AS EXPEDIÇÕES MISSIONÁRIAS PORTUGUESAS (1490-1543).

TODA A ERA DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES FOI NORTEADA E IMBUÍDA DO ESPÍRITO MISSIONÁRIO E DE EXPANSÃO DA FÉ CATÓLICA.


                                                                          À  V E N E R A N D A  MEMÓRIA
                                                           DA ACÇÃO MISSIONÁRIA DE PORTUGAL.

Do Padre Francisco Maria Paulo Libermann da Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria «Criador do Moderno Apostolado Africano» :

"A história da Igreja em geral e a das Missões portuguesas em especial, não só não tem necessidade das nossas mentiras ou das nossas lendas, mas nem sequer — diremos com Rémy Palanque — das nossas meias verdades, silêncios sistemáticos ou timoratos, ignorâncias apavoradas, deformações tendenciosas, apologias ineptas, sectárias, despropositadas; a História das Missões portuguesas precisa, sob pena de deixar de ser quem e, de informação inteira, de honestidade escrupulosa. Nem ignorância dos factos e do condicionalismo próprio — político, económico e social — em que se produziram no tempo e no espaço, nem omissões e silencios premeditados de intoxicamento sectário, seja ele político, social ou religioso Luz que rasgue e devasse as trevas, verdade que liberte. Só os oftálmicos intelectuais temem as violências desta luz.

Não têm sido sempre estas as normas adoptadas e seguidas escrupulosamente por quantos se abalançam ao estudo das questões históricas, particularmente da História das Missões portuguesas. Os «silêncios sistemáticos» e de escola, as «deformações tendenciosas» e conscientes, como as apologias e censuras «ineptas, sectárias, despropositadas», têm vezes sem conta arrebatado o passo á «honestidade escrupulosa». Numa palavra só: á Verdade. De justiça é dizê-lo também, nestes últimos anos, mercê de circunstâncias de vária ordem, tem-se procurado arrepiar caminho, têm caído vários na estrada de Damasco, e não poucos buscam ansiosamente as águas recuperadoras da fonte de Siloê. Não temos em mente outra intenção senão correr ao encontro destes sedentos de luz e de verdade, por ofuscantes ou duras que elas sejam. Pode ter havido erros de sistemática, de método ou de realização; mas a verdade é que só não comete erros quem não faz nada e aquelles que nada fazem ou vivem na  ansia sempre insatisfeita da perfeição, a si mesmos se inscrevem no rol já volumoso dos absolutamente inúteis". (Da acção missionária de Portugal pode ler In La Vie Intellectuelle, 25 de Dezembro de 1939, pág. 465).


Em 1139 o Rei D. Afonso Henriques "Dei Gratiae, Alphonsus Rex Portugalensium" (Pela Graça de Deus, Afonso I, Rei dos Portugueses), fundou Portugal  sob a égide de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santíssima Virgem Maria. 
D. Afonso Henriques - grande devoto de Nossa Senhora fez várias concessões a Santa Maria Bracarense, como tributo pela ajuda concedida na manutenção do seu território, designadamente engrandecendo a Catedral de Braga elevando-a à categoria de templo nacional, passando deste modo, Santa Maria de Braga, a ser a Padroeira do território portucalense. Após a sua morte a 6 de Dezembro de 1185, deixou como legado uma nação edificada em Cristo e na Santíssima Virgem Maria, Nossa Senhora.
Todos os Reis da 1ª Dinastia praticaram o seu culto, agradecendo-lhe o auxílio prestado para a manutenção da independência do novo reino.

Em 1318 o Rei D. Dinis obtém a autorização para fundar a nova Ordem  Militar de Cristo. A 19 de Março de 1319, pela “Bula Ad ea ex quibus” do Papa João XXII é instituída a "Ordo Militae Jesu Christi", (Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo), na qual D. Dinis vai incorporar os cavaleiros, os bens e os privilégios da extinta Ordem do Templo "Cavaleiros Templários" (Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão). 

Na Sé Velha de Coimbra, no dia 8 de Dezembro de 1320, realiza-se  a primeira vez a celebração do culto da Imaculada Conceição por D. Raimundo Evrard, bispo diocesano da altura, ter assinado, no dia 17 de Outubro de 1320, a constituição diocesana que instituiu a festividade da Conceição de Maria.

Na 2ª Dinastia, iniciada com D. João l, Mestre de Avis, 1385-1433, na Batalha de Aljubarrota, incitou os seus companheiros de armas em nome de Deus e da Virgem Maria. O Carmelita, D. Nuno Álvares Pereira “São Nuno de Santa Maria” e “Santo Condestável” foi um nobre e general que sob a égide da Virgem Maria e de Cristo Crucificado em 1383 e 1385 defendeu a independência de Portugal, derrotando por duas vezes o inimigo. 
A sua dedicação e amor pela Eucaristia e pela Virgem Maria foram os alicerces de sua vida interior. Como insígnia pessoal São Nuno de Santa Maria elegeu as imagens de Cristo Crucificado, da Virgem Maria e dos cavaleiros de São Tiago e São Jorge, simbolizados no seu estandarte.

A ligação entre Portugal e a Imaculada Conceição ganhara destaque em 1385, quando as tropas comandadas por D. Nuno Alvares Pereira derrotaram o exército castelhano e os seus aliados, na batalha de Aljubarrota.

Em honra a esta vitória, o Santo Condestável fundou a igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, e fez consagrar aquele templo a Nossa Senhora da Conceição.


O Rei D. João III "pai da Companhia de Jesus" nas terras de Portugal, por sua solicitação no dia 17 de Abril de 1540, chegam a Lisboa os primeiros Jesuítas missionários. O Padre Jesuíta Simão Rodrigues encontra-se com o Rei D. João III, seu mecenas, amigo e protector dos Jesuítas. Pouco tempo depois, a mando de Inácio de Loyola (Santo Inácio de Loyola), chega Francisco Xavier (São Francisco Xavier).
 A 2 de Julho de 1542 é fundado o primeiro Colégio da Ordem dos Jesuítas ou  Companhia de Jesus "Societas Iesu, S. J", cujo lema  é "Ad maiorem Dei gloriam" ("Para maior glória de Deus"), cujas iniciais "A. M. D. G." servem de epígrafe à maior parte dos livros emanados da Companhia.

Após o fim do domínio filipino entre 1580 e 1640, e em plena Guerra da Restauração contra Espanha. Nas Cortes Gerais de 1646, em Vila Viçosa, estando reunidos todos os poderes da Nação, o Rei de Portugal D. João IV, da Casa de Bragança e descendente de D. Nuno Álvares Pereira, jurou e proclamou solenemente, por provisão régia de 25 de Março de 1646, Nossa Senhora da Conceição, Rainha e Padroeira de Portugal:  Sendo Coroada verdadeira Soberana e Padroeira de Portugal e de todos os seus territórios ultramarinos:

‘Estando ora junto em Cortes os três Estados do reino, proclamou-se solenemente tomar por padroeira de nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição’. ‘A verdadeira e única Rainha de Portugal’, exclamou D. João IV ao oferecer a Coroa de Portugal a Nossa Senhora da Conceição, depondo-a aos pés da imagem da Imaculada Conceição.

Por esse motivo os Reis de Portugal desde essa data não usam Coroa. Em ocasiões solenes, a Coroa e o ceptro real eram apenas postos sobre uma almofada, ao lado direito do rei.


Esta provisão régia foi confirmada em 1671 pelo Papa Clemente X na bula papal Eximia dilectissimi, declarou-se que: "Estando ora juntos em Cortes com os três Estados do Reino (...) e nelas com parecer de todos, assentámos de tomar por padroeira de Nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição... e lhe ofereço de novo em meu nome e do Príncipe D. Teodósio meu sobre todos muito amado e prezado filho e de todos os meus descendentes, sucessores, Reinos, Senhorios e Vassalos à sua Santa Casa da Conceição sita em Vila Viçosa, por ser a primeira que houve em Espanha desta invocação, cinquenta escudos de ouro em cada um ano em sinal de Tributo e Vassalagem: E da mesma maneira prometemos e juramos com o Príncipe e Estados de confessar e defender sempre (até dar a vida sendo necessário) que a Virgem Maria Mãe de Deus foi concebida sem pecado original. (...) E se alguma pessoa intentar coisa alguma contra esta nossa promessa, juramento e vassalagem, por este mesmo efeito, sendo vassalo, o havemos por não natural, e queremos que seja logo lançado para fora do Reino; e se for Rei (o que Deus não permita) haja a sua e nossa maldição, e não se conte entre nossos descendentes; esperando que pelo mesmo Deus que nos deu o Reino e subiu à dignidade real, seja dela abatido e despojado".

 



Coroa e Ceptro do Rei D. João IV.



 Estes  Valores estão presentes em toda a Era dos Descobrimentos, e desde sempre orientaram e caracterizaram o povo de Portugal, tornando único no mundo. 

Nos nossos dias grande parte da História que é divulgada e, que, é estudada pelos nossos adolescentes, foi escrita ou é ensinada por "esquerdistas" e "maçons" inimigos da Igreja Católica que, tendenciosamente, ocultam a verdade, e tentam por todos os meios denegrir os valorosos feitos por Portugal e seus Navegadores na Missão de darem Testemunho de Jesus Cristo e espalharem a Fé Católica no acto de civilizar. 

Não nos esqueçamos de que, os valorosos Navegadores portugueses encontraram povos selvagens, cruéis, em África como no continente americano, onde a magia negra, a antropofagia e o sacrifício humano eram uma prática realizada no contexto de certos cultos praticados por Negros, Astecas, Incas e Maias, oferecendo sacrifícios humanos aos seus “deuses” (leia-se “demónios”) assassinando com requintes de selvajaria os membros das tribos que dominavam, escravos e membros de outras tribos, as vítimas desses rituais pagãos, geralmente, eram recém-nascidos, crianças, adolescentes, mulheres e homens jovens. Povos que não tinham o mínimo conhecimento entre o bem e o mal e, muito menos uma noção de ideia sobre a existência de Deus, a quem os portugueses levaram o Testemunho de Cristo, a escolarização e a civilização. Este valoroso acto, senão mesmo, heróico, em levar o cristianismo e a Palavra de Deus no acto de civilizar povos selvagens, ao longo dos séculos, exigiu dos missionários e de outros homens de Fé: coragem, sacrifícios, sofrimento, abnegação pela própria vida, renúncias à sua família e ao conforto da civilização. 

Entre milhares de testemunhos descritos em livros, poderemos ler  "Epistola ad Langravium Hassiæ-Rheinfeldtium" do Padre Jesuíta belga Cornelius Hazart. Com especial atenção ao papel do cristianismo e dos missionários na África Oriental, Central e Ocidental. Abissínia (Etiópia), Congo/Angola. Américas  do Norte, Central e América do Sul; Peru, México, Paraguai e "Maragnan" (actual Brasil). Mártires que levaram o Testemunho de Cristo ao mundo.

Padre Cornelius Hazart "Epistola ad Langravium Hassiæ-Rheinfeldtium".


Através de documentos da História do Kongo, verificamos que o território que, por portugueses viria a ser Angola, predominava apenas a fauna selvagem, até, ocorrer as invasões Jagas.

