Do Padre Francisco Maria Paulo Libermann da Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria «Criador do Moderno Apostolado Africano» :
"A história da Igreja em geral e a das Missões portuguesas em especial, não só não tem necessidade das nossas mentiras ou das nossas lendas, mas nem sequer — diremos com Rémy Palanque — das nossas meias verdades, silêncios sistemáticos ou timoratos, ignorâncias apavoradas, deformações tendenciosas, apologias ineptas, sectárias, despropositadas; a História das Missões portuguesas precisa, sob pena de deixar de ser quem e, de informação inteira, de honestidade escrupulosa. Nem ignorância dos factos e do condicionalismo próprio — político, económico e social — em que se produziram no tempo e no espaço, nem omissões e silencios premeditados de intoxicamento sectário, seja ele político, social ou religioso Luz que rasgue e devasse as trevas, verdade que liberte. Só os oftálmicos intelectuais temem as violências desta luz.
Não têm sido sempre estas as normas adoptadas e seguidas escrupulosamente por quantos se abalançam ao estudo das questões históricas, particularmente da História das Missões portuguesas. Os «silêncios sistemáticos» e de escola, as «deformações tendenciosas» e conscientes, como as apologias e censuras «ineptas, sectárias, despropositadas», têm vezes sem conta arrebatado o passo á «honestidade escrupulosa». Numa palavra só: á Verdade. De justiça é dizê-lo também, nestes últimos anos, mercê de circunstâncias de vária ordem, tem-se procurado arrepiar caminho, têm caído vários na estrada de Damasco, e não poucos buscam ansiosamente as águas recuperadoras da fonte de Siloê. Não temos em mente outra intenção senão correr ao encontro destes sedentos de luz e de verdade, por ofuscantes ou duras que elas sejam. Pode ter havido erros de sistemática, de método ou de realização; mas a verdade é que só não comete erros quem não faz nada e aquelles que nada fazem ou vivem na ansia sempre insatisfeita da perfeição, a si mesmos se inscrevem no rol já volumoso dos absolutamente inúteis". (Da acção missionária de Portugal pode ler In La Vie Intellectuelle, 25 de Dezembro de 1939, pág. 465).
A ligação entre Portugal e a Imaculada
Conceição ganhara destaque em 1385, quando as tropas comandadas por D. Nuno
Alvares Pereira derrotaram o exército castelhano e os seus aliados, na batalha
de Aljubarrota.
Em honra a esta vitória, o Santo Condestável fundou a igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, e fez consagrar aquele templo a Nossa Senhora da Conceição.
‘Estando ora junto em Cortes os três Estados do reino, proclamou-se solenemente tomar por padroeira de nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição’. ‘A verdadeira e única Rainha de Portugal’, exclamou D. João IV ao oferecer a Coroa de Portugal a Nossa Senhora da Conceição, depondo-a aos pés da imagem da Imaculada Conceição.
Por esse motivo os Reis de Portugal desde essa data não usam Coroa. Em ocasiões solenes, a Coroa e o ceptro real eram apenas postos sobre uma almofada, ao lado direito do rei.
Esta provisão régia foi confirmada em 1671 pelo Papa Clemente X na bula papal Eximia dilectissimi, declarou-se que: "Estando ora juntos em Cortes com os três Estados do Reino (...) e nelas com parecer de todos, assentámos de tomar por padroeira de Nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição... e lhe ofereço de novo em meu nome e do Príncipe D. Teodósio meu sobre todos muito amado e prezado filho e de todos os meus descendentes, sucessores, Reinos, Senhorios e Vassalos à sua Santa Casa da Conceição sita em Vila Viçosa, por ser a primeira que houve em Espanha desta invocação, cinquenta escudos de ouro em cada um ano em sinal de Tributo e Vassalagem: E da mesma maneira prometemos e juramos com o Príncipe e Estados de confessar e defender sempre (até dar a vida sendo necessário) que a Virgem Maria Mãe de Deus foi concebida sem pecado original. (...) E se alguma pessoa intentar coisa alguma contra esta nossa promessa, juramento e vassalagem, por este mesmo efeito, sendo vassalo, o havemos por não natural, e queremos que seja logo lançado para fora do Reino; e se for Rei (o que Deus não permita) haja a sua e nossa maldição, e não se conte entre nossos descendentes; esperando que pelo mesmo Deus que nos deu o Reino e subiu à dignidade real, seja dela abatido e despojado".
Coroa e Ceptro do
Rei D. João IV.
Nos nossos dias grande parte da História que é divulgada e, que, é estudada pelos nossos adolescentes, foi escrita ou é ensinada por "esquerdistas" e "maçons" inimigos da Igreja Católica que, tendenciosamente, ocultam a verdade, e tentam por todos os meios denegrir os valorosos feitos por Portugal e seus Navegadores na Missão de darem Testemunho de Jesus Cristo e espalharem a Fé Católica no acto de civilizar.
Não nos esqueçamos de que, os valorosos Navegadores portugueses encontraram povos selvagens, cruéis, em África como no continente americano, onde a magia negra, a antropofagia e o sacrifício humano eram uma prática realizada no contexto de certos cultos praticados por Negros, Astecas, Incas e Maias, oferecendo sacrifícios humanos aos seus “deuses” (leia-se “demónios”) assassinando com requintes de selvajaria os membros das tribos que dominavam, escravos e membros de outras tribos, as vítimas desses rituais pagãos, geralmente, eram recém-nascidos, crianças, adolescentes, mulheres e homens jovens. Povos que não tinham o mínimo conhecimento entre o bem e o mal e, muito menos uma noção de ideia sobre a existência de Deus, a quem os portugueses levaram o Testemunho de Cristo, a escolarização e a civilização. Este valoroso acto, senão mesmo, heróico, em levar o cristianismo e a Palavra de Deus no acto de civilizar povos selvagens, ao longo dos séculos, exigiu dos missionários e de outros homens de Fé: coragem, sacrifícios, sofrimento, abnegação pela própria vida, renúncias à sua família e ao conforto da civilização.
