas e expulsar esses hereges." Por outro lado, o Governador D. Fernão de Sousa, promete garantir a sua protecção em caso de invasão inimiga e, finalmente, enviar padres jesuítas para baptizar Ma'loango. Este último replicou veementemente que continuaria a negociar nas mesmas condições e que não tinha intenção de se converter ao catolicismo. Assim, o Ma'loango permaneceu no controle das suas relações no tráfico de escravos com as potências atlânticas. No entanto, Ma'loango desconfiado dos portugueses e do seu papel na desestabilização do seu poderoso vizinho do Kongo, a partir dos fortes portugueses instalados ao longo da costa angolana, não aceitou a instalação permanente de uma fábrica/armazém no Loango. Viria acontecer entre 1628 e 1632, foram instaladas fábricas em Mayumba e na baía de Loango para fornecer pontas de cobre e marfim, como cobertura ao comércio de escravos.  Loango com as diversas tribos articuladas às actividades mercantis de escravos na bacia do rio Congo/Zaire e suas formas de associação, desde os comerciantes vili ou Bavili (subgrupo de povos Bantu e Kongo)  da costa de Loango, aos zombo e songo aos grupos bobangi (Africa Central, junto ao rio Congo), a comunidade mercantil dos bamboma (no actual Kinshasa), e as tribos denominadas cabindas.

           
                                                                         
Soba de uma tribo do litoral de Loango,  com a mulher e um dignitário.

                                                                

O poder dos sobas do Kongo e sobas nos territórios de Loango, Kakongo, Ngoyo, Matamba, e Ndongo desenrolava-se  a par do comércio de escravos e em relação à procura estrangeira, estas práticas eram determinantes para o poder da autoridade e das formações sociais locais, que favorecendo-se com a ideia de escravatura em escala comercial-atlântica, transformam o comércio dos produtos locais no  comércio de escravos, e o comércio dos produtos tradicionais passaram a ter pouca relevância entre as populações indígenas. Os chefes tribais, associados às demandas dos mercadores atlânticos e seus intermediários, além dos raptos faziam verdadeiras razias na caça aos escravos, muitas delas feitas por parentes que atingiam posições sociais e de poder. Os volumes transaccionados no que diz respeito à eficiência das rotas e ao envolvimento cada vez maior de mercadores e intermediários indígenas, foi tomando conta das tribos de Loango, a base de mercadores e suas associações, a organização das caravanas, rotas e mercadorias, bem como a estruturação das burocracias desempenhadas por aqueles que eram escolhidos pelo soba do Kongo que, com seus familiares e outros chefes tribais desenrolavam o comércio de escravos, através dos portos que ainda não eram controlados: de M’pinda no rio Zaire, Soyo,  Loango, como ao longo da costa angolana, estendendo este comércio a Benguela e ao Ambriz. 

 

 As autoridades portuguesas atentas aos negócios dos holandeses, leva o soba Garcia Nkanga a Lukeni (Kipaku) a expulsar os missionários católicos e os portugueses residentes no Kongo, em São Salvador e em Matadi,  por se tornarem um obstáculo ao comércio de escravos no trato com os holandeses. Seguidamente os gentios destroem as casas dos portugueses, as Igrejas e as missões católicas em Matadi e em S. Salvador. 

                Ruínas da vila de Matadi, e rio Congo/Zaire, de  "VOYAGE IN AFRICA", de James Hingston Tuckey.
 Ruínas da vila de Matadi, de "VOYAGE IN AFRICA", de James Hingston Tuckey.

                                                        Garcia Nkanga a Lukeni-a-Ntumba "Kipaku". 


O comércio de escravos em Angola atingiu o seu auge entre 1641 a 1648 com o Soba Manikongo Garcia Nkanga Lukeni a Nzenze Ntumba (conhecido como "o Kipaku") que se aliou aos corsários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC), onde desempenhou importante papel na liderança no tráfico atlântico de escravos, se enriqueceu com o comércio de escravos, em paralelo com a Mbangala, Nzinga Mbandi que foi a maior fornecedora de escravos para a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. E iniciam o tráfico de escravos em grande escala; através do porto de Luanda; rio Cuanza, e dos portos do estuário do rio Zaire; Vista, Banana, Ponta de Lenha, Soyo (Ponta do Padrão) e Pinda (Mpinda no dialecto kikongo). Nestas zonas os holandeses instalam as chamadas fábricas (armazéns), para onde são enviados os capturados, antes do embarque. Destacando-se Boma a norte como o principal entreposto mercantil de Loango, Banana, Ponta da Lenha, Binda. Em Pinda a sul do rio Zaire, instalaram uma fábrica, no ano 1613, tornou-se entreposto mercantil de escravos dos sobas de Soyo (Ponta do Padrão),  Bamba, Pemba, São Salvador, Matamba, Pungo-Andongo, Ndongo. Com as diversas tribos articuladas às actividades mercantis de escravos na bacia do Zaire e suas formas de associação. 