Cerca de 1340 aparece a primeira tribo Bantu do Mwene Mpangala oriunda do centro de África, e se instala na montanha do Kongo e denomina-a  "Moongo Koongo".

Em 1390 os Jagas iniciam a invadir o território, com eles foram chegando várias tribos Jagas oriundas do centro africano. Foram chegando também tribos não Jagas que se dedicavam ao pastoreio e se foram espalhando pelo território. 

Os Anziku (Jaga) originários da Abyssinia, nas terras altas da Ethiopia, desceram em direcção ao centro ocidental, costa e sul de  África.  Ao longo do percurso foram-se instalando em Manyema (Una-Ma-Nyema, comedores de carne)perto do lago Stanley Pool no sudeste do rio Congo, na parte mais meridional do Gabão e na  África Central (actual República do Congo e uma parte no oeste da República Democrática do Congo), onde criaram os sobados Anziku também chamado de Teke, Tyo ou Macoco desconhece-se o ano que o sobado foi fundado. 

Os Anziku, também conhecidos como Zimbos, de acordo as terras que invadiam e ocupavam, eram conhecidos como Yaka, BaTeka, Bayéké, Bayaka, Jaca, Jaga, Mayaka, Aka, Yaka, Akka, Baka, Luba ou Bantu; oriundos dos grandes Lagos nas terras BaTeka (actual Mayaka) em Kinshasa. 
Em Loango e no Kongo os Anziku adquiriam a denominação Bakongos (significa Anzikus do baixo Kongo).

Negros cruéis, de bárbaros costumes, de rituais sangrentos de extrema crueldade, que praticavam largamente canibalismo, e adeptos de práticas de idolatria. Eram elemento desagregador das populações centro-africanas, odiavam trabalhar, obtendo os produtos através dos ataques às tribos onde faziam saques e razias, os sobreviventes eram capturados e levados para rituais de oferenda aos deuses (leia-se demónios), outros eram vendidos aos árabes comerciantes de escravos ou levados para a costa para serem trocados por búzios usados como moeda de troca entre os indígenas.


                                                              Mapa primitivo do Kongo.

  

Motino Bene, lido Motino Üene, cujo nome pessoal pode ser reconstruído como Ntinu Wene, Lukeni lua Nimi, ou ainda Dya Ntotila, chefe tribal Anziku oriundo dos grandes Lagos desceu com sua tribo para a costa e instalou-se a norte do rio Congo/Zaire, onde criou o sobado Vungu pronunciado "Bungu" no Maiombe. Motino Üene (Dya Ntotila) derrotando tribos, saqueando e matando as populações. Apoderando-se dos territórios  submete as tribos derrotadas à sua autoridade, e passa a dominar os sobados: Vûngu (Bungu), Mpangu, Nsundi, Lwangu (Loango), Kakongo, Nsongo, Nsuku, Mpumbu, Ngoyo, Mazînga, Kinânga, Mbînda, (Kabinda), Yômbe, Kibângu, ao norte. 

Não se sabe quantos anos ele tinha, nem quando o sobado Vungu foi fundado. Lukeni lua Nimi ou Dya Ntotila deixou para trás Vungu, foi avançando ao sul, durante o percurso a tribo dividiu-se em grupos, destruindo e saqueando as aldeias que encontravam à sua passagem, matando as populações e capturando os sobreviventes que eram integrados aos grupos ou para serem trocados como escravos ou sacrificados. 

Foi a primeira tribo Anziku a invadir o Kongo que, teria ocorrido em 1390, segundo cálculos observados pelos portugueses pelas alusões do soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga a Nkuwu, em kikongo), por baptismo João Nzinga a Nkuwu, descendente desta tribo viria a ser o quarto soba Manikongo, de 1470 a 1506. Os indígenas não tinham o mínimo conhecimento e, muito menos uma noção de ideia de registos, datas, nem da idade. Os registos que temos, iniciaram pelos primeiros portugueses, missionários e autoridades portuguesas a partir de 1482.

Em 1535, o Padre António Brásio faz referência a Vungu e ao soba Ntinu Wene, em "ed. Monumenta Missionaria Africana". 

O Padre Jesuíta Mateus Cardoso visitou o Kongo em 1622, observou que a invasão de Motino Bene, lido Motino Üene, onde os pontos sobre o Ü (tornando-o no som ‘W’). O Padre Cardoso refere-se a Ntinu Wene, cujo nome pessoal pode ser reconstruído como Lukeni lua Nimi, chefe de uma tribo nómada Anziku oriunda da Africa Central.
Em 1624 o Padre Mateus Cardoso redigiu as tradições no sobado do Kongo, e cita "Bungu"como local onde Ntinu Wene era o chefe tribal em Vungu ou Bungu antes de atravessar o rio Zaire para invadir o Kongo. O Jesuíta quase não tocou na centralidade de Mbata que dominava a descrição de Duarte Lopes em 1578, mas concentrou sua atenção em Ntinu Wene. 
                                
                                         

 Motino Üenechefe tribal de Vungu.
  Conhecido ainda como; Ntinu Nimi a Lukeni; Lukeni lua Nimi; Dya Ntotila; 
Ntinu Wene wa Kongo;  Dya Xingongo e ainda dya NGunga. 


Por volta de 1410, Ntinu Wene faz uma aliança com o chefe tribal Sakulu (Nsakulu, em kikongo), da tribo vizinha em Mbata, do outro lado do rio Kwilu (rio Cuílo), para se unirem contra a tribo Bantu (ambundu) do Mwene Mpangala que vivia na montanha "Moongo Koongo" e apoderar-se da montanha. Ntinu Wene ao unir as duas tribos  vence o chefe tribal Mwene Mpangala e submete-o à sua autoridade.  Para marcar o seu domínio sobre tribo derrotada, integra os ambundus na sua tribo e estabelecesse na montanha "Moongo Koongo".
Motino Üene, Dya Ntotila, para garantir o seu poder concordou com o chefe tribal Nsakulu, da tibo em Mbata, um casamento entre as duas tribos, casando o seu filho com a filha de Nsakulu. Renomeando a montanha Moongo Koongo,  "Banza Kongo" (Mbanza Kongo, em kikongo). Banza significa kimbo ou aldeia onde reside o soba. 
 Ntinu Wene  tornou-se assim o primeiro soba do Kongo, e se faz chamar 'Mwene Kongo' que significa chefe ou soba maior do Kongo.
Os Jagas Kambamba, Kimpemba e Kabangu da tribo do Motino Üene (Dya Ntotila); instalam-se em Mpemba Kasi ao sul de Mbata e ao longo do rio Kwilu (rio Cuílo) entre o Kongo e a actual República Democrata do Congo. Passam a dominar as tribos Mpemba, Mbata, Nsanda, Zômbu, Lemba, Kiyaka, Matamba, ao centro.  E formaram uma rede chamada Kongo-Dyna-Nza ou Kongo-Dya-Ntotila. Cada um desses chefes tribais Jaga tinha sete kinkosi (subdivisões), cada Kinkosi tinha vários kinbuku (sobados) cada um dos quais consistindo em muitos kifuku (tribos).  


   



Após a morte de Motino Üene, Ntinu Wene ou Dya Ntotila, ano desconhecido, o seu irmão Bukeni Avinga (Mbukeni Mavinga, em kikongo) torna-se chefe tribal (soba) do Kongo e expandiu o seu domínio da área de Banza do Kongo (Mbanza Kongo, em kikongo, até Loango e outras áreas circunvizinhas. Após a morte de Bukeni, assume a chefia do sobado o seu filho Ikuwu Tinu (Nikuwu Ntinu) após a sua morte, sucedeu-lhe o sobrinho Zinga Kuwu (Nzinga a Nkuwu, em dialecto kikongoque em 1483 se encontrou com o Navegador Diogo Cam (Diogo Cão), foi  soba da Banza do Kongo, de  1470 a 1509. (Banza, significa Kimbo ou Sanzala). 
É desconhecido o ano do nascimento do soba manikongo Zinga Kuwu que, por baptismo lhe foi dado nome João, já o ano da morte ocorrida no ano 1509, passa a constar nos registos dos portugueses.

Os Anziku controlavam as  terras directamente ao norte daquela que ficava mais perto do interior como o Kongo e Loango,  controlavam o baixo rio Congo e controlavam as minas de cobre no nordeste do Kongo com o qual faziam o artesanato tradicional, que viria gradualmente abandonado em favor de escravos. Também dominavam o comércio interno, especialmente o comércio de escravos.
O chefe tribal do Vungu, Motino Üene,  Lukeni lua Nimi ou Dya Ntotila, com sua tribo Anziku não foram os únicos a invadirem território de Angola entre 1390/1400.
Os Jagas (Yaka, Ayaka ou Anziku) também, conhecidos como Zimbos de Anzica (Nteca, Anjeca, Anzicana ou Macoco), oriundos dos Grandes Lagos Africanos, numa corrente migratória invadiram o centro, o ocidente e sul de África. 
No início do século XVI vindos da região dos Grandes Lagos Africanos os Jaga (Yaka, Ayaka ou Anziku) também, conhecidos como Zimbos de Anzica (Nteca ou Anjeca, também conhecida por Macoco), fugidos das suas terras deslocaram-se para oeste, centro e sul, invadem o Kongo e disseminaram-se por todo o território de Angola. 

Povos violentos e antropófagos, transportam-se com facilidade de um para outro ponto sem atenção a distâncias, estabelecem os seus kilombos, sempre provisórios, próximo de rios e onde haja lenha, ou por causa de caça, de negócio, por guerras por eles promovidas, ou por auxílios nestas de quem os contratava. 
Um povo que se precipitava como uma torrente sobre o vale, varrendo os rebanhos, manadas e populações; e infestam a costa até à Serra Leoa. Adeptos da idolatraria, feitiçaria e canibalismo, estão sempre em guerra, as tribos não Jaga são suas presas fáceis, os sobreviventes eram capturados para serem trocados como escravos  ou sacrificados aos deuses (leia-se demónios). 

No início do século XVI atravessam o rio Congo/Zaire, invadem o Kongo e disseminaram-se por todo o território que viria a ser Angola. 

As tribos:  Bakongo, Bantu,  Owambu (Ovambu),  Ovimbundu,  Ambundu, Kisama (Quissama), Hungos, Libolos, Kibala (Quibalas); Côkwe-Kioku ou Quioco, Umbundu, Ovakwangali (cuangares); Nkhumbi, Ngangela ou Ganguela, Mbundu, Bangala,  Imbangalas  (Mbangala ou Jagas-Imbangala);
Os Xindonga,  termo para designar quatro tribos: Mbukushi (Kusus ou cussos), os Diliku, os Sambiu e os Maxicos, que se instalaram no extremo sudeste de Angola. 