Entre milhares de testemunhos descritos em livros, poderemos ler "Epistola ad Langravium Hassiæ-Rheinfeldtium" do Padre Jesuíta belga Cornelius Hazart. Com especial atenção ao papel do cristianismo e dos missionários na África Oriental, Central e Ocidental. Abissínia (Etiópia), Congo/Angola. Américas do Norte, Central e América do Sul; Peru, México, Paraguai e "Maragnan" (actual Brasil). Mártires que levaram o Testemunho de Cristo ao mundo.
Através de documentos da História do Kongo, verificamos que o território que, por portugueses viria a ser Angola, predominava apenas a fauna selvagem, até, ocorrer as invasões Jagas.
Cerca de 1340 aparece a primeira tribo Bantu do Mwene Mpangala oriunda do centro de África, e se instala na montanha do Kongo e denomina-a "Moongo Koongo".
Em 1390 os Jagas iniciam a invadir o território, com eles foram chegando várias tribos Jagas oriundas do centro africano. Foram chegando também tribos não Jagas que se dedicavam ao pastoreio e se foram espalhando pelo território.
Os Anziku (Jaga) originários da Abyssinia, nas terras altas da Ethiopia, desceram em direcção ao centro ocidental, costa e sul de África. Ao longo do percurso foram-se instalando em Manyema (Una-Ma-Nyema, comedores de carne), perto do lago Stanley Pool no sudeste do rio Congo, na parte mais meridional do Gabão e na África Central (actual República do Congo e uma parte no oeste da República Democrática do Congo), onde criaram os sobados Anziku também chamado de Teke, Tyo ou Macoco desconhece-se o ano que o sobado foi fundado.
Em Loango e no Kongo os Anziku adquiriam a denominação Bakongos (significa Anzikus do baixo Kongo).
Negros cruéis, de bárbaros costumes, de rituais sangrentos de extrema crueldade, que praticavam largamente canibalismo, e adeptos de práticas de idolatria. Eram elemento desagregador das populações centro-africanas, odiavam trabalhar, obtendo os produtos através dos ataques às tribos onde faziam saques e razias, os sobreviventes eram capturados e levados para rituais de oferenda aos deuses (leia-se demónios), outros eram vendidos aos árabes comerciantes de escravos ou levados para a costa para serem trocados por búzios usados como moeda de troca entre os indígenas.
Motino Bene, lido Motino Üene, cujo nome pessoal pode ser reconstruído como Ntinu Wene, Lukeni lua Nimi, ou ainda Dya Ntotila, chefe tribal Anziku oriundo dos grandes Lagos desceu com sua tribo para a costa e instalou-se a norte do rio Congo/Zaire, onde criou o sobado Vungu pronunciado "Bungu" no Maiombe. Motino Üene (Dya Ntotila) derrotando tribos, saqueando e matando as populações. Apoderando-se dos territórios submete as tribos derrotadas à sua autoridade, e passa a dominar os sobados: Vûngu (Bungu), Mpangu, Nsundi, Lwangu (Loango), Kakongo, Nsongo, Nsuku, Mpumbu, Ngoyo, Mazînga, Kinânga, Mbînda, (Kabinda), Yômbe, Kibângu, ao norte.
Não se sabe quantos anos ele tinha, nem quando o sobado Vungu foi fundado. Lukeni lua Nimi ou Dya Ntotila deixou para trás Vungu, foi avançando ao sul, durante o percurso a tribo dividiu-se em grupos, destruindo e saqueando as aldeias que encontravam à sua passagem, matando as populações e capturando os sobreviventes que eram integrados aos grupos ou para serem trocados como escravos ou sacrificados.
Foi a primeira tribo Anziku a invadir o Kongo que, teria ocorrido em 1390, segundo cálculos observados pelos portugueses pelas alusões do soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga a Nkuwu, em kikongo), por baptismo João Nzinga a Nkuwu, descendente desta tribo viria a ser o quarto soba Manikongo, de 1470 a 1506. Os indígenas não tinham o mínimo conhecimento e, muito menos uma noção de ideia de registos, datas, nem da idade. Os registos que temos, iniciaram pelos primeiros portugueses, missionários e autoridades portuguesas a partir de 1482.
Em 1535, o Padre António Brásio faz referência a Vungu e ao soba Ntinu Wene, em "ed. Monumenta Missionaria Africana".
Em 1624 o Padre Mateus Cardoso redigiu as tradições no sobado do Kongo, e cita "Bungu"como local onde Ntinu Wene era o chefe tribal em Vungu ou Bungu antes de atravessar o rio Zaire para invadir o Kongo. O Jesuíta quase não tocou na centralidade de Mbata que dominava a descrição de Duarte Lopes em 1578, mas concentrou sua atenção em Ntinu Wene.
Um povo que se precipitava como uma torrente sobre o vale, varrendo os rebanhos, manadas e populações; e infestam a costa até à Serra Leoa. Adeptos da idolatraria, feitiçaria e canibalismo, estão sempre em guerra, as tribos não Jaga são suas presas fáceis, os sobreviventes eram capturados para serem trocados como escravos ou sacrificados aos deuses (leia-se demónios).
No início do século XVI atravessam o rio Congo/Zaire, invadem o Kongo e disseminaram-se por todo o território que viria a ser Angola.
Os Xindonga, termo para designar quatro tribos: Mbukushi (Kusus ou cussos), os Diliku, os Sambiu e os Maxicos, que se instalaram no extremo sudeste de Angola.