Em 1642, Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba (soba do Kongo), ajuntava muitos negros de guerra (Jagas) nos Dembos, nas terras do soba Nambuacalombe vassalo do Soba do Congo, e foram até ao sul dos Dembos, matando, degolando, destruindo, saqueando e capturando escravos, levando os Sobas e seus povos a uma rebelião contra o Soba Manikongo Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba. O Dembo Nsala, recusou pagar os dízimos ao soba do Kongo, e arrastou a rebelião a todos os sobas dos Dembos. Conhecida como Rebelião Nsala. O Soba Manikongo Garcia Ntumba, pede ajuda aos holandeses que enviaram 50 tropas armados e municiados, para ajudar a conter a revolta de povos dos DembosReprimida a rebelião Nsala, Garcia Nkanga a Lukeni Ntumba pagou essa ajuda com 250 escravos capturados das fileiras dos rebeldes dos Dembos, e outros 170 escravos oferecidos como subornos a Cornelis Nieulant um dos dois directores da W.I.C., em Luanda. Reafirmando assim a aliança com os holandeses. Esses escravos foram enviados para Pernambuco, Brasil, onde os holandeses se apossaram de uma parte da região produtora de açúcar.
O Soba Manikongo Garcia Nkanga a Lukeni (Kipaku), morre em 1660. Ficou notório por se enriquecer na liderança do comércio de escravos e expulsar os portugueses do Kongo. 

enriquecimento dos sobas, dos seus familiares e seus vassalos através do comércio de escravos-transatlântico, aguçou o apetite das tribos rivais dos Kinzala e dos Kimpanzu,  que disputaram o controlo do Kongo, levaram a uma guerra civil por mais de meio século, que devastou o Kongo, levando a Coroa de Portugal simplesmente a desinteressar-se  do Kongo por mais de 170 anos quer política como religiosa.

A partir de 1660, o comércio exterior de mercadorias foi substituído definitivamente pelo de escravos.  Após a morte do soba Garcia Nkanga Lukeni, sucede-lhe Vita Nkanga Kinlaza, por baptismo Antonio, com ajuda dos holandeses e espanhóis declara guerra aos portugueses. Em 1665 Vita Nkanga Kinlaza é morto durante a batalha de Ambuíla (Uíge). 

Mpemba Nzinga, por baptismo Afonso, apoderou-se do sobado e se auto-proclamou soba do Kongo que, durou  apenas um mês, de Novembro a Dezembro de 1665, chegou a criar um comércio de escravos que começou a desenvolver como legado à sua família. Foi deposto e fugiu de S. Salvador, refugiando-se numa ilhota no rio Congo/Zaire.  Após a sua morte, a sua mulher Manimulaza, baptizada com nome Ana, proclamou-se soba do Kongo de 1673 a 1709, e continuou a desenvolver o comércio de escravos, legado pelo marido Afonso Mpemba Nzinga, e expande o comércio de escravos a toda a região do Ambriz. O comércio de escravos torna-se florescente. Os sobas no Kongo seus familiares e outros sobas favorecendo-se com o tráfico de escravos a nível transatlântico, desenrolam o comércio de escravos através dos portos de M’pinda, Soyo, Loango, no interior como ao longo da costa angolana, estendendo este comércio a Benguela e ao Ambriz. Portos que ainda não eram controlados.

Entre 1660 e 1867, o comércio exterior de mercadorias foi substituído definitivamente pelo de escravos. A expansão do comércio fez com que vários agrupamentos ao longo da bacia do rio Zaire e muitas das aldeias pesqueiras abandonassem suas ocupações iniciais e se convertessem à actividade do comércio de escravos. Os sobas associados às demandas dos mercadores atlânticos e seus intermediários, baseavam o seu governo e poder no negócio de escravos. Além dos raptos faziam verdadeiras razias na caça aos escravos, muitas delas feitas por seus parentes e vassalos que atingiam posições sociais e de poder nas tribos.  A expansão deste comércio fez com que várias tribos ao longo da bacia do rio e muitas das aldeias pesqueiras, abandonassem suas antigas ocupações e se convertessem à actividade do comércio de escravos.  


 

Barraco para detenção dos cativos, sob guarda de um Mafouc, em Loango/Cabinda, antes do embarque.

                     O Mafouc e dois  ajudantes, transportam  os cativos com destino ao comércio de escravos.  Esta gravura retrata traficantes negros de escravos das regiões da Costa do Loango e Kwanza Norte.


Os cativos eram "amarrados com troncos rudemente cortados, às vezes, eram amarrados ao tronco de uma árvore inteira que pressionava seu peso sobre os corpos dos cativos enquanto os seus pescoços são presos na ponta natural formada por seus galhos ramificados. Outros sentam-se durante o dia hoje com as pernas e os braços mantidos em uma posição fixa por troncos. Muitos cativos morreram de fome, os seus donos (sobas ou chefes tribais) mandavam darem-lhes  comida apenas o suficiente para sobreviverem. Depois de sofrerem esse cativeiro eles se tornavam meros esqueletos. Os cativos eram de todas as idades, e de ambos os sexos: mães com seus filhos pequenos; jovens e mulheres; meninos e meninas; e até bebés  que ainda não conseguiam andar ... Raramente os capturados eram velhos ou velhas; esses eram todos mortos nas incursões "(E.J. Glave, pp. 830-31). Glave viveu no Kongo e forneceu um relato vivido das actividades escravistas na bacia do rio Congo. A ilustração foi descrita por Glave.


 Loango, um tronco de árvore pressiona o seu peso sobre o cativo. 
Ilustração de Glave.

Cativos no Kongo.
Um Mafuka (comerciante de escravos) negociando escravos com um europeu.


É com o Mafuka exclusivamente que os europeus negociavam o trato do preço dos escravos, o pagamento dos costumes e a polícia dos Negros. É o Mafuka que fixa o preço de todas as mercadorias, preside todos os mercados, julga em último recurso tudo aquilo relacionado aos negócios, e todas as querelas e controvérsias que possam surgir no domínio de seu distrito. 