As tribo dos Ovahelelo-Mukuvale, um povo de pastores, invade terras angolanas pelo extremo leste de Angola, atravessaram o planalto do Bié e instalaram-se entre o Deserto do Namibe e a Serra da Chela, no sudoeste angolano. 
Os Nyanekas ou Vanyanekas atravessando o alto Zambeze, entraram pelo sul de Angola, e instalaram-se no planalto da Huíla.
Os khoisan (Coissã) de etnia bantu, também conhecidos por boximanes, bosquímanos, hotentotes, abandonam o deserto Kalahari  (Calaári), entram pelo sudoeste de Angola e instalam-se o longo do rio Cunene.
 Os kyokus (quiocos) abandonaram Katanga (Catanga) e atravessaram o rio Cassai, instalaram-se inicialmente na Lunda, no nordeste de Angola, descendo depois para leste sul e centro. De acordo as regiões que invadiam e ocupavam adquiriam diferentes denominaçõesLubas na região de Katanga, Côkwe-Bantos ou  Lundas na região do rio Cuango a norte; Bakongos, na região de Loango, (Cabinda), Kongo (Congo); Dembu (Ndendu) nas regiões M'pango, M'penda, M'bamba;  Imbangalas ou Mbangalas, entre os rios Bengo e Cuanza a sul; na região de  Matamba, Dongo, Pungo-Andongo, Massangano, Cassange-Jagas Kassanji ao sul do Cuanza; Ngangela, Jaca, Yacca na região de Benguela. 
Destes o grupo maior era o Ambundu (Mbundu ou Mumbundu em ki-mbundo), grupos Bâ-ntu (bantu) abrangiam uma grande faixa de grupos étnicos Jaga, os Imbangala/Mbangala, os Dembu, os Zombu, os Kansanji, os Kisama, os Kiku (Quico), os Ambuela (Mbwela), os Ngangwela (Ganguela) os Mbunda, os Ndendu, os Bangala, os Songo, os Hungo, os Libolo, os Kibala.

Eram elemento desagregador das populações centro-africanas. A partir do estudo dos rituais dos Jagas na “Istorica descrizione  do Congo, Matamba et Angola”, de autoria do missionário capuchinho Giovanni Cavazzi de Montecúccolo, nos testemunhos de Duarte Lopes. Tais rituais serão confrontados com as descrições a respeito dos Jagas  nas guerras na selva africana durante o processo da conquista portuguesa em Matamba, Dongo (Ndongo, em kikongo) Dembos, Massangano, Cassange.

O soba manikongo Nzinga Nkuwu (João) era adepto dos rituais Jagas e os praticava: idolatraria aos seus deuses (leia-se demónios), prática de fetiches, canibalismo, a cerimónia do “sambamento” ritual Jaga que consistia na decapitação de escravos ou daqueles que não eram da sua simpatia, seus vassalos ou membros de outras tribos que atacava e onde fazia razias, os sobreviventes eram capturados para escravos outros eram destinados para rituais sanguinários Jaga de oferenda aos  Nkisis.


Niksi N’kondi  ou Mangaaka era o nome que os chefes tribais davam às figuras fetiches adoradas como seus "deuses" (leia-se demónios).


  
                                                              Kongo, "Sambamento" ritual Jaga de decapitação.

   Kongo, o soba manikongo Zinga Kuwu (João) ultimo à esquerda, com seus vassalos,
         na oferenda do sangue das suas vítimas aos seus deuses (leia-se demónios).  
Gravura de, De Brys 'Illustrated Reports, [Johann Theodor]. 

Canibalismo no Kongo.
            
 Nos rituais Anziku (Jaga) eram  sacrificados escravos, e membros das tribos, 
como oferenda de alimento aos seus "deuses" leia-se demónios.

   
 Niksi N’kondi  ou Mangaaka, 
representava o poder e os deuses dos indígenas. Os dentes eram talhados em forma pontiaguda que identificavam os Anzikus (Jagas). Escultura restaurada de acordo as originais (Metropolitan Museum,N.Y.).


A banza do soba Manikongo  Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu) em 1490,  segundo observação dos portugueses e dos missionários, o Kimbo na montanha, então, chamada Banza Kongo (Mbanza Kongo, em kikongo), era constituído pela cabana do soba  manikongo, as cabanas dos seus familiares, dos seus guardas de confiança, e dos seus escravos, a restante população da tribo vivia do lado de fora da cerca e era-lhes proibido o acesso ao Kimbo ou banza do soba.


                                                                           Banza Kongo, (Mbanza Kongo) 1492.
As mulheres usavam uma faixa, espécie de tanga, da qual as pontas  atrás pendiam em forma de rabo, estas tangas foram usadas assim em crianças até 1950/58. Gravura de, De Brys 'Illustrated Reports, [Johann Theodor]. 
                                                       

  Rio Congo/Zaire,  tribo no Sogno (Soyo/Santo António do Zaire) em 1492.
 Gravura de, De Brys 'Illustrated Reports [Johann Theodor].


"Os 4 kongoleses que Diogo Cam levou para o Reino de Portugal, no ano 1486, e do qual era principal o negro Caçuta como embaixador de Congo,  no Convento de São Francisco em Beja recebeu o Baptismo e o nome de João de Sousa, igualmente foram baptizados os outros congoleses da sua comitiva, com grande solenidade em Beja, foram padrinhos o Rei D. João II a Rainha D. Leonor, assim como outros titulares.

Achando-se agora já todos doutrinados nos Mistérios da Fé Católica, o Rei D. João II determinou mandá-los de volta ao Congo. Satisfazendo igualmente os pedidos do soba manikongo Nzinga a Nkuwu, solicitados por intermédio do Navegador Diogo Cam. O soba Nzinga a Nkuwu, solicitava ao Rei D. João II de Portugal: "estabelecimento de relações de amizade e de carácter de evangelização e da civilização da terra e das gentes". 

Em 1486, o Navegador e Capitão Diogo Cam (Diogo Caão) regressa ao Kongo cumprindo a sua palavra em devolver os 4 kongoleses, levados para o Reino de Portugal, onde foram cuidados e educados no Convento em Beja, aprenderam a falar português, a ler,  a escrever e receberam o Baptismo. Seriam os primeiros interpretes da língua portuguesa entre o Reino de Portugal e o Kongo. o soba Nzinga Nkuwu ao ver os kongoleses bem tratados, bem vestidos, calçados, saberem ler, escrever, falar português, e contarem a civilização e cultura encontrada no Reino de Portugal, viu na civilização portuguesa um modelo a seguir como uma estratégia de superioridade e de afirmação junto às demais tribos locais. E decide enviar um grupo dos seus vassalos com o Navegador e Capitão Diogo Cam, para pedir ao Rei de Portugal ajuda para civilizar o seu kimbo ou sobado e manifesta vontade de ser Baptizado. São assim estabelecidas as primeiras relações entre o Reino e Portugal e o Kongo.

 Em 1490 o Rei  D. João II, satisfazendo o pedido do soba manikongo Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu em kikongo), enviou uma expedição e nomeou D. Gonçalo de Sousa, Fidalgo da sua Casa, por seu Embaixador, e Comandante da Esquadra de três navios, com soldados, homens especializados na carpintaria, na agricultura, no fabrico do pão, na construção de casas. Missionários Jesuítas: Cónegos Agostinianos de Santo Elói, Franciscanos, Cónegos de S. João Evangelista (Azuis), de que era o principal Dom Fr. João, Dominicano, levando todos os Ornamentos e coisas necessárias para a fundação de Missões e Igrejas, e munidos de uma Instrução preparada num Conselho de Teólogos e Cânones (alguns destes Missionários fizeram parte da segunda expedição de Diogo Cam, em 1486). Embarcaram, além, do Caçuta agora com nome João de Sousa, e denominado "embaixador do Kongo", os outros três kongoleses. Seguiam produtos manufacturados europeus; vinhos portugueses, tecidos, louças, espelhos, tapetes, mobiliário, sementes para agricultura, farinha para pão, e  material de construção; pedra, cal, telhas, pregos, que em 1491 iriam construir a primeira cidade no Kongo, S. Salvador, constituída por um palácio para o soba, casas para os seus mais próximos; casas para os portugueses; uma Missão Católica onde os indígenas seriam educados, aprenderiam a ler e a escrever; uma Fortaleza; uma fonte de água doce; e uma  Igreja Católica "Igreja da Santa Cruz" mais tarde denominada "Catedral de Santa Maria", foi a primeira Igreja Católica construída no Kongo/Angola e na África Austral.

D. Gonçalo de Sousa levava um rico e magnífico presente do Rei de Portugal para o soba manikongo Nzinga Nkuwu e seus familiares. A expedição missionária partiu de Lisboa a 19 de Dezembro de 1490, e próximo a Cabo Verde faleceram por doença: o Comandante D. Gonçalo de Sousa, a seguir morreu o Caçuta (João de Sousa), e  outro kongolês já cristão, o que causou grande consternação, e assim, chegam à Ilha de São Tiago, onde, por intervenção do seu Governador Fernão de Goes, foi elegido Ruy de Sousa para Comandante da Expedição, primo irmão de D. Gonçalo de Sousa, que ia na expedição como passageiro. Seguindo dali viagem, após três meses de viagem de muitos perigos e trabalhos, a 29 de Março de 1491 chegaram à baía de Diogo Cam que fica por detrás da ponta do Padrão, no rio Zaire. O Mani N'soyo, chefe tribal da localidade, acompanhado dos seus vassalos foram receber os portugueses com grandes festas e contentamento. O comandante Ruy de Sousa à frente dos homens da sua Esquadra recebeu-o na praia e viu nele o desejo de ser Cristão e ser Baptizado primeiro que o soba  manikongo Nzinga a Nkuwu. 

Em M'pinda (Pinda), os portugueses Iniciaram a construção de uma Igreja, tosca, de madeira, para a celebração dos Baptismos, e algumas pequenas casas para sua morada. Ao mesmo tempo que davam início à catequese, tão solicitada, do Cristianismo". 

"1490, e chegando lá em 1491 conseguiu trazer logo ao gremio da Igreja Catholica o soba, a mulher e o filho agora com nome Afonso, e muita parte da dos vassalos, daquele povo bárbaro, e construir-se desde logo na Cidade Capital Ambasse, depois S. Salvador dedicada a Cristo o Salvador, a Igreja Catholica de Santa Cruz, e uma Fortaleza com seu Feitor e Alcaide, e gente de ordenança na foz do Zaire: do que resultou uma grande frequência, e trato vantajoso dos Portugueses com aquele território, cujo ensino e civilização El Rei D. Manoel, sucessor do Príncipe Perfeito, tomou tanto a seu cuidado, que no ano de 1504 — «determinou mandar ao Congo homens letrados na sacra Theologia, com os quais mandou mestres de ler, e escrever, e outros para la ensinarem o Canto da igreja, e musica do canto d'orgão etc. Muito fruto ia produzindo naquelas partes o ensino destes mestres; e muito maior se esperava dos moços filhos dos sobas,  daquela barbara província, que vinham educarem-se a Portugal, os quais o magnifico Soberano de Portugal os mantinha à sua própria custa, e os repartia por mosteiros, e casas de pessoas doctas, que os ensinassem nas coisas da fé, estudos de philosophia, boas artes e costumes; mas em quanto estas tenras plantas de solo Africano se aclimavam tão bem na nossa civilização Europeia, que algum houve (como diz elegantemente o nosso Frei Luiz de Souza) que sendo azeviche nas cores foi um cristal em vida, e alma, os seus semibarbaros pais, e parentes, atolados".