Os Nyanekas ou Vanyanekas atravessando o alto Zambeze, entraram pelo sul de Angola, e instalaram-se no planalto da Huíla.
Os khoisan (Coissã) de etnia bantu, também conhecidos por boximanes, bosquímanos, hotentotes, abandonam o deserto Kalahari (Calaári), entram pelo sudoeste de Angola e instalam-se o longo do rio Cunene.
Eram elemento desagregador das populações centro-africanas. A partir do estudo dos rituais dos Jagas na “Istorica descrizione do Congo, Matamba et Angola”, de autoria do missionário capuchinho Giovanni Cavazzi de Montecúccolo, nos testemunhos de Duarte Lopes. Tais rituais serão confrontados com as descrições a respeito dos Jagas nas guerras na selva africana durante o processo da conquista portuguesa em Matamba, Dongo (Ndongo, em kikongo) Dembos, Massangano, Cassange.
O soba manikongo Nzinga Nkuwu (João) era adepto dos rituais Jagas e os praticava: idolatraria aos seus deuses (leia-se demónios), prática de fetiches, canibalismo, a cerimónia do “sambamento” ritual Jaga que consistia na decapitação de escravos ou daqueles que não eram da sua simpatia, seus vassalos ou membros de outras tribos que atacava e onde fazia razias, os sobreviventes eram capturados para escravos outros eram destinados para rituais sanguinários Jaga de oferenda aos Nkisis.
A banza do soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu)
em 1490, segundo observação dos portugueses e dos missionários, o
Kimbo na montanha, então, chamada Banza Kongo (Mbanza Kongo, em kikongo), era constituído pela cabana do soba manikongo, as cabanas dos
seus familiares, dos seus guardas de confiança, e dos seus escravos, a restante
população da tribo vivia do lado de fora da cerca e era-lhes proibido o acesso
ao Kimbo ou banza do soba.
"Os 4 kongoleses que Diogo Cam levou para o Reino de Portugal, no ano 1486, e do qual era principal o negro Caçuta como embaixador de Congo, no Convento de São Francisco em Beja recebeu o Baptismo e o nome de João de Sousa, igualmente foram baptizados os outros congoleses da sua comitiva, com grande solenidade em Beja, foram padrinhos o Rei D. João II e a Rainha D. Leonor, assim como outros titulares.
Achando-se agora já todos doutrinados nos Mistérios da Fé Católica, o Rei D. João II determinou mandá-los de volta ao Congo. Satisfazendo igualmente os pedidos do soba manikongo Nzinga a Nkuwu, solicitados por intermédio do Navegador Diogo Cam. O soba Nzinga a Nkuwu, solicitava ao Rei D. João II de Portugal: "estabelecimento de relações de amizade e de carácter de evangelização e da civilização da terra e das gentes".
Em 1486, o Navegador e Capitão Diogo Cam (Diogo Caão) regressa ao Kongo cumprindo a sua palavra em devolver os 4 kongoleses, levados para o Reino de Portugal, onde foram cuidados e educados no Convento em Beja, aprenderam a falar português, a ler, a escrever e receberam o Baptismo. Seriam os primeiros interpretes da língua portuguesa entre o Reino de Portugal e o Kongo. o soba Nzinga Nkuwu ao ver os kongoleses bem tratados, bem vestidos, calçados, saberem ler, escrever, falar português, e contarem a civilização e cultura encontrada no Reino de Portugal, viu na civilização portuguesa um modelo a seguir como uma estratégia de superioridade e de afirmação junto às demais tribos locais. E decide enviar um grupo dos seus vassalos com o Navegador e Capitão Diogo Cam, para pedir ao Rei de Portugal ajuda para civilizar o seu kimbo ou sobado e manifesta vontade de ser Baptizado. São assim estabelecidas as primeiras relações entre o Reino e Portugal e o Kongo.
D. Gonçalo de Sousa levava um rico e magnífico presente do Rei de Portugal para o soba manikongo Nzinga Nkuwu e seus familiares. A expedição missionária partiu de Lisboa a 19 de Dezembro de 1490, e próximo a Cabo Verde faleceram por doença: o Comandante D. Gonçalo de Sousa, a seguir morreu o Caçuta (João de Sousa), e outro kongolês já cristão, o que causou grande consternação, e assim, chegam à Ilha de São Tiago, onde, por intervenção do seu Governador Fernão de Goes, foi elegido Ruy de Sousa para Comandante da Expedição, primo irmão de D. Gonçalo de Sousa, que ia na expedição como passageiro. Seguindo dali viagem, após três meses de viagem de muitos perigos e trabalhos, a 29 de Março de 1491 chegaram à baía de Diogo Cam que fica por detrás da ponta do Padrão, no rio Zaire. O Mani N'soyo, chefe tribal da localidade, acompanhado dos seus vassalos foram receber os portugueses com grandes festas e contentamento. O comandante Ruy de Sousa à frente dos homens da sua Esquadra recebeu-o na praia e viu nele o desejo de ser Cristão e ser Baptizado primeiro que o soba manikongo Nzinga a Nkuwu.
Em M'pinda (Pinda), os portugueses Iniciaram a construção de uma Igreja, tosca, de madeira, para a celebração dos Baptismos, e algumas pequenas casas para sua morada. Ao mesmo tempo que davam início à catequese, tão solicitada, do Cristianismo".