O Mafuka fazia-se acompanhar por um largo cortejo de ajudantes e era atendido por oficiais menores, entre eles um controlador dos portos, denominado Maquimbe, que controlava a pesca, as canoas, outras embarcações e tudo o que estivesse sobre as águas, estrutura que se repetiria com poucas alterações ao longo dos séculos entre as várias tribos costeiras e ribeirinhas onde o comércio internacional se fazia sentir.  Além de outros directamente atrelados à prerrogativa do comércio de escravos como monopólio do soba regedor do Congo, circulavam por entre tripulantes das embarcações os canoeiros e carregadores, escribas e também os Mafukas chamados linguisters, eram uma espécie de viajantes, comerciantes de escravos, que faziam a ligação entre as tribos com escravos e os europeus  das firmas estrangeiras, faziam contractos e outros negócios a mando do soba. Nas lides dos armazéns ou barracos aparecem também outros: o responsável do barraco e seus auxiliares, o contador chefe, um mensageiro encarregado de fazer o elo com os sobas e os europeus, etc...



            Imagem do comércio tradicional. 

      Imagem do comércio tradicional. 

   No reinado de D. José I, pela mão do seu primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, a 19 de Setembro de 1761, emite um alvará, assinado pelo Rei D. José l,  libertando todos os escravos provenientes da América, África ou Ásia assim que chegassem à metrópole, após desembarque. Esta lei, foi expandida posteriormente a novos alvarás, foi o primeiro passo para a abolição da escravatura no mundo. Não obstante a abolição da escravatura; os sobas no Kongo seus familiares e outros chefes tribais favorecidos pelos ingleses, holandeses, franceses, americanos, espanhóis e outros estrangeiros, davam continuidade à prática do comércio de escravos, através dos portos de M’pinda no rio Zaire, Soyo,  Loango, e  no interior como ao longo da costa angolana, estendendo este comércio a Benguela e ao Ambriz. Se eles precisavam de escravos para a América, ilhas sob domínio britânico,   ilhas sob domínio francês, e territórios sob domínio espanhol,os sobas baseavam o seu poder e enriquecimento no comércio de escravos.


 D. Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras.



O cenário comercial dos portos centro-africanos e a infra-estrutura montada para os negócios dos escravos eram familiares ao francês, Louis Marie Joseph Ohier de Grandpré, de ascendência irlandesa, oficial da marinha francesa, comerciante, traficante de escravos, espião, e  armador em La Rochelle, capitão de navio negreiro de Bordeaux “O remoto” de 250 toneladas.  De Grandpré chega ao Congo em 1786, percorre Loango, Ngoyo e Kakongo. Realizou a sua campanha comercial entre Junho e Outubro de 1790, de Norte a Sul da costa angolana, principalmente em Malembo e no Zaire onde o capitão destacou o seu imediato. 


Nos apontamentos do francês Louis De Grandpré, constam  tabelas detalhadas que os capitães de escravos mantinham dia após dia. E como decorria  o tráfico de escravos e sua hierarquia ou organização, ele descreve:  

“ A hierarquia ou organização do  tráfico de escravos era um assunto do poder local, o soba do Kongo mantém a mão direita sobre o tráfico de escravos e não concede o monopólio a nenhum estado europeu. 

O Mafouc era nomeado pelo soba do Kongo, é responsável pela captura dos escravos e chefe dos centros comerciais de escravos nas aldeias e, responsável por negociar com os capitães das naus as condições do tráfico de escravos e recebe o pagamento pela alfândega dos europeus.

O Mafuka, conhecido como linguíster, era comerciante de escravos;

O Mambuco era herdeiro designado ao sobado das tribos e  era o corrector;

O Macaye era uma espécie de ministro do soba;

O Monibanze era o encarregado dos cofres do soba; 

O Macota era conselheiro do soba e seus familiares;

O Monibele, era o mensageiro; 

Os Mangofs, eram os responsáveis pela introdução de estrangeiros no comércio negreiro;

O Maquimbe guardava o porto e forneciam canoas e carregadores. 

O Matiente, era filho do soba. Todos, sob o controle do poder central no Kongo e respectivos chefes das tribos que vendiam cativos capturados das tribos de regiões periféricas. Assim, os dignitários locais obtinham fortunas consideráveis ​​com o comércio de escravos sem modificar ou melhorar a vida dos habitantes das suas tribos”.


O Mafouc de Shark Point (Ponta do Padrão/Santo António do Zaire) e de Malemba (território na actual RDC), entre os indígenas captores de escravos de Loango, era o mais temido pelos povos das tribos vizinhas, era um negro cruel  e intransigente, conhecido por sua força, velocidade e agilidade. Em 1816 o principal intermediário do soba de Sharks Point, (Ponta do Padrão) era o Mafouc, nome que constava nos documentos oficiais da administração portuguesa, também conhecido como MafouEra um Batéké. Mafouc ou Mavemgo significava grande feiticeiro, o líder espiritual dos Batékés. Existiam múltiplas variantes para os Batékés  ou Tékés eram conhecidos pelo nome de Anzicana, Anziku, Jaga, Iacca, Ba-Teke, Batéké, Mbéti, Téké, Atéré, Tio, Tsio, Tyo. Eram guerreiros nómadas e praticavam largamente canibalismo e feitiçarias.  O termo seria uma designação pejorativa usada pelos Bakongos eram frequentemente chamados de "Téké" (Batéké em Kikongo). 



AMBRIZ

 Britânicos, americanos e franceses nas redes   comerciais do Baixo Congo.

                                                                      


Até meados do século XVIII, Ambriz era um pequeno porto situado ao norte, designado por Baixo-Congo, com sede em Loanda e, até então, pouco conhecido nos relatos e documentos estrangeiros. Ao porto de Ambriz aportavam navios onde os indígenas intermediavam as trocas entre os mercadores europeus e as caravanas que traziam; panos de ráfia, artefactos de ferro e de cobre, óleo de palma, amendoim, goma (borracha), cera, resina, peles e marfim, das regiões do interior. 