"(5) João de Barros — Dec. 1." Liv. III... Garcia de Resende — Chronica d'ElRei D. João II. — desde o Cap. 155 até o Cap. 161 .... a Chronica do mesmo Rei por Ruy de Pina — Ineditos d'Historia Portugueza — Tomo 2.° de pag. 144 a pag. 172.... ; e a Historia de S. Domingos por Frei Luiz de Sousa — Parte 2.° — Liv. 6.°


A 3 de Abril de 1491, dia de Páscoa, com a presença do Comandante Ruy de Sousa e toda a guarnição dos navios e missionários, com grande solenidade, na Igreja adornada do melhor modo possível, foi Baptizado o soba do Sogno (Soyo), Mani N'soyo e um seu filho ainda criança -, recebendo ele o nome de Manoel, e o filho o nome de António, seguindo-se o Baptismo dos habitantes. Terminado com uma missa. Foi a primeira missa rezada no Kongo (em terras que viria a ser Angola) no Sogno, (Soyo)/ Santo António de Zaire.
Após a cerimónia do baptismo, seguiram-se festejos, os padres acompanharam o Manisoyo até Mpinda em procissão com Cruz erguida, discursaram contra as idolatrias pagãs e superstições, seguidamente o Manisoyo (Manoel) mandou queimar todos os ídolos e destruir as casas dos fetiches.

    M'pinda, na Igreja improvisada o soba Mani-soyo e seu filho, recebem o Baptismo, 
seguidos pelos  habitantes de M'pinda e do Sogno/Soyo (Santo António do Zaire).
Gravuras de "Monumenta Missionária Africana" Padre António Brásio.    

                                                               Em M'pinda, o soba Mani-soyo após o baptismo, 
                                         na presença dos portugueses, queima os seus ídolos (leia-se demónios).    


 
                                                                      Mani-soyo, soba de M'pinda (Soyo). 
                     Com a chegada dos portugueses,  os trajes e panos passaram a substituir as tangas de palha.

A expedição civilizadora seguiu para a montanha onde residia o soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu), dispondo de 200 homens cedidos pelo Manisoyo, que receberam o Baptismo em M'pinda, para carregarem os presentes e as arcas, além dos que levavam os mantimentos e garantiam a segurança. A estes juntaram-se os kongoleses que tinham regressado de Portugal, servindo como interpretes ao mesmo tempo ajudavam os Missionários nas missas e Baptismos. Demorariam 26 dias para chegarem à Banza do soba Manikongo, sendo recepcionados no caminho pelos chefes locais. Ao se aproximar de banza Kongo, dia 29 de Abril, a expedição foi recebida com entusiasmo, e um membro da família do soba Manikongo Zinga Kuwu (Nzinga Nkuwu) levou presentes para o embaixador Ruy Pina. E iniciou a acção de evangelização.  

No dia três de Maio de 1491, dia de Santa Vera, Ruy de Sousa lançou a pedra fundamental da "Igreja da Santa Cruz"  mais tarde Catedral de Santa Maria.
Garcia de Resende cavaleiro da Ordem de Cristo e fidalgo da Casa Real, e Ruy de Pina embaixador do Rei e cronista, escreveram que a invocação desta Igreja foi de Santa Maria; mas o Orago foi na verdade (como se lê em Barros, e Frei Luiz de Sousa) — Santa Cruz, — e a primeira pedra foi posta a 3 de Maio de 1491, — e a cidade chamou-se S. Salvador, em veneração a Cristo o Salvador. 
No mesmo dia 3 de Maio de 1491, dia de Santa Vera, com a presença de Garcia de Resende, Cavaleiro da Ordem de Cristo e fidalgo da Casa Real-, Ruy de Sousa embaixador do Rei -, os missionários e a guarnição da expedição, e população; Dom Frei João 'Vigário geral dos missionários' com grande solenidade Baptiza o soba Manikongo, que a seu pedido lhe foi dado João, segundo ele em agradecimento ao Rei de Portugal Dom João IISeguindo-se o baptismo do seu filho Mvemba Nzinga que recebeu nome Afonso, e o baptismo dos habitantes de banza Kongo. Por falta de uma Igreja em Banza  Kongo (Mbanza Kongo, em kikongo), os baptismos foram realizados em espaço aberto.


O Padre Dom Frei João 'Vigário Geral dos missionários' Baptiza o soba manikongo Nzinga a Nkuwu que teve nome João, segundo ele em homenagem ao Rei Dom Joao ll de Portugal.  Seus dois filhos Mvemba Nzinga, e Mpanzu a Kitima assistem à cerimónia do baptismo,  Mvemba Nzinga segura o toucado do pai feito com fibras de palmeira (palha) com uma espécie de crina a pender do toucado, quis receber o Baptismo e teve nome Afonso, Mpanzu Kitima segura a  lança, recusou ser baptizado

                                                   

 Após o baptismo João Nzinga a Nkuwu
 recebe a visita dos seus vassalos que vão saudá-lo ao som de tambores, numa casa improvisada construída pelos portugueses, antes de iniciarem a construção da cidade de S. Salvador. Gravuras de Gottlieb  (1598).

   Em Pinda, na primeira  Igreja construída em madeira por portugueses, os missionários davam continuidade aos baptismos. Gravura a partir dos relatos de testemunhas oculares do final do século 16, pelo  português Duarte Lopes.             
     

A 6 de Maio de 1491, em M'banza Congo, os portugueses iniciam a construção da Igreja da Santa Cruz, (foi a primeira Igreja construída em pedra e cal no Hemisfério Sul). Enquanto decorriam as obras a pedido do soba Manikongo João Nzinga Nkuwu o espaço foi “vedado” aos habitantes. Quando Nzinga Nkuwu autorizou os seus vassalos irem ao centro de M'banza, onde estava a obra, o povo ficou muito admirado por ver uma bela Igreja que ninguém tinha visto anteriormente. De pedra e cal, grande e espaçosa, os cónegos e clérigos cantavam nela o ofício.  Tinha sido construída em tempo recorde, ou seja, de 6 de Maio a 6 Julho do mesmo ano.

Em seguida os portugueses iniciaram a construção da cidade:  um palácio para o soba Manikongo, Igrejas, uma fortaleza, um convento,  um bairro  para os vassalos mais próximos do soba, e um bairro destinado aos Portugueses. O soba Manikongo Nzinga Nkuwu para impedir que os povos das tribos vizinhas, tivessem acesso à cidade,  mandou construir uma grande muralha, de aproximadamente 4,5 a 6 metros de altura e com a espessura de cerca de 75 a 90 centímetros que fechava a cidade. O palácio do soba, as igrejas, os conventos, as residências, estavam construídas em pedra e cal e cobertas por telhas.   M'banza Kongo (significa, o kimbo onde vive o Soba) foi mudado para São Salvador, dedicada a Cristo o Salvador. 


 S. SALVADOR,
a primeira cidade construída pelos portugueses em Angola.

 São Salvador.

Gravura de A. Montanus (van den Berg) Amsterdam-1571. 


                                                     A obra civilizadora levada pelos portugueses presente
                                                                  nas primeiras construções no Kongo/Angola.                                                  

A partir de 1492 o soba Mani-Kongo Zinga Kuwu (Nzinga a Nkuwu)  expandiu o seu domínio desde o território do Sogno (Soyo) Santo António do Zaire, a outras regiões e tribos ao longo do rio Congo/Zaire, ao centro, sul e oeste, entre outros: N'sundi; M’Pangu (Uige); M'bata; M'pemba (Dembos);  M'bamba (dos Umbundos ou Mbundu); Matamba (Malange). Predominavam as etnias bakongo e bantu. E ao largo da costa atlântica até ao rio Dande, e a Dongo (Ndongo, em kikongo). Mbanza Kongo era o centro de onde Nzinga Nkuwu (João) administrava as tribos circunvizinhas dos sobas seus vassalos.    
No entanto, decorrido pouco tempo, após o Baptismo, o soba Nzinga Nkuwu (João),  ao verificar que o Cristianismo não se ajustava aos seus instintos primitivos pagãos de idolatraria aos seus deuses (leia-se demónios), rituais Jaga, feitiçarias, poligamia, rejeitou o Cristianismo seguido de muitos dos seus vassalos, e começou a favorecer o seu filho Mpanza Kitima, que tinha rejeitado ser baptizado, e deram início a uma fase de hostilidade contra os missionários. Os missionários  enviados pelo Rei D. João II em 1490: Jesuítas, Cónegos Agostinianos de Santo Elói, Franciscanos, Cónegos de S. João Evangelista (Azuis), de que era o principal Dom Fr. João, Dominicano, foram todos expulsos do Kongo. Após a morte do Rei D. João II, em 25 de Outubro de 1495, é coroado Rei de Portugal e dos Algarves Dom Manuel I. 
Em 1508 Rei D. Manuel I, envia para o Kongo os missionários de Santo Inácio de Loyola,  António de Santa Cruz e Diogo de Santa Maria,  chefiada por Frei João de Santa Maria, mal haviam chegado ao Kongo, acabariam, também, por serem todos expulsos.  Os que ficaram refugiaram-se na região de Nsundi, próximo a S. Salvador, chefiada por Afonso Mvemba Nzinga. Em Nsundi os missionários capuchinhos começaram a catequizar.    


                           

                                                           NO SOBADO DO KONGO
                                             [De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].

                                                          


 Soba Mani-kongo Zinga Kuwu (João).


 O escravo favorito do Soba Mani-kongo Nzinga Nkuwu.


Afonso Mvemba Nzinga, da tribo kanda, filho do soba Mani-kongo João Nzinga a Nkuwu, era um aluno aplicado dos missionários portugueses que eram enviados ao Congo, com quem aprendeu a ler e escrever, tornando-se conhecedor dos princípios da religião católica e da história de Portugal. 

Presumível imagem de Afonso Mvemba Nzinga.



Encontro de um Missionário capuchinho com o Manikongo Afonso Nzinga Mbemba.

Função de uma Missa em banza Kongo, assistida pelo Manikongo Nzinga Mbemba.

                              Esta aguarela de autoria de um veterano capuchinho das freiras da missão
                        do Kongo, oferece uma representação do manikongo Afonso Nzinga Mbemba,
                               num ritual, encenado, denominado "sambamento" ritual Jaga de decapitação.

                        Um Missionário capuchinho realiza o primeiro casamento católico no Kongo.


Após a morte do Manikongo João Nzinga Nkuwu em 1509, o filho Mpanza Kitima apresentou-se como sucessor, ele baseava-se na escolha do culto pagão dos tradicionais chefes tribais, e Afonso Mvemba Nzinga baseava-se no direito católico e representante do partido cristão, na luta pela chefia do Kongo Afonso Mvemba Nzinga reuniu os seus vassalos e formou um exército, e envergando os seus trajes primitivos da sua tribo afrontou e derrotou o seu meio-irmão Mpanza a Kitima, que morreu no confronto. Após ter morto o irmão, Afonso Mvemba Nzinga assume a chefia do Kongo. 




                                                  Cerimónia de eleição de Afonso Mvemba Nzinga, 
                                                                                     como Manikongo.