"1490, e chegando lá em 1491 conseguiu trazer logo ao gremio da Igreja Catholica o soba, a mulher e o filho agora com nome Afonso, e muita parte da dos vassalos, daquele povo bárbaro, e construir-se desde logo na Cidade Capital Ambasse, depois S. Salvador dedicada a Cristo o Salvador, a Igreja Catholica de Santa Cruz, e uma Fortaleza com seu Feitor e Alcaide, e gente de ordenança na foz do Zaire: do que resultou uma grande frequência, e trato vantajoso dos Portugueses com aquele território, cujo ensino e civilização El Rei D. Manoel, sucessor do Príncipe Perfeito, tomou tanto a seu cuidado, que no ano de 1504 — «determinou mandar ao Congo homens letrados na sacra Theologia, com os quais mandou mestres de ler, e escrever, e outros para la ensinarem o Canto da igreja, e musica do canto d'orgão etc. Muito fruto ia produzindo naquelas partes o ensino destes mestres; e muito maior se esperava dos moços filhos dos sobas, daquela barbara província, que vinham educarem-se a Portugal, os quais o magnifico Soberano de Portugal os mantinha à sua própria custa, e os repartia por mosteiros, e casas de pessoas doctas, que os ensinassem nas coisas da fé, estudos de philosophia, boas artes e costumes; mas em quanto estas tenras plantas de solo Africano se aclimavam tão bem na nossa civilização Europeia, que algum houve (como diz elegantemente o nosso Frei Luiz de Souza) que sendo azeviche nas cores foi um cristal em vida, e alma, os seus semibarbaros pais, e parentes, atolados".
"(5) João de Barros — Dec. 1." Liv. III... Garcia de Resende — Chronica d'ElRei D. João II. — desde o Cap. 155 até o Cap. 161 .... a Chronica do mesmo Rei por Ruy de Pina — Ineditos d'Historia Portugueza — Tomo 2.° de pag. 144 a pag. 172.... ; e a Historia de S. Domingos por Frei Luiz de Sousa — Parte 2.° — Liv. 6.°
Após a cerimónia do baptismo, seguiram-se festejos, os padres acompanharam o Manisoyo até Mpinda em procissão com Cruz erguida, discursaram contra as idolatrias pagãs e superstições, seguidamente o Manisoyo (Manoel) mandou queimar todos os ídolos e destruir as casas dos fetiches.
A expedição civilizadora seguiu para a montanha onde residia o soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu), dispondo de 200 homens cedidos pelo Manisoyo, que receberam o Baptismo em M'pinda, para carregarem os presentes e as arcas, além dos que levavam os mantimentos e garantiam a segurança. A estes juntaram-se os kongoleses que tinham regressado de Portugal, servindo como interpretes ao mesmo tempo ajudavam os Missionários nas missas e Baptismos. Demorariam 26 dias para chegarem à Banza do soba Manikongo, sendo recepcionados no caminho pelos chefes locais. Ao se aproximar de banza Kongo, dia 29 de Abril, a expedição foi recebida com entusiasmo, e um membro da família do soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu) levou presentes para o embaixador Ruy Pina. E iniciou a acção de evangelização.
Garcia de Resende cavaleiro da Ordem de Cristo e fidalgo da Casa Real, e Ruy de Pina embaixador do Rei e cronista, escreveram que a invocação desta Igreja foi de Santa Maria; mas o Orago foi na verdade (como se lê em Barros, e Frei Luiz de Sousa) — Santa Cruz, — e a primeira pedra foi posta a 3 de Maio de 1491, — e a cidade chamou-se S. Salvador, em veneração a Cristo o Salvador.
No mesmo dia 3 de Maio de 1491, dia de Santa Vera, com a presença de Garcia de Resende, Cavaleiro da Ordem de Cristo e fidalgo da Casa Real-, Ruy de Sousa embaixador do Rei -, os missionários e a guarnição da expedição, e população; Dom Frei João 'Vigário geral dos missionários' com grande solenidade Baptiza o soba Manikongo, que a seu pedido lhe foi dado João, segundo ele em agradecimento ao Rei de Portugal Dom João II. Seguindo-se o baptismo do seu filho Mvemba Nzinga que recebeu nome Afonso, e o baptismo dos habitantes de banza Kongo. Por falta de uma Igreja em Banza Kongo (Mbanza Kongo, em kikongo), os baptismos foram realizados em espaço aberto.
O Padre Dom Frei João 'Vigário Geral dos missionários' Baptiza o soba manikongo Nzinga a Nkuwu que teve nome João, segundo ele em homenagem ao Rei Dom Joao ll de Portugal. Seus dois filhos Mvemba Nzinga, e Mpanzu a Kitima assistem à cerimónia do baptismo, Mvemba Nzinga segura o toucado do pai feito com fibras de palmeira (palha) com uma espécie de crina a pender do toucado, quis receber o Baptismo e teve nome Afonso, Mpanzu Kitima segura a lança, recusou ser baptizado.
A 6 de Maio de 1491, em M'banza Congo, os portugueses iniciam a construção
da Igreja da Santa Cruz, (foi
a primeira Igreja construída em pedra e cal no Hemisfério Sul). Enquanto
decorriam as obras a pedido do soba Manikongo João
Nzinga Nkuwu o espaço foi “vedado” aos habitantes. Quando Nzinga Nkuwu autorizou os
seus vassalos irem ao centro de M'banza, onde estava a obra, o povo ficou muito
admirado por ver uma bela Igreja que ninguém tinha visto
anteriormente. De pedra e cal, grande
e espaçosa, os cónegos e clérigos cantavam nela o ofício. Tinha
sido construída em tempo recorde, ou seja, de 6 de Maio a 6 Julho
do mesmo ano.
Em seguida os portugueses iniciaram a construção da cidade: um palácio para o soba Manikongo, Igrejas, uma fortaleza, um convento, um bairro para os vassalos mais próximos do soba, e um bairro destinado aos Portugueses. O soba Manikongo Nzinga Nkuwu para impedir que os povos das tribos vizinhas, tivessem acesso à cidade, mandou construir uma grande muralha, de aproximadamente 4,5 a 6 metros de altura e com a espessura de cerca de 75 a 90 centímetros que fechava a cidade. O palácio do soba, as igrejas, os conventos, as residências, estavam construídas em pedra e cal e cobertas por telhas. M'banza Kongo (significa, o kimbo onde vive o Soba) foi mudado para São Salvador, dedicada a Cristo o Salvador.