 A partir dos finais do século, essa situação se alterou substancialmente e Ambriz passou a ser mencionado com frequência como lugar de origem de milhares de navios que realizavam as viagens transatlânticas da época. O incremento do comércio e a articulação com rotas que vinham do interior da África central, a instalação de feitorias de mercadores estrangeiros e o crescimento progressivo do volume de mercadorias aí negociadas foram processos explicados pela intensa concentração do tráfico atlântico de escravos nos portos ao norte de Angola. Os mercadores estrangeiros instalaram feitorias no Ambriz para concentração do tráfico atlântico de escravos das terras além-rio Cuango, e vindos de outros territórios vizinhos ao Congo. A instalação de feitorias de mercadores estrangeiros e o crescimento progressivo do volume de mercadorias aí negociadas foram processos explicados pela intensa concentração do tráfico atlântico de escravos nos portos ao norte de Angola. Em 1759, os embarques feitos a partir do porto, eram combinados aos de seu vizinho Mosul. 

Na articulação das rotas que vinham do interior da África central, encontravam-se inter-conectados com  centros como  Stanley Pool (actual Kinshasa) e São Salvador, aos mercados do estuário do rio Zaire – Boma e outras localidades ribeirinhas como; Ponta da Lenha, Banana, e Ponta do Padrão (Soyo) – e, depois, aos portos marítimos ao norte, Loango, Cabinda, Malembo, e ao sul, Ambrizete, Quissembo, Ambriz. Um conjunto regulado por padrões próprios dos chefes das tribos. A administração das rotas comerciais era um assunto gerido pelos indígenas. O Tráfico e comércio de escravos como o comércio do marfim era realizado através de acordos entre os traficantes e os chefes tribais das respectivas zonas. O incremento do comércio de escravos levou as populacoes das tribos ribeirinhas a abandonarem os seus antigos trabalhos para se dedicaram ao comércio de escravos.


Nicolau de Água Rosada, filho do soba do Kongo, Masaki ma Mpanzu, por baptismo Henrique. Na costa do Ambriz, Nicolau pretendia embarcar 200 escravos para o Brasil (alegando serem seus criados), negociando com um agente francês  como intermediário, informando este que tinha mais de 400 escravos prontos para serem embarcados. Em 1860, Nicolau de Água Rosada viria a ser brutalmente assassinado com machetes (catanas) por elementos de uma das tribos em Quissembo, região onde mandava capturar escravos. 


           Nicolau de Água Rosada do Congo, comerciante de escravos, filho de Henrique Masaki ma Mpanzu, soba do Kongo, também, comercializava escravos.


À esquerda, Cristiano Junior, nascido em Cabinda, escravizou o homem africano, nascido em Ambriz, à direita. Foto de 1856. Collection “Nationaal Museum van Wereldculturen,id,nr. A274-86.



 A  mestiça Ana Joaquina receptora dos escravos, comerciante e armadora, era a maior comerciante de escravos da região de Luanda.  Proprietária do maior palacete (na época).  Com o comércio de escravos, durante as décadas 1820 a 1850, tornou-se na mulher mais rica de Angola, chegando a ter uma frota  de barcos para tráfico dos escravos, que singraram por todos os mares das Américas e ilhas ocidentais ao largo da costa africana. Pelos proventos obtidos no comércio de escravos, exerceu ao mesmo tempo a actividade de banqueira, investidora e financiadora. Era muitas vezes referida como a "Baronesa do Bungo". Infringido a lei,  continuou sempre com o comércio de escravos até à sua morte em 1859.


Ana Joaquina, mestiça, traficante de escravos, (1788-1859).

Palácio da mestiça Ana Joaquina, comerciante de escravos.
  Na cidade de São Paulo de Luanda, foto de 1871.


A partir de 1834, o Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein, agora Ministro dos Negócios Estrangeiros, viria a retomar a questão da escravatura, sempre com intento de revogar o Tratado de Comércio de 1810. Porém, também sabia, que o governo britânico não aceitaria as negociações comerciais, sem uma negociação simultânea sobre a questão do tráfico de escravos.
A 10 de Dezembro de 1836, data que o Visconde Sá da Bandeira com novo Decreto determinou a proibição total ao comércio de escravos nos territórios sob soberania de Portugal. Desta vez com fortes sanções sobre aqueles que desrespeitassem a lei,como o degredo, multas, incapacidade para servir empregos nacionais e trabalhos públicos, tanto para negros como para europeus.

O decreto do Visconde de Sá da Bandeira de 10 de Dezembro de 1836, proibiu o tráfico de escravos em todas as possessões portuguesas. A entrada em vigor do decreto encontrou os maiores obstáculos para ser executado em Angola. Para além da vertente humanitária de Portugal, que era objecto de grande debate na Europa. Acresce que na perspectiva britânica acrescia o interesse em salvaguardar eventuais pretensões territoriais em África e existiam fortes interesses privados comerciais ingleses ligados ao tráfico, e os seus beneficiários exerciam considerável influência política que conseguira sempre paralisar a acção governativa sobre a questão. Facto que, até 1783, todas as classes sociais inglesas eram favoráveis ao tráfico de escravos. A Monarquia, o Governo, a Igreja Protestante e a Opinião Pública em geral aceitavam-no com indiferença e pacificamente. Quando não eram eles próprios os promotores do comércio de escravos. E nesse mesmo ano, o Parlamento rejeitou uma petição Quaker a favor da abolição da escravatura, apesar do movimento filosófico e literário ter começado a influenciar a opinião pública contra a escravatura em 1774.