 

Afonso Mvemba Nzinga, mais conhecido pelo nome cristão Afonso, na continuidade  das relações de amizade e ajuda de Portugal. Envia uma carta ao Rei D. Manuel I a pedir envio de missionários, já que os missionários enviados anteriormente tinham sido expulsos pelo pai, Nzinga Nkuwu (João) após renegar a religião cristã e o baptismo, como por seu irmão Mpanza a Kitima e sua tribo. 

O Rei D. Manuel Isatisfazendo o pedido de Afonso Mvemba Nzinga, enviou ao Kongo duas expedições de missionários. A primeira expedição partiu de Lisboa em 1509, com  missionários de Santo Inácio de Loyola,  António de Santa Cruz e Diogo de Santa Maria,  chefiada por frei João de Santa Maria.   
Em 1512, o Rei D. Manuel I envia a segunda expedição, como Comandante e Embaixador Simão da Silveira, fidalgo da Casa do Rei, estabelecendo relações amistosas com aquele povo, cujos sobas se convertem ao Cristianismo. 
"Simão da Silveira era portador de presentes para o soba do Kongo: animais e objectos destinados a civilizar o sobado.  Chegou, porém, a S. Tomé, o Governador Fernão de Melo deu-lhe as piores referências sobre o soba do Kongo, sendo de opinião que em Portugal lhe davam demasiada importância. Assim ao chegar a Mpinda, enviou o médico de bordo para levar a Mbanza-Kongo as cartas régias e os presentes. Afonso Mvemba Nzinga insistiu pela sua presença e Simão da Silva, pôs-se finalmente a caminho, mas morreu na viagem com as febres." (MMA, I, 228). 
O clima era doentio e mortífero para os europeus que lá se instalassem. As condições de habitabilidade eram muito rudimentares, a água estava contaminada e proliferavam as mais diversas doenças, com destaque para o paludismo (malária).
Um dos problemas da assimilação ao Cristianismo era o tradicional culto pag
ão dos fetiches. 
Mvemba Nzinga (Afonso), inspirando-se no Regimento da Embaixada de Simão da Silveira, viu um modelo a copiar e  introduz uma série de modificações internas no Kongo, iniciando com a proibição do culto pagão, e o Cristianismo passa a ser a religião oficial do Kongo. Construindo, assim, o Kongo Cristão sob sua égide.
A proibição desses cultos levou à "Revolta da casa dos ídolos", os gentios consideravam que a sua destruição traziam as maiores desgraças. Levando muitas vezes a situações de confronto com os missionários. Outro dos problemas era o casamento monogâmico, com exclusão de toda a espécie de mancebia. A questão nunca foi resolvida pelos sobas regentes e seus principais vassalos, casando com uma só mulher e mantendo todas as outras como concubinas, na época  chamadas “mancebas”. 
Os missionários não podiam fechar os olhos a esta situação, e rapidamente caíram em desgraça.  Ainda que, na época, a Igreja Católica concebia e até aconselhava o Baptismo de crianças, independentemente das convicções e prática dos pais. Por isso, a actividade principal dos missionários passou a ser a de baptizar crianças. E ao povo interessava ter os filhos baptizados, porque, o Catolicismo passando a ser a religião do sobado, significava a possibilidade de integração na vida social e o caminho para a civilização superior dos europeus.

O Manikongo Mvemba Nzinga (Afonso) inicia a trocar correspondência com Rei D. Manuel I, depois ao Rei D. João III, e ao Papa. 
Em uma dessas cartas enviadas ao Rei D. Manuel I, em 1514, Afonso Nzinga narra a vitória que obteve sobre seu irmão, com a ajuda de  seguidores da sua tribo e, de São Tiago que, segundo ele, durante a batalha apareceu no céu junto com uma Cruz. 

Essa carta conta um episódio que segundo ele se teria baseado no acontecimento ocorrido com o Rei D. Afonso Henriques de Portugal, que venceu os mouros na Batalha de Ourique em 1139, dando origem ao Reino de Portugal.  

Em uma outra carta ao Rei D. Manuel I, Afonso Mvemba Nzinga solicita autorização  para usar os símbolos da Coroa de Portugal e da nobreza portuguesa. O Rei de Portugal em documento concede a Mvemba Nzinga o uso de títulos ao Soba eleito Manikongo, baseado no compromisso de fidelidade ao Rei de Portugal, desempenho da função de governar na fé, nas questões morais e de vida cristã, e baseado na linha sucessória. 
Afonso Mvemba Nzinga solicitou também ao Rei de Portugal a criação de um brasão de armas, uma bandeira e respectivo lacre para selar a correspondência.  No lacre de suas cartas enviadas ao Rei D. Manuel I, depois ao Rei D. João III, e ao Papa, tinha o brasão com o símbolo da Cruz criado para ele, em Portugal, onde, também, lhe foi criado um brasão de armas  e uma bandeira. 

Brasão de armas  e bandeira criados em Portugal para o soba Manikongo Mvemba Nzinga (Afonso).


Afonso Mvemba Nzinga, chamado o apóstolo do Kongo, foi o responsável pela consolidação do Kongo durante o seu governo de 1509 a 1543. Alguns dos seus vassalos mais próximos eram já alfabetizados. Afonso Nzinga dando continuidade ao Cristianismo, tentou dar início à formação de clero no Kongo. No retorno dos navios ao Reino de Portugal, Afonso Nzinga enviou para Lisboa mais congoleses para estudar. Entre estes, sobressai o seu filho Kinu a Mvemba, baptizado com nome Henrique, e um sobrinho de nome Rodrigo de Santa Maria, para serem educados no Convento dos Lóios em Lisboa. Henrique Kinu a Mvemba, foi ordenado padre no convento de Santo Elói em Lisboa, e em 1518 o Papa Leão X nomeou Henrique Kinu a Mvemba, Bispo de Útica (Útica era o nome do território onde o  bispo exercia jurisdição espiritual),  quando tinha 24 anos, foi o primeiro Bispo negro. Foi enviado para o Kongo e ficou em S. Salvador como auxiliar do Bispo do Funchal que, na altura, tinha jurisdição sobre o Kongo.  D. Henrique Kinu a Mvemba, Bispo de Útica, faleceu em 1531. As relações entre o Kongo e o Reino de Portugal foram evidentes e tal facto levou a que houvesse uma correspondência assídua de cartas trocadas entre Afonso Mbemba Nzinga e os monarcas portugueses Rei  D. Manuel I  e Rei D. João III




Duas dessas cartas, do soba Afonso Mbemba-a-Nzinga,
(com apontamentos de António Luís Ferronha)

“Senhor. – Desse Reino vai ora Jerónimo de Leão escudeiro criado da casa da rainha D. Leonor que santa glória haja, que por seu mandato e carta nos veio servir, no qual serviço há sete anos que está residente, sem nunca dele sair erro nem coisa que descontentamento nos desse nem contra nosso serviço fosse, mostrando em tudo a boa criação e doutrina que em tantos anos de casa tão real e tantas virtudes recebeu e por este respeito e muito gosto que de seus bons serviços sempre recebemos lhe demos licença para sua ida e visita de sua casa, à condição que cumprindo com a devida referência que a Vossa Alteza como a seu rei e Senhor devem beijar suas Reais mãos nos torne visitar e servir por nossa muita consolação; porque pedimos a Vossa Alteza o queira ouvir nas coisas deste reino a partes de Etiópia. Porque dele melhor que doutra pessoa que a elas viesse pode com verdade ser informado, assim pela antiga experiência que da terra tem, como por ser saber e discrição ser por isso suficiente, o qual Vossa Alteza deve ouvir e crer e haverá por certo o seu serviço o que dele dizemos. E assim pedimos a Vossa Alteza muito por mercê, que se a este Reino houver de mandar alguma pessoa ou criado seu com algum recado a nós, ou encarregado em coisas do seu serviço, seja o dito Jerónimo de Leão, porque a ele pelos respectivos sobreditos e serviços que nos tem feitos, sendo de Vossa Alteza como é daremos mais fé e crédito que a outra pessoa, que a nosso reino venha, além do prazer e contentamento que com sua vinda haveremos e o receberemos de Vossa Alteza em muita mercê. Desta nossa cidade do Congo, a nove dias de Fevereiro, D. João Teixeira a fez de mil quinhentos e trinta”

[Etiópia, a palavra etíope vem do grego e quer dizer cara queimada. Etiópia significa toda a África, ao sul do Saara]. [Arquivo nacional da Torre do Tombo. Corpo Cronológico, Parte I, Maço 44, Doc. Num.78].                         

Outra carta de Afonso Mbemba a Nzinga, foi endereçada ao Papa, informando da Embaixada que vai solicitar obediência, já que, dentro daquilo que tinha estipulado como um programa católico, Afonso Mbemba-a-Nzinga foi aconselhado pelo rei de Portugal, D. João III, a prestar obediência ao Papa. 




                                                                      CARTA AO PAPA PAULO III:

“Santíssimo e muito aventurado padre e Senhor Paulo III, pela misericórdia de Deus Sumo Pontífice da santa madre Igreja.D. Afonso pela graça de Deus Rei do Congo Ibungo e Cacongo Engoyo daquém e dalém Zaire, Senhor dos Ambundos e de Angola e da Quissama e Musuaro de Matamba e Mulylu e de Musuco e dos Anzicos e da conquista de Panzo Alumbo, etc. humildemente, como rei fiel cristão e filho obediente a Santa madre Igreja beijo os pés de vossa santidade a quem faço saber eu com muita e principal parte da gente e povo de meus reinos e senhorios, pela benigníssima e imensa misericórdia do muito alto senhor Deus, viemos em conhecimento e notícia da santa fé católica lei de Jesus Cristo nosso salvador e havemos recebido o sacramento do santo baptismo que nosso senhor por sua santíssima misericórdia quis que recebêssemos. E daí em diante aquele fruto que nossa fraca e nova ensinança sofrer pude acerca dos divinos ofícios e cerimónias eclesiásticas com aquele esforço e eficaz vontade e aviamento que a nós possível foi para o acrescentamento da nossa Santa Fé e serviço de Deus pelo qual muito santo e muito bem aventurado padre como eu seja Rei fiel cristão e crente nas coisas da nossa fé Santíssima e filho obediente da santa madre Igreja há muito tempo que procuro e desejo eu e os meus sucessores e meus Reinos e Senhorios sermos recebidos com a graça, favor e ajuda de vossa Santidade e da Santa Fé apostólica para alcançar haver e possuir de vossa Santidade e da Santa Sé apostólica aquelas graças e dons espirituais que os outros reis e príncipes cristãos recebem, hão e possuem para saúde das almas e acrescentamento da nossa Santa fé, para sermos eu e estes cristãos espiritualmente ajudados favorecidos e encaminhados com os sacrifícios e todos os outros sufrágios da Santa madre Igreja, a fim que a fé de Cristo nosso salvador seja nestas partes cada vês mais acrescentada. E hora envio de novo a vossa santidade e a santa sé apostólica meus embaixadores legados e procuradores D. Manuel meu irmão, do meu conselheiro principal representador de minha pessoa e real Ceptro, e D. Afonso meu sobrinho de irmão por segunda pessoa e Francisco Mucio Camerte (?) doutor, meu orador e língua e D. Afonso meu sobrinho de mais longe e D. Henrique meu sobrinho de Irmão, pessoas em que eu confio para que todos ou cada um deles sendo o superior impedido em meu nome e de meus sucessores dêem a vossa santidade e Sé Apostólica aquela obediência que como rei católico cristão e povo fiel lhe devemos, peço a vossa santidade que benignamente minha embaixada e embaixadores queira receber e graciosamente ouvir e dar crédito no que de minha parte lhe disserem. E que com aquela liberalidade que vossa santidade e sé apostólica sabe usar com os outros reis e príncipes cristãos conceda aquelas graças e indulgências, liberdades e privilégios que para mim e meus sucessores, Igrejas, mosteiros, clerezia e povo destes Reinos… Justamente lhe pedirem. Muito Santo e muito bem aventurado padre e Senhor o verdadeiro Deus nosso senhor a vida e o estado de vossa Santidade conserve a seu serviço por muitos anos escrita na minha cidade do Congo aos vinte e um de Fevereiro D. João… a fez ano do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e trinta e dois."