[De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].
Soba Mani-kongo Zinga Kuwu (João).
O escravo favorito do Soba Mani-kongo Nzinga Nkuwu.
Afonso Mvemba Nzinga, da tribo kanda, filho do soba Mani-kongo João Nzinga a Nkuwu, era um aluno aplicado dos missionários portugueses que eram enviados ao Congo, com quem aprendeu a ler e escrever, tornando-se conhecedor dos princípios da religião católica e da história de Portugal.
Presumível imagem de Afonso Mvemba Nzinga.
Função de uma Missa em banza Kongo, assistida pelo Manikongo Nzinga Mbemba.
num ritual, encenado, denominado "sambamento" ritual Jaga de decapitação.
Um Missionário capuchinho realiza o primeiro casamento católico no Kongo.
Após a morte do Manikongo João Nzinga
Nkuwu em 1509, o filho Mpanza Kitima apresentou-se
como sucessor, ele baseava-se na escolha do
culto pagão dos tradicionais chefes tribais, e Afonso Mvemba
Nzinga baseava-se no direito católico e representante do partido
cristão, na luta pela chefia do Kongo Afonso Mvemba Nzinga reuniu os seus
vassalos e formou um exército, e envergando os seus trajes primitivos da sua
tribo afrontou e derrotou o seu meio-irmão Mpanza a Kitima, que morreu no
confronto. Após ter morto o
irmão, Afonso Mvemba Nzinga assume a chefia do Kongo.
Afonso Mvemba Nzinga, mais conhecido pelo nome cristão Afonso, na continuidade das relações de amizade e ajuda de Portugal. Envia uma carta ao Rei D. Manuel I a pedir envio de missionários, já que os missionários enviados anteriormente tinham sido expulsos pelo pai, Nzinga Nkuwu (João) após renegar a religião cristã e o baptismo, como por seu irmão Mpanza a Kitima e sua tribo.
Um dos problemas da assimilação ao Cristianismo era o tradicional culto pagão dos fetiches.
Mvemba Nzinga (Afonso), inspirando-se no Regimento da Embaixada de Simão da Silveira, viu um modelo a copiar e introduz uma série de modificações internas no Kongo, iniciando com a proibição do culto pagão, e o Cristianismo passa a ser a religião oficial do Kongo. Construindo, assim, o Kongo Cristão sob sua égide.
Essa carta conta um episódio que segundo ele se teria baseado no acontecimento ocorrido com o Rei D. Afonso Henriques de Portugal, que venceu os mouros na Batalha de Ourique em 1139, dando origem ao Reino de Portugal.
Afonso Mvemba Nzinga, chamado o apóstolo do Kongo, foi o responsável pela consolidação do Kongo durante o seu governo de 1509 a 1543. Alguns dos seus vassalos mais próximos eram já alfabetizados. Afonso Nzinga dando continuidade ao Cristianismo, tentou dar início à formação de clero no Kongo. No retorno dos navios ao Reino de Portugal, Afonso Nzinga enviou para Lisboa mais congoleses para estudar. Entre estes, sobressai o seu filho Kinu a Mvemba, baptizado com nome Henrique, e um sobrinho de nome Rodrigo de Santa Maria, para serem educados no Convento dos Lóios em Lisboa. Henrique Kinu a Mvemba, foi ordenado padre no convento de Santo Elói em Lisboa, e em 1518 o Papa Leão X nomeou Henrique Kinu a Mvemba, Bispo de Útica (Útica era o nome do território onde o bispo exercia jurisdição espiritual), quando tinha 24 anos, foi o primeiro Bispo negro. Foi enviado para o Kongo e ficou em S. Salvador como auxiliar do Bispo do Funchal que, na altura, tinha jurisdição sobre o Kongo. D. Henrique Kinu a Mvemba, Bispo de Útica, faleceu em 1531. As relações entre o Kongo e o Reino de Portugal foram evidentes e tal facto levou a que houvesse uma correspondência assídua de cartas trocadas entre Afonso Mbemba Nzinga e os monarcas portugueses Rei D. Manuel I e Rei D. João III.
Duas dessas cartas, do soba Afonso Mbemba-a-Nzinga,
(com apontamentos de António Luís Ferronha)
“Senhor. – Desse Reino vai ora Jerónimo de Leão escudeiro criado da casa da rainha D. Leonor que santa glória haja, que por seu mandato e carta nos veio servir, no qual serviço há sete anos que está residente, sem nunca dele sair erro nem coisa que descontentamento nos desse nem contra nosso serviço fosse, mostrando em tudo a boa criação e doutrina que em tantos anos de casa tão real e tantas virtudes recebeu e por este respeito e muito gosto que de seus bons serviços sempre recebemos lhe demos licença para sua ida e visita de sua casa, à condição que cumprindo com a devida referência que a Vossa Alteza como a seu rei e Senhor devem beijar suas Reais mãos nos torne visitar e servir por nossa muita consolação; porque pedimos a Vossa Alteza o queira ouvir nas coisas deste reino a partes de Etiópia. Porque dele melhor que doutra pessoa que a elas viesse pode com verdade ser informado, assim pela antiga experiência que da terra tem, como por ser saber e discrição ser por isso suficiente, o qual Vossa Alteza deve ouvir e crer e haverá por certo o seu serviço o que dele dizemos. E assim pedimos a Vossa Alteza muito por mercê, que se a este Reino houver de mandar alguma pessoa ou criado seu com algum recado a nós, ou encarregado em coisas do seu serviço, seja o dito Jerónimo de Leão, porque a ele pelos respectivos sobreditos e serviços que nos tem feitos, sendo de Vossa Alteza como é daremos mais fé e crédito que a outra pessoa, que a nosso reino venha, além do prazer e contentamento que com sua vinda haveremos e o receberemos de Vossa Alteza em muita mercê. Desta nossa cidade do Congo, a nove dias de Fevereiro, D. João Teixeira a fez de mil quinhentos e trinta”
[Etiópia, a palavra etíope vem do grego e quer dizer cara queimada. Etiópia significa toda a África, ao sul do Saara]. [Arquivo nacional da Torre do Tombo. Corpo Cronológico, Parte I, Maço 44, Doc. Num.78].