     No trato do comércio de escravos, o soba de Shark's Point (Ponta do Padrão/Santo António do Zaire), vai visitar o Commodore "Esquadrão da África Ocidental, da Marinha Real Britânica" no rio Congo/Zaire, a 13 de Novembro 1875. Gravura de "The Illustrated London News".


Em 1776, os Quakers foram proibidos de possuir escravos. Tanto os proprietários das plantações como comerciantes britânicos se uniram, em 1780, para defesa conjunta do monopólio, ameaçado pelo livre comércio e a protecção dos escravos que começava a ganhar expressão. Foi assim, com alguma facilidade, que se conseguiram opor às ideias abolicionistas e de liquidação do seu monopólio, posição que conseguiram manter até à independência da América em 1776.

Sabendo-se que a Grã-Bretanha foi uma das grandes potências marítimas e que a sua economia se baseava na mão-de-obra essencial às grandes plantações de açúcar das suas colónias, foi antes um culminar de uma profunda mutação nas condições de exploração do seu sistema colonial inglês a par do desenvolvimento industrial. Mas seria no Ambriz que os portugueses enfrentaram  obstáculos para expulsar os britânicos que, já davam Ambriz como seu território quando se apossaram das minas de cobre,  ferro e malaquite no Bembe, também, reagiram contra a Coroa de Portugal quando os portugueses apreenderam navios brasileiros que levavam escravos para América. Da mesma forma os portugueses tiveram dificuldade em expulsar do Ambriz comerciantes franceses, brasileiros e espanhóis.

 Nenhuma nação enviou mais africanos escravizados para as Américas do que os britânicos durante o século XVIII. Aproximadamente 2,4 milhões de cativos foram enviados da África Ocidental em navios britânicos para as plantações da América do Norte e do Caribe. As consequências económicas repercutiram em todo o império britânico do século XVIII. Eles inspiraram o rápido desenvolvimento urbano em cidades portuárias como Liverpool e Bristol, Filadélfia e Boston. Eles abriram novos mercados para as exportações britânicas na África, Caribe e América do Norte. E eles tornaram o tabaco e o açúcar amplamente disponíveis, promovendo novos rituais de consumo.




                  NEGROS E MESTIÇOS NO TRÁFICO DE ESCRAVOS ENTRE ANGOLA E O BRASIL.

     O Clã Ferreira Gomes no Atlântico Sul do século XIX. 

A trajectória de José Ferreira Gomes Júnior: José Ferreira Gomes Júnior, era um homem negro, nascido em no Brasil, filho de Florinda José Gaspar, uma mulher negra filha de um soba da Catumbela, na zona de Benguela, e de Francisco Ferreira Gomes, homem negro,  nascido no Rio de Janeiro em 1785. 

                        

       O artigo discute os laços sociais e culturais que os traficantes de escravos angolanos mantinham com o Brasil e com as populações africanas, a transição do tráfico de escravos para o comércio lícito, e as mudanças nas políticas portuguesas em relação ao tráfico de escravos na década de 1840. E analisa as conexões económicas e sociais engendradas pelo tráfico de escravos entre Angola e Brasil. Neste sentido, o artigo usa como ponto de base a biografia de José Ferreira Gomes Júnior. E tem como base um processo em 1863, no Rio de Janeiro, que o brasileiro José Francisco de Mesquita moveu contra o seu avô Francisco Ferreira Gomes, à causa de herança do património de família.

Francisco Ferreira Gomes em 1800 foi deportado como criminoso para Benguela, que viria a ser – o segundo maior porto de escravos de  Angola -, para cumprir pena de exílio. Depois de alguns anos, Francisco Ferreira Gomes conseguiu estabelecer-se economicamente e tornou-se um dos maiores negociantes de escravos da região. Entre 1809 e 1831, Francisco Ferreira Gomes enviou cerca de 7 mil escravos de Benguela para o Brasil, cerca de 7% do número total de escravos embarcados naquela cidade, na época. Este "sucesso" permitiu-lhe fazer parte da élite da cidade: Ele chegou ao mais alto escalão da sociedade de Benguela, tornando-se chefe do tesouro real, e juiz, administrava os bens de comerciantes falecidos (o Juízo dos Defuntos e Ausentes)e comandou a milícia local (o batalhão dos Henriques). Em 1834, voltou ao Rio de Janeiro com toda a família africana, incluindo a mãe de José Francisco de Mesquita, filha do chefe tribal de Catumbela, Angola, (Ferreira 2012, 203-244).

Em 1863, no Rio de Janeiro, Brasil, um brasileiro chamado José Francisco de Mesquita ajuizou uma acção contra seu avô, Francisco Ferreira Gomes, que então tinha 78 anos de idade. Na acção, José Mesquita argumentava que sua avó, Florinda Josefa Gaspar, tinha morrido recentemente, mas que seu avô ainda não havia executado seu testamento. Florinda Josefa Gaspar era filha de um chefe tribal da Catumbela, Benguela, que havia migrado para o Rio de Janeiro com Francisco Ferreira Gomes quase 30 anos antes. José Mesquita afirmava que ainda não tinha recebido a sua herança devido à demora na execução do testamento de sua avó. José Mesquita havia sido criado por seus avós após o falecimento de sua mãe em 1843. No entanto, depois do ajuizamento da acção, o brasileiro Perdigão Malheiros, eminente advogado, na época, teve que ser contratado para mediar os contactos entre ele e seu avô.