 Imagem do soba Afonso Mvemba Nzinga, em idade avançada, impresa no ano 1593,
 e o seu toucado confeccionado com fibras de palmeira, no (Brooklyn Museum).

 

Afonso Mpemba a Nzinga baseou o seu poder e riqueza no comércio de escravos, tal como todos os seus sucessores. A competição tribal pela sucessão ao poder tornou-se uma característica feroz no Kongo. O próprio jogo do Manikongo Afonso Mvemba Nzinga para o poder foi intenso, envolveu uma guerra cujo desfecho foi a morte do irmão. No entanto, sabe-se como ocorreu a luta pelo poder que se seguiu à morte de Afonso Mvemba Nzinga no início de 1543A chefia do Afonso Mvemba Nzinga, foi a mais longa da história do Kongo, compreendendo o período de 1509 a 1543. Durante a sua vida baseou o seu poder e riqueza no comércio de escravos.

Com a morte de Afonso Mvemba Nzinga em 1543, chegou ao fim um período de paz e prosperidade no Kongo que durou cinquenta anos

Os portugueses na capital do Kongo, S Salvador,  continuam, no entanto, a embelezar a cidade que, com as suas largas avenidas ladeadas por palmeiras, as suas belas construções de pedra e as suas muitas igrejas, se assemelha cada vez mais a uma cidade portuguesa. O que a tornava alvo da cobiça das tribos, uma batalha pelo poder começa imediatamente entre as várias tribos rivais.  

 São Salvador.

Gravura de A. Montanus (van den Berg) Amsterdam-1571. 


A relação tão amistosa que o Rei D. Manuel (1495-1521) construiu e manteve com o católico Manikongo Afonso Mvemba-a-Nzinga (1506-1543), iniciou a ser diluída no reinado de Dom João III. Embora a Coroa de Portugal e o Kongo tivessem uma aliança e concordassem regularmente, uma relação estável e calma, que correspondia regularmente através de cartas que continham informações vitais sobre as relações e trocas internas do Kongo. Essas cartas afirmavam que Afonso Mpemba a Nzinga solicitava soldados portugueses, porque os seus eram covardes e incompetentes, e os mercadores estrangeiros de escravos incentivavam à desobediência aos portugueses. Entretanto, Afonso Mpemba a Nzinga criou ele próprio um comércio de escravos que desenvolveu como um legado à sua família, acto que dividia a classe dominante do Kongo.   

Afonso Mvemba Nzinga deixa seu filho Pedro Nkanga Mvemba como seu sucessor, que assume o poder de imediato, em 1543. Ele fazia parte de uma facção kanda conhecida como Kibala (Quibala) facção de um sobado no Kongo que tinha raízes na tribo Kilukeni. As tribos Mpanzu ocuparão o norte, a estas tribos se juntarão as tribos:  Kilukeni, Lukeni, Kwilu, Kanda,  Nsundi, Kinkanga, Kinlaza,  Kimpanzu. As tribos Nsaku ocuparão o centro; as tribos Nzinga ocuparão o sul […] independente dos chefes tribais pertencerem a estes territórios. Houveram Sobas Mani-kongo que eram de tribos em Kinshasa e de outras tribos vizinhas ao território.

 Diogo Mpudi Nzinga  sobrinho de Pedro Nkanga Mvemba e neto de Afonso Mvemba Nzinga, reivindicou o poder.
 Pedro Nkanga Mvemba governou apenas dois anos (1543 a 1545), foi deposto por Diogo Mpudi Nzinga com ajuda dos seus aliados. Pedro Nkanga Mvemba, procura a ajuda dos portugueses e missionários residentes no Kongo, e obtêm asilo em uma das igrejas de  S. SalvadorA partir da Igreja tentou recuperar o poder, e delineia a destituição de Diogo Mpudi Nzinga.  O mais importante confederado de Pedro Nkanga a Mvemba era o seu primo Rodrigo de Santa Maria, fugiu para São Tomé, e tentou obter assistência em Portugal e até mesmo em Roma. Pedro Ankanga a Mvemba passa a residir na Igreja junto aos religiosos, até à sua morte, vinte anos depois.
Em meio a guerra pelo poder Francisco Mpudi a Nzinga Mvemba, irmão de Diogo Mpudi Nzinga apodera-se do poder e morre em circunstâncias duvidosas. Diogo Mpudi Nzinga apodera-se do poder de 1545 a 1561. E criou a sua própria rede de escravos e apoio administrativo. 

Embora o Mani-Kongo Afonso Mvemba Nzinga durante o seu governo e como resultado da influência portuguesa, tenha expandido o Catolicismo no Kongo, e tenha criado um modelo para a Igreja Católica Romana no Kongo.  Os chefes tribais  aliados do Diogo Mpudi Nzinga defendiam a tradição dos seus ídolos e feitiçarias. Era pouco sólida a fé cristã deste sucessor de Afonso Mvemba Nzinga, como a de muitos outros, ainda apegados ao velho gentilismo, e uma desatinada e  irracional destemperança em comer e beber até perder o juízo.

Era já assim a situação do Kongo, Diogo Mpudi Nzinga quando, mais para se firmar no poder, que por um puro sentimento religioso, enviou o Padre secular Cornélio Gomes (Diogo Gomes)  natural da terra, mas filho de pais portugueses, e seu confessor, a El-Rei de Portugal a pedir missionários que ali escasseavam. Ao chegar Portugal estava a Companhia de Jesus, plena de vigor e vida, como todas as congregações religiosas nos seus primórdios. Era bem vulgar e justa a fama de virtude e zelo apostólico dos seus membros, recrutados com rigor e escrúpulo entre indivíduos de profundos sentimentos religiosos. Estavam, naturalmente indicados, mais que ninguém, para a árdua tarefa de apaziguamento no desvairado Kongo. 

Para essa missão El-Rei de Portugal pediu os Padres ao Colégio de Coimbra, em Setembro de 1547: o Padre Jorge Vaz, superior, os Padres Cristóvão Ribeiro e Tiago Dias, coadjutores, e o auxiliar Tiago Soveral, escolástico, chegados a Pinda, foz do Zaire, em 1548. Eram os primeiros quatro Jesuítas a chegaram a São Salvador do Kongo. Isto foi conseguido em grande parte pela mediação do Padre e embaixador Kongolês Diogo GomesOs jesuítas debatem-se com dificuldades. Cinco anos após sua chegada ao Kongo, os quatro jesuítas deixam o Kongo.
Diogo Mpudi Nzinga enviou uma carta ao Rei de Portugal D. João III exigindo que Rodrigo Santa Maria fosse extraditado e exigindo a isenção dos Jesuítas à Coroa de Portugal. Por causa de sua estreita fidelidade à Coroa de Portugal os Jesuítas eram vistos com desconfiança.
O Rei D. João III recusou a extradição de Rodrigo Santa Maria.  Em resposta à recusa do Rei de Portugal de extradição de  Rodrigo Santa Maria, a partir de 1549 Diogo Mpudi Nzinga tornou-se hostil aos portugueses, cortou todos os laços com a Coroa de Portugal, e expulsou do Kongo todos os 70 habitantes portugueses, incluindo, sacerdotes já seculares e capuchinhos jesuítas.  
O Kongo foi praticamente esquecido na Europa. Excepto como um lugar onde os escravos podem ser obtidos. A Igreja, no entanto, fará vigorosos esforços para salvar as almas dos kongoleses.  
Desesperado o Padre Diogo Gomes deslocou-se a Lisboa para informar os seus superiores sobre a deterioração da situação no Kongo.  Enquanto eles estavam lá, o Padre Jorge Vaz superior dos missionários no Kongo, regressa a Lisboa desanimado e doente, veio a falecer.
O Padre Diogo Gomes com um plano para direccionar mais recursos para a escola que os Jesuítas administravam, na esperança de transformá-la em uma escola técnica de ensino médio, voltou ao Kongo para assumir a missão, acompanhado por mais três Padres, Padre Frutuoso Nogueira,  e um irmão Frei Diogo de Soveral, que o seu Superior Provincial, Simão Rodrigues, enviou ao Kongo a pedido do Rei Dom João III de Portugal.
Em 1553, os jesuítas chegam ao Kongo pela segunda vez. Eles baptizaram 2.100 Bakongos em quatro meses e construíram mais três Igrejas. O Padre Frutuoso Nogueira e um auxiliar morreram pouco depois da chegada. O irmão Frei Diogo de Soveral, fundou escolas para 600 crianças. Apesar do promissor recomeço da missão, logo surgem problemas. O ano de 1553 foi crítico para a missão jesuíta em dificuldades. 
O Soba Diogo Nkubi Mpudi dificulta a vida aos jesuítas. Os jesuítas debatem-se com dificuldades devido à elevada corrupção e veêm-se envolvidos em conflitos políticos e económicos. Ao mesmo tempo, os são-tomenses pressionam  o Rei  D. João III para boicotar o Kongo. 
No ano de 1554, os Jagas invadem o território pelo norte, e iniciam uma guerra contra os Bakongos, na região do Dongo e de Kassanji (Cassange). Os kyokus (quiocos) abandonaram Katanga (Catanga) e atravessaram o rio Cassai, instalaram-se inicialmente na Lunda, no nordeste de Angola, descendo depois para sul. 

 Diogo Nkubi Mpudi a Nzinga abandonou a sua fé cristã e arranjou-se com um grande número de concubinas, ao mesmo tempo que se entregava a ritos e costumes pagãos. E proíbe seus vassalos de frequentar escolas jesuítas. 
Com alguns sacerdotes seculares, os mais cumpridores dos seus deveres, havia idêntica má vontade do Diogo Mpudi Nzinga e até perseguições e vexames, ao ponto que o Bispo de S. Tomé, Frei Gaspar Cam tentou pôr têrmo, indo pessoalmente ao Kongo. Os Jesuítas não se qualificaram para a isenção como o Soba havia pedido. Como não podiam fazer mais nada no Kongo, a Societas Jesu deixou o Kongo em 1555, deixando a preocupação com a continuação da existência da Igreja no Kongo para os Franciscanos e para o Bispo de São Tomé. 
 O Padre Diogo Gomes com seus dois companheiros restantes deixaram o Kongo no final de 1555, encerrando sua missão de oito anos no que era então o território  católico da África. Desde então a história do Kongo ficou marcada pelas continuas guerras tribais violentas e a oposição ao Cristianismo.
 O Padre Diogo Gomes desempenhou um papel importante na produção de um catecismo em Kikongo que foi impresso pela primeira vez em 1556, que se acredita ser a base para uma versão de 1624 que ainda existe. 