Outra carta de Afonso Mbemba a
Nzinga, foi endereçada ao Papa, informando da Embaixada que vai solicitar
obediência, já que, dentro daquilo que tinha estipulado como um programa
católico, Afonso Mbemba-a-Nzinga foi aconselhado pelo rei de Portugal, D.
João III, a prestar obediência ao Papa.
CARTA AO PAPA PAULO III:
“Santíssimo e muito aventurado padre e Senhor Paulo III, pela misericórdia de Deus Sumo Pontífice da santa madre Igreja.D. Afonso pela graça de Deus Rei do Congo Ibungo e Cacongo Engoyo daquém e dalém Zaire, Senhor dos Ambundos e de Angola e da Quissama e Musuaro de Matamba e Mulylu e de Musuco e dos Anzicos e da conquista de Panzo Alumbo, etc. humildemente, como rei fiel cristão e filho obediente a Santa madre Igreja beijo os pés de vossa santidade a quem faço saber eu com muita e principal parte da gente e povo de meus reinos e senhorios, pela benigníssima e imensa misericórdia do muito alto senhor Deus, viemos em conhecimento e notícia da santa fé católica lei de Jesus Cristo nosso salvador e havemos recebido o sacramento do santo baptismo que nosso senhor por sua santíssima misericórdia quis que recebêssemos. E daí em diante aquele fruto que nossa fraca e nova ensinança sofrer pude acerca dos divinos ofícios e cerimónias eclesiásticas com aquele esforço e eficaz vontade e aviamento que a nós possível foi para o acrescentamento da nossa Santa Fé e serviço de Deus pelo qual muito santo e muito bem aventurado padre como eu seja Rei fiel cristão e crente nas coisas da nossa fé Santíssima e filho obediente da santa madre Igreja há muito tempo que procuro e desejo eu e os meus sucessores e meus Reinos e Senhorios sermos recebidos com a graça, favor e ajuda de vossa Santidade e da Santa Fé apostólica para alcançar haver e possuir de vossa Santidade e da Santa Sé apostólica aquelas graças e dons espirituais que os outros reis e príncipes cristãos recebem, hão e possuem para saúde das almas e acrescentamento da nossa Santa fé, para sermos eu e estes cristãos espiritualmente ajudados favorecidos e encaminhados com os sacrifícios e todos os outros sufrágios da Santa madre Igreja, a fim que a fé de Cristo nosso salvador seja nestas partes cada vês mais acrescentada. E hora envio de novo a vossa santidade e a santa sé apostólica meus embaixadores legados e procuradores D. Manuel meu irmão, do meu conselheiro principal representador de minha pessoa e real Ceptro, e D. Afonso meu sobrinho de irmão por segunda pessoa e Francisco Mucio Camerte (?) doutor, meu orador e língua e D. Afonso meu sobrinho de mais longe e D. Henrique meu sobrinho de Irmão, pessoas em que eu confio para que todos ou cada um deles sendo o superior impedido em meu nome e de meus sucessores dêem a vossa santidade e Sé Apostólica aquela obediência que como rei católico cristão e povo fiel lhe devemos, peço a vossa santidade que benignamente minha embaixada e embaixadores queira receber e graciosamente ouvir e dar crédito no que de minha parte lhe disserem. E que com aquela liberalidade que vossa santidade e sé apostólica sabe usar com os outros reis e príncipes cristãos conceda aquelas graças e indulgências, liberdades e privilégios que para mim e meus sucessores, Igrejas, mosteiros, clerezia e povo destes Reinos… Justamente lhe pedirem. Muito Santo e muito bem aventurado padre e Senhor o verdadeiro Deus nosso senhor a vida e o estado de vossa Santidade conserve a seu serviço por muitos anos escrita na minha cidade do Congo aos vinte e um de Fevereiro D. João… a fez ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e trinta e dois."
Afonso Mpemba a Nzinga baseou o seu poder e riqueza no comércio de escravos, tal como todos os seus sucessores. A competição tribal pela sucessão ao poder tornou-se uma característica feroz no Kongo. O próprio jogo do Manikongo Afonso Mvemba Nzinga para o poder foi intenso, envolveu uma guerra cujo desfecho foi a morte do irmão. No entanto, sabe-se como ocorreu a luta pelo poder que se seguiu à morte de Afonso Mvemba Nzinga no início de 1543. A chefia do Afonso Mvemba Nzinga, foi a mais longa da história do Kongo, compreendendo o período de 1509 a 1543. Durante a sua vida baseou o seu poder e riqueza no comércio de escravos.
Com a morte de Afonso Mvemba Nzinga em 1543, chegou ao fim um período de paz e prosperidade no Kongo que durou cinquenta anos.
Os portugueses na capital do Kongo, S Salvador, continuam, no entanto, a embelezar a cidade que, com as suas largas avenidas ladeadas por palmeiras, as suas belas construções de pedra e as suas muitas igrejas, se assemelha cada vez mais a uma cidade portuguesa. O que a tornava alvo da cobiça das tribos, uma batalha pelo poder começa imediatamente entre as várias tribos rivais.
São Salvador.
Gravura de A. Montanus (van den Berg) Amsterdam-1571.