Para justificar o atraso no inventário da sucessão, o patriarca do clã Gomes alegou não ter conseguido contactar o seu filho mais velho, José Ferreira Gomes Junior, que ainda vivia em Benguela onde administrava as propriedades e assuntos familiares. Ainda segundo ele, uma carta rogatória deveria ter sido enviada para lá, mas o processo poderia ter demorado seis meses por causa da queda do comércio marítimo entre Angola e o Brasil desde a proibição do tráfico de escravos em 1850. E, de De facto, em 1855, ao restabelecer o consulado brasileiro em Luanda, um diplomata afirmou: “Até agora este comércio [entre o Brasil e Angola] era muito limitado e quase apenas indirecto. Partindo do princípio de que deveria consultar o filho em Benguela, Francisco Ferreira Gomes mostrou que, apesar do regresso ao Rio de Janeiro em 1834, continuava intimamente ligado à costa angolana. De facto, vinte anos após a saída de Benguela, ainda possuía propriedades e escravos ali, como o atestam as escrituras lavradas por um juiz da década de 1850 que afirmam: “A negra Dionísia, também conhecida por de Juamutango, é escrava do declarante [Francisco Ferreira Gomes] por residir nesta cidade [Benguela], foi comprada ao falecido Francisco Joaquim Coelho Santiago, do sertão [selva] de Galangue (na Huíla). Outro documento descreve o filho mais velho, José Ferreira Gomes Junior, como dono de dois escravos que herdou: um homem chamado Quipaka e uma mulher chamada Quirombo. 

Depois de Francisco Ferreira Gomes se reinstalar no Rio de Janeiro, só regressou uma vez a Benguela, em 1855. As propriedades e negócios que a família ali possuía eram efectivamente geridos pelo seu filho mais velho, José Ferreira Gomes Júnior. Em 1834, por exemplo, José foi designado em documento como "o representante legal de seu pai Francisco Ferreira Gomes" quando este deixou a África. Em 1855, Francisco declarou que após ter “voltado ao Rio de Janeiro [em 1834], havia deixado a sua casa comercial e propriedades aos cuidados de sua esposa, dada a ausência de seus filhos, José Ferreira Gomes e Joannes Ferreira. Gomes, o último a falecer. Em uma segunda etapa, após a saída de sua esposa para o Rio de Janeiro, seu filho José Ferreira Gomes Júnior passou a ser o administrador de sua casa comercial e de seus imóveis”.

                                                              A trajectória de José Ferreira Gomes Júnior:

Desde muito jovem, José Gomes Júnior fora criado para dirigir os negócios da família. Em muitos aspectos, sua formação cultural e social o tornava a pessoa ideal para essa tarefa. Nascido em Benguela em 1805, teve ligações com o Brasil através do pai e com Angola através da mãe, Florinda Josefa Gaspar. Seu primo materno, Johannes José Gaspar, era soba na Catumbela, região que desempenhou um papel fundamental no abastecimento de escravos de Benguela. Johannes José tinha sido um aliado seguro de José Ferreira Gomes Júnior quando as autoridades de Benguela se voltaram contra ele na década de 1840 devido à sua actividade política e ao seu envolvimento com o tráfico de escravos. Tal como o pai, José era casado entre a população africana, primeiro com uma mulher chamada Maria Nunes Romão e depois com Gertrudes Ferreira Gomes, ambas de raça negra.

 Aos treze anos, José Gomes Júnior foi enviado ao Rio de Janeiro para estudar lá. Ao dar uma educação brasileira ao filho. Ao regressar a Benguela, em 1821, José Ferreira Gomes Júnior casou-se com uma negra, Maria Nunes Romão, era órfã, herdeira de uma grande fortuna. A negra Maria Nunes Romão possuía uma importante casa comercial em Benguela, cuja principal actividade era o tráfico de escravos entre o porto angolano e a selva. Essa união havia sido arranjada por seu pai que, na época, havia se tornado magistrado. Por decisões judiciais, ele foi nomeado guardião da jovem cujo pai havia servido na milícia local e anteriormente, ocupou o cargo de "promotor das liberdades" (Inquiridor das Liberdades) e, como tal, tinha de se pronunciar sobre a situação dos africanos trazidos para Benguela como escravos e sobre a legalidade da sua escravização. O pai de Gomes foi acusado pelos seus detractores de ter utilizado o seu cargo de juiz para manejar a família da noiva para se aproveitar da herança. 

O regresso de José Ferreira Gomes Júnior a Benguela coincidiu com o início da carreira de sócio da empresa familiar. E envolveu uma ampla variedade de tarefas. Em 1825, por exemplo, um documento o designa como “legalmente associado em parceria comercial [com Francisco Ferreira Gomes]” e acrescenta: “É necessário que um dos sócios vá ao Rio de Janeiro”.  Com efeito, foi para a capital brasileira nessa qualidade em 1826, 1827 e 1830 e tornou-se co-proprietário das embarcações do pai. Em 1823, e após a independência do Brasil, Benguela passou por uma grave crise, jurou lealdade a Portugal juntamente com outros ricos mercadores. Em 1830 ele foi descrito como um oficial do batalhão de Henriques "muito diligente e altamente considerado". Em 1835, porém, as autoridades municipais acusaram o filho de Gomes de conspirar contra a administração e de usar seus escravos para aterrorizar os habitantes. A carreira do negro José Gomes  Júnior, especialmente a sua ligação com o Brasil e as suas frequentes viagens ao exterior, é representativa do modo de vida da comunidade mercantil de Benguela como um todo. Como ele, outros comerciantes de portos tinham laços estreitos com o Brasil por causa de seus negócios ou laços familiares ali. Muitos também eram os que regularmente faziam a travessia. Na década de 1840, quando o movimento para acabar com o comércio de escravos ganhou força , ele conseguiu acessar redes sociais que se mostraram particularmente úteis. Como José Gomes  Júnior, manteve fortes vínculos com o Rio de Janeiro, para onde mandou sua filha estudar e para onde, na década de 1840, fora para tratamento.