 O padre Diogo Gomes, nascido no Kongo, filho de portugueses, ingressou na Sociedade em 1549 com o nome de Cornelius Gomes, tornando-se provavelmente o primeiro jesuíta africano da história, (falecido em 1560).

A 15 de Agosto de 1555, chegou a Lisboa o Padre Jesuíta Cornélio Gomes (Diogo Gomes) terminando assim a primeira missão dos jesuítas no Kongo. Em 1556, em Évora o Padre Cornélio Gomes publicou o primeiro catecismo em kikongo, para ensino do catecismo aos indígenas, exemplo seguido por outros missionários. Seguiram-se ainda outros catecismos publicados em kibundu e em umbundu.

Sobre os eventos que antecederam e seguiram a  destituição de Pedro Nkanga Mvemba e sua tentativa fracassada para recuperar o poder, foi feito um inquérito, mostrou que Pedro Nkanga Mvemba tinha muitos amigos no Kongo e que havia confederados que desejavam ajudá-lo. Muitos ocupavam os primeiros cargos, estavam relutantes em oferecer qualquer ajuda por temerem que Diogo Mpudi e seus aliados os destituísse do cargo.  Uma cópia do inquérito sobreviveu nos arquivos portugueses e foi publicada em 1877 por Paiva Manso (1º Visconde).  

Neste inquérito pode-se ver que as facções se formaram atrás de pessoas notórias como o soba Afonso Mvemba Nzinga e seu filho Pedro Nkanga a Mvemba. Nas próprias facções no idioma de parentesco eles não eram formados estritamente por hereditariedade, já que parentes próximos frequentemente estavam em facções separadas. Os candidatos também incluíam os títulos de posse para os governos de várias tribos, membros do conselho do sobado e funcionários da hierarquia da Igreja, agora bem desenvolvida. 





Durante o governo  do Soba Manikongo Diogo Mpudi Nzinga, o Kongo começa a afundar cada vez mais. Ele pretendia expandir-se através das áreas rurais e também para os países vizinhos. Sua tentativa de se apoderar do Dongo (Ndongo) em 1556 falhou. 
Em 1560, o soba do Dongo, Mbandi Ngola, o mesmo chefe tribal que aprisionou Paulo Dias de Novaes a tripulação, vários padres jesuítas, incluindo o Padre Francisco de Gouveia, aproveitando-se da fraqueza no Kongo manda um grande número de Jagas invadirem o Kongo, a cidade de São Salvador é saqueada e incendiada e parte da população é devorada. 
"Em 1560, o Kongo sofreria um forte abalo, quando as suas populações foram atacadas, massacradas e devoradas por Jagas (Anzikus)". Neste ataque, Duarte Lopes no Livro de Filippo Pigafetta descreve a existência de Anzikos ou Yakas em sete regiões circunvizinhas ao Kongo: Lula, Kundi, Okanga, Nsundi, Mbata, Mpangu, Matamba e Dongo.
Devido à luta pelo poder e às incursões dos Jagas “numerosos brancos são assassinados durante as guerras de sucessão: os roubos e assassinatos estão se tornando mais comuns no Kongo; os portugueses já não têm a certeza das suas vidas e bens. Em 1560, 40 portugueses e um missionário residentes no Kongo, fogem para sul e estabelecem-se na ilha das cabras (assim denominada pelo Navegador Diogo Cam, em 1486), onde edificaram um pequeno povoado e uma Igreja dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Concepção. Foi o primeiro núcleo de portugueses em Luanda. 

Com a morte do Soba Manikongo Diogo Mpudi Nzinga em 1561, novamente eclode uma guerra pelo poder, com diferentes tribos. Diogo Mpudi Nzinga foi sucedido pelo filho, ilegítimo, Npemba Angiga ou Mpemba Nzinga da tribo Kimpanzu. O governo de Npemba Angiga, durou menos de um mês de 4 de Novembro a 1 de Dezembro de 1561. Foi assassinado durante a missa por seu irmão, Bernardo Nzinga Mvemba, (1561-1565). Bernardo Nzinga Mvemba morreu numa luta contra os Yakas (Jagas) na fronteira oriental do Kongo. Foi sucedido por Mpudi Anzinga Muemba (Henrique). Este último Manikongo da linha Nzinga Mvemba torna-se Manikongo de 1566 a 1567, como seu predecessor, também, morreu numa luta contra os BaTekes da tribo Anziku ou Yaka, na fronteira leste do Kongo.
Devido à luta pelo poder e às incursões dos Jagas durante os governos de Bernardo Nzinga Mvemba e Henrique Mpudi Anzinga Muemba, o Kongo se desintegra cada vez mais. Após a morte de Henrique Mpudi Anzinga Muemba o governo do sobado fica nas mãos do seu enteado Nimi a Lukeni lua Mvemba, com nome de baptismo, Álvaro, por quase vinte anos (1568-1587). O governo de Álvaro Nimi Lukeni Mvemba, não começa com boas estrelas; desde 1560 os Jagas, cuja ferocidade e propensão para o canibalismo fazem estremecer de medo as suas vítimas.
Entretanto a legitimidade de Álvaro Lukeni Mvemba foi contestada por vários pretendentes. Álvaro Lukeni Mvemba só assumiu o poder no Kongo após um acordo entre seus rivais.  
Álvaro Nimi Lukeni Mvemba fora sempre muito amigo dos portugueses, após tomar o poder ele escreveu várias cartas ao jovem Rei D. Sebastião de Portugal, a fim de renovar a antiga aliança política e religiosa. Em seguida promoveu a paz com o Bispo de São Tomé, restaurando a ordem religiosa no país. Formou uma aliança com o Reino de Portugal que incluía o envio de soldados portugueses para ajudarem os sobas regentes do Kongo nas suas guerras contra Jagas e tribos inimigas. Juntamente solicitava o envio de mais missionários e professores "para que, as escolas construídas no Kongo começaram a alfabetizar em português".
Em 1569 ocorre outra invasão dos Jagas ao mando do soba Jaga do Dongo, Ngola Kiluanji kia Ndambi, até na própria capital São Salvador, como um protesto contra Álvaro Lukeni Mvemba.
O Manikongo foge e procurou ajuda dos portugueses que ali residiam; foi com os portugueses que ele obteve teve protecção e asilo numa Igreja.
Os Jagas destroem o Kongo. Eles entram em São Salvador a cidade é saqueada e incendiada. Eles massacram qualquer um que tenha sobrevivido ao incêndio. Gerando uma grande miséria e rastro de sangue. Os Jagas dividem-se em grupos separados, que atacam e conquistam as províncias restantes. Os sobreviventes fogem para as montanhas, muitos morrendo de fome, foram para terras portuguesas para não morrer de fome.  A repentina dominação do Kongo acaba com a sensação de segurança dos Portugueses nesta parte da África. 

Álvaro Lukeni Mvemba com todos os seus familiares, bem como com toda a restante população branca da capital, foge para a ilha do Cavalo, perto de Boma, no meio do rio Zaire, deixando a sua capital São Salvador à devastação dos Jagas (Yaga). 
Na ilha do Cavalo onde  há cerca de um ano estão refugiados o Manikongo Álvaro Lukeni Mvemba e os seus companheiros, a situação está se deteriorando dramaticamente. Há falta de comida e a doença irrompe e se espalha rapidamente. Álvaro Lukeni Mvemba adoece; não de malária, com hidropisia, doença da qual sofrerá pelo resto de sua vida. Enquanto os refugiados passam fome, os traficantes de escravos chegam de São Tomé. O que acontece a seguir, informa-nos Duarte López: O preço de uma pequena quantidade de comida subia para o que se pagaria por um escravo que fosse vendido por pelo menos dez coroas. Movido pela necessidade, o pai vendeu o filho e o irmão vendeu o irmão; todos cometem os crimes mais terríveis só para conseguir alguma coisa para comer.” A comida é descarregada, os filhos e irmãos fracos e semi-mortos de duques, marqueses e barões são trasladados em barcos a remos e levados rio abaixo até onde estão ancoradas as caravelas de São Tomé. A carta sobre o decreto de escravidão do Manikongo Afonso Mvemba-a-Nzinga (1506-1543), ainda é observada na venda de escravos por ambas as partes. “Os fugitivos são vendidos para saciar a fome dos outros, para escapar de mais miséria”. 
Álvaro Lukeni Mvemba voltou-se para Lisboa no seu desespero, enviou um embaixador ao jovem Rei de Portugal, D. Sebastião, com um pedido de ajuda do Kongo, visto que, além de aliado, se considerava daí em diante seu feudatário. No início de 1571, a notícia do desastre do Kongo chegou a Lisboa. Isso causa uma impressão profunda lá. 
A satisfação ao pedido do Manikongo Álvaro Lukeni Mvemba ao Rei Dom Sebastião de Portugal, não teve grande demora; "4 anos antes da partida da nova expedição de Paulo Dias de Novais", o Comandante Francisco de Gouvêa, da ilha de São Tomás (ilha do Corvo-Açores), parte de Lisboa com uma força expedicionária de mais de 600 soldados portugueses em socorro de Álvaro Lukeni Mvemba, para recapturar o Kongo aos Jagas. 
Chegando ao Zaire no fim desse mesmo ano, o Comandante Francisco de Gouvêa com os soldados portugueses seguem com o Manikongo, seus familiares que o acompanhavam e seus partidários. O Comandante Francisco de Gouvêa com os seus homens seguem por terra adentro, e foram levando por diante a derrota dos invasores, combatem os Jagas em todo o Kongo e recuperam a capital destruída após um ano e meio de guerra contra os Jagas, conseguindo de novo colocar o Álvaro Lukeni Mvemba na posse de São Salvador. 
Em 1572 após vencida a guerra com os Jagas, haveria que fazer ajustes com o soba Ngola Kiluanji kia Ndambi que, se aproveitou da má situação em que se encontrava o Manikongo Álvaro Lukeni Mvemba, para se apoderar de novas terras no Kongo a norte do rio Dande até ao rio dos Ambras (Ambriz). Álvaro Lukeni Mvemba, mandou um exército comandado pelo conde de Sonho (Soyo), cujos próprios estados lhe foram instituídos, contra  o soba Jaga do Dongo, Ngola Kiluanji kia Ndambi, após vários combates em Mossul a sul do Kongo, e Ambuila, os beligerantes entraram em termos de paz. Vencida as guerras contra os Jagas, e derrotado o soba do Dongo. O Manikongo Álvaro Luqueni Amvemba, em 1575 estabelece Angola portuguesa como uma recompensa aos portugueses por ajudarem a derrotar os Jagas. 
Assegurando a ilha de Loanda, onde a pesca do Zimbo (conchas) constituía a riqueza do Kongo.

                                                                          KONGO.
[De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].

    Kongo, Ilustração [De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613]. 


Kongo, Ilustração [De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].