A relação tão amistosa que o Rei D. Manuel I (1495-1521) construiu e manteve com o católico Manikongo Afonso Mvemba-a-Nzinga (1506-1543), iniciou a ser diluída no reinado de Dom João III. Embora a Coroa de Portugal e o Kongo tivessem uma aliança e concordassem regularmente, uma relação estável e calma, que correspondia regularmente através de cartas que continham informações vitais sobre as relações e trocas internas do Kongo. Essas cartas afirmavam que Afonso Mpemba a Nzinga solicitava soldados portugueses, porque os seus eram covardes e incompetentes, e os mercadores estrangeiros de escravos incentivavam à desobediência aos portugueses. Entretanto, Afonso Mpemba a Nzinga criou ele próprio um comércio de escravos que desenvolveu como um legado à sua família, acto que dividia a classe dominante do Kongo.
Afonso Mvemba Nzinga deixa seu filho Pedro Nkanga Mvemba como seu sucessor, que assume o poder de imediato, em 1543. Ele fazia parte de uma facção kanda conhecida como Kibala (Quibala) facção de um sobado no Kongo que tinha raízes na tribo Kilukeni. As tribos Mpanzu ocuparão o norte, a estas tribos se juntarão as tribos: Kilukeni, Lukeni, Kwilu, Kanda, Nsundi, Kinkanga, Kinlaza, Kimpanzu. As tribos Nsaku ocuparão o centro; as tribos Nzinga ocuparão o sul […] independente dos chefes tribais pertencerem a estes territórios. Houveram Sobas Mani-kongo que eram de tribos em Kinshasa e de outras tribos vizinhas ao território.
Embora o Mani-Kongo Afonso Mvemba Nzinga durante o seu governo e como resultado da influência portuguesa, tenha expandido o Catolicismo no Kongo, e tenha criado um modelo para a Igreja Católica Romana no Kongo. Os chefes tribais aliados do Diogo Mpudi Nzinga defendiam a tradição dos seus ídolos e feitiçarias. Era pouco sólida a fé cristã deste sucessor de Afonso Mvemba Nzinga, como a de muitos outros, ainda apegados ao velho gentilismo, e uma desatinada e irracional destemperança em comer e beber até perder o juízo.
Era já assim a situação do Kongo, Diogo Mpudi Nzinga quando, mais para se firmar no poder, que por um puro sentimento religioso, enviou o Padre secular Cornélio Gomes (Diogo Gomes) natural da terra, mas filho de pais portugueses, e seu confessor, a El-Rei de Portugal a pedir missionários que ali escasseavam. Ao chegar Portugal estava a Companhia de Jesus, plena de vigor e vida, como todas as congregações religiosas nos seus primórdios. Era bem vulgar e justa a fama de virtude e zelo apostólico dos seus membros, recrutados com rigor e escrúpulo entre indivíduos de profundos sentimentos religiosos. Estavam, naturalmente indicados, mais que ninguém, para a árdua tarefa de apaziguamento no desvairado Kongo.
— O padre Diogo Gomes, nascido no Kongo, filho de portugueses, ingressou na Sociedade em 1549 com o nome de Cornelius Gomes, tornando-se provavelmente o primeiro jesuíta africano da história, (falecido em 1560).
A 15 de Agosto de 1555, chegou a Lisboa o Padre Jesuíta Cornélio Gomes (Diogo Gomes) terminando assim a primeira missão dos jesuítas no Kongo. Em 1556, em Évora o Padre Cornélio Gomes publicou o primeiro catecismo em kikongo, para ensino do catecismo aos indígenas, exemplo seguido por outros missionários. Seguiram-se ainda outros catecismos publicados em kibundu e em umbundu.
Sobre os eventos que antecederam e seguiram a destituição de Pedro Nkanga Mvemba e sua tentativa fracassada para recuperar o poder, foi feito um inquérito, mostrou que Pedro Nkanga Mvemba tinha muitos amigos no Kongo e que havia confederados que desejavam ajudá-lo. Muitos ocupavam os primeiros cargos, estavam relutantes em oferecer qualquer ajuda por temerem que Diogo Mpudi e seus aliados os destituísse do cargo. Uma cópia do inquérito sobreviveu nos arquivos portugueses e foi publicada em 1877 por Paiva Manso (1º Visconde).
Na ilha do Cavalo onde há cerca de um ano estão refugiados o Manikongo Álvaro Lukeni Mvemba e os seus companheiros, a situação está se deteriorando dramaticamente. Há falta de comida e a doença irrompe e se espalha rapidamente. Álvaro Lukeni Mvemba adoece; não de malária, com hidropisia, doença da qual sofrerá pelo resto de sua vida. Enquanto os refugiados passam fome, os traficantes de escravos chegam de São Tomé. O que acontece a seguir, informa-nos Duarte López: “O preço de uma pequena quantidade de comida subia para o que se pagaria por um escravo que fosse vendido por pelo menos dez coroas. Movido pela necessidade, o pai vendeu o filho e o irmão vendeu o irmão; todos cometem os crimes mais terríveis só para conseguir alguma coisa para comer.” A comida é descarregada, os filhos e irmãos fracos e semi-mortos de duques, marqueses e barões são trasladados em barcos a remos e levados rio abaixo até onde estão ancoradas as caravelas de São Tomé. A carta sobre o decreto de escravidão do Manikongo Afonso Mvemba-a-Nzinga (1506-1543), ainda é observada na venda de escravos por ambas as partes. “Os fugitivos são vendidos para saciar a fome dos outros, para escapar de mais miséria”.