Outros entre esses comerciantes eram de origem brasileira ou tinham laços familiares extensos no mundo atlântico. Manoel Vidal Cesar, negro, nascido no Brasil, por exemplo, escreveu em 1858: “[Dois de] meus irmãos moram nesta cidade [Benguela], um [outro] no Rio de Janeiro e uma irmã no Rio de Janeiro. José Gaspar Lobo nasceu no Rio mas negociou em Benguela por conta do irmão João Gaspar Lobo que vivia na capital. Entre 1850 e 1853 enviou mercadorias para o porto angolano em oito navios diferentes. A trajectória do mestiço Manoel Joaquim Teixeira Barbosa, apontado como um dos mais ricos comerciantes de Benguela é prova disso. Em 1839, ele recebeu 100 escravos trazidos das selvas. Em 1844, é nomeado governador provisório de Benguela mas, três dias depois, pede autorização para embarcar para o Rio de Janeiro. Devido à crescente repressão ao tráfico de escravos em Benguela, ele partiu para o Rio em 1846.  É a partir do Rio de Janeiro que ele continua a investir no tráfico de escravos em Angola, graças a uma rede de associados entre os quais um outro brasileiro de nome Bento Pacheco dos Santos. Por causa das suas actividades, ele é  expulso do Brasil, e retorna a África e retoma seus negócios. Durante a década de 1850, organiza remessas de escravos para Cuba. Em 1853, as autoridades declararam que Teixeira era "um comerciante de longa data em Benguela, mas partira para o Rio de Janeiro em 1846, onde acumulara considerável fortuna através da especulação ilícita com o tráfico de escravos até" quando o governo imperial [brasileiro] o obrigou a deixar o país.




 PORTUGAL  PIONEIRO DO ABOLICIONISMO:

Em 1570 o Rei D. Sebastião decreta a abolição da escravidão de ameríndios (Índios da América) em território sob domínio português, medida que foi influenciada de forma decisiva pela Companhia de Jesus.

Em 1595 o Reino de Portugal proíbe o tráfico de escravos chineses.

Em 1761 no reinado de D. José I, o Marquês de Pombal decreta a abolição da escravatura de negros e indianos nos seus territórios ultramarinos.

No ano de 1600, a Espanha detinha o monopólio sobre o comércio de escravos, segundo o qual se comprometia a fornecer escravos às possessões espanholas;

Em 1640, tal monopólio passou para as mãos dos holandeses, activos nas ilhas de Cabo-Verde, particularmente, em São Tomé, em Loango-Cabinda, no Porto de Pinda no rio Zaire, no rio Cuanza e porto de Luanda.

Em 1701, o monopólio passou para os Franceses, a França, com os mercadores de Nantes, estavam, cada vez mais, activos na Costa dos Escravos, no Senegal, na região de Camarões e em Loango (Cabinda) e Ambriz.

No ano de 1713, após a guerra da Sucessão da Espanha, o monopólio foi atribuído a Inglaterra, que se tornou assim o maior mercador de escravos do mundo. Ao longo do século XVIII, a Inglaterra afirmou-se progressivamente como o país que estabelecia as ligações económicas mais estreitas com a costa africana. A sua influência foi sentida do Senegal até aos confins de Camarões, em Angola no Loango-Cabinda, na foz do Zaire, e Ambriz.

Os ingleses não foram os únicos protagonistas europeus nessa cena, durante o século XVIII a política real britânica permitiu aos franceses serem donos de escravos nas Américas.

Ao longo do século XVIII, o fornecimento de mão de obra negra para as Antilhas holandesas, britânicas e francesas e crescera consideravelmente, assim como em Cuba sob domínio espanhol. Esses números testemunham uma mudança radical de atitude, ainda que progressiva, dos europeus para com a África. Aos olhos deles, esse continente deixou de ser uma rica fonte de ouro para se tornar, antes de tudo, um reservatório de mão de obra, sem o qual seria pura e simplesmente impossível a criação e a exploração de numerosos e grandes domínios europeus na América. Essa mudança tornou-se totalmente evidente por volta de 1700. O rápido desenvolvimento das plantações de cana-de-açúcar e algodão foi a causa principal do enorme aumento da demanda por mão de obra negra.(48 Síntese da HGA — Volume II). 

Facto que levou Portugal pela segunda vez  a proibir o comércio de escravos, por Decreto em 1854, que tal como os anteriores não foi respeitado. Os sobas davam continuidade à captura de escravos destinados ao comércio do tráfico de escravos.


Em 1854, Portugal proíbe pela segunda vez, por Decreto, o comércio de escravos nos seus territórios ultramarinos.

Decreto de abolição da escravatura de 25 de fevereiro de 1869 do Rei D. Luís, em que “fica abolido o estado de escravidão em todos os territórios da Monarquia Portuguesa desde o dia da publicação do presente Decreto”.


Alvará 
 pormenor da Abolição, determinando que os pretos que forem trazidos da América, África e Ásia, sejam considerados livres logo que cheguem aos portos deste reino, sem outra formalidade mais que passarem-lhes nas respectivas alfândegas, a competente certidão de terem nelas entrado. 1761-09-19. Portugal, Torre do Tombo,

                
     
Documento da Lei Áurea. 
A Lei Áurea, oficialmente Lei n.º 3 353 de 13 de Maio de 1888, foi a lei que extinguiu a escravatura no Brasil.       


Reprodução do documento da Lei Áurea (Lei da Abolição da Escravatura) documento emoldurado e exposto no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. 