  

 Livro, UNCIVILIZED RACES” (Raças Não Civilizadas)
 do Rev. John George Wood, ano 1870.

                                             Kongo, ["Illustrated Travel Reports" De Brys]. 

                                               Kongo, ["Illustrated Travel Reports" De Brys]. 

Kongo [De Brys 'Illustrated Reports, 1598-1613].

                                                  Rio Congo/Zaire, e indígenas do Kongo. 
                                                            Gravura de Georg-Hafen.                                                
 Em Cassange,  sacrifício humano de um soba de outra tribo, assistido pelo soba Jaga, Kasanji, pelo feiticeiro, e por toda a tribo - Gravura de, Enciclopédia Iconográfica de Ciência, Literatura e Arte. 

À direita com o escudo nas costas a Jaga, Nzinga Mbandi ou Jinga Mbandi.


No Kongo como no território ao sul, que viria a ser denominado por Portugueses "Angola" nunca existiram reis, nem reinos, existiram tribos isoladas nas selvas, cada tribo com seu Kimbo, também conhecidos como Banzas, entre essas a Banza do Kongo (Mbanza Kongo, no dialecto kikongo). Na grande maioria eram Jaga, também conhecidos como Yaka ou Anziku, que desceram do centro de África, sem qualquer status: analfabetos, nus e descalços, que se dedicavam aos rituais de feitiçarias, sacrifícios humanos, alimentavam de carne humana, e roubos, "governados" por um chefe tribal aos quais os portugueses denominaram como Sobas, que se dividiam em dois grupos: o Soba grande e o Soba pequeno. O Soba grande dominava várias tribos numa forma tribal de autogoverno sem regras, cujos julgamentos eram decididos de acordo a sua vontade ou simpatia. O Soba pequeno era vassalo e tributário do Soba grande, ao qual foi submetido pela guerra e medo. 
Após a Descoberta  do Kongo pelo Navegador Diogo Cam em 1482, a Coroa de Portugal a partir de 1491 inicia a enviar navios carregados com bens de consumo entre outros: pedra, cal, telhas, madeira, pregos, produtos para a lavoura, batatas, cereais: trigo e milho; animais domésticos: cavalos, gado bovino e caprino, galináceos, e vários outros artigos entre os quais: tecidos, calçado, utensílios de cozinha e mesa, tapeçaria e ornamentos diversos, com os quais os Sobas e seus vassalos mais próximos passaram a fazer a vestimenta, a calçarem-se e rechear as casas. Cujas despesas eram a cargo da Coroa de Portugal. Modificam-se costumes, desenvolveu-se o comércio e cultivam-se novos produtos. 
Outra consequência da chegada dos portugueses: a Fé Cristã, o Baptismo, os chefes tribais aderem ao Baptismo passam a adoptarem o nome dos Reis de Portugal. O soba católico ManiKongo Afonso Mvemba-a-Nzinga (1506-1543), imitando a civilidade portuguesa solicita ao Rei Dom Manuel I de Portugal, autorização para usar títulos, brasões, carimbos e selos fabricados em Portugal. 
Os chefes tribais, até então, denominados: mwene, sobas, sobetas, dungos, ndungos, golas, ngolas, dembus, jingas, njingas, etc...,  passam a auto-denominarem-se "rei" e os seus familiares se auto-denominam "condes", "duques", etc... e denominaram os seus Kimbos nas selvas "reinos". 
 Após a morte do ManiKongo Afonso Mvemba-a-Nzinga 1543, as rias tribos na luta pela posse do poder entram guerra entre elas, os pretendentes sucedem-se uns atrás de outros, a maioria são assassinados, alguns com apenas um mês de governo, outros nem chegam ao poder, a bonita cidade de São Salvador é destruída, os portugueses e os Missionários foram expulsos, até mesmos os religiosos seculares não foram poupados à sanha do Gentio, e o Cristianismo é substituído pelas feitiçarias e adoração aos seus deuses, Mangaaka (Nkisi, N’kondi). 
Levando o Rei Dom João III de Portugal (1521-1557) a se desinteressar pelo Kongo. E inicia a queda vertiginosa da prosperidade e do brilho do Kongo.  A Coroa de Portugal abandonou simplesmente o Kongo, por mais de século e meio; o Kongo regressou às suas origens primitivas de chefes tribais, guerras continuas, destruição, populações inteiras dizimadas, às quais se juntavam as secas por longos anos; aqueles que conseguiam sobreviver às guerras tribais e à fome procuravam abrigo e alimento junto dos  Portugueses nos territórios a sul.

 O Kongo era um extenso território governado por um chefe tribal, soba, a que chamavam Mwene Kongo (Manikongo, em kikongo). As zonas eram demarcadas pelos cursos de água dos rios, nascente e desembocadura, nos transportes e bens e pessoas, a orografia do terreno, entre outras características igualmente importantes. Na discrição de Duarte Lopes o território do Kongo, era o seguinte: “Ora, do cabo de Catarina começa, da banda do norte, o outro extremo e lado do Congo, e, correndo sobre o levante, chega a confluência do rio Vumba com o Zaire, na distância de mais de 600 milhas. Além da qual fronteira, para o norte, e sob a linha equinocial, a beira do Oceano e por dentro do sertão obra de 200 milhas, (…)”

A Leste, o Kongo era limitado da seguinte forma: “O lado oriental do Congo começa (como é dito) da confluência do rio Vumba com o Zaire, e, seguindo uma linha, tirada para o meio-dia, igualmente distante do rio Nilo, que fica a esquerda, toma pela serra altíssima e despovoada nos cumes chamada dos Cristais: visto haver nela grande quantidade de cristal de roca e de ponta e de toda a sorte; e, passando adiante, abraça os montes chamados do Sol, porque são muito elevados, sem, porém, nunca neles nevar jamais, nem-se produzir nada, antes são sem vegetação e sem árvores. A’mão esquerda, outras montanhas se erguem, que se apelidam de Salitre, porque ali nasce bastante dessa matéria; e, atravessando o rio Berbela, que sai do primeiro lago, aqui finda o antigo termo do sobado do Congo, pelo levante. Assim, pois, a demarcação do Oriente desse sobado vai da confluência do dito rio Vumba com o Zaire até o lago Aquilunda e a região de Malemba, com o espaço de 600 milhas.

Dessa linha, que é lançada pelo confim oriental do Congo, ao rio Nilo e aos dois lagos, dos quais em seu lugar faremos menção, é a distância de 150 milhas, de terreno muito populoso e com bastantes serras, donde se tiram metais diversos e teias várias e panos de palma.”
A Sul, o sobado do Kongo era limitado da seguinte forma: “Acaba este lado (como fica dito) na grande serra chamada da Prata; e aqui tem seu principio o quarto e Último confim do sobado do Congo, pelo meio-dia, ou seja, da dita serra até o golfo das Vacas, para o ocidente, com o espaço de 450 milhas; a qual linha parte o sobado de Angola pelo meio e deixa a mão esquerda os sobreditos montes de Prata; e, além deles, para o sul, o sobado da Matamba, grande e de per si potente, e ora é amigo, ora inimigo de Angola.” (1578, DUARTE LOPES: PIGAFETTA).

À época, o Kongo era pobre, as principais riquezas exportáveis eram o marfim e o cobre de má qualidade extraído à superfície da terra. As armadilhas que os indígenas faziam para os elefantes eram enormes buracos disfarçados com ramos de árvores, onde os elefantes caíam e já não conseguiam sair.

Paulo Dias de Novaes, Fidalgo da Casa Real e de família nobre, 1.º Governador e Capitão-General de Angola, após a edificação da Cidade de São Paulo, denominou o território “Reino de Angola" é quando aparece pela primeira vez a denominação "Reino de Angola" que persistiu de 1576 até cerca 1850.

As grandes plantações em Angola tiveram início a partir de 1700, pelo trabalho e investimento dos portugueses, entre outros bens de consumo: o café em 1822, e o açúcar 1840. Estas plantações exigiam grande investimento. Nas décadas 1840 e 1850, os portugueses António de Magalhães Mesquita e Santos Silva deram início às primeiras plantações de cana-de-açúcar, com grandes perdas iniciais de investimento. E os minerais foram descobertos pelos portugueses entre 1900 e 1960, a exemplo a descoberta dos diamantes em 1907.


      PINDA:                     

M’Pinda, 
uma Cruz assinala a primeira missa católica rezada no Soyo(Santo António do Zaire) e os primeiros Baptizados, em 1491.
 Na base da Cruz, estão presentes os seguintes dizeres:
  “Da Cruz a Luz” 
 Em Memória dos Primeiros Baptizados” .
                  
M'pinda, no mesmo lugar onde os primeiros portugueses construíram a Missão para os frades missionários, foi construída a Igreja de Santo António (Igreja da missão Católica)  e a Cruz  à entrada do terreno que dá acesso à Igreja, assinala o lugar onde os missionários colocaram uma Cruz, na primeira Missão de M'pinda, em 1491.


S. SALVADOR DO KONGO
O que restou da cidade de S. Salvador.

Túmulos dos sobas Manikongos.


Em 1881 o Padre Dom António Barroso junto à casa da missão construiu a primeira igreja católica:
 “(…) situada junto à casa da missão, é de pau a pique coberta de feltro, está pobre, mas decente, (…) não fica mal que ella esteja despida d’adornos”.

 Fonte: Revista O Occidente, nº159 de 1883.


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RUÍNAS DA CATEDRAL DE SANTA MARIA.

A Igreja de Santa Cruz foi construída a 3 de Maio de 1491, mais tarde é denominada Igreja de Santa Maria. Em 1534 passa a Catedral de São Salvador do Congo.

Da cidade de São Salvador, seriam as únicas ruínas que restaram das guerras tribais  que que devastaram o Congo,  por mais de meio século, que levaram a Coroa de Portugal e Roma a qualificarem o Congo "o açougue dos seus irmãos e missionários". E levaram  a Coroa de Portugal abandonar o Congo por mais de 150 anos.
As ruínas da Catedral de Santa Maria viriam a ser recuperadas em 1896, por um grupo de portugueses sob comando do Residente Titular Capitão José Heliodoro Corte-Real de Faria Leal (1862 - 1945).


                                  Ruínas da Catedral de Santa Maria", é visível parte da muralha que circundava
                                   a primeira cidade construída por portugueses em S. Salvador- Kongo, em 1491.

Inicio da recuperação da Igreja e construções limítrofes.

Ruínas da Catedral de Santa Maria.

          
                                                           
                                Altar da Igreja da Santa Cruz (Catedral de Santa Maria, em São Salvador).

                                                               Vestígios da cidade de S. Salvador no Kongo.

                                      Vestígios dos degraus na montanha que levavam à cidade de S. Salvador.


S. Salvador, 
Portugueses no controlo da conservação da igreja e do cemitério em 1963.



A 20 de Setembro de 1963, o Presidente de Portugal, Almirante Américo Rodrigues Tomás, na visita oficial à Província Ultramarina de Angola, acompanhado pelo Ministro do Ultramar, António Peixoto Correia, e do General Silvino Silvério Marques, Governador-Geral de Angola, visita as ruínas da Catedral de Santa Maria, onde foi rezada uma missa, a finalizar o acto solene.