A satisfação ao pedido do Manikongo Álvaro Lukeni Mvemba ao Rei Dom Sebastião de Portugal, não teve grande demora; "4 anos antes da partida da nova expedição de Paulo Dias de Novais", o Comandante Francisco de Gouvêa, da ilha de São Tomás (ilha do Corvo-Açores), parte de Lisboa com uma força expedicionária de mais de 600 soldados portugueses em socorro de Álvaro Lukeni Mvemba, para recapturar o Kongo aos Jagas.
Chegando ao Zaire no fim desse mesmo ano, o Comandante Francisco de Gouvêa com os soldados portugueses seguem com o Manikongo, seus familiares que o acompanhavam e seus partidários. O Comandante Francisco de Gouvêa com os seus homens seguem por terra adentro, e foram levando por diante a derrota dos invasores, combatem os Jagas em todo o Kongo e recuperam a capital destruída após um ano e meio de guerra contra os Jagas, conseguindo de novo colocar o Álvaro Lukeni Mvemba na posse de São Salvador.
Assegurando a ilha de Loanda, onde a pesca do Zimbo (conchas) constituía a riqueza do Kongo.
Kongo, Ilustração [De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].
Kongo, Ilustração [De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].
“O Kongo era um extenso território governado por um chefe tribal, soba, a que chamavam Mwene Kongo (Manikongo, em kikongo). As zonas eram demarcadas pelos cursos de água dos rios, nascente e desembocadura, nos transportes e bens e pessoas, a orografia do terreno, entre outras características igualmente importantes. Na discrição de Duarte Lopes o território do Kongo, era o seguinte: “Ora, do cabo de Catarina começa, da banda do norte, o outro extremo e lado do Congo, e, correndo sobre o levante, chega a confluência do rio Vumba com o Zaire, na distância de mais de 600 milhas. Além da qual fronteira, para o norte, e sob a linha equinocial, a beira do Oceano e por dentro do sertão obra de 200 milhas, (…)”
A Leste, o Kongo era limitado da seguinte forma: “O lado oriental do Congo começa (como é dito) da confluência do rio Vumba com o Zaire, e, seguindo uma linha, tirada para o meio-dia, igualmente distante do rio Nilo, que fica a esquerda, toma pela serra altíssima e despovoada nos cumes chamada dos Cristais: visto haver nela grande quantidade de cristal de roca e de ponta e de toda a sorte; e, passando adiante, abraça os montes chamados do Sol, porque são muito elevados, sem, porém, nunca neles nevar jamais, nem-se produzir nada, antes são sem vegetação e sem árvores. A’mão esquerda, outras montanhas se erguem, que se apelidam de Salitre, porque ali nasce bastante dessa matéria; e, atravessando o rio Berbela, que sai do primeiro lago, aqui finda o antigo termo do sobado do Congo, pelo levante. Assim, pois, a demarcação do Oriente desse sobado vai da confluência do dito rio Vumba com o Zaire até o lago Aquilunda e a região de Malemba, com o espaço de 600 milhas.
Dessa linha, que é lançada pelo confim oriental do Congo, ao rio Nilo e aos dois lagos, dos quais em seu lugar faremos menção, é a distância de 150 milhas, de terreno muito populoso e com bastantes serras, donde se tiram metais diversos e teias várias e panos de palma.”
A Sul, o sobado do Kongo era limitado da seguinte forma: “Acaba este lado (como fica dito) na grande serra chamada da Prata; e aqui tem seu principio o quarto e Último confim do sobado do Congo, pelo meio-dia, ou seja, da dita serra até o golfo das Vacas, para o ocidente, com o espaço de 450 milhas; a qual linha parte o sobado de Angola pelo meio e deixa a mão esquerda os sobreditos montes de Prata; e, além deles, para o sul, o sobado da Matamba, grande e de per si potente, e ora é amigo, ora inimigo de Angola.” (1578, DUARTE LOPES: PIGAFETTA).
À época, o Kongo era pobre, as principais riquezas exportáveis eram o marfim e o cobre de má qualidade extraído à superfície da terra. As armadilhas que os indígenas faziam para os elefantes eram enormes buracos disfarçados com ramos de árvores, onde os elefantes caíam e já não conseguiam sair.
Paulo Dias de Novaes, Fidalgo da Casa Real e de família nobre, 1.º Governador e Capitão-General de Angola, após a edificação da Cidade de São Paulo, denominou o território “Reino de Angola" é quando aparece pela primeira vez a denominação "Reino de Angola" que persistiu de 1576 até cerca 1850.
As grandes plantações em Angola tiveram início a partir de 1700, pelo trabalho e investimento dos portugueses, entre outros bens de consumo: o café em 1822, e o açúcar 1840. Estas plantações exigiam grande investimento. Nas décadas 1840 e 1850, os portugueses António de Magalhães Mesquita e Santos Silva deram início às primeiras plantações de cana-de-açúcar, com grandes perdas iniciais de investimento. E os minerais foram descobertos pelos portugueses entre 1900 e 1960, a exemplo a descoberta dos diamantes em 1907.
“(…) situada junto à casa da missão, é de pau a pique coberta de feltro, está pobre, mas decente, (…) não fica mal que ella esteja despida d’adornos”.
A Igreja de Santa Cruz foi construída a 3 de Maio de 1491, mais tarde é denominada Igreja de Santa Maria. Em 1534 passa a Catedral de São Salvador do Congo.
a primeira cidade construída por portugueses em S. Salvador- Kongo, em 1491.
Vestígios da cidade de S. Salvador no Kongo.
Vestígios dos degraus na montanha que levavam à cidade de S. Salvador.
A 20 de Setembro de 1963, o Presidente de Portugal, Almirante Américo Rodrigues Tomás, na visita oficial à Província Ultramarina de Angola, acompanhado pelo Ministro do Ultramar, António Peixoto Correia, e do General Silvino Silvério Marques, Governador-Geral de Angola, visita as ruínas da Catedral de Santa Maria, onde foi rezada uma missa, a finalizar o acto solene.