        


                 Mafoucs caçadores de escravos. 
Foto de José Augusto Cunha Morais, ca. 1870, Collection “Nationaal Museum van Wereldculturen,id,nr. A274-86.

                     Mafuka, comerciante de escravos, de Ambriz. Foto de José Augusto Cunha Morais, ca. 1870, Collection “Nationaal Museum van Wereldculturen,id,nr. A274-86.

  Mafuka, comerciante de escravos, com sua família, da zona do Ambriz. Foto de José Augusto da Cunha Moraes, ca,1880. Collection “Nationaal Museum van Wereldculturen,id,nr.A274-86.

Um Mafuka, comerciante de escravos em Cabinda 1870-1880. Foto de José Augusto da Cunha Moraes.

Comerciante ligado ao tráfico de escravos, com a mulher, em Luanda 1870. 
                                              Foto de José Augusto da Cunha Moraes.

Ao centro uma mulher ligada ao comércio de escravos, no Ambriz.
Foto de José Augusto da Cunha Moraes, em 1880.


             Congo 1850,  cativos ladeados pelo Mafouc  à esq, e um guarda dos pretos à dir.

           
        As chamadas fábricas onde os Mafoucs guardavam os escravos, antes de serem embarcados.



Desde o início os sobas os seus familiares, e os vassalos mais próximos, estavam fortemente envolvidos no comércio e  tráfico de escravos nos quais baseavam o poder, enriquecimento e status social nas tribos. São centenas de milhares de exemplos de  negros  que vendiam negros como escravos, e são centenas de milhares de casos. Até mesmo negros que foram escravos mais tarde se tornaram comerciantes de escravos.  










Últimos países a abolirem"aparentemente"a escravatura, são exactamente países de África:



Zanzibar continuou a traficar escravos até  1897. A Etiópia continuou a traficar escravos  até 1942.  

Arábia Saudita continuou a traficar escravos até 1962. 

A Mauritânia (no noroeste da África, entre o Saará Ocidental e o Senegal) país formado por mouros e negros muçulmanos, continuou a traficar escravos negros capturados por árabes no decurso de guerras até 1981. A abolição aconteceu oficialmente em 9 de Novembro de 1981. E a Lei  que declara o comércio negreiro e escravatura um crime, é aprovada apenas em 2007. Mesmo após a aprovação da lei em 2007,  a escravatura continua a existir nesse país, nos tempos actuais estima-se que 20% da população de 3,2 milhões de pessoas vivam sob o  regime de escravatura. 

A Nigéria foi um dos grandes  bastiões de traficantes de escravos, primeiros com árabes-muçulmanos depois com os  negros que se converteram ao Islão. A Abolição do comércio de escravos na Nigéria ocorreu em 1885 no Sul, no norte do país de 1936 a 1950. No entanto o comércio de escravos e a escravatura continua a existir nesse país. Em 2019, em Kaduna, cidade ao norte da Nigéria, foram descobertos numa cave 500 escravos, homens e crianças acorrentadas e com sinais de tortura. Alguma delas com apenas cinco anos. Na Nigeria foram libertadas 894 menores obrigados a lutar como soldados, incluindo 106 meninas, que lutavam nas fileiras da Força-Tarefa Conjunta Civil (CJTF), um grupo local apoiado pelo governo. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Tanto no sul como no norte da Nigéria, existem muitos exemplos para citar. De acordo com algumas estimativas, no final do século 19, os escravos constituíam cerca de 50 por cento da população em Adamawa.  O emirato de Adamawa foi um dos últimos emiratos no norte da Nigéria a abandonar o tráfico de escravos. Mesmo após a abolição do comércio de escravos, o comércio de escravos em Adamawa, continuou a existir. Os marcadores linguísticos que diferenciam os  rimdinabe (escravos libertos) e seus descendentes de rimbe (pessoas livres) ainda prevalecem em Adamawa até hoje. Sean Stilwell e Heidi Nast também escreveram livros excelentes sobre a escravidão nociva e o concubinato que ocorreram nos emirates no norte da Nigéria, como em  Paradoxos do poder: os mamelucos Kano e a escravidão real masculina no califado de Sokoto 1804-1903  e  Concubinas e poder : Quinhentos anos em um palácio do norte da Nigéria.

Nos estados negros islâmicos, como o Estado Islâmico do Levante e Boko Haram, sequestraram e escravizaram mulheres e crianças. Há mais escravos actualmente do que em qualquer outra época histórica, numa estimativa de cerca de 40 milhões, ou 1 a cada 200 pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho e a Fundação Walk Free.

Durante a Segunda Guerra Civil do Sudão de 1983-2005, pessoas foram levadas à força para a escravidão. No final dos anos 90, surgiram evidências de escravidão e tráfico infantil sistemático em plantações de cacau na África Ocidental. Embora a Mauritânia tenha criminalizado a escravidão em Agosto de 2007, estima-se que até 600 mil homens, mulheres e crianças, ou 20% da população da Mauritânia, estejam actualmente escravizados, muitos deles usados como trabalho por dívidas.  

Embora a escravidão não seja mais legal em qualquer lugar do mundo, o tráfico de seres humanos continua sendo um problema internacional e, conforme dados de 2013, cerca de 25 a 40 milhões de pessoas foram escravizadas, a maioria na Ásia. 

Nos países de África dominados por árabes-muçulmanos, os actuais negros são  descendentes de negros que vendiam negros.                 

Nos tempos actuais a escravidão e o comércio e tráfico de escravos continua a existir e a dar lucro, e os traficantes continuam a serem negros e árabes que utilizam a Líbia como depósito de escravos, onde muitos são torturados e muitos morrem de fome e sede.